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Dicas de otimismo em tempos de Pandemia



Tem bem uns cinco anos que estou vivendo aqui, na California, e nesse tempo  aprendo e percebo coisas curiosas sobre o otimismo. Esse lugar aqui tem Santa Barbara, Surfistas, tecnologia, freeways rápidas, Santa Mônica, mulheres peitudas, Hollywood, praias lindas, carros intocáveis, artistas pra caramba, mão de obra barata, poucos casos de Corona, enfim... um lugar que tem tudo para dar certo.  Parece que aqui nunca ninguém se separou, nunca faliu, nunca foi racista, nunca perdeu um ente, nunca foi imigrante, nunca viu um amor acabar, nunca pegou num livro na vida, parece que não tem pobre, nem triste, nem cholo, nem doente, nem velho, nem pessimista.  Tenho a vaga impressão de que aqui não existem pessimistas. Ou se existem, dissimulam sua tristeza com um sorriso embrulhado naquele papel fininho do entusiástico e confiante  "good morning". Preciso deixar claro que sou um pessimista no meio de toda essa gente, e preciso deixar mais claro ainda que isso não me incomoda nem um pouco.

Antes de mais nada, no caso de opinião contraria à minha, é importante que você tenha em mente que a despeito do otimismo reinante, que por mais que você queira  se assumir com um ar de forçada felicidade e jovialidade - farsas, alías, facilmente detectáveis - todos , na minha opinião, são intimamente pessimistas. Inclusive voce, seu/sua idiota, com um sorriso no rosto. Sustento meu argumento com a prática dos retóricos em revogar meu próprio argumento: vivemos, sim, num mundo de pessimistas, por que só é otimista quem acredita no otimismo. E eu tenho um faro danado para identificar idiotas crentes, basta dar três olhadas rápidas no fundo de seus olhos.

Acaso, tenho certeza, que como eu, já provaste, mesmo que por instantes, naquele dia em que acordas com o pé esquerdo, suspender toda essa tola cordialidade que rege tuas relações cotidianas com os demais. Ao invés dela, optas por um modo grave e honesto de mau humor no viver. Nem bom dia dás! Eu mesmo, já o fiz várias vezes, e uma vez, por exemplo, quando  levei Lucíola, minha vira-lata, para desonerar seus intestinos nas redondezas da casa, pela manhã, uma vizinha desejou-me 'bom-dia' com aquela pretensa expressão jovial que imediatamente discerni ser a máscara por trás daquela vida suburbana, amarela, vanilla,  meio merda que ela leva, temporária de seus verdadeiros e angustiantes anelos. Ao invés de retribuir-lhe o mesmo 'bom dia' fiz questão de olhar fixamente nos olhos, como se comunicasse a ela que estava a par de seu segredo. Desde então, essa senhora nunca mais tratou-me com os mesmos ares cordiais, mas ao contrário, tem feito o possível para me evitar  e se me encontra num mesmo ambiente, sempre desvia o olhar.

Esse meu experimento sociológico é vocacional. Funciona. Me faz bem. É terapêutico. Fez-me perceber que todos tendem ao mesmo comportamento de medo e defesa, assim que percebo essa última e delirante forma de esperança, fecho a cara e corto logo o mal pela raiz, pois é comum ao gênero humano o não suportar a realidade. Mas nós, os pessimistas, enfrentamos sérios problemas, também.

Certo dia, encontrei-me utilizando meus métodos com um senhor que me parecia bastante distinto, o qual ao perguntar-me 'qual era o meu problema', deu-me o vislumbre de finalmente ter encontrado alguém cuja visão de mundo compartilhasse da mesma amplitude que a minha, e ao redarguir-lhe com a proposta de que 'dissesse o seu problemas antes', esse distinto senhor quis dar-me um soco bem o meio da cara, tamanho era seu desespero interior. Inapto, pelo provável glaucoma, pela limitação da idade, pelo insucesso do seu jab, e desconhecendo minha admiração por Beethoven e Muhamad Ali, frustrado, apenas desferiu-me palavras de baixo calão: Fuck you! O you, no caso, era direcionado a mim.

Em outras ocasiões, ocorreram situações similares. Uma garotinha, aparentemente feliz com seu pirulito de dez cores, enorme, maior que sua cara, brincando com suas boneca nova, num parque, correu aos prantos na direção de sua mãe, tecnicamente considerada uma milf, quando eu lhe disse que açúcar causa diabetes, e que consequentemente a glicose inchará suas pernas e  limitará  sua visão corroborando para outras comorbidades. Por essas e por outras , passei a ser persona non grata aqui na minha quebrada. Vizinhos atravessarem a rua, quando assoma minha figura dobrando a esquina.

O modo como os otimistas estão por toda a parte, sem encontrar uma única exceção entre eles , é algo deveras assombroso, e sendo eu talvez uma das poucas pessoas no mundo a saber com exatidão de tal fato, eu jamais consigo resistir à tentação em desvelar-lhes o segredo de que não há a mínima certeza em nenhum futuro.

E além do mais, ser pessimista é bem melhor, por que a gente sempre fica feliz: quando acerta e até quando erra.

Música do dia . Ludwig van Beethoven '  Grosse Fuge, Op. 133

Os Dragoes Escandinavos


É provável que a minha simpatia pela trilogia de Stieg Larsson tenha sido reforçada pelo meu caro apreço compartilhado pelo universo que raquers e que o uíquilíqui mostrou em toda a sua extensão nessas semanas – aliás, sem trocadilho, tá engraçado pra caramba ver todo mundo tentando explicar o embaraço causado pelo lEiTe DerRRaMadO, após Rílari ter ignorado o presbiterianismo intenacionalista dos 14 pontos do camarada Woodrow Wilson - falo do que ninguém fala, aquela espionagenzinha boba na ONU, tipo assim, aquela que fizeram na época para invadir um determinados país vizinho de um outro país que ao que tudo indica sera a bola da vez....


Por mais ridículo e cambaio que tenha sido meu mês de novembro, dividindo meu tempo entre a abrasiva realidade da violência no Rio de Janeiro e a leitura de uma trilogia sobre um jornalista oportunista fazedor de chalchichas e uma haker débil mental, valeu a pena. Afinal, citando Pessoa, tudo vale apenas quando a alma não é de menas.


Não se trata de literatura, longe disso. As mais de 2100 páginas da trilogia escrita pelo sueco são um puro entretenimento que nos leva a crer que - citando Hamlet, obviamente - há algo de podre no reino da Suécia. Mesmo assim há técnica narrativa. Acho que é isso. Trata-se de uma técnica de não deixar espaços vazios ou fios do enredo soltos, muito mais que uma preocupação com o texto. Para preencher esses espaços vazios ele evoca os fatos, apenas fatos.


O primeiro livro (Men Who Hate Women) talvez seja mesmo o melhor da trilogia. Como nos melhores contos policiais, pouco dos investigadores-protagonistas e muito do enredo é revelado. O livro começa com uma intrigante cena. Henrik Vanger, um empresário aposentado, desses podres de ricos, recebe um quadro com uma flor. No seu escritório há 43 dessas flores secas. As sete primeiras foram dadas por sua sobrinha Harrier Vanger. As demais são enviadas anonimamente todo o ano de diferentes parte do mundo, certificadas pelo carimbo dos correios, sempre no dia do aniversário da sobrinha, que desapareceu há mais de trinta e seis anos da ilha onde a família Vanger vive até hoje. As investigações policiais nunca deram em nada. Jamais conseguiram chegar a uma conclusão sobre seu assassinato pois nunca encontraram seu corpo. No dia em que ela desapareceu havia uma celebração cívica e um acidente, e a única ponte que ligava a ilha ao continente estava interditada. O que eliminava a hipótese de que o suposto assassino tivesse sumido com o corpo. Desde então, o tio Henrik Vanger é obcecado pela solução deste caso.

Mikael Blomkvist é um jornalista de meia-idade que anda na lona após ter denunciado, difamado e caluniado um empresário, meio no estilo Veja, sem ter provas – mais tarde acaba-se sabendo por um enredo secundário que o tal de Hans-Erik Wennerstrom é verdadeiramente um mau caráter que se dedica à lavagem de dinheiro. Mas nessa altura, Blomkvist ainda é um jornalista desacreditado e sem muitas opções profissionais, por esse motivo ou apesar dele, acaba por aceitar o convite de Henrik para desvendar o desaparecimento de sua sobrinha.

Henrik contrata a empresa de investigações de Dragan Armanskij para fazer um levantamento da vida de Blomkvist. Na empresa trabalha uma das investigadora esquisitona chamada Lisbeth Salander, uma moça meio punk, meio pan, meio cheia de peircings e tatuagens, meio totalmente anti-social, meio toda magrela e vista assim a distancia meio retardada. Ela é a responsável pelo dossie a respeito de Blomkvist que Dragan entrega ao advogado de Henrik antes que este o contrate.

Por conta dessa investigacao, os dois acabam se encontrando. Ou melhor, Blomkvist descobre que havia sido investigado por Salander por encomenda de Henrik. Fica indignado, mas como eh compulsivo e nao consegue mais se livrar da investigacao, que se entranhou em seus poros, nao desiste do caso. Ainda assim vai ateh a casa de Lisbeth para tirar uma saxtixfacao com a moca. Os dois acabam se entendendo e vindo a trabalhar juntos. Ela com suas habilidades de haker vai a procura dos detalhes que Blomkvist não consegue desvendar apenas com a lógica.

Evidentemente que não vou revelar os detalhes mais importantes da trama que é otima, mas depois desse livro, quando você vir um Volvo passando pela rua ou uma estante da Ikea, você vai ficar pensado nas, vamos chamar assim, virtudes da convivência familiar escandinava. E olha, meu amigo, a família Vanger e podre. Mas como no meu caso, tendo Nelson Rodrigues, Carlos Zéfiro e acima de tudo Jenival Lacerda como figuras tutelares para minha moral - em lugar de Lia Luft - nem fiquei tão impressionado assim com o livro.

The Girl with the Dragon Tattoo, o segundo livro da série, é mais centrado em Lisbeth Salander. Ela agora vai ganhando contornos mais humanos e percebe-se mais seu entorno e suas reações. Acima de tudo, descobre-se sobre seu passado e sobre o acerto de contas com seus, diríamos assim, fantasmas.

No início da estória Lisbeth desapareceu. Com a grana que ‘ganhou’ em suas atividades de ráquer no caso Hans-Erik Wennerstrom, se mandou da Suécia para esquecer a relação com Blomkovist. Está numa praia do Caribe curtindo a vida, estudando equações matemáticas – coisa boba, puff, tipo teorema de Fermat e aritmética de Diofantos. De quebra ajuda uma mulher a se livrar, ainda que acidentalmente, do marido canalha, durante um furacão e usa o tempo livre para fazer operções finaceiras on-line.

Mikael Blomkvist, livre da cadeia, tendo desvendado o paradeiro de Harrier Vanger, e tendo seu nome limpo ao desvelar a verdadeira face criminal de Hans-Erik Wennerstrom, volta à Millenium fortalecido. Nas mãos tem uma reportagem sobre tráfico de drogas (que na Suécia, ainda é um escândalo!) e prostituição de mulheres procedentes do Leste Europeu. O responsável pela investigação jornalística é Dag Svensson, um jovem jornalista, e sua esposa Mia Bergman, especialistas em criminologia.

O aprofundamento das investigações jornalisticas levam a uma máfia encabeçada por um homem misterioso chamado Alexander Zalachenko, ou apenas Zala, um ex-dissidente soviético, que pediu asilo político na Suécia nas vésperas do Social-Democrata Olof Palme deixar o poder. Meio X9, meio alcaguete, Zalachenko, a princípio, seguindo-se a linha de investigação de Blomkovist, acredita-se que ele só tenha alguma conexão com a investigação de Dag Svensson sobre prostituição e cafetinagem. Entretanto, há muito mais coisa feia. Várias vezes há insinuações sobre a suposta relação da chegada de Zalachenko à Suécia e o assassinato de Palme – principalmente no terceiro livro, quando ele está na berlinda e começa a ameaçar Säpo, a puliça secreta sueca, com a velha máxima “vô contá tudo que eu sei”. Fato é que a Zalachenko, não apenas por ter vindo de onde veio, numa época que um comunista e soviétivo era mais temido que um javali contrariado, mas por que trouxe com ele segredos, já que era da inteligência militar russa, contava com uma proteção especial.

Neste terceiro e último volume da série, The Girl Who Kicked the Hornet's Nest. Lisbeth está chumbadona. Literalmente. Tomou um monte de tiros e um deles justo na cabeça. Está entre a vida e a morte internada num hospital. No quarto ao lado, seu maior inimigo, Zala – não posso revelar por razões ético-carnavalescas quem é o tal de Zala pois e nesse fio que se sustenta tuda a trama do segundo volume. A moça está em apuros. Está internada, e assim que sair do hospital – se sair – deve responder por um processo de tentativa de triplo assassinato de Zalachenko.

Mikael Blomkvist evidentemente não crê nas acusações e vai a procura de respostas para limpar o nome da moça. Para isso, conta apenas com a ajuda da equipe de Millenium - agora sem sua editora chefe, centrada em sua ambição, que foi para outra revista maior –; de Annika Giannini, irmã de Mikael, advogada especializada em defender vítimas de crimes contra a mulher; e o inspetor Jan Bublanski, que começa a investigar o caso seguindo uma linha distinta da promotoria liderada por Eriksson se eu não me engano, já que a quantidade de personagens nos três livros deve ser duas vezes maior do que o número que pessoas que já passaram pela minha vida, contando aí o seu Bijú, temido inspetor do CEFET, o mudinho Hélio com quem eu trabalhei muitos anos, e muitos outros.

Enquanto Erika Berger está totalmente imersa numa luta pelo poder e estratégias comerciais em seu novo jornal, o Svenka Morgon-Postenm Mikael está só e desorientado na investigação daquilo que começa a se conigurar como um complô contra Lisbeth. Confiar no Estado – no Aparelho do Estado como diria o bão e véi Althussé – não é uma saída muito lógica, já que as acusações que pairam sobre Lisbeth são graves.

O segredo comercial de Stieg Larsson? Para mim são dois, além do talento apenas de ser um bom e competente contador de estórias. Primeiro, os desdobramentos a trama principal. São inúmeros (perdão da má palavra!) sub-plots, que ele vai abrindo e fechando com precisão milimétrica. Ele absolutamente não deixa nada de fora, mesmo criando uma in-fi-ni-da-de de personagens que circundam a trama principal. O cara se dá ao luxo até de tornar um faxineiro, um neuro-cirurgião, e um cidadão com síndrome de imunidade a dor, personagens fundamentais em determinada parte da trama. Segundo, os detalhes. Mesmo com essa quantidade imensa de personagens, ele detalha-os de maneira precisa, dando-lhes individualidade. E as sequencias de fatos, sem divagações sobre a psicologia dos personagens, afinal cada livro tinha apenas 700 páginas. Não dá tempo...

Ontem também, assisti o terceiro filme da série. TODOS os três. Péssimos. A impressão que tive em todos os três é que os diretores – diferentes em cada um deles – foram incompetententes e desleixados, deixando um monte de detalhes fora da narrativa filmica. Enfim, acabou.

Caroline Rude, uma estupida

Conversando com um amigo sobre a tragedia de ontem, este me lembrou do filme Elephant do Gus Van Sant para tentar entender o inexplicavel. Ja esta na lista interminavel de coisas que tenho pra ver e ler...

A sugestao vem em boa hora se nao fosse pelo fato de que dessa vez o cara era da Coreia do Sul. Chegou aos USA em 1992, viveu desde entao num suburbio de DC, seus pais eram dry cleaners (tintureiros), e seu major career era Ingles. Ou seja, athe ai uma historia como a de muitos outros de imigrantes que conseguem emprego, sustentam a familia e crescem os filhos num ambiente estrangeiro. A linha que une essa historia a tragedia que ocorreu ontem e' o que intriga a todos (investigadores, sociologos, psicologos, professores, pais das vitimas e espectadores passivos na frente do noticiario sempre manipulado da Fox). Ainda mais pelo fato que entre um e outro ataque o rapaz havia enviado um relatorio com fotos, um dvd com imagens dele portando as duas armas em trajes militarizados, uma especie de carta testamento, e fragmentos de um texto sem pe nem cabeca para uma grande rede de televisao.

Ai apareceu ontem, do nada, a professora Carolyn Rude, do departamento de ingles da universidade que, em busca de holofote ou 5 minutos de fama, ou sei la o que, vindo dizer que os escritos do assassino Cho Hui eram estranhos, que o rapaz escrevia coisas contra 'rich kids' e 'deceitful charlatans' em sua pequena peca escrita para fim de curso. A dona gesticulava de maneira performatica, abria os bracos e clamava aos ceus por respostas, na presenca do diretor da Universidade e, com perdão da má palavra, do Presidente da Republica dos USA - que visitou a instituicao em solidariedade as vitimas.

Francamente, para um moleque que consegue comprar duas glock 19 e 50 balas com a facilidade que ele conseguiu, eh athe safadeza da dona Rude ligar as frustracoes do asssasino, seus nos de cabeca, suas entradas e saidas de tratamentos psiquiatricos, com o estilo literario do 'autor', no caso o assassino, - e excluir disso tudo a neurose de uma sociedade que nao admite sua propria decadencia. Perdeu uma grande oportunidade de ficar calada essa dona, pois o google (ou outro sitio qualquer) botou on-line todos os trabalhos feitos na sua aula. Todos os trabalhos giravam, ironicamente, em torno de temas como pedofilia, violencia, racismo, assassinatos; portanto se fossemos acompanhar a logica da Dr. Rude chegariamos a conclusao de que todos turma seriam assassinos, tarados e sadicos em potencial.

Assim mesmo, obrigado por me alertar dona Rude para nao ler mais autores muito criticos, vou deixar hoje mesmo de ler o meu Air-conditioned Nihghtmare do comunsita pervertido Miller, de assistir meus Billy Wilderes, de escutar o drogado do Coltrane e do Parker, e passar a acompanhar o acougueiro do Jack Bauer que em 24 horas deve matar mais que o psicopata em questao.

Estava pensando ateh em queimar meus tres volumes da obra do Machado, meus Dostoievskis e os livros do desgracado do Saramago - esse comunista fdp comedor de criancas -, o Jardim das Veredas que se Bifurcam esta na minha mira agora, e so nao queimo tambem o livro de Pierre Menard por que nao me lembro em qual dos livros de Borges esta o seu Dom Quixote.

Eu so fico intrigado com uma coisa.... o Lima Barreto e o Robert Walser tambem haviam passado por tratamentos psiquiatricos e nem por isso eram assassinos, bem mas vamos deixar pra la pois assim encontramos mais contradicoes nas palavras dessa mula literaria que ensina literartura.

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Como o assunto eh realmente chocante e o noticiario local nao deixa de falar de outra coisa, volto ao tema agora pela noite, mas durante o dia resolvi me ater aos fatos, so ver a BBC e acompanhar a noticias pelos NYT, que pelo menos nao tenta me comover, como faz a Fox e a NBC, com o som de um violino ao fundo das falas dos apresentadores e entrevistados - como se o fato de 32 jovens mortos ja nao fosse chocante o suficiente para entristecer qualquer um. Desliguei a televisao e fui ler. Tremenda coincidência. Depois de botar o guri para dormir, sentir o silêncio da casa, sentar, acender um cigarro, abrir um livro e encontrar um poema. O poema não foi escrito por um dos alunos da Virginia Tech. Vem do livro Duas Águas publicado em 1956. Ironicamente, chama-se Poema Deserto - titulo que e' uma metáfora a tudo que se ve por aqui. O autor? É de um tal de João Cabral de Mello Neto, que pelo que me conste nunca matou ninguém - nem passou por tratamentos psiquiatricos, nem comprava armas com facilidade em grocery stores.

Todas as transformações
todos os imprevistos
se davam sem meu consentimento.


Todos os atentados
eram longe de minha rua.
Nem mesmo pelo telefone
me jogavam uma bomba.


Alguém multiplicava,
alguém tirava retratos.
Nunca seria dentro do meu quarto,
onde nenhuma evidência era provável.

Havia também alguém que perguntava:
- Por que não um tiro de revólver
ou a sala subitamente às escuras?

Eu me anulo, me suicido,
percorro longas distâncias inalteradas,
te evito, te executo,
a cada momento e em cada esquina.