Contentemo-nos com a Ilusão da Semelhança, porém, em verdade lhe digo, senhor doutor, se me posso exprimir em estilo profético, que o interesse da vida onde sempre esteve foi nas diferenças,
O homem de palavras
Pode ser ilusão, mas em termos de discursos, as semelhanças entre Obama e Kennedy foram comentadas durante as eleições americanas. O poder da retórica dos dois foi alvo de comparações e, justamente, por esta capacidade de argumentar não necessariamente se tornaram presidentes, mas sem dúvida políticos notórios. Tenho 4 sisos há quase 20 anos, e não sou ingenuo em afirmar presidentes se sustentam simplesmente pela força da retórica até por que as biografias pesam e pesam muito. Há diferenças. Kennedy era filho de um especulador imobiliário em NYC, de um prevaricador que por tráfico de influências fechava negócios milionários e lavava a grana em ramos da metalurgia, importação de àlcool durante a Prohibition, e filmes para Hollywood. Quando Jack assumiu o poder, estima-se que a fortuna do pai beirava os 400 milhões de dólares. Obama é filho de universitários, um queniano e uma americana. Isso explicaria muito de sua trajetória se ele continuasse sendo apenas um advogado de direitos civis, ou apenas um brilhante e dedicado presidente de Harvard. Mas não, o camarada tornou-se aos 34 anos escritor sensível com Dreams of My Father, presidente e mito aos quarenta e poucos anos.
No nível retórico, estou sinceramente curioso para ouvir as palavras de Obama em seu discurso de posse já que os discursos de posse imprimem as marcas pessoais dos presidentes. Como se fossem os selos que suas administrações mostrarão. Portanto, são diferentes dos discuros de camapanha. Até por que o discurso de campanha é um, o discurso inaugural é outro, e os discursos no poder são outros – estes sim diametralmente diferentes dos dois anteriores. Analisar os discursos de posse dos presidentes pode ser diletantismo mas é um exercício interessante. Kennedy disse em 1961:
“[...] não perguntem o que o seu país pode fazer por vocês, perguntem o que vocês podem fazer por seu país. Cidadãos do mundo, não perguntem o que os Estados Unidos podem fazer por vocês, e sim o que podemos fazer juntos pela liberdade"
Estes eram tempos de Eisenhower, da Guerra Fria, da neurose anti-comunista. Os americanos ainda não tinham ido para o Vietnã e a política da Détente nem era sonho.
Eu ainda podia citar mais dois exemplos de discursos clássicos recentes. Um deles o de Reagan em 1981: "Na atual crise, o Estado não é a solução para nosso problema; o Estado é o problema". Estes eram tempos da Dama de Ferro, monetarismo, fim dos programas socias, da Guerra nas Estrelas, da onda New Wave e de muitas outras coisas esquisitas.
Ainda nessa linha poderiamos citar o discurso de posse deste que sai – o qual me recuso pronunciar o nome. Em sua segunda posse, em 2005 disse:
"A política dos Estados Unidos é apoiar a expansão dos movimentos e instituições democráticas em todos os países e culturas, com o objetivo último de pôr fim à tirania em nosso mundo[...]"
“[...] pois enquanto regiões inteiras do planeta fervilharem em ressentimento e tirania inclinadas a ideologias que alimentam o ódio e perdoam o assassinato, a violência gerará e multiplicará seu poder destrutivo, cruzará as mais defendidas fronteiras e representará sempre uma ameaça mortal. Existe apenas uma força na história capaz de pôr fim ao reino do ódio e do ressentimento, de expor as pretensões dos tiranos e recompensar as esperanças das pessoas decentes e tolerantes, e é a força da liberdade humana[…]”.
Estes foram tempos de torturas de Abu Ghraib televisionadas, relatórios falsos na Assembléia Geral da ONU televisionados, enforcamento de tiranos televisionados, e uma grande apatia por parte dos telespectadores. Um Logos sem Ethos. Um Pathos com o Logos de manipular as emoções da audiência.
Em poucas horas Obama fará seu discurso de posse. Vai dar tudo certo. Eu também hope .
Ansiedade da Influência
Eventualmente tentarei traduzir alguns trechos. Por agora, um video do Auster lendo seu último livro, onde a culpa sobre a qualidade da imagem e do audio é toda minha.
The Visitor
Em The Visitor, filme de Tom McCarthy, Richard Jenkins é Walter Vale, um homem de 62 anos, um professor de economia em Connecticut, viúvo e sem paciência para seus alunos e amigos da universidade. Num certo dia é praticamente obrigado pelo chefe de departamento de sua faculdade a apresentar uma conferência em NYC sobre um paper em que ele é co-autor – caso típico, mas dexapralá. Chegando a seu apartamento, que visita raramente, descobre, Tarek e Zainab. Tarek, percursionista, é Sírio, e Zainab, artesã, é senegalesa. Ambos vivem por alí há mais de dois meses sem serem incomodados. Após esse breve desentendimento, ambos decidem partir na mesma noite. O professor acaba propondo abrigo temporário para eles em seu apartamento e, aos poucos, vai se envolvendo com problemas que jamais imaginaria. Um deles é a quase imperceptível xenofobia pós-11/9... e outro são os delicados procedimentos dos departamentos de imigração americanos....
Nesse universo urbano e multiculturalmente idílico, Walter aos poucos vai se envolvendo com o universo de Tarek. Aprende percussão, larga definitivamente o piano e adia mais e mais a volta a Connecticut. Das aulas nasce uma espécie de amizade – pois é difícil dizer já que Walter é um homem contrito, eloquentemente sucinto, meio depressivo e quase monossilábico. Da amizade, diga-se de passagem um tanto rápida demais, nasce uma espécie de hipnose pela vida livre de Tarek.
Até o dia em que Tarek é preso no metrô, por um engano, na frente de Walter. Por não ter documentos é transferido a uma casa de detenção no Queens. Zainab, muito mais reservada que Tarek, decide partir. Sem notícias há vários dias, a mãe de Tarek, Mouna Khalil, interpretada pela belíssima atriz palestina Hiam Abbass, chega de Michigan para procurar o filho e fazer a vida de Walter mais complicada e interessante. Ambos se unem para tentar, em vão, soltar o rapaz. Como seria natural entre duas pessoas maduras, envoltas em experiências similares, ambos se sentem atraídos. Mouna confessa a vontade de assitir ao Fantasma da Ópera, que Walter galantemente convida-a para assistir. Enfim...
Não. Mouna e Walter, ambos viúvos, não começam um romance, mas Tom McCarthy roda uma cena daquilo que Nelson Rodrigues definiria, à sua maneira, como amor. O anjo pornográfico dissera que “[...] qualquer mulher nasceu para um só homem, qualquer homem nasceu para uma só mulher. Quando, por sua desventura, o homem e a mulher separaram o sexo do amor, começou o martírio de ambos.”
Não houve sexo na última noite em que Mouna passa no apartamento de Walter, antes de retornar a Síria, para esperar por seu filho, definitivamente deportado dos EUA. Mouna, no meio da noite vai ao quarto de Walter, deita-se em sua cama, pede para que ele a abrace e começa a chorar lamentando-se pelo destino do filho. Walter e Mouna dormem abraçados numa cena mais tocante que a da despedida de ambos no Aeroporto de JFK. Posso estar ficando velho e piegas, mas acho que isso também é uma forma de amor. Mas isso também pode ser ilusão.
http://www.thevisitorfilm.com/
O Atraso de Mefistófeles
Já se disse que o estilo é parecido ao de Coetzee. É bem verdade, a história é narrada em discurso indireto livre, em terceira pessoa do singular, bem ao estilo do sulafricano. O narrador é distanciado e racional em demasia, não sugerindo em momento algum empatia ao leitor. Diga-se de passagem, afirmo que o Tezza é escritor dos bons, pois sustentar o ambiente de desilusão de um personagem ressentido com o mundo e consigo é algo que imagino requeira um esforço descomunal, pois até agora só lera em escritores como Roth e Coetzee tal ausência de compaixão com seus protagonistas, suas criaturas. Tezza ousa. O seu personagem inominado quase chega perto da complexidade resignada de Seymour Levov ou da frieza contrita de David Lurie. Quase.
A idéia da paternidade de um filho com Síndrome de Down cai-lhe como uma bomba ferindo o orgulho, frente aos parentes e amigos, com a idéia da paternidade fracassada. Por ela, e somente por essa razão, aquela espécie de jovem pequeno-burguês - com aventuras ilegais em Portugal e na Alemanha, que prolonga a adolescência de boemia até os 28 anos – com complexo de superioridade suficiente para iludir-se quanto ao pragmatismo da vida, esfacela-se. Transforma-se numa pessoa mal resolvida. A paternidade em tais termos, condena o protagonista a ter contato com um mundo de hospitais públicos, gente pobre – à qual despreza - e médicos insensíveis ao seu problema que concebe como lotérico. Talvez por isso, chegue a pensar, nem tanto como nos devaneios de Cronos que devora os filhos, que seria bom se o filho morresse cedo - talvez de acidente, ou por um acaso lotérico tal como aquele que o fez cair nos braços daquele pai. Pensar se pensar isso é moral ou não, deixo para que outros decidam. Só sei que, ainda que de forma bastante episódica no livro, nosso pequeno Mefistófeles, baseado nessa esperança, tenta escrever um grande poema sobre suposta morte trágica do filho, e tenta publicá-lo. Arrepende-se logo em seguida. Enfim, há algo de culpa cristã no personagem. Tezza, dessa forma, cria um protagonista de frieza analítica, aliada a empáfia niilista, que revela, em sua arrogância intelectual, o que quer ver de errático na natureza dos fatos, tal como um David Lurie.
É um livro de saltos grandes no enredo. Dos exercícios motores da infância, aos primeiros anos na escola, passando pelas aulas de fonoaudiologia, pelas tentativas de alfabetização, pela certeza de que aos 8 anos Felipe não poderia frequentar a escola até nascimento da segunda filha – esta sem Síndrome – há elipses no enredo. A filha nunca aparece. A mãe das criancas, por sinal, aparece para parir, sustentar a casa e desaparecer novamente. Todos os personagens secundários, incluindo o filho eterno, me passaram a impressão, apesar de serem peças chave na narrativa, de frequentar a estória apenas para tornar a luta por projeção do pai, escritor mediocre e acadêmico inexpressivo, numa luta épica pela recuperação da idéia de paternidade.
Pouco menos de um quarto para final do livro, a estória esgota certas possibilidades de distanciamento e dá uma certa virada para recortes cotidianos mais sentimentais que mostram um pai mais maduro, adaptativo e sociável. Certo dia Felipe desaparece. O pai se desespera e enquanto procura pelo filho é tomado por uma sensação de vazio. Felipe já com quase 20 anos ainda não lê nem escreve, mas consegue ter noções de tempo pelos prazos dos jogos do Campeonato Brasileiro, usa internet, cria e nomeia pastas no computador. Este episódio da perda do filho poderia incorrer num aspecto redentor do pai. Mas Tezza toma extremo cuidado com essa armadilha que poderia transformar o livro numa bomba, pois seria muito fácil transformar este enredo numa série de fatos sentimentais encadeados em torno à culpa, à compassividade, ou à redenção do pai - temas que Tezza, como grande escritor, evita cuidadosamente.
Samba e Alteridade
fato ou estado de ser um outro (por oposição a identidade);
qualidade do que é outro ou de uma coisa diferir de outra.
De Chinese muur
Aagt (Celia Nufaar) é uma mulher madura e solitária. Maltratada pela vida, perdera o amor de sua vida por influência dos pais, teve um único filho que voltou-se contra ela, por influência da nora, e seu marido morreu numa cadeira de rodas ao seu lado. Num dos almoços em seu habitual restaurante chinês, sentada à sua habitual mesa, pedindo seu habitual prato com uma porção extra de frango, a conhecemos e conhecemos boa parte de sua vida através de seus pensamentos e julgamentos precipitados refletidos nos outros comensais, ao vislumbrar nestes sinais particulares de episódios chaves em sua vida.
Três mesas estavam ocupadas. Numa mesa – que chamo de mesa 1 - vemos um grupo de cinco jovens, num aparente almoço de escritório, onde alguns se sentiam desconfortáveis com ascensão de um deles sobre os demais, mas uma das jovens olhava-o atentamente com admiração, dando, numa prosaica maneira de dizer, o maior mole pro cidadão ( dali vieram-lhe os pensamentos da juventude, do amor perdido por Aagt). Na mesa do canto – a mesa 2 - , uma família, pai, mãe e um filho adolescente, aborrecido e constrangido com a presença dos pais que o tratam com um relativa condescendência e pudor (desta, a lamentação por ter perdido o filho). Na terceira mesa – mesa 3 - , à sua frente, Aagt tem um casal. Uma mulher apática, sendo servida pelo opressivo marido, que com certa autoridade e arrogância pedira a comida e o segundo copo de cerveja, de forma arbitrária, pré-julgando seu gosto pela comida ( desta, o alívio por não ter mais um marido). Mas o porquê de tais diálogos internos, naquele dia específico: aquele era o dia de seu aniversário que solitariamente queria manter em segredo.
Já no fim de seu almoço, tendo deixado boa parte da comida, Aagt é indagada pela dona do restaurante se não gostara da comida. Ela então, inadvertidamente, revela a importância pessoal da data. Inesperadamente arma-se um carnaval - nem tanto no estilo do surreal e antológico “Salvador Janta no Lamas” de Victor Giudice. A gerente aparece com um bolo. Aagt entra em pânico - um pavor interno a bem da verdade - ao ver-se analisada pormenorizadamente por todos. Ser o centro das atenções naquele dia solitário e meio amargo não estava em seus planos. Quando Aagt oferece parte do bolo aos demais comensais, a gente decide juntar as mesas do pequeno restaurante. Frustração, alegria e esperança se encontram. A mãe do adolescente (Mesa 2), então, empurra feliz a cadeira de rodas do rapaz para junto da grande mesa; o grupo de jovens (Mesa 1) da aula semanal de patinação no gelo é alegre e é o primeiro a tomar a atitude de juntar as mesas; e a até então infeliz mulher(Mesa 3) anima-se e manda seu irmão indiferente e ansioso em terminar o almoço com a irmã, juntar também a mesa dos dois à dos outros. Simples. Emocionante. Surpreendente.
Invernos ou verões, já nem sei mais...
do tempo,desde o inconcebivel
dia inicial do tempo, em que um terrível
Deus prefixou os dias e agonias,
até aquele outro em que o ubíquo rio
do tempo terrenal torne a sua fonte,
que é o Eterno, e se apague no presente,
no futuro, no passado o que agora é meu.
Entre a aurora e a noite está a história universal.
Do fundo da noite vejo a meus pés os caminhos do hebreu,
Cartago aniquilada, Inferno e Glória.
Dá-me Senhor, coragem e alegria
para escalar o cume deste dia."
J.L.Borges
Nota: Lembrança do meu chapa Ednelson Jesus, chapa velho, irmão, comparsa e amigo de anos com quem comparto diferenças, semelhanças e o prazer de cada nota do Coltrane, além das muitas coisas que consigo ver, por ele ter me ensinado a ver certas coisas onde minha torpeza me impede.
Moartea domnului Lăzărescu
O filme classificado como humor negro, é bem mais que isso. Pensado pelo diretor Cristi Puiu como uma tetralogia dos subúrbios de Bucareste, o filme é um retrato do que poderia ser a rede pública do Rio de Janeiro. Quem ja precisou de um Salgado Filho, um Getúlio Vargas ou Miguel Couto, sabe muito bem do que eu estou dizendo. O filme segue a jornada Lăzărescu através da noite e de como ele é levado de um hospital para o outro. Nos primeiros três hospitais, os médicos, depois de muita enrolação, relutantemente aceitam cada um a sua maneira fria e distanciada examinar Lăzărescu. Todos, apesar de considerarem sua condição gravíssima, necessitando de uma cirurga com urgência, recusam-se a mantê-lo em seus hospitais, pois por infelicidade, as vítimas de um grande acidente de ônibus não param de chegas às emergências. Por isso decidem mandá-lo embora. Entretanto, sua saúde se deteriora rapidamente, sua fala falha, balbucia lentamente, seus reflexos diminuem, vai perdendo os movimentos dos membros direitos.
As razões para o descaso vão desde a negligência ao cansaço, ou simplesmente a recusa a atender um velho manguaça. Durante a noite de procura por alguém que o atendesse, sua agonia aumenta. Sua única protetora é a enfermeira que prestou os primeiros socorros, aguentando firmemente todas as humilhações e arrogância dos médicos. Finalmente, no quarto hospital, os médicos aceitam Lăzărescu para uma operação de emergência para remover um coágulo no cérebro. De todas as maneiras, tal como um dos médicos disse, livraria-se do tumor, mas não da cirrose.
Nos extras, Cristi Puiu dá uma entrevista interessantíssima. Segundo ele, o filme foi inspirado intelectualmente na série dos Six Moral Tales do cineasta Eric Rohmer. Na prática, numa experiência pessoal em 2000, quando teve de ser levado às pressas, vomitando sangue, à emergência de um hospital. Seu caso, não fora grave, mas a experiência o marcou com sérias crises de hipocondria. E costurou todos esse fatores com uma notícia de jornais dando conta do abandono de um velho doente pela paramédica que não conseguia um hospital para interná-lo. A paramédica, que abandonou o doente à sua sorte, foi a única condenada num processo de negligência - algo que Puiu recusa-se a aceitar. Daí o filme.
O diretor aceita a tarja preta do humor negro. Aceita mas não concorda, pois suspeito que este seja, sem sentimentalismo barato, um filme de resgate do humanismo. Ou parafraseando Brás Cubas que disse, ainda que de maneira sacana, que seu emplasto era " o alívio da nossa melancólica humanidade" esse filme é de uma maneira bem sacana uma espécie de "alívio para" - e não "de" - "nossa melancólica humanidade".
Música do dia. A Banca do Distinto. Billy Blanco
Dia de Merda
do tempo, desde o inconcebivel
dia inicial do tempo, em que um terrível
Deus prefixou os dias e agonias,
até aquele outro em que o ubíquo rio
do tempo terrenal torne a sua fonte,
que é o Eterno, e se apague no presente,
no futuro, no passado o que agora é meu.
Entre a aurora e a noite está a história universal.
Do fundo da noite vejo a meus pés os caminhos do hebreu,
Cartago aniquilada,Inferno e Glória.
Dá-me Senhor, coragem e alegria
para escalar o cume deste dia."
J.L.Borges
E na gente deu o hábito de se esconder nas trevas, de viajar entre as telas
Não levo muito a sério essas listas, mas fato é que dentre os selecionados neste ano estão - dentro do esquemão americano de cinema - realmente alguns de minha predileção e alguns deles até ja resenhados neste espaço de ilusões: The Asphalt Jungle (1950); A Face in the Crowd (1957); In Cold Blood (1967); The Killers (1946)- baseado num conto do Hemingway e tendo como atriz principal "o mais belo animal do mundo", Ava Gardner, perfeitamente definida por Cocteau, que tomava banhos na piscina da casa cubana de Hemingway nua, deixando-o louco, antes de Sinatra, a quem também deixaria louco poucos anos depois do filme em questão; e o The Pawnbroker (1965) - um dos melhores filmes que já assiti na minha vida, com uma das mais perfeitas atuações de Rod Steiger no papel de um duro sobrevivente do Holocausto e dono de casa de penhores no ghetto de NY, que impõe as mais diversas humilhações aos seus devedores e a seus empregados.
Os outros filmes devem ser importantes por algum outro motivo:
1. The Asphalt Jungle (1950)
2. Deliverance (1972)
3. Disneyland Dream (1956)
4. A Face in the Crowd (1957)
5. Flower Drum Song (1961)
6. Foolish Wives (1922)
7. Free Radicals (1979)
8. Hallelujah (1929)
9. In Cold Blood (1967)
10. The Invisible Man (1933)
11. Johnny Guitar (1954)
12. The Killers (1946)
13. The March (1964)
14. No Lies (1973)
15. On the Bowery (1957)
16. One Week (1920)
17. The Pawnbroker (1965)
18. The Perils of Pauline (1914)
19. Sergeant York (1941)
20. The 7th Voyage of Sinbad (1958)
21. So’s Your Old Man (1926)
22. George Stevens WW2 Footage (1943-46)
23. The Terminator (1984)
24. Water and Power (1989)
25. White Fawn’s Devotion (1910)
Musica do dia. Rosa dos Ventos. Chico
O peso de uma pedra, como se diz
Alguns detalhes tornam sua inutilidade mais complexa. Agladze é um músico jovem e mulherengo, uma espécie de Don Juan moderno, que seduz pelo jogo de seduzir e em seu rastro deixa alguns corações partidos. Nem por isso as mulheres o reprovam. Simplesmente, elas não o levam a sério. Os amigos tampouco. Apesar disso, apesar de levar uma vida boêmia, de ter muitos amigos, é um tanto desconectado com a realidade. O que torna a personagem muito simpática é sua maneira de levar a vida de forma irônica flanando pelas ruas de Tbilisi com um passo bêbado, flertando com as mulheres com um olhar contrito porém sagaz, encontrando-se com amigos distantes da realidade enrijecida e erudita do conservatório. Na orquestra onde toca é um músico que mescla insegurança e displicência. Erra nas marcações da partitura deixando o austero maestro impaciente por conta de sua conduta descuidada. Quando não está no conservatório, esta as voltas com os amigos, namoradas, casos e ex-namoradas. Topógrafos, relojoeiros, vizinhos amantes de futebol e jovens operárias. Esse era o universo de Agladze. A sua conduta profissional, se espelhada em sua vida, revela muito, pois vive sem responsabilidades maiores, ainda sob o teto de um quarto de dormir - que é estúdio, escritório, e quarto de costura já que além de tudo tem dotes de - na casa da mãe.
E foi assim, sem sentido que no dia anterior a sua morte, após visitar seus amigos na relojoaria, pregar um prego na parede para que o relojoeiro pudesse pendurar sua toca; após encontrar-se com uma ex-namorada; após visitar uns vizinhos do apartamento da frente que se reuniram para assistir um jogo, ir até a varanda conversar com o menino com dotes de inventor e olhar pelos telescópio em seu predio os vizinhos, sua casa, sua mãe; retira-se. Aparentemente não se interessa por futebol – um grave erro desse rapaz. Vai para casa. Dorme. Desperta no dia seguinte com a insatisfação cotidiana. Caminha com seu passo bêbado para o seu destino. Flerta com uma moça como se fosse a única. Atravessou a rua com seu passo desconectado. Atravessou a rua entre os carros. E ouve-se o ruído de freios. E acaba no chão como um pacote tímido.
Ou seja, com ou sem destino, morre na contramão atrapalhando o tráfego. Sem dúvida, apesar do tom cômico, um dos filme mais trágicos da juventude de Otar.
Nota. Titulo em francês. "Il était une fois un merle chanteur"
Música do dia. Construção. Chico
Golias – (Davi) = ?
No total, a Faixa de Gaza tem registradas, como refugiadas, 750 mil almas. Estas almas, respectivas a cada corpo, já não recebiam a comida fornecida pelos caminhões de ajuda humanitária das Nações Unidas, retidos pelas autoridades israelenses, desde fins de Novembro. Mas isso são apenas palavras sobre fatos e estatísticas que virão a ser História, e que por ventura esta mesma História, dependendo de quem a escreva, redimirá os algozes de suas responsabilidades históricas, culpando as vítimas por sua falta de sorte. Nesse caso, importante são as imagens...
Os cadáveres de cinco irmãs palestinas de 4 a 17 anos mortas no bombardeio noturno israelense a uma mesquita do campo de refugiados de Yabalia. Publicada no El País - 27-12-2008
Feliz 2009.
Glória a todas as lutas inglórias
No caso do Brasil, é possível obter o nome das embarcações, nome do capitão, ano e porto de saída e porto de destino. Em alguns casos é possível inclusive obter o nome, a idade e a altura do indivíduo.
http://www.slavevoyages.org/tast/index.faces
Sem dúvida, uma contribuição marcante para o que ainda há de vir.
Música do dia. Mestre Sala dos Mares do insuperável Aldir Blanc.
O Homem que Calculava
Nas estatísiticas dos números a frio não incluo os assistidos na tela grande nem os assistidos num canal que faço questão de assinar, o Turner Classis Movies - que os mafiosos da Comcast comandados por Edward G. Robinson fazem questão de me arrancar os olho da cara -, pois aí a média aumentaria. Familiares e amigos dizem que isso é patológico - mas continuam conspiradoramente dando corda, pois acabo de ganhar da megera de minha sogra mais uma assinatura de seis meses do NetFlix de presente de Natal. Agora, tenho direito a 5 filmes em video por semana.
No fundo, eu sei que isso é um problema. O pior é que eles não sabem que muitas vezes acordo no meio da noite para rever muitos destes filmes, repetir as cenas, parar, voltar, atentar para os diálogos, tomar notas... e se sou pego em delito flagrante, finjo, para nao piorar minha situação perante a família, que estou dormindo com a televisão ligada... enfim... agravando ainda mais esse meu problema que tende a piorar em 2009 pois em minha lista consta 475 filmes a serem assistidos ou revistos. Um absurdo. Uma utopia.
1. 71 Fragments of a Chronology of Chance
2. The Death of Mr. Lazarescu
3. Avenue Montaigne
4. Our Town
5. Four Films by Otar Ioselliani: Disc 2
6. Four Films by Otar Ioselliani: Disc 1
7. Rodin: The Gates of Hell
8. Il Grido
9. Famous Authors: John Steinbeck
10. My Life and Times with Antonin Artaud
11. A Brief Vacation
12. The Diving Bell and the Buterfly
13. Tempest
14. The Damned
15. Margarette's Feast
16. The Bicycle Thief
17. Ratatouille
18. The Passenger
19. The Virgin Suicides
20. Sculptures of the Louvre: Disc 1
21. Sculptures of the Louvre: Disc 2
22. Maria Full of Grace
23. Mirror Andrei Rublev
24. The Long, Hot Summer
25. Cars
26. The English Masters: Constable
27. L'Avventura
28. Who's Afraid of Virginia Woolf?
29. Down by Law
30. The Louvre
31. La Notte
32. Umberto D.
33. There Will Be Blood
34. Permanent Vacation
35. The Nude in Art: Disc 2
36. Stranger than Paradise
37. Dead Man
38. Once in a Lifetime
39. Night on Earth
40. Shadows
41. Curb Your Enthusiasm: Season 6: Disc 1
42. Curb Your Enthusiasm: Season 6: Disc 2
43. La Notte
44. Ossessione
45. The Aura
46. 2 Days in Paris
47. Human Nature
48. The Man Who Copied
49. Confessions of a Dangerous Mind
50. Cinema, Aspirins and Vultures
51. Eternal Sunshine of the Spotless Mind
52. Being John Malkovich
53. Durval Discos
54. The Loves of Emma Bardac
55. Story of a Love
Mais Otar
Pastoral conta a historia de um grupo de músicos que por alguma razão burocrática e muito estranha é mandado de Tbilisi para um retiro de veraneio numa comunidade rural. Uma das musicistas do quarteto parece ter alguma relação de parentesco com os donos da casa, dada a calorosa recepção. Parece pois no fim paga pela estada. Na casa habita uma grande familia composta pelos avos, pais e netos.
O calor das boas vindas logo se desfaz, pois por alguma razão a sofisticação da música e dos ensaios, não altera a rotina dos moradores. Estes apenas acham estranha a música, tocada pelo quarteto, que de longe chega aos seus ouvidos, mas seguem suas vidas com a lida do campo, com a ordenha das vacas e o pastoreio das cabras. A azáfama do campo revela que os moradores da vila não tem tempo para aquela estranha e sofisticada música e aos poucos são os músicos que revelam-se envoltos pelas questões locais, como as brigas de vizinhos pelo desvio água que corre num dos córregos de uma propriedade, pela janela que um constrói de frente para a casa do outro, pelos pequenos golpes que um dos vizinhos pobres dá para sobreviver, enfim, pelas questôes cotidianas que fazem realmente sentido para os que vivem ali.
A vida calma, vista pelos visitantes como bucólica, é corroída não por determinação governamental autoritária, mas pelos desentendimentos cotidianos, pelas controvérsias locais, ou mais que isso, simplesmente pelo tempo. A única conexão entre os dois grupos, os moradores e os músicos, é dada pela ação de uma adolescente, um tanto sonhadora, que durante o dia cuida dos irmaos menores da casa e ainda encontra tempo para ler durante a noite e ter aulas de piano. E aos poucos tanto os músicos quanto os expectadores, vamos nos transformando em antropólogos relutantes tentando encontrar os sentidos funcionais da comunidade e do país inteiro na resolução dos pequenos conflitos, que nem de longe tem desfechos sentimentais.
La Pianiste
Seu mundo encantado minuciosamente costurado com ordem, metodo e a falsa sensacao de ascendencia sobre todos que a rodeiam, passa a se desorganizar quando conhece a Walter, um estudante de engenhaira de 17 anos, que presta exames para o conservatorio. Ela se sente atraida por ele, ainda que o interesse juvenil de Walter pareca mais impetuoso que o dela - controlado e indiferente. Perante os pares desmerece as qualificacoes do rapaz, quando este executa obras de Schumann e Schubert inferindo que as pretensoes profissionais do rapaz sao ambiciosas ja que uma carreira profissional de pianista deve se manifestar mais cedo.
Em pouco tempo sua atracao pelo rapaz passa de uma pretensa ascendencia dominante a possessividade e a uma contraditoria relacao de passividade que somente Leopold von Sacher-Masoch explicaria. Essa transformacao fica clara quando conduzida pelo ciume doentio que passa a sentir por Walter Klemmer, poe vidros quebrados no bolso do casado de uma de suas alunas, Anna Schober, por esta contactar Walter numas das audicoes. Quando procurada pela mae da aluna – tao intransigente quanto sua propria mae - , Erika forja compaixao. Consola-a de maneira a nao deixar duvidas sobre seu papel de mentora.
April
O filme April (1961), de Otar Iosseliani, tem alguns aspectos ainda mais surreais. Apesar do filme de apenas 45 minutos ser quase todo mudo, ha uma sonoplastia estranha. Os instrumentos musicais nao emitem seus sons originais, a agua nao faz ruido de agua saindo da torneira e portas que nao rangem como deveriam ranger, por exemplo. Por esse amor ser tao forte e nao permitir que os instrumentos funcionem e as luzes acendam, a vida cotidiana vai se transformando num tormento. Subitamente, aquilo que parecia um sonho passa a se transformar, sob o mesmo cenario de sons de natureza metalica, num pesadelo.
"For me, the best film -- the true film -- is the kind which requires no translation."
Otar Iosseliani , Georgian filmmaker
The Last Days of Judas Iscariot
Fui assistir à peça tal como um viajante medieval: sem guias impressos ou informações prévias sobre o destino. Sabia das informações de praxe sobre o escritor, Stephen Adly Gurgis, e do diretor original, Philip Seymour Hoffman, mas nada sobre John Vreeke, diretor dessa montagem. Importava que Adlly Gurgis é um escritor jovem que escreve há muito para o grupo LAByrinth de NY com incursões na tv e no cinema. Em 2004 ganhou uma bolsa do Sundance Screenwriter’s lab e já escreveu episódios do NYPD Blue e Sopranos. Acho que para mim bastava.
Stephen Adly Gurgis teve uma sacada otima. Como se sabe é mais do que sabido que o texto do era baseado na vida de Judas Iscariotes, um dos escolhidos, um dos 12 apóstolos de Jesus Cristo. Na versão de Stephen Adly Gurgis, Judas, remoido pela consciencia por ter vendido Cristo por 30 moedas de prata, comete suicídio. Morto, aguarda julgamento no purgatório que, à guisa de tribunal, conta com um juiz, Judge Littlefield, a advogada de defesa Fabiana Aziza Cunningham, o promotor Yusef Aziza Cunningham e dez jurados de um juri popular. O cenário todo é adaptado num num tribunal. E a obstinada advogada de defesa Fabiana Aziza Cunningham chegas as raias do descontrole emocional na defesa de seu cliente – que só ela e Borges, que não aparece na peça acreditam se tratar Judas de um inocente.
A montagem é limitada, mas funciona. Cinco jurados sentados frente a frente; o juiz e os dois advogados; Judas no centro do palco; e as aparições eventuais de Satanás. Todos os atores (jurados) trocam papeis o tempo todo. Por exemplo, o personagem de Freud, passa a ser São Tomás, e um soldado romano; Santa Monica – interpretada pela excelente Veronica del Cerro – passa a ser um soldado; e o Juiz Littlefield inverte os papéis com um dos Caifás presentes no julgamento de Jesus organizado pelo Sinédrio. Os papéis e indumentárias são trocados no palco, assim que os atores atravessam o palco e se sentam na cadeira vaga de um dos jurados. Um jogo interessante que funciona bem para um teatro pequeno e um palco de poucos recursos, onde os jogos de luzes fazem recuar a narrativa em flashback par aa infância e juventude de Judas.
Mas a sacada cênica de Stephen Adly vai além. Consiste em mostrar um cara que, antes de se tornar iníquo e infiel, e de ser malhado pela molecada suburbana em Sábado de Aleluia, fora encarregado das financas da trupe que rodeavam Cristo. Como controlava a grana, passou a adquir poder. Mas Stephen Adly mostra também que os fatos não estavam pre-determinados, apesar da rapazeada do grupo já desconfiar dele, Judas, desde a fraqueza demonstrada na cena da unção com óleo perfumado em Betânia, onde o cara provara que estava mais apegado ao dinheiro que os sectos lançavam que às palavras de Cristo, propiamente ditas.
Gastaldi veio ao mangue:ô my god ai, que bode que vai dar...
Giacomo nao tinha sido o primeiro a falar da America. Pierre Decellier, em 1546, ja havia tracado aspectos geograficos e antropologicos da America, mas por pertencer a Escola de Dieppe, a patriotada marota encalacrada nos Institutos Historicos e Goegraficos da Vida o desconsidera - bem como a Giacomo e a Ortelius que somente viria a publicar o seu Mapa da America ou do Novo Mundo em 1587 – valendo para razoes ufanistas apenas as contribuicoes de Diogo Homem, cartografo portugues que trabalhou na Antuerpia e Veneza.
Giacomo era Piamontes e jamais pisou no Brasil. Ate ai tudo bem, pois nao era pratica dos cartografos europeus iram a America, e por isso apareciam os monstros marinhos, os fenomemnos teratologicos de gente comendo gente no sentido lato do termo. Mas o feito do Giacomo foi importante pois publicou em 1965 Nella Stamperia de Giunti, onde entre outros detalhes percebe-se indios trabalhando inocentes, praticando escambo com portugueses voluntariosos, e...
...copulando...
Musica do dia: Mingus samba(Guinga - Aldir Blanc)
Balangandã da baiana...Maracanã do Carvana...deixa a Chiquita bacana voltar!Mane Garrincha sacana...tá bem, nós somos bananas mas não é preciso se embananar.Mingus veio ao mangue:ô my godai, que bodeque vai dar...Mingus com seu somvai botar o mingaua knockdown.Mingus, senta o pauque o pitecantropustem que mamáMamba, Mingus,mani-pi-cao!Mingus me sacudiu:tchan, tchau!Ô, ô, morena faceira,ai, ai, cubana mañera,hoje é do Mingus o meu carnaval.Ai, caboclinha, me aqueçatransforma a quinta e a terçaem feriados, do-Mingus de sol!Ai, que mistura que dá...ôi, zum-zum-zum resedá...Vou com o Mingus e um primo do Neino domingo pra Piabetá.Ai, ai, Iaiá de Ioiô,Mingus te manda um helloJá tomamo umazinhae há o bafo da onça na onda que eu vou...Mamba, Mingus,mani-pi-cao"Mingus samba e pingajazz de coringa na geral!
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