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Ferocidade como entretenimento


A cada vez que assisto um desses filmes coreanos me sinto um tanto constrangido. Perdi muito tempo assistindo a filmes americanos. Essa é a verdade. The Chaser, primeiro longa-metragem Na Hong-jin, é mais um dos grandes filmes da lavra coreana.

Neste  país a polícia é mal paga, corrupta e violenta. Não, não, as semelhanças são apenas uma ilusão, pois estou falando da Coréia do Sul. Num ambiente onde campeia a violência e a corrupção, Joong-ho, o protagonista, tira partido. Para seus ex-companheiros de farda ele é um homem de moral duvidosa. Ex-detetive que virou cafetão por problemas financeiros, começa a se irritar com o despareceimento de suas “funcionárias”. Ao tentar rastrear o paradeiro das moças, descobre que todas as meninas tinham sido contratadas sequencialmente por um único cliente, e que tinham sido assassinadas. Ele então forja um plano para pegar o assassino.  Joong-ho consegue capturar o assassino e entregá-lo à polícia. Mesmo confessando os crimes, como não há corpos, não há provas materiais contra o assassino, que dessa forma estará em liberdade em 24 horas. Por algum motivo que o roteiro deixa passar, Jung-ho acredita que uma de suas prostitutas ainda está viva. E aí sim começa a caçada, não do culpado mas dos corpos que devem ser encontrados em menos de 24 horas.

Essa corrida contra o tempo dá o tom do excelente filme, até o momento da inversão do plot. O prazo se esgota. A polícia, pressionada pelo governador, num momento de intensa pressão pelos métodos brutais empregados, precisa liberar Yeong-min. A procuradoria sugere que um suspeito que confessa sobre tortura pouco melhor a imagem da polícia. Para evitar o escândalo político, o governador decide pela liberação do suposto assassino. Enquanto isso, é pedida a prisão de Joong-ho como o bode expiatório de toda a crise. Apesar de algemando, o ex-policial escapa para procurar Mi-jin, uma de suas meninas que suspeita ainda estar viva.

A intuição de Joong-ho é correta. Mi-jin de fato ainda está viva, tentando se libertar das cordas que a amarram em meio aos corpos das outras 11 mulheres assassinadas, escondidas na casa do assassino. Gravemente ferida porém lúcida, Mi-jin escapa e pede auxílio numa loja das redondezas. Tenta telefonar. Enquanto isso o assassino, já liberado, prestes a chegar a casa, decide comprar cigarros exatamente na lojinha das redondezas... Joong-ho chega tarde demais.

O plot se inverte novamente. Joong-ho passa a tentar encontrar novamente o assassino. Desesperado com a morte do que tudo indica ser mais que sua ‘funcionária’, o ex-policial sente-se derrotado. Vai até a igreja local e percebe que a imagem do Cristo crucificado na fachada, era parecida às imagens que viu por trás do papel de parece do quarto onde Yeong-min esteve hospedado. Consultando o diácono, descobre que o assistente da obre da igreja estaa hosedado na casa de um de seus sectos. Joong-ho segue para lá. Quando chega decide não tocar a campainha, mas usar um molho de chaves que retirara do bolso de Yeong-min. Quando entra, depara-se com Yeong-min.

É bastante certeiro que numa sociedade onde campeia a crueza da violência física e sangrenta, a questão da corrupção e do funcionamento do dinheiro sujeita os comportamentos e os sentimentos à sua força mortiz. Neste fimle especificamente, descontados o sangue derramando e a brutalidade nos meios de liquidação dos personagens, o protagonista põe em cena toda a sociedade. Apesar de alguns pequenos furos de roteiro, o filme mostra com certa ferocidade um certo espetáculo de entretenimento onde a noção e o sentido do absurdo se tornam cada vez mais lugar-comum.

Laranja Mecânica com tofú

Dias atrás, dois chapa, fanáticos por filmes e literatura, e eu, estávamos numa livraria aqui na capital de Vanuatu. Estavamos zanzando pelas estante de DVDs, falando bem e mal de filmes clássicos. Eu podería até dar o nome deles, dos caras, mas acontece que ninguém acreditaria. E ainda me chamariam de mentiroso, maluco e pústula. Enfim, sem tentar cruzar a linha da cabotinagem, vamos aos fatos.

Na livraria, no setor de cds e dvds, os ilustres me indicaram o filme Park Chan-wook, Oldboy. Um deles, me disse que assitira a este filme em Amsterdã, já que tinha sido o roteirista de um dos filmes brasileiros da mostra. Sendo assim tinha direito a escolher, em exibição privada, qualquer filme do festival. Ele escolheu Oldboy. Depois dessa, comprei na mesma hora. E na mesma noite o assisti. O grande problema deste filme é que se trata de uma trilogia altamente viciante. É simplesmente impossível assistir apenas um. Então, obviamente você desesperadamente procurará logo o primeiro filme da série, Simpathy for Mr. Vengence, e o terceiro, Sympathy for Lady Vengeance. Aconselho-o a assistí-los todos no mesmo dia, de outra maneira, assistindo-os em três dias distintos, como foi meu caso, voce terminará a semana no bagaço, pois é simplesmente impossível dormir após tal obra de arte. Repito: obra de arte cinematográfica.

A trilogia é do diretor sul-coreano Park Chan-Wook. Em cada uma das estórias o diretor costura com os fios da vingança, o amor e o ódio desmedidos. Macbeth dizia que “Eles ardem do desejo de vingança, por que seus mais pungentes motivos moveriam até mesmo um eremita ao mais sanguinário e feroz combate.” A frase de Shakespeare, bem podia ser o prólogo da trilogia. Em todos os três filmes, as tramas permeadas sempre pelo desejo de vingança – ou justiça, agora estou confuso - são sofisticadas. No segundo, Oldboy, há além disso intrincadas viradas psicológicas, imagens inteligentes, apoiadas numa estética absolutamente instigante.

Mas vamos por ordem.
Sympathy for Mr. Vengeance trata exatamente desse desejo desmedido de vingança que leva a um pai às últimas consequências para encontrar os assassinos de sua filha.

Ryu, é surdo-mudo e trabalha numa fábrica para sustentar sua irmã doente e que precisa desesperadamente de um transplante de rim. Cansado de ver a irmã padecer, Ryu tenta doar um de seus rins para sua irmã, mas descobre que seu tipo sanguíneo não é compatível com o da irmã, portanto ele não seria o doador adequado. Após ser despedido da fábrica onde trabalhava, Ryu entra em contato com traficantes de órgãos no mercado negro. Concorda em doar um de seus rins e usar sua indenização para comprar um compatível com o de sua irmã. Os traficantes desparecem com o dinheiro, seu rim e a promessa do rm de sua irmã. Por felicidade ou infelicidade, três semanas mais tarde, Ryu descobre através do médico de sua irmã, que encontraram um doador e que a operação custaria o mesmo valor pago aos traficantes de órgãos que desapareceram.

Cheio de lumbago, sem dinheiro, e meio revoltado com a vida, ele e a namorada, Yeong-mi, uma militante anarquista, resolvem sequestrar a filha dono da empresa. O plano é logo abandonado por perceberem que obviamente as suspeitas recairíam sobre eles. Então decidem sequestrar Yu-sol, a filha do amigo do patrão, Dong-jin, outro executivo da fábrica. A menina fica com a irmã de Ryu, mas que desconhece a origem da menina. Concomitantemente ao pagamento do resgate, recolhido por Ryu, a irmã descobre o esquema e se mata. Ryu, com Yu-sol e o corpo de sua irmã, vão para a beira de um rio enterrar a irmã de Ryu. Enquanto chora Ryu, Yu-sol acidentalmente cai em rio e morre afogada.
Horas mais tarde, Dong-jin vendo o corpo da filha, jura vingança. Enquanto isso, Ryu lança-se numa busca desesperada pelos traficantes de órgãos. Dong-jin, investiga a identidade dos sequestradores e encontra Yeong-mi. Tortura-a até a morte. Antes de morrer, além de se desculpar com Dong-ji, Yu-sol adverte-o que ele está jurado de morte pela sua organização. Ryu retorna para ver Yeong-mi. No prédio, descobre que a polícia retirou de seu corpo em uma maca. (imagem absolutamente impagável quando Ryu, dentro do elevador, pega na mão de Yeong-mi, atada pelos legistas numa maca).

Ryu vai a casa de Dong-jin. Espera. Tocaia-o. Nada. Na verdade, Dong-jin está na casa de Ryu, esperando-o, com um transformador ligado à fechadura. Ryu chega à casa. Abrea porta e recebe uma descarga. Apaga inconsciente. Dong-jin, em seguida, amarra as mãos e pés de Ryu e leva-o para o rio onde Yu-sol morreu. Leva-o par ao meio do rio, com àgua na altura do peito. Dong-jin reconhece que, apesar de Ryu ser um homem bom, ele não tem escolha e deve matá-lo. (imagem absolutamente impagável quando Dong-jin está cara a cara com Ryu, em seguida mergulha, a camera se afasta, Ryu olha ao redor e não entede o que está passando. Por alguns minutos somente a cabeça de Ryu aparece na superfície do rio. Ryu começa a se debater. Dong-jin mergulhou e cortou-lhe os dois tendões de Aquiles de Ryu. A câmera mostra o corte embaixo d’agua com o sangue jorrando aos borbotões). Dong-jin arrasta Ryu até a margem. Cava. Antes de colocar os corpos cortados do irmão e da irmã mantidos em sacos de lixo, o grupo de Yeong-mi chega. Eles cercam e esfaqueam repetidamente Dong-jin, finalmente cravando a nota em seu peito com uma faca. Se identificam como grupo terrorista do qual Yeong-mi fazia parte. O grupo deixa Dong-jin morrer ao lado de seu carro com as ferramentas e os sacos ensanguetados que ele usou para cortar, desmembrar o corpo de Ryu. A nota, by the way, já aparecera numa cena no início do filme, no cumputador de Yeong-mi. Filmaço.

Oldboy talvez seja o mais incrível dos três. Mas vamos por ordem. Fiquei louco pelo Oldboy quando assiti há duas semanas atrás. Com um roteiro primoroso, Oldboy é o melhor dos três.
Um adendo. Sabe aquele pequeno deslize, aquele vacilo cometido com aquele amigo de adolescência? Todo mundo tem um, pelo menos. Pois é. No universo de Park Chan-wook, o amigo vem cobrar a conta 15 anos depois.

Oh Dae-su é um falastrão. Está bêbado e retido numa delegacia, na noite de aniversário de sua filha, esperando pela chegada de seu amigo Joo-Hwan. Após várias horas e o pagamento de fiança é liberado. Oh Dae-su chama à esposa de um telefone público para explicar o acontecido. Quando Joo-Hwan pega o telefone, Dae-su desaparece no meio da noite chuvosa, deixando caídas as asas de anjo que comprara de presente para a filha.

Desde esse dia, fica preso por mais de 15 anos sem a menor explicação. Dae-su nasceu em 1963. Frequentou a escola secundária católica de Sangnok, da qual saiu em 1979. Tornou-se um pequeno empresário. Casado, tinha uma filha, Yeun-Hee. Com os anos tornou-se obeso e alcoólatra. Seqüestrado e confinado, sem nenhuma explicação, a uma espécie de quarto, Oh Dae-su fica alí por tempo indeterminado e incomunicável. A incomunicabilidade é enlouquecedora. Mais enlouquecedora ainda seria a pena. Ele não sabe, mas ficaria preso por 15 anos, sendo alimentado apenas por bolinhos fritos. Suas tentativas de suicídio era contidas com a introdução de gases alucinógenos pelo sistema de ventilação. O contato com o mundo externo é feito apenas através de uma televisão, por onde sabe que sua esposa tinha sido assassinada e que de sua filha se encarragava uma família adotiva. Ele era o principal suspeito do crime.

Um dia Dae-su é subitamente posto em liberdade no último andar de um prédio. Quando ele é liberado, ele é vestido com roupas caras. No alto do prédio há um homem suicida. Ao caminhar pela rua, um desconhecido lhe dá um celular. Ao sair da prisão era um homem revoltado que busca explicações.Ele sente fome e vai a um restaurante local, onde ele encontra a jovem chef Mi-do, que o leva para sua casa e em poucos dias começam um romance. Ela o ajuda a descobrir o porquê de sua retenção e quem era o responsável por sua kafkaniana situação. Tudo ainda parece onírico, ainda, mas Dae-su com a ajuda de Mi-do localiza o restaurante, e por ele o paradeiro de sua prisão. Os dois acabam por se envolverem amorosamente. Dae-su, então, tortura o diretor de informação para obter as gravações de seu raptor, que revelam pouco ou quase nada de sua identidade. Nessa busca, há uma cena interessante, quando os capangas do diretor de informação do cativeiro atacam a Dae-su. Toda a luta se parece a um desses jogos de video-game. Muito bem sacado e irônico nesse contexto do roteiro.

Um homem chamado Woo-jin revela-se algoz de Dae-su e o instrui por telefone que descubra seus motivos para mantê-lo em cativeiro por tantos anos. Woo-jin é aquele amigo que vem cobrar a conta...
Dae-su descobre que Woo-jin e ele freqüentaram a mesma escola e se lembra da relação Woo-jin com sua irmã, Lee Soo. Dae-su, espelhara propositalmente o boato de que os irmãos mantinham uma relação incestuosa. Espalhou o boato antes de se transferir para outra escola em Seul. Durante a peregrinação de Dae-su, Woo-jin mata Joo-Hwan, amigo de infância de Dae-su por este ter insultado sua irmã numa conversa telefônica devidamente grampeada – que havia se suicidado assim que os primeiros sinais da gravidez precoce apareceram.

Dae-su finalmente encontra Woo-jin em seu apartamento. Este lhe dá um álbum de fotos. Dae-su folheia o álbum com retratos de sua própria filha. Ele vê sua filha crescer nas fotos, até descobrir Mi-do. Woo-jin, revela que os eventos em torno Dae-su foram orquestrados com toques de hipnose para provocar Dae-su e Mi-se a cometessem o incesto. Horrorizado, Dae-su implora a Woo-jin para esconder o segredo de Mi-do. Rasteja. Pede perdão, antes de cortar a própria língua como prova de seu sacrifício, oferecendo-a a Woo-jin como um símbolo de seu silêncio. Woo-jin concorda em poupar Mi-do – que naquele instante se encontra sob a guarda de capangas. Ele então telefona para que os capangas a libertem deixando-a em seu apartamento. Sozinho, remoído pela culpa de ter participado no suicídio da irmã – da mesma forma que Dae-su participara na do suicida do alto do prédio -, Woo-jin atira na própria cabeça.

Esgotado, Dae-su se senta num lugar ermo e coberto de neve. Faz um estranho acordo com uma hipnotizadora, para que esta o faça esquecer do segredo. Ela lê uma carta com os fundamentos do esquecimento. Começa o processo de hipnose. Horas depois, Dae-su desperta. A hipnotizadora já se foi. Ele anda sobre a neve. Encontra Mi-do, que diz lhe amar. Eles se abraçam. O filme acaba e não se sabe se Dae-su lembra-se ou não do segredo. Filmaço.

Mas o diretor Park Chan-wook tem outras armas.

Em Sympathy for Lady Vengeance um pequeno coro vestido de Papai Noel espera na saída de uma prisão pela jovem Lee Geum-ja, recém-reformada. Ela tinha sido condenada 13 anos atrás pelo assassinato da menor Won-mo. (corta). O caso, mostrado na televisão, tinha provocado uma comoção nacional, devido à sua pouca idade no momento do assassinato, e a sua aparência inocência. A pena fora reduzida por sua transformação espiritual. Mas isso era apenas uma cortina de fumaça para deixar a prisão.

O crime tinha sido praticado quando ela tinha apenas 19 anos. O país inteiro estremeceu com sua pouca idade e com a brutalidade com que o crime, e os métodos perversos com que fora praticado. Mas o que impressionou mais, foi sua beleza. Alguns diziam que ela se parecia com Olivia Hussey, a Juliete da ópera de Franco Zeffirelli. Um diretor sem escrúpulos disse que tinha planos para filmar a estória de Lee Geum-ja, criando uma reação imediata nos meios de comunicação.

Quando sai da prisão, ela se dirige ao pai, que lhe oferece uma torta de tofú como símbolo de que ela não voltaria a pecar. (corta). Por uma série de flashbacks, sabe-se do processo de arrependimento da moça, dentro da prisão. (corta). Ela derruba a torta de tofú no chão e diz, em coreano, para que o pai fosse tomar no cú, ou enfiasse a torta no orifício supra referido – as legendas em inglês não deixam claras as intenções da moça. O que fica claro é que Lee Geum-ja não está arrependida, que aquele papo de Jesus é pura balela e que ela não vai deixar essa estória barata para com aqueles que a puseram ali. (corta). O filme começa.

Lee Geum-ja era inocente, mas confessa o crime pois o verdadeiro assassino, Sr. Baek, sequestrara sua filha ameaçando matá-la. Na prisão, Geum-ja, com seu comportamento angelical, faz sólidas amizades, chegando a doar um rim para uma detenta, que mais tarde seria assassinada por ela. Em liberdade condicional, Geum-Ja imediatamente visitas outras detentas em liberdade condicional, cobrando favores que incluem abrigo e armas. Distancia-se, assim cada vez mais da imagem criada no cativeiro. Passa a usar salto alto e sombra vermelha nos olhos. Mas por outro lado, também começa a trabalhar numa confeitaria local, onde se torna uma especialista em tortas,sob a tutela de um chef que lhe oferecera trabalho na prisão.

Ao investigar sobre o paradeiro da filha, descobre que ela foi adotada por pais australianos. Jenny, agora um adolescente, não fala coreano. Após convencer sua família a deixá-la voltar para Seul, Jenny segue Geum-ja ao redor da cidade e com ela planeja sequestrar o Sr. Baek, com a ajuda da esposa, outra ex-presidiária. Baek, agora tragicamente, é professor de ensino fundamental e descobre que Geum-ja está em liberdade. Aterrorizado, contrata capangas para emboscar Geum-ja e Jenny. Na luta, Geum-ja mata dois bandidos, enquanto na outra cena Baek cai desacordado devido às drogas que sua esposa colocou em sua comida.

Geum-ja quer matar Baek ali mesmo em sua casa. Entretanto, descobre uns penduricalhinhos de criança presos a seu celular. Uma pequena esfera de âmbar chama sua atenção. Lembra que esta era a mesma de Won-mo. Então associa estes objetos ao modus operandi de Baek e percebe que estes são lembranças das vítimas, deduzindo que Baek é um assassino em série.

Ela o aprisiona. Contacta o detetive do caso Won-Mo, e, juntos, eles se infiltram em apartamento Baek e descobrem gravações em VHS da tortura e assassinato das crianças.

A partir desse momento o filme dá uma virada sensacional.

Geum-ja e o detetive entram em contato com os pais das vítimas e os conduzem para uma escola abandonada na periferia de Seul. Mostram as fitas nas salas de aula. Um por um cada pai desaba em desespero. O grupo, então, delibera sobre o destino do Baek. Decidem coletivamente assassiná-lo. E no sótão da escola encontra-se Baek, que pode escutar todo o teor do julgamento. Vestindo capas de plástico e portando uma variedade de armas - que no jargão legal pode-se dizer - perfuro-contudas.

Todos esperam numa sala, uma ante-sala. Um a um, tendo previamente sorteada a ordem de entrada, entra e dá uma estocada em Baek tomando o devido macabro cuidado para não matá-lo, já que há pessoas na fila ainda. A última pessoa, uma avó, mata Baek com a tesoura de sua neta assassinada.

Ao final, hirtos, perfilados, com a câmera pelas costas, posam para uma foto tirada pelo detetive. Assim que o flash detona, todos caem em pranto amparando-se mutuamente. O grupo assume um pacto de jamais revelar o que se passou ali e enterram Baek.


Geum-ja, o investigador, e os pais vão no meio da noite para a confeitaria, onde Geum-ja serve-lhes uma torta. Um dos momentos mais emocionantes nos três filmes, talvez um pequeno delize de Park Chan-Wook, é quando começam a cantar involuntariamente um parabéns a você pelo aniversário coletivo para seus filhos falecidos. Uma cena sem dúvida de profunda delicadeza. Filmaço.

Os três filmes são de uma beleza estética impressionante. O uso de grandes closes, enquadramentos ousados, cores fortes bem escolhidas e pequenos efeitos especiais inesperados enfatizam as emoções de uma maneira extremamente elegante e única. O roteiro, absolutamente genial, aliado a uma montagem primorosa, fazem desses filmes algo incomum na história do cinema. A sequência prisão, a vingança e a catarse, estão nos três.

Um capítulo à parte neste último filme é a música totalmente barroca de Jo Yeong-Wook que ilustra a ótica feminina da revanche. E por barroca, entenda-se toda a contradição entre bem e mal, entre os desígnios da Providência e a razão dos Homens, enfim as contradições e os mais pungentes motivos moveriam até mesmo um eremita ao mais sanguinário e feroz combate.

Música do dia. Arvo Part. Spiegel Im Spiegel