La Pianiste


Erika eh uma balzaquaquiana professora de piano. Rigida e refem de um pretenso conservadorismo criado em parte pela aura de pianista classica num conservatorio de musica vienense, sente um secreto prazer em torturar psicologicamente seus pupilos. Usa seu poder para manipular alunos adolescentes inseguros. Ironicamente, perto de 40 anos ainda vive com a mae, por quem sente uma raiva impotente, que misturada ao temor torna a relacao das duas uma convivencia azeda e explosiva que lhes transforma a indole. Sexualmente, se satisfaz colecoes de revistas que para seu mundo seriam proibidas, com idas furtivas a cabines de filme porno e passeios a pe por cines drive-in a procura de distracoes voyeristas.

Seu mundo encantado minuciosamente costurado com ordem, metodo e a falsa sensacao de ascendencia sobre todos que a rodeiam, passa a se desorganizar quando conhece a Walter, um estudante de engenhaira de 17 anos, que presta exames para o conservatorio. Ela se sente atraida por ele, ainda que o interesse juvenil de Walter pareca mais impetuoso que o dela - controlado e indiferente. Perante os pares desmerece as qualificacoes do rapaz, quando este executa obras de Schumann e Schubert inferindo que as pretensoes profissionais do rapaz sao ambiciosas ja que uma carreira profissional de pianista deve se manifestar mais cedo.

Em pouco tempo sua atracao pelo rapaz passa de uma pretensa ascendencia dominante a possessividade e a uma contraditoria relacao de passividade que somente Leopold von Sacher-Masoch explicaria. Essa transformacao fica clara quando conduzida pelo ciume doentio que passa a sentir por Walter Klemmer, poe vidros quebrados no bolso do casado de uma de suas alunas, Anna Schober, por esta contactar Walter numas das audicoes. Quando procurada pela mae da aluna – tao intransigente quanto sua propria mae - , Erika forja compaixao. Consola-a de maneira a nao deixar duvidas sobre seu papel de mentora.

No frigir dos ovos, Walter Klemmer, como todo o bom adolescente, eh um rapaz fissurado na professora enigmatica. A professora, sexualmente reprimida, tem uma longa lista de exigencias sadicas e masoquistas expressas por carta ao rapaz, que comeca a desconfiar de sua sanidade e se decepciona, desistindo da relacao. Ela insiste, procura-o, e na hora da cama – ou do vestiario de hoquey – nada pintou direito. No novo encontro, Klemmer invade o apartamento da moca, espanca a mae, violenta e humilha a filha. Ela sente que a realidade eh um pouco diferente daquela que assiste nas cabines de filmes ‘proibidos’. Um filme que combinaria mais com uma trilha de Wagner ou Xitaozinho e Chororo, mas como foi Schubert, pareceu-me ateh nem tao violento quanto vulgar. No final, a trilha sonora eh o que importa.
Musica do dia: Tom Waits. Bottom Of The World. Orphans: Brawlers

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