…não vou enveredar aqui pelos surrados rumos que todos estamos cansados de percorrer, quando pensamos em retomar alguma coisa do passado, esquecida no tempo…. nem apelar àquela nostalgia biraia presente nas fotos antigas, nem aos berliques e berloques contidos nas vigaristas gavetas de guardados… durante muito tempo, uma voz renitente, ficava repetindo… vai gauche, escreve lá, posta lá… seja relevante para o universo de 3 pessoas que te lêem! … vai seu bosta insignificante! Um desses demônios é metido a literato, me xingava e até citava Machado… deixa essa ferrugem de obscuridade …então… tentei retornar…eu sabia do trabalho hercúleo que me daria para recuperar a senha destes blog…tentei retornar 2 3 4 vezes… mas 2 filhos pequenos, series de trampos sem vergonha com impantes chefes, contas de luz, gás, água, internet, Netflix a pagar, feijão na mesa, ração para a vira-lata, tudo isso deixaria até o Sísifo meio bolado…
…nem vou outorgar este retorno ao baixo astral generalizado trazido pela tosse e falta de ar desta peste escrota pós-moderna… o injustificado, porém necessário recesso deste blog, deve-se em parte, também, talvez, à idade… estou ficando velho… e a velhice faz a gente filtrar a relevância das coisas…. além disso, sinceramente, a recente produção literária brasileira meio caduca, meio acochambrada, meio banazola não me seduz a deixar de ler os clássicos… afinal de contas, sempre que pego algo para ler, seja um livro, uma bula de remédio, um panfletos dos testemunhas de jeová, folheto, um epistolário, uma poesia mambembe, uma biografia, um cordel, selo antigo, um prospecto da vovó maria conga, sempre me pergunto… o que esse falsário tem para me dizer? … consigo ver suas metáforas materializadas à minha volta? …então, tal como nos decretos espanhóis medievais… si no, no… se não, não…se não presta, não presta… e pronto…
…tenho uma suspeita que pode se revelar tolice completa sobe os motivos desse retono, porém vou arriscar… Ilusão da Semelhança é um termo cunhado do José Saramago…esse infeliz me atormenta desde os tempos em que ainda estava vivo… recentemente… recentemente mesmo, há dois dias atrás… comecei a reler o Ensaio sobre a Cegueira, dentre outros livros dele, que tenho quase todos… e sempre me deparo com esta passagem…
Proclamavam-se ali os princípios fundamentais dos grandes sistemas organizados, a propriedada privada, o livre cambio, o mercado, a bolsa, a taxação fiscal, o juro, a apropriação, a desapropriação, a produção, a distribuição, o consumo, o abastecimento e o desabastecimento, a riqueza e a pobreza, a comunicação, a repressão e a delinquência, as lotarias, os edifícios prisionais, o código penal, o código civil, o código de estradas, o dicionário, a lista de telefones, as redes de prostituição, as fábricas de material de guerra, as forças armadas, os cemitérios, a polícia, o contrabando, as drogas, os tráficos ilícitos permitidos, a investigação farmacêutica, o jogo, o preço das curas e dos funerais, a justiça, o empréstimo, os partidos políticos, as eleições, os parlamentos, os governos, o pensamento convexo, o côncavo, o plano, o vertical, o inclinado, o concentrado, o disperso, o fugido, a ablação das cordas vocais, a morte da palavra.
música do dia. sol da meia noite. Sylvia telles. disco Bossa, Balanço e Balada. 1963