La Fleur du Mal

La Fleur du Mal é um filme de Claude Chabrol (2002) que explora ambição e corrupção num molde de romance policial, com um final de resultado duvidoso. Mas, pode parecer antagônico, apesar de tudo, um ótimo filme.

François Vasseur retorna de anos de estudos em Chicago para sua casa em Bourdaux, e percebe que desde sua partida pouca coisa mudou. Seu pai continua administrando sua farmácia e sua madrasta, Anne Charpin-Vasseur, decide concorrer às eleições municipais.

Vista de fora, uma família repeitável. Anne Charpin-Vasseuré viúva com uma filha e uma tia. Gérard Vasseur é igualmente viúvo, com um filho pródigo que estuda em Chigago. Ambos viúvos e desepedidos. Michèle e François são jovens e com coisas mal resolvidas no passado, portanto logo quando chega, François já reiniciam a relação adormecida com sua meia irmã, Michèle, sob a proteção ou negligência da velha tia de Michèle, Line. Incesto? Na cabeça de Nelson Rodrigues, Michèle e François estariam num joguinho de amarelinha.

Enfim, vista de fora, uma família repeitável. Mas, como sempre, não é bem assim, não. Por trás desta fotografia de uma moderna família burguesa há esqueletos bem guardados no armário que no decorrer da narrativa a velha tia de Michèle, vai desvendando em fragmentos de flashbacks que remontam a Vichy e ao assassinato do pai.

Para arruinar a trajetória política de Anne, alguém circula um panfleto indicando um escândalo familiar dos bravos. Tia Line estará arrependida de ter matado seu pai, um simpatizante Nazi, que fora responsável pela morte de seu único irmão? Havia sido prudente que Anne e Gérard tivessem se casado tão rápido após a morte de ambos consortes?

Estas são apenas duas perguntas chaves com que Chabrol abre La Fleur du Mal, seu filme de número, sei lá... 230... 395... Fato é que aos qause oitenta anos, o homem anda afiado, fazendo filmes tão bons quanto aqueles da New Wave. Nomeadamente, Le Beau Serge, Les Cousin, La Femme infidèle, La Ceremonie, La Rupture, Les Biches.

Todos os elementos de um filme policial estão ai: a chantagem, uma carta, um autor desconhecido, uma mulher política e ambiciosa, uma velha guardiã de segredos, dois jovens cheios de tesão... mas fica faltando algo no final. O climax da narrativa é meio fraco, uma espécie de vício cartesiano impede que a cena da morte acidental do padrasto flua. Gérard Vasseur, após a vitória política da consorte, chega a casa só e embiritado. Cabeça inchada, libido solta, decide molestar a enteada. Esta saca de um abajour e dá-lhe uma p... na cabeça do manguaça. Este cai no chão morto. Michèle, deseperada, corre para pedir ajuda a tia. Esta, por sua vez, ajuda à sobrinha a ocultar o cadáver no quarto de cima – a cena das duas arrastando o cadáver escada acima, não é original, não é sequer verossimil, mas guarda algo de cômico, sem dúvida. Daí para os dez minutos finais, o filme se perde num non-sense absoluto. O filho chega e recebe a morte do pai como se nada tivesse acontecido, a velha decide assumir a cupla do assassinato, quando a polícia chegar, enquanto os convivas, festejando a vitória de Anne chegam aos gritos de alegria.

Música do dia. Cavalo Ferro. Ednardo. Disco: Meu Corpo Minha Embalagem, Todo Gasto na Viagem

2 comentários:

i disse...

Viva Chabrol, um dos últimos grandes diretores franceses!

ilusão da semelhança disse...

Diego, meu chapa, obrigado pela visita. Chabrol é um cara que ainda consegue manter uma linha narrativa convincente, sem deixar-se banalizar pelas soluções fáceis.

Abraco, Chico