Título: Carvalho Calero
Dimensões: 9x9cm
Técnica: Xilogravura
Data: Janeiro de 2022
Dimensões: 9x9cm
Técnica: Xilogravura
Data: Janeiro de 2022
Carvalho Calero, um dos maiores intelectuais galegos do século XX, era um homem que ria pouco. Tinha em si uma mistura de timidez e um cuidado meticuloso com sua imagem pública. Talvez o resultado de uma vida, não muito fácil, que tenha lhe ensinado ao comedimento das emoções. Nasceu em Ferrol, cidade localizada na província da Corunha, em 1910. Cresceu no seio de uma família abastada como o mais velho dos seis irmãos. Perde a mãe, aos oito anos de idade, mas isso não o abala e dedica-se com afinco aos estudos, o que também inclui a língua galega. Chega mesmo a publicar alguns poemas já com 11 anos, quando começam suas tentativas de dramaturgo em duas obras, uma zarzuela e uma comédia em versos.
Neste
mesmo período, ajuda a fundar o Partido Galeguista, junto a Castelao, Alexandre
Bóveda, Tobio Fernandes, dentre outros. Nesta fase da vida ainda elabora
propostas estatutárias para a Assembléia de Municípios e colabora com as publicações de Claridad e Ser, vinculadas à
esquerda galeguista.
No mesmo ano, ganha uma vaga de funcionário
público na Câmara municipal da sua cidade de nascença, Ferrol, deslocando-se
para ela novamente. E em 1933 casa com sua amiga de estudos Maria Ignacia Ramos.
Sua militância no Partido Galeguista, no qual foi presidente entre 1934 e 1935
e seu envolvimento com o legalismo Republicano marcou-o nas hostes franquistas.
Foi combatente voluntário num batalhão composto por professores e profissionais
de educação ligados à UGT. Foi preso no final da Guerra em Andaluzia e
condenado por “separatismo”.
Perdeu o emprego e foi preso por dois anos, sendo libertado apenas no ano de 1941, e ainda assim de forma condicional, até à extinção da pena que somente viria em 12 anos. Neste período, aproveitou para estudar alemão e anotar dados para romance Scórpio, bem como A sombra de Orfeu, e para a peça teatral 'Os chefes', que somente publicaria em 1982.
Mesmo em liberdade, continuou pagando um preço caro pela
sedimentação de seus inconformismos. Durante a liberdade condicional, teve
sérias dificuldades para conseguir trabalho. Vê-se impossibilitado, por exemplo,
de recuperar a sua vaga de funcionário público, sendo obrigado a procurar
trabalho como docente no ensino privado. Sem opções profissionais, e sem poder exercer
o Direito, desenvolve um intenso labor literário, com os romances A Gente
da Barreira, de 1951, e Os senhores da Pena, onde critica o passado da
sociedade tradicional galega. Colabora sob o pseudónimo 'Fernando Cadaval' no
jornal La Noche, sobre temas históricos e literários ligados a Rosalia de
Castro. Para manter a família, deu aulas privadas, em situações de vida muito
duras, aliás similares à de Antón Fraguas e Fernández del Riego. Em 1950 muda-se
para Lugo, onde residiria pos mais 4
anos até termina seu doutoramento em Madrid com uma tese sobre a literatura galega
contemporânea. Neste período, teve a sorte de ser acolhido pelo empresário e
filantropo António Fernández no Fingoy, e desde aí, atuar grupo Galaxia. Em
1958 entra na Real Academia Galega e em 1965 torna-se o primeiro professor de
galego da Universidade.
Neste anos, muda-se para Santiago de
Compostela, onde atua como professor de Língua Espanhola e Literatura no
Instituto «Rosalia de Castro» e, ao mesmo tempo, como professor na disciplina
de Língua e Literatura Galega na Universidade de Santiago, onde em 1972
alcançaria a categoria de catedrático. Tido por alguns como um homem distante com os
alunos, porém muito respeitoso, tinha um estilo de aula tradicional. Outros, dizem que era
um homem à moda antiga, sempre de terno e maleta, e que ao cruzar uma rua e se
deparar com uma mulher, tira-lhe o chapéu, em sinal de respeito.
Sua radicalização na defesa linguística, aprofunda-se
em Julho de 1975 com um artigo público no jornal La Voz de Galicia onde defende
uma normatização reintegracionista do Galego com o Português - o que provoca uma
marginalização total de seu nome no meio acadêmico e político galego. Sua
leitura do contexto histórico não estava de todo equivocada. Franco morreria em
Novembro do mesmo ano, e havia uma real possibilidade de oficialização do
idioma da Galiza nos próximos anos, após a morte do tirano, o que viria acontecer com a aprovação do controverso Decreto de Bilinguismo, e do Estatuto
da Autonomia da Galiza em 1981. Entretanto o tempo pressionava para que a
luta se apressasse. Faltavam 5 anos para completar 70 anos. E assim atingiria o
que naquele momento era a idade regulamentar de aposentadoria, e sabia que a
partir daí as articulações políticas e acadêmicas seriam mais difíceis.
Entretanto, mesmo quando ainda atuava na docência acadêmica, sua imagem como intelectual reintegracionista viva arranhada. Prova disso é que quando aparece a Antoloxía da poesía galega actual, preparada pela revista Nordés para Ediciós do Castro, em 1978, Carvalho é incluído entre os 16 autores representados. Entretanto, a despeito do tamanho dos poemas e das opções de diagramação, em número de páginas, Calero ocupa um dos últimos lugares em termos quantitativos. Em um momento em que já era considerado um historiador da literatura galega, catedrático da USC e com inúmeras obras publicadas.
O debate sobre o futuro da língua da Galiza e sua identidade idiomática, situou Carvalho Calero em posição de alvo de uma tosca incompreensão, por parte de seus pares acadêmicos. Com o tempo, aquilo foi se transformando em aberta hostilidade, mesmo por parte de alguns dos seus antigos amigos.
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