Asteya

Vou em frente. Chega de perder tempo com gente como o poeta escocês Robert Burns e Thomas Man. Poetas e escritores que já não me dizem nada e insistir em entendê-los seria roubar de mim mesmo algum tipo de energia, ou melhor, o tempo que não disponho mais na vida. Escritores e poetas com quem passo meu tempo são os que expandiram o limite de sua arte com inventividade e coragem, como os exemplos de João Cabral e Ivan Junqueira, e transformaram o conjunto de sua obra em algo imprevisto. Tão bom que me toca intimamente, a ponto de eu coçar minha cabeça e dizer, Isso é muito bom, por que eu nunca tinha lido antes. Por isso, um dia, espero que brevemente, lerei Joyce. E por isso que gosto do que Borges fez com a literatura contemporânea ao juntar literatura policial folhetinesca com a História e os arquétipos mais íntimos o ser humano; por isso considero a leitura de Balzac, Flaubert e Dostoievski como experiências tão necessárias a um homem como as de ler um livro com paixão, criar um filho, plantar uma árvore; por isso gosto de Pollock que me fez ver, pelos olhos de Giulio Carlo Argan os movimentos espaciais da cidade. Por isso, para mim, não seria um exagero incluir entre eles a inventividade de Tom Ze, a poesia de Tom Waits, os filmes do Kurosawa e do Vittorio De Sica, e a música de Brahms, e o Flamengo da década de 80 que vi jogar. Razão? Por que me causam paz e inquietação.

Na minha idade, já cansei de brigar com fatos. Interpreto-os e vou em frente. Com quase quarenta anos é muito fácil identificar uma derrota, mesmo que seja difícil admiti-la em público, já que como dizia Pessoa, difícil é encontrar um amigo que tenha levado porrada. Todos são campeões em tudo. E o que aconteceu ontem foi isso...

Tivemos o melhor time dos últimos 15 anos que em pouco mais de três jogos pôs por terra as esperanças contidas há quase 30 anos, desde aquele longínquo 1981. Penso que se eu escrevesse isso ontem usaria aquela sinceridade deseperada, desalentada e pungente da juventude, e me juntaria ao coro da torcida gritando FORA ADRIANO. Me senti mais revoltado e desrespeitado ao ver um time destes se esforçando ao máximo ganhar de um time mediocre do que com o desrespeito do goleiro Bruno mandando beijos para a torcida, num ato de ironia ignóbil. Mas, antes antes de um grito na laringe danificada, reflito hoje com ponderação. E o que realmente me revoltou em todos os jogos foram os primeiros tempos, geralmente já tendo tomado um gol e sendo obrigados a adquirir uma urgência desesperada para correr atrás do empate e da vitória, sempre sofrível. Ou seja, a falta e compromisso que inspirou a desconfiança a cada jogo.

Desconfiança esta, vamos ser sinceros, desde aquele empate com o Goias. Ganhamos o Campeonato Brasileiro com sorte, e convenhamos um pouco de corpo mole do Grêmio e do Corinthians. E nos iludimos, por que somos Flamengo. O problema é que agora chegamos ao fundo de um poço de vergonha. Não vencer um time fraco como Caracas, talvez mais fraco que qualquer time pequeno do Campeonato Carioca, é algo preocupante. O Botafogo, no último domingo nos respeitou mais, pois entrou em campo combativo desde o começo. O time do Caracas apenas ocupou os espaços de apatia deixados por nós em campo.

Não sei se precisamos de um novo técnico.

Andrade é meu idolo. Eu daria tudo para apertar a mão um dia na minha vida, mas ele fez várias mudanças erradas no time em jogos consecutivos; hesitou todos esses jogos em colocar o Pet; insistiu em jogadores medíocres como Juan, Kleberson e Toró; armou um esquema defensivo com 3 cabeças de área - com Angelin no comando. Cometeu um pecado tático nisso tudo com a falta de treino com falta combatividade de marcação homem a homem – parece que todos os adversários jogam contra cones, e o segundo gol do Caracas mostra isso. A finalizações inconclusas de ontem, com Adriano, Leo Moura e Love chutando bolas certas para fora, mostra bem meu argumento. Não sei se chegaria ao ponto de pedir sua saída, pois acho que ele é apenas um técnico conservador.

Entretanto, Certamente precisamos de um diretor de futebol competente e discreto, que tenha mais diálogo com o técnico.

Tudo que se viu até agora, foi exatamente o contrário, de imposições veladas contra Pet, a leniencia com Adriano, Love e o Comando da Chatuba. Por isso não concordo com as opiniões amenizadoras. Cabeças devem rolar. E muitas. No mundo do trabalho é assim, não rendeu, rua. Estou convencido que time com muitos astros, e outros que pensam sê-los, não é necessariamente um time bom – vários times europeus provam isso. O Flamengo não é um time bom é apenas um time com algumas estrelas - o melhor que tivemos nos ultimos 15 anos -, mas provou ser um time medíocre sob a égide de do Império de Adriano – um exemplo e homem e atleta medíocre e incompetente, que merece sair da história do Flamengo pela porta dos fundos e apenas ser esquecido. Um time aborrecido e com mesma ênfase dramática de um Montanha Mágica.

Faço um apelo para meus amigos flamenguistas que tenhamos um pouco de dignidade hoje e NãO TORÇAMOS PARA NENHUM TIME LATINO, pois passar provaria nossa insistência no mito de Asteya.

BBB79


Assisti a esse filme pela primeira vez há pelo menos 20 anos atrás e não me lembro bem por que razão não gostara. Ontem, revendo-o percebi que esse filme é ótimo. Quando assisti pela primeira vez, a Amazônia, ao contrário, já não era mais uma promessa e a Beth Faria já perdera a majestade para se não me engano a Gretchen ou a Sandra Brea, uma dessas aí. Ou seja, um filme datado. Além do mais, sempre quando se conversa ou se lê sobre filme brasileiro com alguém mais PhD. O cidadão vai falar da “questão” da Identidade “a nível de” Nação, e todas essas coisas que não me interessam e que para ser sincero me desestimulam numa discussão sobre cinema. Mas hoje em dia isso não importa, pois o que empolga neste filme é o inventário econômico e cultural de um país onde a nota mais alta tinha um Floriano Peixoto estampado na cédula cor de barro e a Beth Faria ainda era com toda a justiça um símbolo sexual. O filme se centra nos artistas mambembe da Caravana Rolidei e em sua peregrinação pelas fronteiras do norte e nordeste do país.

As fronteiras são claras entre um país tão imenso que praticamente não dialoga entre si. As fronteiras culturais são mais impressionantes ainda, pois com a advento da televisão a cultura levada pela Caravana praticamente fica batida. Cacá Diegues fez realmente um filme ótimo com atores fantásticos. José Wilker está simplesmente absoluto em seu papel de empresário cultural, meio cafetão, meio aproveitador, meio oportunista, enfim, um empresário cultural com é maiúsculo. E o Fábio Júnior até que se sai muito bem no papel de sanfoneiro apaixonado pela Salomé, interpretada pela Beth Faria. Um momento Cinema Paradizo, e que Cinema Aspirinas e Urubus tentou reproduzir de maneira não muito eficiente, acontece nesse filme, quando o inigualável Joffre Soares, interpretando Zé da Luz , vai pelo sertão exibindo o Ebrio por um sertão sem audiência interessada. Uma cena que podia ter feito até chorar, mas que Cacá Diegues preferiu deixar assim crua.

Se você hoje em dia for assistir esse filme com cuidado, percebe que o diretor fez de cada take uma crítica social embutida, mas sem aquela militância chata de filmes propagandistas. No filme, a ditadura existe, mas não afeta a vida de milhões, índio bebe coca-cola e quer voar de avião, sertanejo assiste televisão e gosta do seu poder hipnotizante, os artistas são analfabetos - como o prórpio Lorde Cigano revela a certa altura -, e o Brasil se torna moderno mas é de um atraso só. E o prórpio enredo é bem contado com uma estória de amor entre o Sanfoneiro e Salomé sem romantismo barato e sem idealismos de fanfarra. Filme clássico que, com o respeito ao tempo que sedimenta um monte de preconceitos, vale a pena ser revisto.

Efemérides do primeiro de Abril!

Só um lembrete, a história corrige a direção do silêncio, não esse o silêncio da ausência de ruído, mas o da mudez do silêncio feito de vibrações que se anulam umas as outras como quando da balbúrdia de gente nos ecos de um refeitório, onde apenas reparamos nas bocas que movem-se como aquelas dos tumultos íntimos dos mímicos, por esse mesmo silêncio pergunto, que espécie de perstígio podem exercer sobre nós túrbidos homens como o udenista Auro Moura, 46 anos atrás? 

Não espanta em nada a  satisfação do udenista Auro Moura ao declarar vaga a cadeira da Presidência da República, vindo de quem vem, logo ele, um homem que ainda jovem participa da rebelião de 32 e que mais tarde seria um dos organizadores da TFP, e que mais tarde ainda, quando o esmalte dos números do relógio que contava seu tempo já descascara, e quando os milicos já se sentiam confortáveis baixando o sarrafo na malta de comunistas, esquerdistas, sociedade civil  & afins, ironicamente, quando ainda o relógio continuava movendo os ponteiros num tempo quando os esmalte dos números
descascados já não importava,  os próprios imerecidos militares trataram de jogá-lo merecidamente para escanteio primeiro como embaixador na Espanha de Franco e mais tarde como aspone no Bando de Desenvolvimento de São Paulo. Ou seja, existem lugares onde ser golpista  dá certo
historicamente