Em 1971, Camarada Llosa, enquanto Gabo escrevia o grande Outono do Patriarca, protestou contra a prisão de Herberto Padilla, por este criticar o governo cubano. Fez um lobby danando junto a Goytisolo e amealhou várias gentes da intelligentsia incluindo Sartre, Susan Sontag, Italo Calvino, Simone de Beauvoir, Octavio Paz, Alberto Moravia e até a Marguerite Duras. Um bocado deles enviou cartinhas a Fidel Castro em apoio a Padilla.
Isso emputeceu de tal maneira a Castro, que este proibiu a entrada deles todos em Cuba. Até do Sartre, que anos antes havia escrito Furacão sobre Cuba, foi barrado.
No final dos anos 70, Llosa decidiu virar lorde e foi pra Londres, dando-se ao luxo de viver daquilo que escrevia. Em Londres, na Vahala liberal, já tinha na lista La Casa Verde, La Ciudad y los Perros e Conversasión en la Catedral. Lá viu a Dama de Ferro botar o pau na mesa, tirou fotos com o Isaiah Berlin e com o Karl Popper.
E de lá, foi ladeira abaixo. De fora, começou a fazer oposição a Alan Garcia, e aquela estória de voltar ao Peru para disputar a eleição com o Fujimori sempre foi muito mal contada. Formou uma chapa de Direita para se opôr a um outro candidato de Direita, Fujimori, e estratégicamente tirar do segundo turno o candidato do APRA, apoiado por Garcia. Cá pra nóis, deve ter levado uma grana boa para ir debater no segundo turno, como elemento estratégico da corrida presidencial, para gozar das vantagens de ser o candidato chapa-branca & fogo-amigo, mas sem os custos da resposabilidade. Dito e feito, nosso free-rider perdeu para Fujimori e para se recompor psicologicamente, se despirulitou, voltando para Londres.
Nos anos 90, criticou Lula, nos anos 2000, voltou a criticar Lula, na decada de 10, criticou Dilma... e chegou a flertar com Bolsonaro - que nesse momento parece estar com uns problemas judiciais de Mandamus obstruindo seus Habeas Corpus intestinais. Mas voltando um pouco antes ao fatídico 1971...
Em 1967, após trocarem cartas por um ano e meio, Garcia Marques e Vargas Llosa se encontraram pela primeira vez em 9 de agosto, no Aeroporto Maiquetía, em Caracas. Gabo era o convidado de honra para a entrega o Prêmio Rômulo Galegos a Llosa pelo excelente livro La Casa Verde (um livro realmente do caralio – perdoem o prosaísmo). Depois desse dia, participaram de congressos, teorizaram e debateram sobre problemas maiúsculos como os Labitintos da America Latina, os Destinos da Literatura, a Crise do Herói e um monte de coisas desse tipo. Junto com Luis Goytisolo, Julio Cortázar, Vargas Llosa, García Márquez, Carmen Balcells e Sergio Pitol, pensaram em fundar uma revista, e foram amigos inseparáveis por 10 anos. Até que nesse meio tempo, um tipo que para mim é uma espécie de dublê de jornalista e dublê de amigo de GGM, Plinio Apuleyo Mendoza, editor-chefe da revista – e quem escreveu uma pequena e estranha biografia de Gabo, focando nele próprio, Mendoza - deu permissão para colocar o nome de Gabo na tal carta assinada pela Intelligentsia supracitada endereçada a Castro, sem consultá-lo, já que na cabeça tosca de Mendoza, Gabo decerto concordaria.
Conclusão: Gabo não apenas não concordou, como não assinou a tal carta de desagravo. Mas o soco que Gabo recebeu na entrada de um cinema no DF, disque tinha nada a ver com política. Dizem as más línguas Chilangas que Patrícia, a companheira de MVL à época, estava meio contrariada com as puladas de cerca de nosso lorde inglês e galã peruano, e a relação andava meio aberta com cada um para seu lado. E pior, Gabo passou a consolá-la. Isso parece que deixou MVL muito contrariado a ponto de dar-lhe o fatídico tal socão nos cornos de GGM. A verdadeira razão que motivou o cruzado, ninguém nunca soube. O fato é que nunca se reconciliaram, mesmo com os apelos da quarto zagueira literária, que agenciava ambos, Carmen Balcells - agente inclusive da Clarice e da Nélida. Enfim, admirações à parte, eu sei que brigar e bater em amigo é feio e que nessa parte do soco há muitas camadas, como o pessoal costuma a dizer. O problema é que sempre torci para o Gabo em todas as camadas. Inclusive nessa aí, nessa, em que as más línguas especulam.
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