PAULO LEMINSKI

 


Título: Paulo Leminski

Dimensões: 9x9Cm

Técnica: Ponta seca em acrílico

Data: Janeiro 2022

 

 

PAULO LEMINSKI

Leminski é transparente. É exatamente isso que é visto e lido. Um maldito queridinho. Óculos, bigode, e peito aberto. Pouco de sorrisos. E com as poucas palavras de seus haicais desconstruía mundos e erguia imagens. Era músico, compositor, escritor, tradutor, crítico literário, e lutador de judô. Além disso, atuou profissionalmente como professor de história e redação em cursos preparatórios, também participou como diretor de criação e redator em algumas agências de publicidade. Como tradutor trabalhou com obras de autores como James Joyce, John Fante e Samuel Beckett.

Paulo Leminski Filho nasceu em agosto 1944. Se orgulhava de sua ascendência polonesa e africana, e assim como Snege era curitibano, poeta maldito profissional, e também amador.

Em 1958, aos quatorze anos, foi para o Mosteiro de São Bento em São Paulo estudar para ser padre, ou algo similar, e a experiência não foi das mais empolgantes, retornando um ano mais tarde para Curitiba e terminando seus estudos num colégio estadual. Anos mais tarde participou do I Congresso Brasileiro de Poesia de Vanguarda em Belo Horizonte, onde conheceu Haroldo de Campos, amigo e parceiro em várias obras.

Com a também poetisa Alice Ruiz, casou-se em 1968. Recém casados, Leminski e Alice foram morar com a primeira mulher do poeta e seu namorado, em uma espécie de comunidade hippie, num apartamento em Curitiba.  Ficaram lá por mais de um ano, e só saíram com a chegada do primeiro filho. Miguel Ângelo, o primogênito, viria a falecer com dez anos de idade, vítima de um linfoma. E até recentemente, sabia-se que Leminski e Alice, casados por mais de 20 anos, também tiveram duas meninas, Áurea e Estrela Ruiz Leminski. Casado, com filho pequeno e contas a pagar, entre 1969 a 1970, Leminski decidiu morar no Rio de Janeiro retornando a Curitiba para se tornar diretor de criação e redator publicitário.

Detentor de uma poesia marcante, jogava com a linguagem usando trocadilhos, ditados populares e influência de haicais, além de abusar de gírias e palavrões. Estudioso da cultura japonesa, chegou a publicar uma biografia do poeta japonês Matsuo Bashô. Como ele mesmo se definia, considerava-se um “anarquista zen”, um “bandido que sabia latim”, um “canalha erudito”.

Leminski, como letrista, teve parceiras variadas com músicos de diversos matizes. Escreveu letras com Caetano Veloso, o grupo A Cor do Som, conviveu com Gilberto Gil, Moraes Moreira, Itamar Assunção, Jose Miguel Wisnik, dentre muitos outros. Apenas no fim da vida, 1987 e 1989 foi colunista do Jornal de Vanguarda na rede Bandeirantes de Televisão.

Pode-se dizer que a carreira começou nos anos de 1970, quando teve poemas e textos publicados em diversas revistas - como Corpo EstranhoMuda CódigoRaposa.  Leminski publicou o seu primeiro livro - o romance Catatau - em 1976. Também lançou algumas poesias na revista Invenção, do movimento concretista. A partir de então a sua produção literária seguiu de vento em popa. Mas nesse mesmo ano acontece um dos episódios mais obscuros de sua biografia.

Em 2001 foi lançada uma das mais completas biografia de Leminski, O Bandido Que Sabia Latim, do biógrafo Toninho Vaz. Sua esposa Alice Ruiz boicotara sua reedição, ainda que feita com auxílio das informações da própria Alice, e a ela dedicada. A viúva e as duas filhas se opunham à publicação da biografia de um Leminski real. Alcoólatra como o pai, mal asseado, dentes estragados, nu e constantemente atormentado pelo suicídio do irmão e pelas ameaças de separação de Alice. Além disso, a biografia revela os detalhes de um filho bastardo que Leminski chegou a registrar com a mãe, mas que misteriosamente, no ano de 1976 passou a se chamar Luciano da Costa.  

Como a vida imita a arte, talvez, não à toa, Leminski tenha escrito, em poema musicado para Itamar Assunção, “um homem com uma dor é muito mais elegante, como andando assim de lado, chegasse mais adiante.” Alma feita de dor e de poesia. 

Leminski disse
Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Como se chegando atrasado
Andasse mais adiante

Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha

[…]

Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nessa dor
Ela é tudo o que me sobra (Por favor, por favor)
Ela é tudo que me sobra (Sofrer vai ser a minha última obra)
Sofrer vai ser a minha última obra (Ela é tudo que me sobra)

 

A dor do agravamento de uma cirrose hepática que o acompanhou por anos cessou no 7 de junho de 1989.

 

Nenhum comentário: