Alocação

É um programa estrutural para criar potencial de grande dinamismo econômico, que requer educação do público. É um grande passo na direção certa.
Edmund Phelps - Prêmio nobel de economia sobre a bolsa família.

Stranger Than Paradise

Stranger Than Paradise
Stranger Than Paradise é uma comédia interessante e meio absurda. É um filme de 1984 feito com sobras de imagens de um filme do Win Wenders chamado The State of Things, para o qual Jarmush havia escrito a trilha sonora.

O filme é dividido em três partes. Na primeira, "The New World", conta a história de um americano que vive num bairro meio barra pesada de NY a espera de uma prima húngara, com quem nunca teve relação. A prima chega, passa uns dias, e parte para Cleveland, Ohio para viver com uma tia velha e peculiar, como se nada tivesse acontecido. Na segunda parte "One Year Later," trata da viagem do primo e se seu amigo a Cleveland para procurar pela prima. De la o filme passa enfocar a viagem dos três de Cleveland para a Florida, "Paradise" – a terceira parte.

Esses road movies, no geral não me atraem, mas há algo da contracultura que no Stranger Than Paradise me atrai, por contrapor-se exatamente à cultura cliche, ao lado comercial do cinema e das estórias que todo mundo que assistir repetidamente. Tampouco, sou totalmente adepto de todas as idéias dos hipsters, até por que estou longe se ser um vegan, mas ainda escuto meus vinis do Parker e do Coltrane e reservo sempre um tempo para filmes independentes.

Acho que não foi à toa que em 2002 o filme foi selecionado para o National Film Registry aqui da Library, por ser um exemplo 'cultural e esteticamente significante da cultura americana.'


Permanent Vacation
Esse aqui é um registro de um Jarmusch jovem e sem refinamento. Permanent Vacation é a história de Allie, jovem fã de Charlie Parker, que vagueia pelas ruas Lower East Side, em Manhattan, num tempo e que por alí não passavam os hipster de bem como se vê hoje. A cidade parece destruida por uma guerra. E tudo se passa num constante vazio existencial com os típicos estranhos personagens pelo caminho.
O filme é chato. Chatissimo. Principalmente por que me faz lembrar que um dia gostei de Smiths, The Cure e Legião Urbana e de todo aquele romantismo urbano pos-punk no qual todos da minha geração perdemos um tempão. O filme, rico em ambientes de desolação, alienação, solidão e busca por contato e afeto, traz já asquestões que Jarmusch tocaria em outros filmes de maneira muito mais fascinante. Mas vou dar um desconto pois ja assistira os outros.

A maratona de Jarmush está quase acabando, e já estou sentindo uma certa nostalgia.

Dead Man


William Blake é um jovem contador que deixa Cleveland com destino a Machine, cidade no meio do nada do cu do Judas - licença poética ao Lobo Antunes - e onde a linha férrea termina. Vai atrás da promessa de emprego numa metalúrgica. Chega, e é comunicado por John Dickinson que a vaga já está preenchida. Sem dinheiro, rumo ou objetivo, envolve-se com a mulher errada, assassina seu ex-noivo – numa tentativa de salvar a própria pele e se mete numa errascada danada. Na verdade, William matou não apenas o ex-noivo da moça. Matou o filho de John Dickinson, o dono da metalúrgica que lhe negou o emprego, e por acaso o homem mais temido da cidade. Baleado, é recolhido por um índio chamado Nobody (Gary Farmer), que acredita ser ele, Blake, o poeta e ilustrador inglês homônimo.

Aos poucos, o Blake pacífico, circunspecto e ligeiramente efeminado, vai cedendo à cirscunstância violenta e caótica do Oeste, no momento que passa a ser perseguido por três pistoleiros da pesada. Ou seja, contrário de sua natureza, vai se transformando, forçado pelas circunstâncias, num matador procurado.

Do encontro de Blake com Nobody, Jarmusch cria situações realmente cômicas e existenciais. Nobody estudara na Inglaterra e por acaso conhecia várias passagens do poeta Blake de memória, as quais declamava para o contador Blake – que por sua vez assimilava-as como um tipo de insight de sabedoria indígena. O problema – ou melhor, a melhor qualidade - é que a ironia de Jarmusch, faz rir na mesma proporção do incômodo que causa. Várias vezes Nobody pergunta a Blake se ele tem tabaco, recebendo sempre a mesma resposta, "não, eu não fumo". Todo o cara que fuma, deveria saber que o tabaco é essencia na medicina, imprescindível em cerimônias religiosas e militares, complemento alimentar que ajuda na digestão, um alucinógeno para lá de eficiente e obviamente uma oferenda aos mortos. O detalhe fica claro no final do filme, quando Blake, flutuando numa canoa que o levará dessa pra melhor, mostra a Nobody o fumo em rolo.

Nota. Mas vamos lá... as poesias que Nobody recita são Auguries of Innocence, The Marriage of Heaven and Hell, The Everlasting Gospel.
Um trecho do Marriage of Heaven and Hell.

Thus one portion of being is the Prolific, the other the Devouring: to the devourer it seems as if the producer was in his chains, but it is not so, he only takes portions of existence and fancies that the whole.But the Prolific would cease to be Prolific unless the Devourer, as a sea, recieved the excess of his delights.

E uma tradução sonora e sem vergonha (perdão, Blake)

Assim uma parcela do ser
é a prolífica, a outra a voraz:
ao que Devora luz
como se quem produz
estivesse em suas correntes,
mas não é assim,
ele toma somente,
da existência, parcelas,
e fantasia nelas
o todo delas.

Shadows

Shadows, primeiro filme do Cassavetes, é aparentemente simples. Um grupo de amigos músicos novaiorquinos, de classe média baixa, se aventuram pela noite em festas, muito jazz e farra. A estória principal fala sobre um triângulo amoroso entre uma moça mestiça - ou como diria o IBGE, parda -, um negro boa-praça e um playboy pilantramente branco que gosta de freqüentar as festas underground para parecer underground. Leila se envolve com o playboy, mas não é o tipo de moça ingênua. Assume o jogo de sedução propensa ao assédio e ao envolvimento com o jovem branco, mesmo que a tal entrada no mundo branco não seja o que realmente deseja. Após conhecer os dois irmãos da moça, o jovem revela sua face racista e se vê diante de um dilema: continuar com a moça ou esquecê-la para sempre. Enfim, Cassavetes foi um realista ao filmar o drama sobre dois negros músicos e sua irmã na busca de identificação numa Manhattan cosmopolita, mas que não foge à regra de qualquer caipiroland americana. Com um elenco amador - Ben Carruthers, Leila Goldoni e Anthony Ray - a trilha sonora de Charles Mingus, e apens 20 mil dólares arrecadados com amigos no bolso, Cassavetes fez de Shadows uma obra definida por ele próprio como experimental, mas que permanece.

Inquieto e criativo, Cassavetes integrou-se no final dos anos 50 ao chamado movimento dos realizadores dos Free Cinema em Nova Iorque. Este seu primeiro longa-metragem foi realizado em 1959, apenas quatro anos depois de Rosa Parks se recusara a ceder o asento a um branco e dois anos mais tarde que Eisenhower convocara a Guarda Nacional pra baixar o pau no pessoal de Little Rock. A câmera trêmula, os closes sem angulação e os cortes colocam o espectador no centro da narrativa, contada em meio a uma trilha permanentemente de jazzistica. O filme é sem dúvida uma grande experiência para quem por acaso leu o L´Herbe Rouge do Boris Vian.

O que particularmente gosto nos filmes do Cassavetes é que o homem não deixa espaço para a divagação existencialista. E nesse filme ele até dá uma cutucada irônica nos existencialistas quando coloca com ironia uma personagem secundária e fora de contexto para falar numa festa sobre filosofia francesa. Ou seja, em seus filmes não há aquela pausa para chegar à varanda da janela, para o deslumbre pensativo de um olhar vago sobre a cidade, não há a pausa sem diálogos, até por que Cassavetes desnuda a sua galeria de personagens de temperamentos explosivos em permanente motin interno, de maneira cruel, sem chances para qualquer tipo de condescendência. Sem trocadilhos, sem Sombras.

Night on Earth

Night on Earth, filme do Jim Jarmusch de 1991. Assisti esse filme quando estava entrando na faculdade e pra ser sincero nunca consegui definir bem o que da estética do Jarmusch realmente me atrai. Assisti ao Night on Earth pela segunda vez hoje, mas ainda nao descobri o que realmente ficou guardado dele na minha memóra. Só sei que realmente gosto dessa espécie de oceano urbano de formas desfeitas que ele cria. Certifico desde já que um dos 5 vignettes me irritaram profundamente – exatamente aquela bobagem de estória do Roberto Benini, que realmente me irrita como ator e diretor; não sei, acho que é sua figura humana, aquela sua caricatura forçada de seu ser e, por metonímia, da alma italiana. Enfim, tem algo de errado nesse cara. No entanto, gosto do jeito de narrar do Jarmusch com imagens não-familiares mas facilmente identificáveis que tornam até minha animosidade contra taxistas ao redor do mundo, um sentimento mais brando mas não necessariamente passível de uma gorjeta eventual.


Uma vez, assitindo uma entrevista do Jarmusch, fiquei surpreso com seu hábito de assistir a filmes estrangeiros sem legendas. Mesmo que não entenda os diálogos, para ele o filme não é só o diálogo, mas a atuação dos atores, a luz, o contexto... enfim tudo que aparece na cena do taxi onde o ator ebúrneo Isaach de Bankole - alias um ator que ja vi em alguns filmes e que realmente tem uma capacidade mudar de personalidade apenas com um corte de cabelo - e Béatrice Dalle dão seu show particular de interpretação.

Enfim, um filme sobre as relações de taxistas e passageiros. Um filme sobre a idéia de que se está sozinho com uma outra pessoa, num espaço fechado, durante um trajeto definido, e com quem não se tem absolutamente nenhuma relação. De ambos, nada é exigido. Em ambos, nada é investido. Não havendo ganhos ou perdas, pode-se mentir durante todo o trajeto. Pode-se permanecer absolutamente calado. Ou pode-se ser completamente honesto. Enfim, igualzinho ao consultorio do teu analista.

Policial civil é baleado em tentativa de assalto

Policial civil é baleado em tentativa de assalto
Desde terça-feira, é o terceiro policial ferido. Seis agentes morreram em cinco dias.

O policial civil Richard Valença Braga, de 37 anos, foi baleado durante uma tentativa de assalto na saída da Linha Amarela, na altura de Del Castilho, no subúrbio do Rio, na manhã desta quarta-feira (23). Na terça-feira (22) um policial foi morto e dois ficaram feridos. Ao todo seis agentes morreram desde a última sexta-feira (18) vítimas de ataques. As informações são do serviço reservado do 3º BPM (Méier).

Segundo a polícia, Braga seguia em seu carro por volta das 7h quando foi abordado por três homens num veículo e teria reagido. O policial, que trabalha na Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae), foi atingido no abdômen e na perna esquerda. Ele foi levado para o Hospital Salgado Filho, no Méier, no subúrbio. De acordo com informações da Secretaria municipal de Saúde, ele já foi operado, e passa bem. Seu estado é estável. Os suspeitos fugiram sem levar o carro.

Seis mortos e três feridos

Desde sexta-feira (18), seis policiais foram mortos e dois ficaram feridos. Na sexta, morreram o cabo Kleber Amparo foi morto em Niterói, na Região Metropolitana, o soldado Márcio de Oliveira Mendonça, em Bangu, na Zona Oeste, e Paulo Craveiro, que trabalhava no Detran, em Olaria. No dia 19, foram mortos o cabo João Luiz de Souza, em Campo Grande, na Zona Oeste, e o sargento Marcos Patrillo Mercês, em Vilar dos Teles, na Baixada Fluminense. Na terça-feira (22), o sargento Edgar de Freitas Navarro, morreu em Cascadura, no subúrbio do Rio.

Além do policial civil Richard Valença Braga, baleado nesta quarta (23), em Del Castilho, no subúrbio, também foram feridos na terça-feira (22) o sargento Carlos Vargas de Lima, durante uma tentiva de assalto, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e o cabo Ueslen de Carvalho Guimarães, em Guaratiba, na Zona Oeste.

Breve biografia do Richard:

Eu o conheci antes de entrarmos para a faculdade, e nao por acaso ele é um dos caras que admiro.

Passamos juntos no vestibular. Ele foi primeiro lugar em sociologia na UERJ e UFRJ. Com 18 anos, totalmente auto-didata, e dominando a escrita como poucos, ja conhecia boa parte da obra de Freud e Jung, alem de filosofia classica - acho que até hoje guardo as cartas que ele me enviava sugerindo leituras, dentre elas um livro que guardo até hoje do Ralph Linton. A propósito, foi um dos primeiros lugares no mestrado em antropologia do Museu Nacional. Lembro que quando nos encontravamos para um cafe acabavamos sempre conversando sobre Sergio Buarque e Gilberto Freyre, autores que eu comecava a descobrir e ele ja estava careca de ler. Era tao distinto que inspirava respeito nao so dos alunos, mas dos professores. Mas de repente, decidiu abandonar a vida academica - eu sempre tive a impressao que ele era brilhante demais para essa vida. Penou trabalhando numa livraria até decidir fazer o que queria, ser policial civil. Ha pouco mais de um ano, tomou um tiro de fuzil numa operacao numa favela. Por esses segundos e milimetros controlados por forcas maiores que podemos perceber mas nao entender tampouco ver, a bala nao tocou a arteria femoral.

E ontem recebi essa nova noticia.

Desde ontem não paro de pensar que nos Estados Unidos - um lugar onde a tensao entre um policial e um bandido não é menor - um bandido não tem sequer a coragem de pensar em atirar num policial. E eh por isso que as vezes penso seriamente em me tornar um ex-carioca.

O Richard vai sair dessa. Só isso.