Policial civil é baleado em tentativa de assalto

Policial civil é baleado em tentativa de assalto
Desde terça-feira, é o terceiro policial ferido. Seis agentes morreram em cinco dias.

O policial civil Richard Valença Braga, de 37 anos, foi baleado durante uma tentativa de assalto na saída da Linha Amarela, na altura de Del Castilho, no subúrbio do Rio, na manhã desta quarta-feira (23). Na terça-feira (22) um policial foi morto e dois ficaram feridos. Ao todo seis agentes morreram desde a última sexta-feira (18) vítimas de ataques. As informações são do serviço reservado do 3º BPM (Méier).

Segundo a polícia, Braga seguia em seu carro por volta das 7h quando foi abordado por três homens num veículo e teria reagido. O policial, que trabalha na Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae), foi atingido no abdômen e na perna esquerda. Ele foi levado para o Hospital Salgado Filho, no Méier, no subúrbio. De acordo com informações da Secretaria municipal de Saúde, ele já foi operado, e passa bem. Seu estado é estável. Os suspeitos fugiram sem levar o carro.

Seis mortos e três feridos

Desde sexta-feira (18), seis policiais foram mortos e dois ficaram feridos. Na sexta, morreram o cabo Kleber Amparo foi morto em Niterói, na Região Metropolitana, o soldado Márcio de Oliveira Mendonça, em Bangu, na Zona Oeste, e Paulo Craveiro, que trabalhava no Detran, em Olaria. No dia 19, foram mortos o cabo João Luiz de Souza, em Campo Grande, na Zona Oeste, e o sargento Marcos Patrillo Mercês, em Vilar dos Teles, na Baixada Fluminense. Na terça-feira (22), o sargento Edgar de Freitas Navarro, morreu em Cascadura, no subúrbio do Rio.

Além do policial civil Richard Valença Braga, baleado nesta quarta (23), em Del Castilho, no subúrbio, também foram feridos na terça-feira (22) o sargento Carlos Vargas de Lima, durante uma tentiva de assalto, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e o cabo Ueslen de Carvalho Guimarães, em Guaratiba, na Zona Oeste.

Breve biografia do Richard:

Eu o conheci antes de entrarmos para a faculdade, e nao por acaso ele é um dos caras que admiro.

Passamos juntos no vestibular. Ele foi primeiro lugar em sociologia na UERJ e UFRJ. Com 18 anos, totalmente auto-didata, e dominando a escrita como poucos, ja conhecia boa parte da obra de Freud e Jung, alem de filosofia classica - acho que até hoje guardo as cartas que ele me enviava sugerindo leituras, dentre elas um livro que guardo até hoje do Ralph Linton. A propósito, foi um dos primeiros lugares no mestrado em antropologia do Museu Nacional. Lembro que quando nos encontravamos para um cafe acabavamos sempre conversando sobre Sergio Buarque e Gilberto Freyre, autores que eu comecava a descobrir e ele ja estava careca de ler. Era tao distinto que inspirava respeito nao so dos alunos, mas dos professores. Mas de repente, decidiu abandonar a vida academica - eu sempre tive a impressao que ele era brilhante demais para essa vida. Penou trabalhando numa livraria até decidir fazer o que queria, ser policial civil. Ha pouco mais de um ano, tomou um tiro de fuzil numa operacao numa favela. Por esses segundos e milimetros controlados por forcas maiores que podemos perceber mas nao entender tampouco ver, a bala nao tocou a arteria femoral.

E ontem recebi essa nova noticia.

Desde ontem não paro de pensar que nos Estados Unidos - um lugar onde a tensao entre um policial e um bandido não é menor - um bandido não tem sequer a coragem de pensar em atirar num policial. E eh por isso que as vezes penso seriamente em me tornar um ex-carioca.

O Richard vai sair dessa. Só isso.

Ossessione



Se não me engano este foi o primeiro filme do Visconti. É um filme de 1942, portanto, um filme ainda sob a égide do Fascismo. Nele, já demonstra um certo trato com a contestação dos valores morais. Fato que deixou as autoridades fascistas indigadas, levando-as a proibir o filme. Alguns dizem que o filme é o marco zero do neo-realismo italiano, marcado diretamente pela técnica de longas tomadas que Visconti devota a Renoir. Mas não necessariamente por isso que o filme se tornou inconveniente.


O fato de Visconti ter ingressado no PCI, apesar de sua origem aristocrática, não fez dele uma peça essencial no partido, mas serviu para despertar ainda mais a ira das autoridades. Logo, se tornou um maldito no cinema, embora alguns afirmem que por sua origem aristocrática e a teia de relações a que estava imerso garantiram-lhe uma boa dose de paz de espírito. Nesse contexto, Jean Renoir dá a Visconti uma cópia do roteiro de The Postman Always Rings Twice, de James M. Cain.


Mas voltando ao que interessa, Gino é um jovem malandrão e pilantra que chega por acaso a um modesto restaurante de beira de estrada, quando o caminhão em que viaja, escondido na carroceria, pára para reabastecer. Enquanto Giuseppe Bragana, proprietário do local, e marido de Giovanna, atende o motorista, Gino entra no restaurante e vai até a cozinha onde encontra Giovanna, a jovem mulher de Giuseppe. Mexe nas panelas enquanto tenta seduzir Giovanna.


Descontroladamente atraída pela beleza do cidadão, ela, mesmo assim, avisa ao marido que ele se serviu e não pagou pela refeição. O marido tenta cobrar-lhe o valor devido, mas dizendo-se sem dinheiro, Gino propõe pagar sua dívida com trabalho, já que se diz mecânico e sabe que a caminhonete de Giuseppe apresenta um defeito mecânico. Gino convence a Giuseppe a ir à cidade de bicicleta comprar uma peça nova para o caminhão.


Casa vazia, esposa prestativa, boa cozinheira, paz, silêncio... daí pra cama foi um pulo para Gino e Giovanna. Quando o marido dela retorna com a nova peça, Gino a põe o caminhão para funcionar. Giuseppe, então, permite que Gino permaneça alguns dias em seu estabelecimento. No dia seguinte, aproveitando a saída do marido para uma pesca, Giovanna foge a pé com Gino. Após caminharem alguns quilômetros, ela desiste da fuga e lhe propõe que os dois voltem para o restaurante. Gino não concorda e segue sozinho.


Ao embarcar num trem, sem destino, faz amizade com um vendedor ambulante, meio esquisito aos olhos de Gino, que está indo para Ancona. Os dois passam a seguir viagem justos. Certo dia, quando se acham numa praça a vender guarda-chuvas, Gino é encontrado por Giuseppe e Giovanna, que o convidam para voltar com eles e trabalhar no posto de gasolina.


No caminho de volta, aproveitando-se um Giuseppe manguaça, Giovanna e Gino armam acidente com a caminhonete. Giusppe morre e a princípio, a polícia não considera a possibilidade de um crime. De volta ao restaurante, Gino propõe que Giovanna venda tudo recomeçem a vida num outro lugar.


Um mês depois, os dois vão à Ferrara, resolver o problema do seguro e da herança. Enquanto Giovanna vai à Companhia de Seguros, ele fica na praça, onde conhece Anita, uma prostituta. Quando Giovanna retorna, tudo é muito rápido. O temperamental Giuseppe ouvindo-a dizer que iria receber uma nota preta por conta do seguro de vida de Giuseppe, diz que não quer mais vê-la. Giuseppe, malandor e picareta, tem uma recaída de ética e diz que acreditar ter sido usado por ela para pôr a mão no tutu.


Anita o recebe de braços abertos e inconformada, Giovanna retorna ao seu restaurante. Na cena seguinte, dois caminhoneiros que assistiram ao acidente, procuram a polícia onde informam que Gino e Giovanna não se encontravam no caminhão no momento do acidente.


Gino, na boa vida por Ferrara consegue fugir dos policiais que tentam prendê-lo e vai a procura de Giovanna. No restaurante, fala para ela sobre o que está ocorrendo. E aqui, um ponto de inflexão no filme pode tornar tudo um pastelão.


Ao mesmo tempo, Gino toma conhecimento que os dois vão ter um filho. Com a possível chegada da polícia, os dois pegam um carro e fogem. Na estrada, fazem planos para o futuro.


Os policiais chegam ao restaurante. Não os encontrando, seguem em direção à Scatovari possível desitno dos dois. Quando já estão próximos de serem alcançados pelos 'meganha,' Gino perde a direção ao tentar ultrapassar um caminhão, provocando um acidente. Ele sai levemente ferido e Giovanna morre. A tragicidade da cena onde ele a retira das ferragensm no momento em que é abordado pelo policial, é comovente.

Como a escrotidão, entre nós, é um sentimento mais freqüente que a doçura, é provável que haja mais verdades em Ossessione. Esse filme, mesmo que se mova pelo signo do erotismo, é um filme sem vulgaridades, típico dos filmes de Visconti. Enfim, resumindo, na Itália, início dos anos 40, num vale do Vale do Pó miserável, Giovanna (Clara Calamai), dona de uma pensão, é uma mulher frustrada com a indiferença e até mesmo brutalidade do marido. Assim, planeja com o amante Gino (Massino Girotti) o assassinato do marido. Com esse argumento Visconti apresentava uma linguagem direta, sem retoques de roteiro, sem diálogos elaborados, voltada para os pobres, e ao mesmo tempo para o desespero e uma espécie de heroísmo duro e poético.

Essa visão do esfacelamento conjugal e de uma sexualidade incontrolavelmente demolidora despertou sentimentos ambíguos tanto dos conservadores quanto dos liberais. No argumento várias questões ficam sem resolução, tal como a dissimulação de Giovanna, que forçando um pouco a barra poderia bem ser uma Capitú trágica. A tristeza final induz o espectador a uma angústia, deixando-o entregue a uma mitologia romântica, muitas vezes ingênua para os dias de hoje, mas também com alguma poesia, de seu enredo.




Conselho


Conselho:
do Lat. consiliu
s. m.,
aviso, opinião que se dá sobre o que convém fazer;
parecer, juízo, ensinamento;
corpo colectivo superior, tribunal;
reunião dos lentes da universidade, escolas superiores ou liceus, presidida pelo reitor ou director, para tratar de questões do ensino;
reunião de ministros;
nome dado a vários corpos consultivos junto de certas repartições de administração pública;
grupo de pessoas que deliberam sobre negócios particulares.



Quando perguntado que conselho daria aos jovens escritores, Júlio Cortazar diz em entrevista a Library of Congress:

Yo les daria un sólo consejo y es que nunca les pidan consejo a otro escritor; que busquen solos su camino leyendo...leyendo libros. Que busquen el consejo indirecto, que les pueden dar un poeta que murió hace diez siglos, o un filosofo que está muy lejos. Ese tipo de consejo, sí – el que sale de los libros. Pero que no vayan a buscar uno escritor y pedirle un consejo por que es una prueba de debilidad, y por que creo que los que piden consejo no llegan a ser buenos escritores.

Meus 15 anos em New Orleans


Duas noites em New Orleans e o encontro com varios amigos, antigos e novissimos, revigoram qualquer alma.
Na primeira noite, ao lado do Quico e da Luciana resolvemos assitir ao velho Ellis Marsalis Quartet no Snug Harbor. Como o plano inicial era o de jantarmos antes do show, resolvemos andar até encontrar algum restaurante próximo à Frenchmen Street, rua do Snug Harbor. Na caminhada, não encontrávamos um restaurante onde pudéssemos comer sem reserva prévia. Pra piorar, ainda encontramos um híbrido de filósofo e músico com um violão no braço, que tentou me convencer, caminando ao meu lado por mais de seis quadras, que uma SUV é apenas uma manifestação do meu pensamento -pois é, eu sei que quem me conhece dirá que eu mereço coisa até pior.
Um detalhe, para jantar no mais simples po' boy da cidade há de se fazer reserva, coisa que evidentemente não conseguimos nem num dos mais autênticos po' boy da Frenchmen Street, que por acaso não exigia reserva prévia. Neste, o problema não foi o da reserva e sim da proximidade da hora do show. E com fome, resolvemos ir direto para o show.
O que nem o filosofo maluco, nem voodoo caribenho, nem a fome, nem os astros, que tentaram em vão conspirar, sabiam é que todos havíamos viajado milhares de milhas e quilômentros para nos encontrarmos ali, em New Orleans. Acho que velho Marsalis e seu filho perceberam nosso perrengue e fizeram o show que fizeram - e que eu não consigo contar com palavras.
A noite, que começou meio torta, foi fechada com o carinho dos amigos ao redor da mesa de um boteco, comendo um maravilhoso, providencial e insequecível misto quente, iguais aqueles que comíamos quando tínhamos 15 anos.
Na segunda noite, na Royal Street, no Preservation Hall, com o Rodrigo e o Jorge, as coisas não foram diferentes. Uma banda clássica de jazz, que da formação original tinha apenas Joe Lastie na bateria.
Penei um bocado para encontrar a letra dessa canção linda, imortalizada pelo Armstrog e que os velhinhos mandaram na noite de sábado, deixando sem palavras a todos os presentes.

Do you know what it means to miss new orleans
And miss it each night and dayI know
Im not wrong... this feelings gettin stronger
The longer, I stay away
Miss them moss covered vines...the tall sugar pines
Where mockin birds used to sing
And Id like to see that lazy mississippi...hurryin into spring
The moonlight on the bayou.......a creole tune.... that fills the air
I dream... about magnolias in bloom......and Im wishin I was there
Do you know what it means to miss new orleans
When thats where you left your heart
And theres one thing more...i miss the one I care for
More than I miss new orleans
(instrumental break)
The moonlight on the bayou.......a creole tune.... that fills the air
I dream... about magnolias in bloom......and Im wishin I was there
Do you know what it means to miss new orleans
When thats where you left your heart
And theres one thing more...i miss the one I care for
More.....more than I miss.......new orleans

Sim On Quase Tudo All

Não entendo praticamente nada de música. Não toco nenhum instrumento musical, sequer uma prosaica e miserável caixinha de fósforos; mas tenho pra mim que o Wilson Simonal, ao lado de Hyldon e Tim Maia - e põe aí também a Banda Black Rio - , talvez tenha sido o cara que mais se aproximou do sabor, do aroma, da etérea essência do Soul Americano. E ao mesmo tempo tornou a música brasileira muito mais rica. Quem escutar o cara cantando terá uma idéia cristalina dessa coisa abstrata do que estou falando.

Por um desses acasos da vida, semana passada, na Toca do Neal, encontrei o "Homenagem à graça, à beleza, ao charme e ao veneno da mulher brasileira." Um vinil de 1969. O cara tem um ritmo que é coisa de maluco. Numa das faixas ele canta um dos clássicos bregas de Johnny Mathis. Impressionante. Pode ser que ele não entendesse xongas de inglês, mas na sua interpretação do Evie, cantando numa língua que não era a sua, me desculpem mas SimOnAu mata a pau. Alem disso, existe um video da TV Cultura dele cantando com a Sarah Vaughan que é dessas coisas que se guarda com carinho http://www.youtube.com/watch?v=8Hc0FGmXONk

Estou doido pra ver esse doc do Claudio Manuel, Micael Langer e do Calvito Leal. Posso até ser levado a concordar que ele pagou um preço pelas suas relações e pelo seu excesso de 'pilantragem', até por que muitos outros não pagaram até hoje. No caso dele, especificamente, tudo revelou que por trás da malandragem e jogo de cintura que ele tinha no palco, no fundo, o sucesso passou por um tiro pela culatra. Pela reportagem da Folha, aí ao lado, já dá pra ter uma idéia do que os livros de História do Brasil dizem há tempos em suas entrelinhas: engana-se aquele que pensa que o Brasil é um pais cruel com os pilantras. Apenas com alguns deles.

Enfim entrar no mérito da questão se ele pagou um preço alto ou não pelo que ele afirma não ter feito ou nega ter feito, ou se ele foi realmente ingênuo, num tempo onde não era permitido, parece uma espécie de acerto de contas com a historia. Enfim, se foi dedo-duro há de se lamentar por sua atitude sem dignidade e pelo que ela impôs a sua voz.

Caras como o Simonal, Bebeto, Tim, Hyldon, mereciam biografias cuidadosas. O Simonal merecia uma biografia.... O Tim Maia também merecia uma melhor... pois essa que saiu há pouco, pode até ser que eu esteja enganado, mas começa com a biógrafo falando dele próprio no primeiro parágrafo. Sem comentários.

Música do dia... Sá Marina, Tributo a Martin Luther King e muitas outras... e junto vai uma de Bebeto, A beleza é você Menina.

Missivas II

Nápoles, 18 de maio de 1910

Querido chefe e amigo,

Por uma carta que acabo de receber do ilustre Alfredo de Carvalho, fiquei sabendo que o general Dantas Barreto desistia de sua candidatura a preencher na Academia a vaga do saudoso Nabuco, reservando-se para uma futura vaga, e, de acordo com aquelle, abrira mão a favor desse concorrente, dos votos de que dispunha, entre os quaes estava o meu; hypothese aliás prevista de ante-mão, quando attendi ao pedido do Coelho Netto. Escrevi immediatamente ao Mario de Alencar, mandando-lhe um novo voto para a eleição do illustre autor da =Prehistória Sul-Americana= e de = =, que acabou de chegar-me às mãos, e escrevi também ao meu novo candidato, para quem de resto para qeum de resto não tem meu voto outra signoficação além de modesto feito ao seu bello talento, pois que a sua victoria era mais que certa.

Preciso rectificar uma informação de pouco valor ou nenhum, mas que está errada na última carta que tive o gosto de escrever-lhe, e vem a ser que, para a vaga do Lúcio de Mendonça não votei, como affirmei, em Eurico de Goes, mas sim em Vicente de Carvalho. A minha memória trahio-me no momento em que lhe escrevi, porque chegaria em com effeito a fazer uma carta destinada ao autor de = Os Symbolos Nacionaes = e contava votar no nome delle, mas nessa ocasião chegou-me às mãos o livro de versos daquelle poeta com um pedido de voto. Esse versos me captivaram a admiração e encheram-me de gosto, reformei a carta destianada ao Goes e entreguei meu voto ao poeta, com a avides de uma loreira que entrega seus lábios a um sedutor. E como tudo isso foi já ha um bom par de mezes e o livro do V. de Carvalho me desappareceu da casa como por encanto (filado talvez por alguma outra victima do sedutor) escrevi no engano que agora rectifico.

E feliz e honrado por irmos juntos à festa do brilhante pernambucano, sou seu affectuoso admirador, repietoso,

Aluizio Azevedo.

Notas.

O militar Dantas Barreto somente seria eleito em setembro do mesmo ano. Meses depois, em novembro, seria nomeado Ministro da Guerra de Hermes da Fonseca. Imbuído do cargo sentaria o pau nos revoltosos da chibata e nos fanáticos do Contestado.

Loreira, provavelmente significa modernamente uma loureira, ou seja, uma mulher fácil que pretende agradar a todos. hum... sei...

Meus problemas acabaram!!

Recebi esse email enigmático hoje pela manhã. Se eu ajudar essa moça, orfã, diga-se de passagem, a retirar 20 milhões de dólares de um banco na Holanda, ela me recompensa com 7 milhões...

Letter from Holly Payne
Hello friend,
My name is Holly Payne, a citizen of wales in the United Kingdom now residing in England. I am contacting you because I need your help to solve a family problem. My family and I need your help to help us as a beneficiary to help us collect our family funds from a security company in Holland. Since the death of my father, we have been unable to do so and the security company wants us to present a foreign beneficiary. The amount involved is Twenty Million Dollars and you shall have Seven Million Dollars, please reply me back at mrshollXXXXXpayne@yyy.com I shall give you the whole details.
Have a nice day.
Holly Payne

Eu so fico intrigado com uma coisa... como é que essa dona Holly, pode subestimar tanto a um incauto...


Música do Dia. Os Direitos do Otário. Bezerra da Silva

Missivas I

Em 1996 o José Guilherme Merquior escreveu "De Anchieta a Euclides" e dedicou a Aluizio Azevedo uma página não muito digna. Disse, mais ou menos, com palavras muito mais rendadas e bizantinhas, que Azevedo, depois de conquistar uma prebenda do Estado - sob o cargo de diplomata - abandonou a literatura.
Desde a morte do pai, em 1879, Aluizio se sustentou com seus desenhos, o que o levou de volta ao Maranhão. Depois de 19 livros, centenas de artigos e caricaturas, ele se mostrou frustrado com a literatura. Sem dar maiores explicações aos amigos, trocou as noitadas, bebedeiras e a inquietação dos autores russos pela tranqüilidade e o conforto de um emprego público. O Livro de uma sogra, último trabalho do escritor, foi escrito em 1895 - exatamente no mesmo ano em que ingressa na carreira diplomática.
Pode parecer uma pergunta ingênua... mas minha única pergunta é... se um escritor com apenas 38 anos - ele é de 1857 - , cria uma obra tão volumosa, com alguns escritos consagrados clássicos, e sabendo que a produção literária não segue uma linha evolutiva, o que o impede de dar seu ponto final na carreira com o Livro de uma sogra?
Além do mais quem disse que em suas missivas não há algo de literario? Pois até agora não descobri o “segredo da caixa”...
Napoles, 19 de Dezembro de 1908

Ilustre e querido mestre Sr. Dr. [ ]

Estava para escrever-lhe, comuicando que já lhe havia remetido para ahi a caixa do nosso amigo Ferreira da Costa, como verá na cópia que a esta junto, quando tive a satisfação de receber a sua estimável carta que o próprio Costa diz ballotée de Herodes para Pilatos, tem já sua história: um bello dia, 14 de agosto deste anno, ella me surgio aqui no consulado sem vir acompanhada de aviso ou declaração de espécie algumaç ao fim de um mês, em 16 de setembro, receiando em que tivesse havido algum engano na remessa, mesmo por que havia ainda na tampa da caixa mal obliterado o endereço do cônsul em Gênova, escrevi aos agentes que a expediram de Roma, e por estes vim a saber que o remetente da caixa era o Ferreira da Costa, a quem logo escrevi igualmente, dizendo sobre a mysteriosa caixa; só em 28 de setembro recebi um bilhete postal do Costa, dirigido de Berlim, dizendo que eu tivesse paciencia e esperasse mais uns dias pelo “segredo da caixa”, que acrescentava ele, teria de ser expedida para o Rio de Janeiro e a encantada caixa foi ficando por ali no Consulado, até que ultimamente em 14 de novembro, o Costa me escreveu de novo, agora de Varsovia, com outra carta dentro, datada de S. Petersburgo, mas ambas num envelope sellado e carimbado em Roma, declarando que a caixa deveri ser remetida ao Sr., a quem ele me pedia para escrever, perguntando se o Sr. queria que ella seguisse por grande ou pequena velocidade; em fazer a pergunta e receber a resposta se perderia mais tempo talvez do que a differenca entre as duas velocidades. Eu nesse momento estava muito acabrunhado com a sorte de meu irmão e, em vez de fazer a consulta como queria o Costa, tratei logo de despachar a caixa para ahi por pequena velocidade, antes que o Costa me telegraphasse de Yokuhama ou de Honolulu, dizendo que dera a ella a outro destino e a mim novas ordens, reservando-me eu, está claro, para escrever ai Sr., explicando a remessa ao Costa não escrevi já, por não saber ao certo para onde dirigir a correspondencia, é difícil escrever-lhe com segurança, por que as suas cartas são datadas sempre de um novo ponto. A sua legação é em S. Petersburgo, mas ele, creio eu, reside em Roma, e escreve de Berlim e de Varsovia, sem nunca declarar para onde deve ser dirigida a resposta.

Agradeço-lhe do fundo d’alma as palavras de pesames que em mandou pela morte d meu querido Arthur, e desejo ao Sr. o mais feliz anno bom.

Amigo grato e contado
Aluizio Azevedo

Vaselina e Guerra Fria

Sem um log-in o serumanu não vale nada. Ontem fiquei sem log-in, password e tive todos os acessos aos meus arquivos do trabalho negados. O pessoal do centro de tecnologia disse que foi pobrema ténico. Fui do Ser ao Nada num pulo e fiquei indignado comigo mesmo.

Sem p. nenhuma pra fazer, resolvi ler, obviamente. Me caiu nas mãos um livro sobre Dean Acheson. O Acheson foi um advogado e homem de Estado americano. Portanto não foi santo. Colaborou com Roosevelt e Truman. E com o segundo chegou a ser secretário de Estado desempenhando um importante papel na Guerra Fria. Quem for reparar bem, tem dedo dele em basicamente em toda as instituições pós-guerra ( Doutrina Truman e Plano Marshall, OTAN, Banco Mundial e FMI, além de convencer a Truman de mandar tropas para a Coréia).


O calhamaço de Robert Beisner (Dean Acheson: A Life in the Cold War) é de perder o fôlego. São 800 páginas que evidentemente não li nem 10%, mas que tem passagens interessantes. Não deixa de ser interessante quando Beisner fala da animosidade pessoal entre Acheson e McCarthy no episodio da caça às bruxas. Acheson fez de tudo para defender seus subordinados, do Departamento de Estado, contra a fúria obsessiva de McCarthy. Essa briga iria perdurar por anos e determinar a saida dele da admnistração Truman. Obrigado à vida privada abriu um escritório de lobby bem em frente a Casa Branca e, por suas convicções, passou a ser uma eminência parda de Kennedy durante a crise dos misseis.

Somente um tipo como ele poderia lapidar uma frase tão simple e ao mesmo tempo tão defnitiva... "O memorando não está escrito para informar ao leitor, mas para defender o autor."


Os economistas chamam a isso de Risk Averse. Eu chamo de CYA - Cover Your Ass.







Musica do dia:Siegfrield's Death and Funeral March - Wagner - do terceiro anel .

El Aura

Resumindo: Fabián Bielisnky morreu no quarto de um hotel, se não me engano em São Paulo. Vítima de um forte golpe de caratê colombiano. Os jornais noticiaram que havia sido um ataque cardíaco. Perdeu o cinema e, pode parecer piegas, um pouco cada um de nós.

Senti muito a morte do cara que fez Nueve Reinas, um dos melhores filmes argentinos que tinha assitido nos últimos anos.

No El Aura o roteiro também é recambolesco, vendo-se um pouco a marca do maneirismo de Bielinsky, mas que ele conduz com precisão. El Aura é a estória de um taxidermista epilético, taciturno e reservado que tem uma memória imediata fenomenal, chegando a memorizar detalhes que poucas pessoas podem guardar. Depois que a mulher o deixa, sem bem saber por quê, aceita o convite de um amigo para caçar, mesmo que se recuse a matar animais. Nessa viagem se vê envolvido num assassinato acidental - na qual ele mata o dono da cabana onde estão hospedados ele e o amigo. A vítima, é o arquiteto de um assalto prestes a acontecer num cassino que está para fechar.

Aos poucos, o personagem de Ricardo Darín, acaba se envolvendo com os planos de assalato em andamento – contactando os cúmplices e se fazendo passar por comparsa do homem assassinado, mesmo sem ter a noção exata do que acontecia, mas valendo-se de sua prodigiosa memória. Nos detalhes dessa aproximação é que Bielinsky mostrou a sua maestria em conduzir um filme de tensão, pois você, pobre espectador, não sabe qual é o plano para o assalto, nem tampouco se a interpretação que taxidermista – calcado apenas em sua memória das anotações de um caderno que ele encontra com os planos - dá aos fatos é correta.

Nota: abraço pro Vivaldo, que também gostou do filme.

Recapitulando, o maneirismo de Bielinsky cessa exatamente no momento em que Aura se afasta diametralmente de Nueve Reinas. O estilo é parecido – takes incompeltos, cortes rápidos, jogos de memória, um plano último seja ele relacionado a selos ou a um assalto a um cassino - , mas no Aura há vários assassinatos, um clima de suspense e tensão pesados. Ou seja, aquele clima de tensão embaralhada com certa agitação cômica de NR não acontece em El Aura, um filme noir dos bons.


Música do dia. Do You Want to. Franz Ferdinad

Oh! Seu Oscar

“Cheguei cansado do trabalho
Logo a vizinha me falou
- Oh! Seu Oscar
Tá fazendo meia hora
Que sua mulher foi embora
E um bilhete deixou
O bilhete assim dizia
‘Não posso mais
Eu quero é viver na orgia’.
Fiz de tudo para ter seu bem-estar
Até no cais do porto eu fui parar
Martirizando o meu corpo noite e dia
Mas tudo em vão, ela é, é da orgia."


Ciro Monteiro

Eu chego a conclusao que o que menos importa no Oscar sao os filmes e sim o encomiástico. Pode ateh ser mesmo que somente a firula te segure por mais de tres horas pra ver uma festa que parece mais com uma formatura, uma entrega de diplomas.... E nesse ano as coisas foram mornas mesmo. A razao? Os musicais horrendos!!

Se por um lado nao teve choro, tampouco teve discurso pleonastico. Pelo menos, e acima de tudo, nao teve apresentador chato.

Pois eh, o Barden levou o de coadjuvante merecidamente. Os Irmaos Cohen sao esquisitoes, engracados, blase, mas competentes. Por isso a atitude... agradecer pra que, dude? Acho que no fundo eles quiseram dizer... a gente faz cinema com gente real sobre gente real, ou voce acha que psicopata assim so tem no cinema....

Ca pra nos, soldados do Iraque anunciando os doc eh negocio esquisito pra caramba.

O John Stewart, que eh um cara engracado e biliatico no Daily show estava perfeito - e deu uma ironizada discretissima quando o Presidente da Academia comecou a falar sobre a inviolabilidade do processo de escolha.... Foi elegante ao chamar a pianista do "Once" de volta ao palco, e acima de tudo nao tentou me convencer que era uma cara engracado numa cerimonia que nao eh pra ser engracada- como fizeram os in-su-por-ta-veis apresentadores dos ultimos anos.


Best picture“No Country for Old Men”
Best actress Marion Cotillard, “La Vie en Rose”
Best actor Daniel Day-Lewis, “There Will Be Blood”
Best supporting actress Tilda Swinton, “Michael Clayton”
Best supporting actor Javier Bardem, “No Country for Old Men”
Best director Joel Coen and Ethan Coen, “No Country for Old Men”
Best foreign film“The Counterfeiters,” Austria
Adapted screenplayJoel Coen & Ethan Coen, “No Country for Old Men”
Original screenplayDiablo Cody, “Juno”
Animated feature film“Ratatouille”
Art direction“Sweeney Todd the Demon Barber of Fleet Street”
Cinematography“There Will Be Blood”
Sound mixing“The Bourne Ultimatum”
Sound editing“The Bourne Ultimatum”
Original score“Atonement,” Dario Marianelli
Original song“Falling Slowly” from “Once”
Costume“Elizabeth: The Golden Age”
Documentary feature“Taxi to the Dark Side”
Documentary short“Freeheld”
Film editing“The Bourne Ultimatum”
Makeup“La Vie en Rose”
Animated short film“Peter & the Wolf”
Live action short film“Le Mozart des Pickpockets (The Mozart of Pickpockets)”
Visual effects“The Golden Compass”

Caramuru



De um varão em mil casos agitados,
Que as praias discorrendo do Ocidente,
Descobriu recôncavo afamado
Da capital brasílica potente;
Do Filho do Trovão denominado,
Que o peito domar soube à fera gente,
O valor cantarei na adversa sorte,
Pois só conheço herói quem nela é forte.
Revirando nossos mitos de origem fatalmente nos deparamos com a figura de Caramuru. Ate hoje, desde que li a Ernst Cassirer, tenho minhas desconfiancas sobre herois nacionais e a construcao de seus mitos. E chega a ser meio curioso como o brasileiro criou formas simbolicas para manter estruturas de pensamento e percepcoes da sua realidade que acabam sendo paradoxais. O poema de Santa Rita Durao, apesar de belo, tem umas pilantragens ufanistas imperdoaveis, reforca uns valores civilizatorios cretinos e chega a tornar qualquer critica que eu faca um ensaio calhorda, uma mediatriz entre o culturalismo e o determinismo cultural.
A lenda, que vale a pensa ser lembrada, reza que Diogo Álvares Correia foi um naufrago portugues que acabou recebendo dos Tupinambas a alcunha de Caramuru. Caramuru, na lingua dos Tupinambas, vinha a ser uma especie de "Homem do Trovao," tal qual Santa Rita Durao expressa no trecho acima, pois vendo-se prestes a ser atacado por um grupo de indigenas, Diogo Alvares lanca mao de seu mosquetao e mata um passaro. Os indios, com tao sugestivo argumento, afugentaram-se.
Interessante e ver como o mito de Diogo Álvares Correia atravessa a historia como um heroi civilizador, o primeiro europeu a viver em terras brasileiras e responsavel pelos contatos entre administradores e missionarios com os indigenas. Mais ainda, eh interessante perceber como sai das paginas de Santa Rita Durao e eh apropriado pelo Partido Restaurador no Imperio chegando totalmente avacalhado e esculhambado numa serie da Globo.
Pois eh... depois falam mal do John Ford. Tem nada nao, a gente merece.
A senhorita ai se chama Amy Winehouse e ganhou o Gammy Awards nesta semana. Por ter consumido craque e ser filmada consumindo a parada, teve o visto negado para entrar no USA.
Nunca, em toda a minha existência, cheguei a pensar que poderia concordar com uma decisão tão estúpida como esta de impedir o direito à liberdade de ir e vir. Mas no caso de Winehouse... acho que a decisão do burocrata que se negou a carimbar o passaporte da figura, justiça seja feita, foi acertadíssima.....

Ouvi duas musicas dela Fuck Me Pumps e Stronger Than Me. Nem aguentei ouvir tudo. Em terra de Aretha Franklin, Cassandra Wilson, Dinah Washington, Carmen McRae, Hollyday e Fitzgerald... é até desrespeito falar em Amy Winehouse. Aliás, Amy o quê?

Aqui não entra, mas aposto que em terra de Elis, Clementina, Betânia, Elizeth e Elsa Soares... ela entra. Afinal, Pindorama é ou não é a Terra dos Papagaios.

Musica do dia. Come in Out of the Rain. Carmen McRae

Quarta-feira, cinzas depois da Super Tuesday



We are like chameleons, we take our hue and the color of our moral character, from those who are around us.
John Locke - ele era inglês...

Nota:

Democratas -Numero de Estados/Numero de Delegados

Barack-13/304

Hillary-9/383

Republicanos -Numero de Estados/Numero de Delegados
John McCain - 9/306

To whom it may concern Beija-flor campeã!?

Eternal Sunshine of the Spotless Mind


Até The Truman Show, Jim Carrey sempre representou papéis de idiotas. Era tão convincente que o personagem quase se imantava ao ator e passavamos a pensar que Carrey era realmente um imbecil. Mas a partir deste filme havia algo que chamava a atenção para suas qualidades de ator dramático. O personagem tinha algo de introspecção, algo que o deslocava daquele paraíso terrestre onde todos pareciam conviver em harmonia, fosse pela infelicidade de uma crise no casamento, fosse pela sensação persecutória de estar constantemente vigiado.

Em Eternal Sunshine of the Spotless Mind (2004), Carrey ainda não me convenceu, mas realmente pode-se dizer que o papel de um homem solitário e de hábitos rotineiros, que um dia decide, de maneira absolutamente inesperada, iniciar uma viagem de trem a uma estação completamente desconhecida, pode ter contado uns pontos para a mudança de rumo numa carreira de caretas idiotas.

Eternal Sunshine of the Spotless Mind é a estória de como Joel, um tipo introvertido e tímido, descobre que Clementine (Kate Winslet), sua namorada impulsiva e apaixonante. E de como ela recorreu a uma empresa especializada em apagamento de memória para desfazer de seus neurônios, especificamente a relação que manteve com Joel. Ele, desesperado, acaba por fazer o mesmo. Contrata a mesma empresa para apagar de suas lembranças toda a memória relacionada a Clementine. O único problema é que a impulsividade Clementine o atrai na medida direta que a passividade de Joel a deixa insegura.

Este filme tem umas sacadas absolutamente geniais para quem já quebrou a cara, catou os cacos, refez-se na vida um mosaico que voltou a quebrar-se. O roteiro assinado pelo Charles Kaufman (Being John Malkovich – o qual merece uma linhas aqui- e Human Nature), realmente prende ao tratar de temas como memória, esquecimento e seus labirintos. Kaufman traz elementos surreiais para o mais cotidiano do dia-a-dia, como se numa inexpressiva terça-feira de janeiro de 2008, pudessem acontecer fatos extrtaordinários que nunca mais fossem esquecidos.
Mas Kaufman não agiu solitariamente. Michel Grondy deu forma ao surrealismo de um roteiro que mostra alucinações, memórias e reviravoltas imprevistas em cenas puramente oníricas e muitas vezes poéticas, sem desembocarem numa bad trip. Tudo isso torna o final absolutamente original, mesmo que previsível, pois afinal, o final é o que menos importa numa viagem.
Enfim, tudo se passa essencialmente na mente de Joel. Durante o processo de apagamento, lembra dos fatos como vários déjà vu, sem conseguir encadeá-los uma ordem racional às coisas, aos acontecimentos e às memórias. Ao mesmo tempo em que lembra de episódios relacionados a Clementine, os mesmos desaparecem de forma caótica. Esse labirinto impreciso de lembrança e esquecimento, passado e presente, ou melhor dizendo, de que ‘passado’ o ‘presente’ elege para ser lembrado, é o que o ajuda a fugir dos apagadores de memória que o perseguem. Ao mesmo tempo em que o espectador torce por Joel e Clementine, certifica-se - como quem já quebrou a cara e sabe como isso funciona - de que a tênue linha que liga os dois é frágilíssima. Tão frágil e tão mimética que é melhor esquecer....

Cronaca di un amore

No Cronaca di un amore de 1950, Antonioni, mais de 10 anos antes da trilogia começada em L’Aventura, já mostra o que fez dele um cineasta das pausas constrangedoras, da coragem pela incomunicabilidade, dos desvios, das interceptações de olhares obliquos. No Cronaca, os amores inconsistentes, os silêncio eloqüentes, o tédio amoroso e a incompreensão constante fazem da vida de Enrico e Paola (Lucia Bose) um inferno cotidiano.

Enrico, sentindo-se inseguro em relação a sua jovem e sensual esposa Paola, contrata um detetive particular. Ironicamente, sua atitude acaba gerando o reencontro de Paola com seu ex-amante Guido. A partir daí, os dois reiniciam um antigo affair que desemboca no fim trágico de Enrico.

Neste filme, particularmente, não há as angulações tensas do L’Eclisse ou menos ainda do Blow up, mas há incontestavelmente a fotografia triste, o quase nada mostrado numa clássica economia verbal. Os personagens, que vivem vidas deslocadas e seus interlúdios humanos, são delicadamente fragilizados tanto pelas paixões quanto pelos seus destinos.

Nostalgia for Terra Incognita


Alex é além de vizinho, um chapa franco-americano, apaixoado pelo Brasil e pela música brasileira. O poder da argumentação do Alex, arrebata. As entonações que tira da sua viola tem algo de bossa, algo da briza de Pat Metheny e alma de Cassandra Wilson (que descobri com ele), mas também algo de angústia. A angústia pessoal de uma alma incapaz de suportar os horrores deste mundo.

Podemos ouvir nas suas notas uma confissão, como se estivesse tentando organizar todos os barulhos pós-modernos numa melodia suave, por mais recôndito e velado que seja seu desabafo.

Taí a biografia do cara:

Born in Brittany, the Celtic province of France, raised mostly in rural North Carolina, and a traveler through Spain and Latin America now living in Washington, DC, Alex has always sought to create music that expresses his unique confluence of world cultures, what he calls “New World jazz.” A former novelist and poet with an MA from the Creative Writing Program at the University of Texas at Austin, he seeks to make music that tells stories of the exotic and the familiar--the “exotic” always being familiar to some of us. He has found an ideal vehicle for this effort in the quartet Amérique Latine, formed with vocalist Lena Seikaly (of Palestinian descent), bassist Leonardo Lucini, and drummer Alejandro Lucini (brothers who grew up in the Copacabana neighborhood of Rio de Janeiro). The group’s new CD, Nostalgia for Terra Incognita, navigates the waters where these cultures meet. Nostalgia includes six compositions by Alex as well as five standards from the U.S., French, and Brazilian repertoires, approached from the group’s distinct perspective on the musical world. The result is an attempt to map the group's own Terra Incognita, a land of memory and imagination.
Na respectiva ordem: Alejandro Lucini, Lena Seikaly, Leonardo Lucini e Alex Martin

http://www.alexmartinmusic.com

Taruíra


As coisas vistas por dentro

Carlos Quiroga é escritor, militante de uma língua entre duas línguas. Tento explicar: 'O galego ou é galego-português ou é galego-castelhano', assim como está escrito em frente ao prédio das Letras na USC.

Foi uma grata amizade, esta que o andar pelo mundo destinou. Um cara que assume, como alguns teóricos já asseveraram, a idéia de que a narração é impossível. Assume, porém não se rende a tal falência por uma questão pessoal e política. Nos nossos papos, até chegamos a constatar com certo incômodo, que a lógica da narrativa formal causal-linear sofre da bricolagem, da acumulação, da reescritura e de tudo aquilo que assumimos com um apriorismo pos-moderno. Porém, a debilidade do relato contemporâneo, agora ligeiro, disperso, fragmentado e superficial, não impede o cara de produzir prosa e poesia; até por que, para além de uma questão sobrevivência existêncial, a escrita em galego é uma questão de sobreviência linguística.

Em seus livros, menos no Inxalá - um work in progress, como ele mesmo me segredou - , e mais no O Regresso a Arder/Viagem ao Cabo Nom/3, pode-se separar uma certa epifania pop dos seus golpes de efeito estético. Li o segundo ( uma combinação de fotografia, poesia, ensaio, narrativa e diário ) perguntando-me onde sua narrativa de resistência começa a desconfiar de uma visão coerente e unitaria do mundo. Mas só fui encontrar no primeiro, o Inxalá, a sensação de que minhas indagações eram respondidas pouco a pouco através de uma revisitação nostálgica - ou irônica, ainda não sei - que Carlos faz à tradição do falar galego sem a contaminação dos hispanismos. Prova dessa resistência é dada pelos protagonistas, um médico e uma tradutora, que buscam em Portugal ou nos desertos da África, os lugares de origem, os solos onde a memória possa fundar suas raízes. Por isso mesmo tem-se a sensação de que o Inxalá evocado por Carlos é mais que uma simples interjeição de desígnio de desejo, é uma janela sempre acolhedora para o frescor de uma idéia de Ocidente cada vez mais distante.




Evidentemente, todas essas conclusões vieram depois de vários Ribeiros, Riojas e Estrellas de Galicia, afinal in vino veritas. Grande camarada!





Foto: Gentalha do Pichel, caverna de cultura alternativa

IAD-LHR-MAD-SCQ - - SCQ-MAD-LHR-JFK-DCA

Um dos gratos momentos que passei na minha última e interminável viagem - de quarenta horas, cinco escalas e duas malas perdidas - foi aquele que passei lendo a Philip Roth. O Roth salvou boa parte dos atendentes de Costumer Service da Iberia e da British Airways. Salvou-os da minha indignação resignada contra as empresas de aviação que a cada dia se parecem mais com as de transportes coletivos públicos terrestres. Além disso devo a ele, pessoalmente, o fato de não estar respondendo frente aos tribunais de Haia pela minha primeira tentativa de homicídio culposo - pois eu estava absolutamente convencido que eu deveria dar no mínimo um soco na cara do atendente da Iberia que em Madrid disse-me que a culpa pelos meus vôos cancelados não era da empresa e sim minha, por não ter previamente conferido meus emails antes de sair de casa.

Neste clima, li a primeira novela do Roth chamada Goodbye, Columbus. Uma pequena novela explosiva. Uma visão da vida sem compaixão, numa forma de escrever sem espaço para o auto-engano já no primeiro livro da juventude.

A trama se desenvolve em Newark e seus arredores. Neil Krugman é um jovem bibliotecário, sem um futuro muito bem definido. Vive com uns tios em New Jersey, nos arredores de Newark. No clube em que frequenta, conhece a Brenda Patimkin, herdeira de um industrial do ramo da porcelana de Short Hills. Nestas mesmas férias de verão, os dois se envolvem amorosamente de tal maneira e com tal força que seria difícil saber o que o destino reservaria a ambos.

Brenda é oriunda de uma família de judeus ortodoxos. É o tipo de menina fútil, bem vestida, consumista, universitária, vaidosa a ponto de se submeter a cirurgias plásticas e absolutamente aberta aos encantos de Neil, seu completo oposto. Neil, um tipo ácido, com alguma dose de idealismo sufocado por um pragmatismo desvelado, é um jovem contido e lacônico. A estória é narrada por Neil que, com seus rasgos psicológicos e inteligência aguçada, se aproxima dos Patimkins e traça uma radiografia crua da família. Por Neil, Roth fotografa a vida dos subúrbios americanos como ninguém. Das linhas de Roth, narradas por Neil, não escapa nada: sexo, racismo, distinção de classes, opressão feminina, traumas familiares, conflitos entre pais e filhos, hipocrisia, inveja... enfim todos os elementos que circundam um bom romance que vai da iconoclastia à ternura sem concessões.