Ontem assisti Casablanca pela décima oitava vez, talvez. Estava ali na
tela do TCM… eu tava de boréstia, confinado e biritando , pra variar… e por que
não? Casablanca. Casablanca é um desses mistérios que a gente não consegue
explicar, mesmo.
Não é um filme bom pra caramba. O roteiro tem um monte de furadas e clichês de filmes pastosos de amor. Não por acaso, Humberto Eco disse certa vez que a fraca verossimilhança psicológica dos personagens e as reviravoltas que ocorrem sem razões plausíveis tornam o filme fraco. Os atores, principalmente os militares, são meio caricatos. Além disso, a Ingrid Bergman, ainda que patinando numa série de filmes medianos, vinha de Intermezzo, e Humphrey Bogart vinha de nada mais nada menos Reliquia Macabra, The Maltese Falcon.
Ou seja, Aceitar trabalhar em Casablanca, só pela grana mesmo. Por que no fundo, lendo o roteiro, parecia um filme apenas de propaganda anti-nazista. E era mesmo, por que os produtores de Hollywood nunca estão de bobeira. Nunca dão ponto sem nó. Nunca chamam periquito de meu loro.
Não é um filme bom pra caramba. O roteiro tem um monte de furadas e clichês de filmes pastosos de amor. Não por acaso, Humberto Eco disse certa vez que a fraca verossimilhança psicológica dos personagens e as reviravoltas que ocorrem sem razões plausíveis tornam o filme fraco. Os atores, principalmente os militares, são meio caricatos. Além disso, a Ingrid Bergman, ainda que patinando numa série de filmes medianos, vinha de Intermezzo, e Humphrey Bogart vinha de nada mais nada menos Reliquia Macabra, The Maltese Falcon.
Ou seja, Aceitar trabalhar em Casablanca, só pela grana mesmo. Por que no fundo, lendo o roteiro, parecia um filme apenas de propaganda anti-nazista. E era mesmo, por que os produtores de Hollywood nunca estão de bobeira. Nunca dão ponto sem nó. Nunca chamam periquito de meu loro.
O roteiro era de um professor de escola de segundo grau, Murray Burnett,
em parceira com Joan Alison, que o concebeu originalmente como uma peça de
teatro. Isso no começo dos anos 30, quando Hitler nem era Hitler, Franco não era
Franco, Mussolini apenas ensaiava ser Mussolini, por isso muitos dizem que o texto foi sendo complementado por 4 roteiristas durante as filmagens. A peça
se chamava Everybody Comes to
Rick's . Quando a coisa apertou na Europa, Burnett e a mulher se
mandaram para lá, para repatriar dólares de parentes judeus para a América, e
ali terminaram a peça. Reza a lenda que numa parte da viagem, pararam num bar no sul da França, que tinha ao piano um cantor negro americano, o que pode bem ter bem influenciado
na escolha de Dooley Wilson para o papel
de Sam. Detalhe. Wilson era baterista
na vida real, e não pianista. Então por que Casablanca se tornou
Casablanca?
Aí entra um conjunção quase aleatória de fatores. O filme estréia em 26 de novembro de 1942, em Nova York, em plena Segunda Guerra. E antes
de mais nada é importante dizer que o filme somente seria exibido na Europa em
1946 na Itália, e na Alemanha Oriental somente em 1983, diretamente na
televisão! A première do filme foi antecipada devido a um
fato histórico. Alguns dias antes, no dia 8 de novembro, as tropas aliadas (que
se opunham à Alemanha de Hitler) invadiram a cidade marroquina de Casablanca
que, até então, estava sob o domínio da França de Vichy.
Filmado em 3 meses, Casablanca conta
a história de Rick Blaine, um americano amargo, machão, sentimental e cínico
que vive e trabalha em Casablanca, onde tem um badalado café. O Rick’s Café é
frequentado tanto por nazistas, como por funcionários franceses,
estelionatários, compradores de ouro, malfeitores, biscateiros, apostadores,
vigaristas, trabalhadoras da noite, biriteiros inofensivos, apontadores de jogo
do bicho, dissidentes, maconheiros, músicos, artistas, fumadores de haxixe, Jesus,
só coisa ruim. Numa noite, entra Ilsa Lund, o grande amor do passado de Rick,
aparece em seu bar ao lado do marido, Victor Laszlo, herói da resistência
tcheca. Dois anos antes ela tinha o deixado numa estação de Paris, sob chuva,
esperando. La pelas tantas ele se lamenta com Sam…” de todos os botequins do
mundo ela tinha que entrar justo no meu?” Está arrasado. E de repente vira-se
para Sam e diz, “ se ela aguentou eu também aguento, toca ai Sam!” O reencontro
dos ex-amantes reacende o amor entre eles e o sofrimento em Bogart. Mas o cara é foda! É Bogart porra!
O sucesso de Casablanca pode ser
considerado como o resultado de uma combinação de golpes de sorte do destino ou acidentes de percurso. Além da pressa na filmagem, da
questão do roteiro, alterado até o último minuto, a música quase deixa de ser "As
Time Goes By", de Herman Hupfeld, escrita em 1931. Max Steiner. O compositor da trilha sonora
do filme, queria retirar a música e substituí-la por uma composição original,
depois do filme acabado. Enfim, nesse meio tempo de pós-edição Ingrid Bergman já tinha cortado o cabelo curto,
Bogart já ia começar a filmar Passagem para Marselha e enfrentavamais um problema de separação com a atual mulher… enfim, ficou "As Time Goes By”.
A lenda mais inacreditável sobre o filme, é a que dá conta de que o ator
principal, na pré-produção, não seria o Humphrey Bogart e sim Ronald Reagan.
Felizmente Reagan teve de cumprir um serviço militar e Bogart pegou o papel.
O filme foi dirigido pelo húngaro Michael Curtiz, que filmou muito, mas
um monte de filmes noir, bíblicos, com piratas, foras-da-lei, boxeadoresera
considerado um faz tudo em Hollywood. Embrulhava e mandava. Está percebendo por
que Casablanca não podia dar certo?
Humphrey Bogart costumava dizer que Casablanca era a melhor obra
de sua filmografia. Isso pode ser um exagero. Eu gosto do Bogart, era um cara
legal, era meio feio, meio magricela, e
com boa vontade podia ser até um carioca do subúrbio. Mas ele as vezes mentia. A
vida dele certamente mudou, mas não pelo filme…
Ele vinha de uma série de papéis de gangster e de detetives. A imagem dele
era de cara durão e cínico. Tinha acabado de filmar a Reliquia Macabra, do
Dasheill Hammett, pra mim um dos melhores filmes e livros noir de todos os
tempos.
Eu posso até concordar que a partir de Casablanca, Bogart se transformou
numa espécie de manual, ou gramática expositiva de como um cara cínico e frio pode conquistar uma garota. Aquele cara que quando quer
conquistar moça fala pouco, olha logo no olho e dá-lhe logo um beijo de tirar o
ar. Todo mundo da minha geração e na anterior imitou alguma vez o Bogart. Quem
não sonhou ser Bogart? Quem não? Fala ai? Andar por ai, entrar num bar ao lado
de sujeitos meio sórdidos, meio Peter Lorre, que quando falam contigo, baixam
os olhos entre medo e respeito. Puxar uma cadeira e estalar o dedo e pedir para
o negão do violão, Flavinho, toca um Belchior aí! Depois vir uma garçonete toda
derretida, e perguntar o que você quer… tipo, o que você quer ? (toda derretida).
Posso até concordar, mas o homem estava numa m... danada durante as
filmagens. Antes de conhecer Lauren Bacall, mas isso foi bem depois, ele era um
especialista em casar mal. Era só chave de cadeia que aparecia na vida do
infeliz. Em Casablanca ele estava no terceiro relacionamento. Dizem as más línguas
que era um cara muito fiel. Mas esse casamento era disparado o pior de todos, mesmo para um cara fiel e família e que dizia que todas as pessoas nasciam com 2 doses abaixo do normal. Casara-se com uma loura nem tão bonita, mas boazuda, alfabetizada e decotada, Mayo Methot.
A.M. Sperber and Erick Lax contam em detalhes como essa vida a dois foi um
inferno, não por ela ser má, mas é que depois de ¾ de uma garrafa de whisky, ela
ficava um pouco alterada, ciumenta, possessiva, e quando esvaziava as garrafas mirava
nos 3 Bogarts que via na frente. Por sorte ela sempre acertava o errado. Não
bastasse as brigas em casa, Mayo ia várias vezes ao set de filmagem para
arrumar quizumba com a Ingrid Bergman, que na época era casada com um dentista e comportadíssima.
Em meio a esse inferno, ele tinha talvez, o primeiro papel dele que além
de arrogante, cínico, feio, magricela, ele poderia finalmente mostrar que dentro do
terno, havia um coração (essa frase ficou piegas, depois eu mudo)
Enfim, outro dia falo só de Humphrey Bogart. O que importa é que ainda
não sei por que este filme é tão bom de assistir!