HILDA HIRST

 



Título: Hilda Hirst
Dimensões: 9x9cm
Técnica: Xilogravura
Data: Dezembro de 2021
  
 

Hilda de Almeida Prado Hilst nasceu em 1930. Foi poeta, cronista e dramaturga.  Era a filha única de um fazendeiro de café, jornalista e ensaísta de Jaú, interior paulista, Apolônio de Almeida Prado Hirst. Sua mãe, Maria do Carmo Ferraz de Almeida Prado, já tinha um filho de um casamento anterior, algo raro na época, e logo após o nascimento de Hilda, separa-se de Apolônio, que já apresentava os primeiros sinais de esquizofrenia.

Estudou em colégio interno, Colégio Santa Marcelina, em São Paulo, onde cursou o primário e o ginasial e foi considerada uma aluna brilhante. Passou todo o período da infância sem saber dos problemas neurológicos do pai.  Em 1945 iniciou o curso secundário no Instituto Mackenzie, uma escola igualmente rígida, fundada por presbiterianos. Finalmente em 1948 entrou para a Faculdade de Direito da USP, onde conheceu Lygia Fagundes Telles, de quem seria amiga por toda a vida.

Data deste período a publicação de seu primeiro livro. Aos 20 anos estreia na literatura com o livro de poemas Presságio (1950), em publicação da Revista dos Tribunais. Esse livro junto com outros dois – Balada de Alzira (1951) e Balada do festival (1955) –, faria parte dos livros de formação inicial de Hilst, o seu primeiro conjunto de uma obra maior. A partir de 1951, também, ano em que publicou seu segundo livro de poesia, Balada de Alzira, foi nomeada curadora do pai. Concluiu o curso de Direito em 1952.

Teve duas paixões na vida. Uma real: Júlio de Mesquita Neto, antigo dono do jornal “O Estado de São Paulo” – com quem se correspondeu, conviveu e para quem dedicou, em segredo, o livro “Júbilo, Memória e Noviciado da Paixão”. A outra, um tanto platônica, diga-se de passagem.  Chegou a namorar o ator americano Dean Martin, ainda quando este estava casado com Jeanne Biegger. Dean tinha 3 filhos e Hilda não queria complicações em sua vida. Ela dizia que namorou Dean Martin só para conhecer Marlon Brando. E como o namorado demorava a apresentá-los, numa noite, tomou um porre, subornou o porteiro do hotel e bateu na porta do quarto onde o ator estava hospedado. Brando abriu a porta, segundo a poetisa, com um “belo robe de seda” e, com muita educação, perguntou: “Só porque você é bonita acha que pode acordar um homem a essa hora da noite?” Curiosidades à parte, Hilda deu meia-volta e foi embora. No mesmo ano Brando tinha sido indicado para o Oscar como melhor ator, pelo filme Sayonara. E Hilda foi preparar seu Roteiro do Silêncio, que publicaria dois anos mais tarde.

 Hilda decide afastar-se da vida agitada de São Paulo e, em 1964, passa a viver na sede da fazenda de sua mãe, próximo a Campinas. No mesmo ano seu pai morre. Projetou sua própria casa numa parte daquela propriedade, perto de uma figueira bicentenária.  E em 1966, finalmente, Hilda muda-se para a mítica Casa do Sol, planejada detalhadamente para ser uma residência de escritores, hospedagem para amigos, biblioteca de autores clássicos, e refúgio. Pela casa do Sol passaram Lygia Fagundes Teles, Caio Fernando Abreu, mas não apenas escritores. Pintores como Jurandy Valença, os críticos literários Leo Gilson Ribeiro e Nelly Novaes Coelho; a artista visual Maria Bonomi;  Gilka Machado, os físicos Newton Bernardes e Cesar Lattes, atores como o Raul Cortez, Cacilda Becker, Tarcisio Meira, Eva Vilma, dentre outros.  

A despeito da exposição plena em suas obras, teve uma discreta vida privada. Na década de 1960 conhece o escultor Dante Casarini - então funcionário público e gestor de negócios do pai -  com quem, mesmo sem casar-se oficialmente, nem a princípio dividir o mesmo teto, se relacionaria por mais de 35 anos.

Foi uma escritora e poeta que tocou em assuntos tidos como socialmente controversos, como o amor entre pessoas do mesmo sexo. Confessou em entrevista para Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Moreira Sales, que seu trabalho sempre buscou, essencialmente, retratar a difícil relação entre Deus e o homem. Dizia ela que o que a inquietava era o problema da morte -  morte não no sentido metafísico de tudo quanto possa advir depois de acontecida. Ainda segundo ela, sua poesia é a não aceitação de que um dia a vida se diluirá e, com ela, o amor, as emoções do sonho e toda essa força em potencial que vive dentro de nós.

Em 1974, após sua experiência escrevendo para teatro e prosa, Hilda Hilst volta a publicar poemas.  Lança Júbilo, memória, noviciado da paixão. Odes mínimas (1980), seria ilustrado com aquarelas produzidas pela própria autora. Na década de 1980, Hilst busca por temas metafísicos, em especial os da morte e o da espiritualidade - desde o fim da década de 1970 dizia ouvir vozes dos mortos na Casa do Sol. Cantares de perda e predileção (1983) e Poemas malditos, gozosos e devotos (1984) são exemplos dessa fase.  Esta fase se alonga até o início dos anos 1990.  E lança sete outras obras:  Do desejo (1992). Nele estão reunidos: Sobre a tua grande face (1986), Amavisse (1989), Via espessa (1985), Via vazia (1989), Alcoólicas (1990), Do desejo (1992) e Da noite (1992), fechando o ciclo com Bufólicas (1992) e Cantares do sem nome e de partidas (1995).

Seus poemas produzidos por mais de 45 anos, eram artefatos de grande experimentação linguística e com intensa pesquisa, mantendo uma voz autoral independente. Estudada na academia ainda em vida, ganha fama no grande público como poeta de muitos adjetivos algumas vezes redutores, mas não equivocados: Hilda erótica e desbocada, Hilda provocadora e obscena. Hilda meio louca, eremita, arredia, indomesticável. Essa aura parece dizer mais sobre aqueles que a tentaram rotulá-la do que sobre a própria Hilda ou seu trabalho, ao qual, como o leitor sempre pode atestar, em suas leituras, tirando suas próprias conclusões, não falta rigor.

No final da vida, a Casa do Sol vivia cercada por centenas cachorros, dos quais ela tratava pelo nome individualmente. Esse foi um processo de autoconstrução de sua imagem. A Hilda reclusa da Casa do Sol, com dezenas de cães. A Hilda, que apareceu no Fantástico nos anos 1970 dizendo que gravava as vozes dos mortos.  A escritora, que já tinha deficiências crônicas cardíaca e pulmonar, morreu em fevereiro de 2004, após complicações decorrentes de uma cirurgia de fratura do fêmur. 

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