JAMIL SNEGE





Título: Jamil Snege

Dimensões: 9x9Cm

Técnica: Xilogravura

Data: Dezembro 2021


Mais um da extensa lista que o Brasil fez questão de esquecer, é Jamil Snege. O escritor do Sul do Brasil, vem de uma família de descendentes árabes, por parte de pai, e italianos, por parte de mãe. Cresceu no elegante bairro da Água Verde na Curitiba dos anos 1940, e como todo o menino da sua idade, queria ser jogador de futebol. Felizmente, por inabilidade ou pura incompetência, e para felicidade de seus leitores, por volta dos 17 anos, sua paixão não foi correspondida e abandonou o sonho de ser jogador, ingressando logo em seguida no serviço militar.  

Prestou serviço militar nos anos 50, no Centro de Operações de Oficiais da Reserva (CPOR), e para felicidade de seus leitores, foi logo expulso por “falta de idoneidade moral”, como dizia o seu boletim de expulsão da época.

Após uma série de pequenos deslizes disciplinares, ele acabou provocando um incêndio num exercício de tiro. Participava de um exercício com peças de morteiro e começou imprudentemente  “levianamente”, em suas próprias palavras – a encostar a brasa do seu cigarro nas cápsulas auxiliares da munição dos morteiros dos companheiros de tropa, em Campo Largo da Roseira, colocando em risco a vida de toda a tropa. O incêndio se alastrou, pois havia um vento muito forte no momento, e todos tiveram uma tarde de muita fumaça, muito fogo e perigo de vida.

Além de escritor trabalhou com publicidade e marketing político. A propósito, formou-se em Sociologia e Política pela Pontífica Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), e destacou-se na publicidade pela ousadia e irreverência na criação de campanhas comerciais, políticas e educativas de grande êxito.  

Pode-se dizer que o “Turco”, como era chamado pelos amigos, como publicitário, ganhou a vida em sua agência de publicidade sempre promovendo os outros. Participou de diversas campanhas politicas de sucesso como a de José Richa e Roberto Requião. Richa foi eleito governador do Paraná em 1982. E no mandato, Snege desenvolveu projetos sociais de marketing, engajando-se também na campanha das Diretas Já, para a Presidência da República.

No campo literário, além da reconhecida qualidade de sua obra ficcional, notabilizou-se por recusar sistematicamente as propostas recebidas de grandes editoras, optando por financiar com recursos próprios a publicação artesanal de seus onze livros.

Alguns dizem que Snege define melhor a alma curitibana que o próprio Dalton Trevisa. Entretanto Jamil Snege sempre recusou o rótulo provinciano de escritor regionalista, com o argumento de que quando se olha para a literatura americana ou latino-americana, não existe a literatura da Carolina do Norte ou a literatura da California.

Dono de uma ironia sarcástica, enxuta, corrosiva, uma forma de heroicizar as misérias com um lirismo negativista, Snege tinha um olhar impiedoso sobre a condição humana. A diferença é que sempre escrevia com algo de auto-biográfico. Escritor reconhecido pela classe literária, publicou, entre outros, “O Jardim, a Tempestade” (minicontos, 1989), “Como Eu Se Fiz Por Si Mesmo” (memórias, 1994) e “Os Verões da Grande Leitoa Branca” (contos, 2000).

Deixem-me arder
……..Deixem-me queimar as asas
nesse vela,
nesse sol, nesse leiser que envenena
as couves embrutecidas
pela treva.
…….Deixem-me arder.
…….Se ofendo sua lógica,
sua prosódias, seus anéis
de sempre elegante curvatura,
esmaguem minha musculatura
e os ossos que a sustêm.
…….Mas me deixem arder
…….Deixem-me arder de infinito
nesse iníquo delíquio
de existir.
…….E se os ofendo,
soprem minhas cinzas,
derramem minha lixívia,
mas me deixem auferir
as estrelas como o úmero roto
açoita o músculo que seu vôo
desencanta.
…….Deixem-me luzir
definhar meu luminoso espanto
onde só lhes é permitido
sobraçar espasmos
e guarda-chuvas.
…….E seu eu venha a ferir,
opacos, o lusco-fusco
de seus baços,
o hálito de hortaliças,
o bolor de queijo
que amadurece em seus
atrios
absteçam-me de mil insultos
…….
Mas me deixem incender.

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