Le Scaphandre et le Papillon


Tive um breve, mas intenso contato com meu avô. Nesta breve estada em minha casa, o velho alfaiate - dizem que dos bons - ao inventar estórias sobre caça a perdizes, vaticinava. Falava que não somos nada nesse mundo ao referir-se a dois dos netos - um que ele nem chegou a conhecer. Eu, um guri na época, mais preocupado com meus times de botões, imaginava uma carga de fatalismo um tanto exagerada nas palavras do velho e o tomava como um gárrulo.


Ontem lembrei do meu avô, e de muitos outros fatos da infância, e de gente querida que foi ficando para trás...


Julien Schnabel fez um filme belissimo que numa tradução para o português seria mais ou menos “O escafrandista e a borboleta,” baseado na história de Jean-Dominique Bauby, ex-redactor-chefe da revista francesa Elle. Bauby, nascido em 1952, pai de três filhos (Théophile, Céleste e Hortense), era redactor-chefe da revista francesa Elle quando foi vítima de uma doença rara, uma espécie estranha de AVC.


Ao acordar, 20 dias depois, no Hospital Marítimo de Berck-sur-Mer, descobriu que perdera a capacidade de se movimentar e de falar. Lúcido, mas paralisado por completo, podendo respirar, comer por meios artificiais e mover o olho esquerdo, Bauby começa a ditar um livro baseado num sistema de comunicação que consistia em piscar uma vez para dizer sim e duas vezes para dizer não. "Ditando", não apenas palavra por palavra, mas ainda letra por letra, recompôs o livro de sua vida mentalmente.
Esse filme talvez tenha sido um dos melhores e mais poéticos filmes dos últimos meses. Julien Schnabel nos faz perceber os detalhes tão inacraditáveis, de maneira tão metafórica, tao densa, tao estranhamente proximos, que ninguém pode passar impassível por determinadas cenas desta estória, pois meu amigo... não somos nada nesse mundo, e vivemos num mundo cheio de escrotidão.

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