A história genérica de Noel Rosa todos conhecem. Um cara de queixo torto, estudante de Medicina, feio como Frankstein, e que morre de tuberculose aos 26 anos. O que poucos sabem é que o Noel Rosa fez no Brasil dos anos 30 o que os EUA somente viriam a fazer nos 50: colocar os pretos e os brancos para tocarem juntos. E muito menos se sabe sobre os detalhes da vida de Noel.
Boêmio e manguaça, Noel era um desses caras que já nasceram tortos. Bebia, fumava, cheirava loló, frequentava o meretrício, tomava cachaça, jogava sinuca, falava palavrão, se apaixonava por mulher da zona... enfim... o que esperar de um tipo desses! Lógico: poesia.
O filme "Noel - Poeta da Vila" segue bem de pertinho a biografia do João Máximo - que por um golpe de sorte adquiri a edição já esgotada por uma nota preta . Ricardo van Steen - que deve ser filho de Edla van Steen - fez um filme ótimo sobre o Rosa. Mostrou bem como um cara branco e de classe média acaba conhecendo criaturas do calibre de Ismael Silva e por meio deste chegar ao mundo do samba onde habita o pedreiro Cartola e o marceneiro e malandro Wilson Batista. Mostra como esse jovem ingênuo descobre o mundo horroroso da birita, do samba, das mulheres, das altas horas e das ressacas. Aos 19 anos já vende milhares de discos. É um ídolo do rádio, que era o meio de comunicação mais importante na época. Num Carnaval, conhece a Lindaura, quinze anos. Traça a Lindaura sem se preocupar com as consequências. Meses depois, conhece Ceci e por ela se apaixona. Vai enrolando as duas o quanto pode, até que é enunciado pela mãe de Lindaura como raptor de menores, restando-lhe duas saídas terríveis e equivalentes, casamento ou xilindró. Quando descobre que é tuberculoso, vai para Minas se recuperar. Longe daquela vida horrorosa que levava - nos bares e meretrício, cheia de bebida, cheiro de cigarro, loló, sinuca, palavrão e mulher de zona - acaba ficando melancólico. Volta ao Rio de Janeiro e reencontra Ceci. Nesse reencontro há uma cena de gosto duvidoso... algo bizarra, dos beijos com as mascaras hospitalares. Eu podia ter sido poupado pois estava implícito...
Torna-se parceiro de Ismael e de Chico Alves. Engravida a Lindaura. Ceci o deixa para ficar com Mario Lago. Nesse meio tempo, Lindaura perde o bebê. A tuberculose piora e ele bebe mais. Nas últimas, termina "Último Desejo", samba que havia prometido para Ceci.
Mas antes do ar depressivo tomar conta do filme, Noel protagonizou uma polêmica engraçadíssima travada através de canções com Wilson Batista. O filme mostra bem isso. Wilson fazia apologia do malandro de lenço no pescoço para não sujar o colarinho, navalha no bolso e chapéu Panamá aba larga. Ao samba Lenço no Pescoço, Noel respondeu com "Rapaz Folgado." Vários de seguiram como Mocinho da Vila, Feitiço da Vila, Conversa Fiada... e Palpite Infeliz. Um detalhe que não me lembro bem é se Frankenstein da Vila, que ficou sem resposta por parte de Noel, foi mesmo feito por Wilson Batista nas circusntâncias da morte de seu pai.
Noel - O Poeta da Vila, é um filme, da safra recente de filmes brasileiros, muuuito estranho. Em todo o filme há apenas um tiro. Um tiro apenas! O tiro que Ismael Silva da no malandro encrenqueiro. Tudo isso me deu uma profunda esperança de que o cinema brasileiro voltará ser cinema e enterrará de vez essa praga de Homens dos Anos, Tropas de Elites...
Nota. Caricatura de um dos maiores caricaturistas brasileiros - Lula Palomanes
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