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Segunda-feira

Desde o primeiro filme que assisti de Fernando León de Aranoa , numa pré-estréia em Madrid em 1998, já o achei muito bom. Este primeiro filme chamava-se ‘Barrio’ e assisti na casa de um dos caras que trabalhara na produção do filme. O cara era amigo do amigo do amigo de uma amiga minha. Ou seja, eu estava a três graus de separação do Aranoa, no mínimo.

Estória simples. Dois guris, em fase de puberdade, que vivam no mesmo bairro de subúrbio de Madrid, dividem as experiências da idade, do bairro e as perspectivas de vida de muitas promessas de saída dalí. Já vão quase 10 anos, mas lembro de umas sacações geniais do Aranoa - que depois do filme discutiamos num daqueles cafés atrás da Puerta del Sol. Uma delas era a busca dos guris por um prêmio oferecidos por uma fábrica de iogurtes. O primeiro prêmio era uma viagem para um país tropical. Os meninos desesperados pelo prêmio, que envolviam sol, praia e mulheres, obviamente, juntam vorazmente as embalagens do produto.

A parte mais irônica e melancólica acontece quando ganham o prêmio. Não chegam a ganhar o primeiro prêmio: ganham um jet sky, ou seja, um prêmio sem sentido numa cidade sem mar ou lago próximo. A cena dos moleques discutindo o que fazer com aquele elefante branco é impagável.

O segundo filme assisti ontem. “Los lunes al sol.” Mais um dos bons filmes que assisti desse camarada. Um filme que me lembra os bons do Ken Loach ( ‘My Name is Joe’ e principalmente o “The Navigators”) . A estória de um grupo de trabalhadores desempregados e que passam todos os dias como se fossem um domingo, um dia festivo mas cheio das angústias e das deseperanças que o desemprego traz. Cada qual a seu jeito reage de maneira diferente a esse misto de desesperança e companheirismo.

O protagonista, Santa, interpretado por Javier Barden - o mesmo que interpretou Ramon Sampedro de Mar Adentro – é um dos desempregados de um grupo de trabalhadores em Asturias. É o mais inconformado e ao mesmo tempo o mais critico de sua imobilidade social. Santa passa os dias no bar de Rico, um ex-empregado que abre um bar para vender bagaceira e cañas para os outros e sobreviver a seu modo.

Assim como Barrio, Los lunes al sol tem umas passagens engraçadíssmas como a que todos estão assistindo uma partida de futebol no telhado de um campo de várzea, onde do ângulo em que se encontravam, assistiam todos os lances, menos os da meta do gol. Então, quando o time fazia gol, tinha que esperar a reação da torcida para saber a conclusão da jogada. Sacação genial do Aranoa.

Mas eu não podia deixar de falar de Nieve de Medina, grande atriz que contracena com Luis Tosar, que interepreta o personagem de José – um cara caladão, com dificuldades de expressar suas angústias até mesmo para sua esposa, Ana (Nieve). O cara tem o que todos os outros não tinham: uma esposa numa relação instável. Os dvds modernos tem o tal do ‘special features.’ Neste, Nieve dá um depoimento emocionante sobre o filme. Fala de sua participação e de sua familiaridade com o ambiente de trabalho, em situações adversas, numa fábrica de conservas na qual Aranoa ambienta sua personagem jovem porém decadente, forte e ao mesmo tempo frágil. Seu depoimento sobre sua atuação no filme é emocionante.
Enfim, todos, em suas análises sobre os personagens, transbordam sensibilidade, a mesma com que Aranoa nos inquieta. Lunes al sol expressa a maneira lúdica, sensível e bem humorada uma maneira de dizer... sim, estamos desempregados, estamos fodidos. E daí?