Dimensões: 9x9cm
Data: Janeiro de 2022
Técnica: Xilogravura
Camilo de Almeida Pessanha, conhecido como Camilo Pessanha, nasceu em Coimbra, Portugal, no dia 7 de setembro de 1867. Filho de Antônio de Almeida Pessanha, um estudante do terceiro ano de Direito, e de Maria do Espírito Santo Duarte Nunes Pereira, uma empregada de sua casa. Mesmo que a relação nunca tenha sido oficializada, o casal teve 5 filhos três homens e duas mulheres.
Camilo Pessanha viveu pouco tempo de sua infância em Coimbra, para onde retornaria apenas para terminar seus estudos secundários e ingressar na faculdade em 1884. O pai, recém formado, era transferido constantemente de postos. Inicialmente como juiz itinerante para os Açores, na Ilha de São Jorge, permanecendo ali por alguns anos, e depois para Lamego, região do Douro, onde Camilo Pessanha teve sua instrução primária, e em seguida estudou no Liceu Central de Mondego. Curiosamente, o pai só o veio a perfilhar para efeitos burocráticos de ingresso na Universidade de Coimbra.
Durante o período acadêmico, teve uma carreira satisfatória, mas teve que interromper os estudos por dois anos. Nos sete anos, entre o ingresso e a formatura, que passou na Universidade de Coimbra, experimentou a poesia e a vida boêmia, o que refletia em sua saúde. Neste período começou a colaborar com alguns jornais da época, publicando seus poemas em revista e jornais, entre eles, “A Gazeta”, “A Crítica”, de Coimbra e o “Novo Tempo”, de Mangualde. Nas férias, tentava se restabelecer, na casa da família, na Quinta de Marmelos, em Mirandela. Alguns de seus poemas foram publicados nas revistas “Ave Azul” e “Centauro”.
Em 1891, concluiu o curso de Direito. No ano seguinte passa em quarto lugar, em concurso público de 50 vagas, e é nomeado Procurador Régio de Mirandela. Dois anos depois vai para Óbidos, onde advoga, ao lado de seu grande amigo Alberto Osório de Castro, até 1894. Data deste período a mítica que o segue: Devido a uma desilusão amorosa, justamente pela suposta paixão não correspondida por Ana de Castro Osório, irmã de seu melhor amigo, decide largar tudo e ir embora para Macau. Nas cartas trocadas entre Camilo e Ana, há uma sincera cumplicidade, mas não verdadeiramente algo que se possa chamar amor. Uma declaração comovente sobre sua vida, suas dificuldades e a doença da mãe, que sofria dos nervos. Decidido por partir, concorre, então, a uma vaga de professor de filosofia no recém criado Liceu de Macau. O concurso, aprovação e partida acontece em menos de seis meses.
Nunca voltou para Portugal, ao menos definitivamente.
Mas retornava frequentemente para passar férias e outras vezes por motivos de
sua frágil saúde. Nessas vindas e passagens por Portugal, por vezes a pretexto
de tratar da saúde, sempre que podia as prolongava. Dividia suas estadas entre
uma quinta da família perto de Braga, e em Lisboa, hospedava-se no Hotel Francfort,
no Rocío, onde era frequentador assíduo da boemia do café Martinho e da
cervejaria Trindade.
Na primeira vez que volta a Portugal, dois anos após a partida fica na quinta da família, mas consultas médicas o levam a Lisboa. Uma oportunidade excelente para conviver com a intelectualidade lisboeta. Numa destas estadas, acabou conhecendo Fernando Pessoa - que aprendera e memorizara suas poesias. Retornado a Macau, depois de sua segunda estada em Portugal, é nomeado como Conservador do Registro Predial, cargo que exerceria paralelamente às aulas do Liceu.
Supostamente, nessa vinda de 1896, deixara um
filho em Macau recém-nascido de data incerta, cuja a mãe era supostamente uma
concubina – a quem ele tinha comprado de um comerciante chinês. Nesse intervalo
de 3 anos, visita novamente Portugal. E somente iria perfilhar o filho João
Manuel de Almeida Pessanha em 24 de
Agosto de 1900. Consta em cartório que teve como testemunhas dois colegas do Liceu, João Pereira Vasco e
Mateus António de Lima. Ou seja, Camilo, que somente foi reconhecido como filho
tardiamente, fez o mesmo com o filho, sendo que supeita-se ainda que o pai de
Camilo também era um filho bastardo.
Não se sabe ao certo quando se tornou maçom, nem em que período da vida em Macau viciou-se na neurose do ópio. No trabalho, diziam que era um tanto desleixado em seu dia a dia, mas mesmo assim foi nomeado Juiz de Direito Substituto em 1904. No ano seguinte, adoece gravemente, e volta a Portugal em estado bastante grave, apenas regressando a Macau em 1909. Neste meio tempo, instala-se na quinta de um primo, nos arredores de Mirandelo, para recuperar sua saúde frágil, já a essa altura bastante tomada pelos efeitos do ópio e suas abstinências. Sabe-se ao certo que foi por conta de João de Castro Osório e da própria Ana de Castro que seus poemas tomaram materialidade, já que declamava-os de memória sem ter manuscritos. Na empreitada, ambos conseguiram transcrever 30 poemas, que em 1920, graças a seu primo João de Castro Osório, que preparou os manuscritos, e Ana de Castro Osório - a mesma que tinha recusado seu pedido de casamento - que cuidou da edição final dos papéis, nasce “Clepsidra”, o livro de poesia que o imortalizou.
Na terra a que um dia chamou de “o chão antipático do exílio”, aprendeu a falar cantonense, traduziu poemas da dinastia Ming e foi um colecionador de arte oriental.Tinha muitos serviçais e concubinas, e não se furtava, muitas vezes de deixar-se fotografar como um mandarim magro, vesgo e viciado em ópio. Quando a mãe de seu filho João Manuel de Almeida Pessanha morreu, deixara dois filhos. João e uma menina, a quem chamaria anos mais tarde “Àguia de Prata” - e que tomaria em todos os sentidos o lugar da mãe na vida do poeta.
Figura proeminente na vida pública, Pessanha
era chamado constantemente para proferir conferências em cerimônias oficiais do
Estado Português, onde os altos
estamentos da burocracia colonial, de certo modo, faziam vista grossa para suas
concubinas, e o vício do ópio. Mas isso era longe, do outro lado do mundo. Em suas
estadas em Portugal, sem o ópio, bebia radicalmente, e com isso aumentava a
imagem de poeta maldito de alma inquieta, viajando de forma intensiva para a
colônia do Oriente.
Quando morreu, deixou a maior parte de seus
bens para companheira e enteada, Kuoc Ngan Yeng, conhecida como “Águia de
Prata”, em detrimento do filho - nesse
caso, seu irmão - João Manuel Pessanha.
No Cemitério de São Miguel Arcanjo, em Macau,
encontra-se uma singela campa, onde repousam os restos mortais de Camilo de
Almeida Pessanha, falecido em 1 de Março de 1926. Ao lado de Augusto Gil, Raul
Brandão e Antônio Nobre, outros autores que também se destacaram no Simbolismo
português, Camilo Pessanha virou nome de rua e seu rosto magérrimo de olhos cruzados,
foi bastante amenizado na sua figura estampada nas notas de 100 patacas macauenses,
por muitos anos.