Nosferatu



Em 1921, em Zagreb, antes das fronteiras físicas da Serbia mudarem, se dissolvendo em asco e sangue, a língua e a cultura resistiam. O poeta sérvio de nome impronunciável Ljubomir Micić lançou com um grupo de amigos a revista Zenit. Nesse momento a Servia e Croácia ainda não eram Iuguslávia - o que viria a se concretizar apenas em 1929 e finalmente se dissolver em 2003. Em torno à Zenit reuniram-se intelectuais eslavos importantissimos, de nomes tão impronunciáveis como o de Micić, tais como Branko Ve Poljanski e M. Crnjanski. Justamente num momento em que França, Itália, Alemanha, Espanha viviam as agitações do futurismo, do dadaísmo e o início do que se definiria anos mais tarde como surrealismo, pois somente em 1924, Andre Breton definiria o surrealismo (nesses termos "Surrealismo: "sustantivo, masculino. Automatismo psíquico puro, pelo qual se tenta expresar, verbalmente, por escrito o de qualquer outro modo, o funcionamiento real do pensamento. Eh uma necessidade do pensamento, sem a intervenção reguladora da razão [...]."), a Zenit nascia expandindo suas fronteiras.

A própósito de Guillermo de Torre, que anos mais tarde viria a se tornar cunhado de Borges, é importante dizer que ao mesmo tempo em que marcava sua presença na Revista del Occidente, de Ortega y Gasset, esperava naquela quarta-feira pela tarde por Josef Kalmer e Georg Kulka num café de Praga. Sobre a mesa lateral do café na rua Rytirska, um café expresso, um cálice de absinto vazio e o último número da Zenit. Guillermo tinha apenas 2,5 graus de hipermetropia portanto, naquela tarde, era possível que o desconforto causado pela semelhança entre as unhas da figura desenhada por Vilko Gecan, contidas na terceira página do Zenit, e as do excêntrico conde Graf Orlock não tivesse relação apenas com a visao curta ou tampouco com a demência causada pelo gosto do anis...


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