FLORBELA ESPANCA

 








Título: FLORBELA ESPANCA

Dimensões: 9x9cm

Técnica: Xilogravura

Data: Janeiro 2022

 

 

Florbela Espanca matou-se no dia em que fez 36 anos.  Foi tão improvável, que sua poesia não se encaixa nos moldes da poesia portuguesa da época. Flor Bela de Alma da Conceição nasceu em Vila Viçosa, a 8 de Dezembro de 1894 e teve uma infância tumultuada pelo fato de o pai não reconhecer a paternidade da menina, que tinha como mãe, uma empregada doméstica de Vila Viçosa. Mas contraditoriamente, é o pai que se encarrega da educação da menina, quando a mãe de Flor Bela morre aos 29 anos.

Os seus primeiros versos datam dos sete anos, e escreveu o primeiro conto ainda na escola primária. Concluiu os estudos de licenciatura em 1912 e, nesse mesmo ano, casou-se cedo com Alberto Moutinho, e abriu um colégio e deu aulas de francês e inglês.

A poetisa reuniu uma seleção da sua produção poética desde 1915, inaugurando assim o projeto Trocando Olhares. Tratava-se de uma coletânea de oitenta e cinco poemas e três contos que foram o ponto de partida para futuras publicações.  Nesse mesmo ano começa a escrever para revistas de moda e de costumes como a Modas & Bordados e O Século.


Aos 22 anos inscreveu-se em Direito na Universidade de Lisboa, mudando-se para a capital, onde teve os primeiros contatos com os meios literários da época. Sendo que era uma das 14 mulheres entre mais de 300 alunos homens. Nesse período engravidou e perdeu o feto num abroto involuntário que afetou ovários e parte dos pulmões. Repousou durante aquele ano e começa a apresentar seus primeiros sintomas de neuroses.

Frequentava o terceiro ano do curso quando, em 1919, publicou a sua obra de estreia, Livro de Mágoas. Aos 27 anos divorciou-se e se casou com António Guimarães, de quem também se divorciará, em 1924, após mais um aborto. Decide tratar-se em Guimarães, e ali já começa a viver  com o médico Mário Lage – essa união foi a única que foi realizada na Igreja.

No ano anterior publicara o seu segundo título, Soror Saudade -  que tinha título original de Claustro das Quimeras. Não apenas mudou o título, como a ordem dos poemas, já que era parecidíssimo com um livro homônimo de Alfredo Pimenta. A partir daí já não conseguirá encontrar editor para o terceiro, tendo Charneca em Flor, publicado postumamente, em 1931, pelo professor italiano Guido Batelli.

Com 3 casamentos e 2 divórcios, algo bastante incomum para a época, Florbela Espanca passa a ter crises e a saúde vai pouco a pouco fragilizando. Nestes altos e baixos emocionais, o pai se afastara por não concordar com seu segundo divórcio, e o facto de ter ostensivamente vivido com os seus dois últimos maridos antes de se casar com eles, não lhe facilitou decerto a vida na sociedade patriarcal da época, impossibilitando mesmo a edição de seus livros.

A morte precoce do irmão, “esmagou o coração dentro de seu peito”.  O fato provavelmente contribuiu para agravar ainda mais seu já frágil estado de saúde, marcado por problemas pulmonares, pelas sequelas de dois abortos involuntários e por uma provável doença mental hereditária, que lhe provocava insónias, enxaquecas e esgotamentos físicos e mentais frequentes. Abandonara a poesia e caía em depressão, ainda tentando traduzir alguns autores franceses. “Um ente de paixão e sacrifício, de sofrimentos cheio” eis Florbela, que ao final da vida começou a consumir um barbitúrico, Veronal, ao qual depois recorreu para se matar.

Os sonetos de Florbela não tardariam muito, após a morte da autora, a tornar-se um caso invulgar de sucesso público, seja pela luta feminista, seja ela representação forte e intensa do papel da mulher na sociedade patriarcal.  

Postumamente, sai um primeiro volume de correspondência e o livro de contos As Máscaras do Destino. Em 1934, são publicados os Sonetos Completos, acrescidos do conjunto inédito Reliquiae. Mas é só nos anos 80 que o trabalho de edição da obra de Florbela se conclui, com a edição de Diário do Último Ano, do livro de contos O Dominó Preto e, finalmente, da edição da sua obra completa, organizada por Rui Guedes a partir dos manuscritos da autora.

Alguns críticos viam sua poesia como fácil e anacrônica, talvez não necessariamente por isso seja melhor acolhida e mais lida no Brasil que em Portugal. Sua escrita é marcada por um certo exagero emotivo e confessional, mas por ser a voz do que era silenciado do desejo feminino em seu tempo passa a ser uma poetisa com profundas raízes no movimento feminista português. Ao lado de Judith Teixeira, com quem dividia páginas na Revista Europa, também publicou os seus livros nos anos vinte. Tal como Florbela, Judith era filha ilegítima, e também se divorciou, e com poesia frontalmente lésbica foi censurada pelo regime e marcou sua época. Entretanto, em vida, não se sabe de que tenha feito parte de nenhum grupo literário ou de poesias. Sempre publicou sua produção poética, por conta própria

 



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