"El
Jefe" é milionário e “fazendeiro”. Mejicano e cheio
de capangas mejicanos. Certo dia, descobre que sua filha Teresa está
grávida. PQP, pra que? Ora veja você, o cidadão em vez de ficar feliz por ser avô de primeiro
neto, fica furioso. Primeiro, por que a criança vai nascer sem pai, segundo por
que a menina era virgem – veja bem, estamos falando de caras mexicanos, ano de
1974, com outro diapasão que não o seu de século XXI. El Jefe, então, aplica
uns safanões na menina para saber quem seria o pai da criança. Entre uma
bordoada e outra a moça acaba revelando que o pai é o tal do Alfredo Garcia,
justamente o homem que El Jefe tinha preparado para ser seu sucessor – ai você
pensaria… ahh, tá explicado, Freud explica. Você leitor, é um tremendo
babaca, não entende nada de roteiro de Peckinpah,
nem do que é a porra da vida.
Para lavar a honra tanto da filha como de sua película
apassivadora, contrata dois pistoleiros maus e internacionais, que na verdade
encontram-se na outra margem do Rio Grande, e oferece 1 milhão de dólares para
quem trouxer a cabeça do tal Alfredo Garcia.
Dois pistoleiros chegam a um bar do baixo
meretrício mejicano en Ciudad de Méjico, onde encontram o pianista Bennie, e um
ex militar americano que vendo a pinta dos pistoleiros se faz de desentendido.
Eles, os bandoleiros transviados
que eram o bambas lá da zona, oferecem um bom tutu pela
informação do paradeiro de Alfredo Garcia, mas queriam como prova a cabeça de
Garcia. O pianista já andava meio na bronca com Garcia pela folga com a cantora
Elita, seu trelêlê oficial, e fica de dar a resposta aos bandidos.
Bennie vai atrás de Garcia e se certifica que ele estivera com Elita. Mas a cantora
lhe diz que Garcia foi embora para sua cidade no interior do México, onde
sofreu um acidente de carro e morreu.
Mas é claro (!) que Bennie não acredita nessa
estorinha fiada de Elita. E no melhor estilo brasileiro compra um
terçado e parte com Elita rumo à cidade onde Garcia foi enterrado, para
conseguir a prova da morte de Garcia, ou seja, literalmente a cabeça de Alfredo
Garcia.
Mas como isso tudo é uma estória de western pop
crepuscular pensada na cabeça de Peckinpah, o mais gótico dos diretores do
gênero, os assassinos não confiam em Bennie e sem ele saber o seguem até a um
vilarejo no interior do Méjico, onde então ocorrerá a emboscada e a pendenga pendejada
semi-final. Afinal, pensa comigo. Por que eles vão pagar ao cara, se podem
embolsar a grana e ainda matar o infeliz do Bennie, não é mesmo. Isso é Óbvio.
O filme foi um dos mais baratos
do Peckinpah, e justiça seja feita, fez milagres. Fico pensado se o Peckinpah
tivesse metade da grana e dos amigos do Tarantino...
Com orçamento enxugadíssimo e um roteiro barato, não deu
outra, Bennie encontra a sepultura de Alfredo Garcia e ao tentar desenterrá-lo
é atacado pelas costas. Quando desperta, está enterrado. Com muito esforço
consegue se desenterrar, mas constada que sua amante, Elita, enterrada ao seu
lado está morta. Bennie ao ver a sepultura de Garcia aberta, constata que
o corpo não tinha a cabeça, levada enquanto esteve desacordado e então passa a
desconfiar que se os dois assassinos de aluguel o seguiram até aquele fim de
mundo, e levaram a cabeça de Alfredo Garcia, por que a cabeça do morto vale
muito mais na mão dos sicários que na dele.
Enfim, depois tremenda troca de tiros, ele recupera a
cabeça de Garcia e a coloca num saco com gelo e dirige com a cabeça no banco do
lado.
O monólogo de Bennie com a cabeça morta de Alfredo Garcia
é uma cena surreal, mas fantástica. Talvez o ponto alto do filme seja esse diálogo/monólogo
e convívio de Bennie com a cabeça
decepada.
O filme tem várias reviravoltas. Os matadores Sappensly e
Quill acabam fazendo uma emboscada, quando Bennie vai devolver a cabeça à
família de Alfredo Garcia. Quill mata toda a familia de Garcia, mas é morto por
Bennie. Sappensly, desolado como um matador olhando para seu parceiro morto,
diz que não pagará Bennie, e também toma um caroço na cabeça.
E nesse meio tempo, Bennie continua conversando com a
cabeça. Chega ao hotel, lava-a e pretende levá-la ao Jefe, com o pretexto de
receber os US$ 10K. Em meio a mais tiros, Bennie finalmente consegue
o endereço do eL Jefe.
Consegue chegar justo no dia do batizado do rebento. O
Jefe estava até feliz. Bennie se apresenta, entrega a cabeça e relata quantas
pessoas morreram por aquela cabeça. Quando o Jefe diz para ele pegar seu
dinheiro, jogar a cabeça para os porcos, e ir embora, ele lembra que Elita se
incluía naquele monte de mortes em vão, e aí é possível ver como o semblante de
Warren Oates muda ao constatar que tudo aquilo tinha sido em vão.
Aí meu amigo... acho que não era
nem mais o Beniie que estava ali, e sim o Oates, vaqueiro do Kentucky, amigo do
Steve McQueen. Foi tiro pra todo lado. Bennie,
enfurecido, mata um monte de capanga do Jefe.
A mocinha entra com o filho no colo e pede que mate seu
pai. Ele pega a cabeça e vai em direção a porteira da fazenda levando o Jefe,
junto a Teresa.
Chegando na porteira, ele se vira pra Teresa e diz assim
mesmo do jeito que eu estou te falando: “Agora, você cuida
da tua criança, que do teu pai cuido eu…” UAU ! podia terminar ai
né! Mas não…. Isso é um filme de Sam Peckinpah.
Como nesses de mafiosos, traficantes, milicianos, tem
sempre capangas pra caramba, surgiu mais um monte do nada e rasgaram Bennie com
rajadas de metralhadoras.
Nota. Sam Peckinpah já foi partícula apassivadora em
tiranicídia contenda entre meu concunhado e eu. Enquanto eu dizia que o cinema
americano não era autoral. Ou seja, para mim não tinha uma linha de cineastas americanos
que faziam filmes classificáveis, pelo toque de Midas da linha autoral. O
concunhado dizia que havia Peckinpah: "brutalidade mimética, estética da
violência e ódio fiduciário". Dito assim, de maneira tão bonita, pode até
ser isso mesmo.