Um dos gratos momentos que passei na minha última e interminável viagem - de quarenta horas, cinco escalas e duas malas perdidas - foi aquele que passei lendo a Philip Roth. O Roth salvou boa parte dos atendentes de Costumer Service da Iberia e da British Airways. Salvou-os da minha indignação resignada contra as empresas de aviação que a cada dia se parecem mais com as de transportes coletivos públicos terrestres. Além disso devo a ele, pessoalmente, o fato de não estar respondendo frente aos tribunais de Haia pela minha primeira tentativa de homicídio culposo - pois eu estava absolutamente convencido que eu deveria dar no mínimo um soco na cara do atendente da Iberia que em Madrid disse-me que a culpa pelos meus vôos cancelados não era da empresa e sim minha, por não ter previamente conferido meus emails antes de sair de casa.
Neste clima, li a primeira novela do Roth chamada Goodbye, Columbus. Uma pequena novela explosiva. Uma visão da vida sem compaixão, numa forma de escrever sem espaço para o auto-engano já no primeiro livro da juventude.
A trama se desenvolve em Newark e seus arredores. Neil Krugman é um jovem bibliotecário, sem um futuro muito bem definido. Vive com uns tios em New Jersey, nos arredores de Newark. No clube em que frequenta, conhece a Brenda Patimkin, herdeira de um industrial do ramo da porcelana de Short Hills. Nestas mesmas férias de verão, os dois se envolvem amorosamente de tal maneira e com tal força que seria difícil saber o que o destino reservaria a ambos.
Brenda é oriunda de uma família de judeus ortodoxos. É o tipo de menina fútil, bem vestida, consumista, universitária, vaidosa a ponto de se submeter a cirurgias plásticas e absolutamente aberta aos encantos de Neil, seu completo oposto. Neil, um tipo ácido, com alguma dose de idealismo sufocado por um pragmatismo desvelado, é um jovem contido e lacônico. A estória é narrada por Neil que, com seus rasgos psicológicos e inteligência aguçada, se aproxima dos Patimkins e traça uma radiografia crua da família. Por Neil, Roth fotografa a vida dos subúrbios americanos como ninguém. Das linhas de Roth, narradas por Neil, não escapa nada: sexo, racismo, distinção de classes, opressão feminina, traumas familiares, conflitos entre pais e filhos, hipocrisia, inveja... enfim todos os elementos que circundam um bom romance que vai da iconoclastia à ternura sem concessões.
Contentemo-nos com a Ilusão da Semelhança, porém, em verdade lhe digo, senhor doutor, se me posso exprimir em estilo profético, que o interesse da vida onde sempre esteve foi nas diferenças,
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