Pal Joey é um filme seco. Não é necessariamente ruim, mas cheguei a me perguntar no meio que se não fosse pelo Sinatra, fazendo o papel de um cantor sem muito escrúpulo, da Rita Hayworth, voluptuosa, apesar de já visivelmente vincada pelo peso dos quase quarenta anos, e da Kim Novak, o filme teria me causado a mesma sensação. Afinal, com eles ou sem eles, poderia ter sido um filme melhor contado.
Joey é um cantor de relativo sucesso. O cara é simpático, canta bem – afinal é o Sinatra - engraçado, talentoso e dono de um humor seco e cortante. Numa de suas apresentações encontra um antiga corista, agora viúva de um milionário chamada Vera Simpson – Rita Hayworth. Vera se apaixona por Joey, mas a recíproca não parece ser tão evidente, já que em matéria de sinceridade, não se poderia dizer que o cantor fosse tão transparente quanto os olhos de Vera quisessem ver. Mesmo assim romance se encaminha redondo na fase do encantamento - tem musiquinha no pé do ouvido, olho no olho, o risinho da paquera, Vera ofendida esbofeteando a cara de Joey, o beijo desmaiado que se segue, enfim e tudo mais que não se pode ver. Sinatra era o cara perfeito, cínico, engraçado, talentoso, dono de um humor seco e cortante e além de tudo cantava bem. Vera passa a abrigá-lo em seu barco e financiar uma casa de espetáculos que este teria o privilégio de dirigir. But.... tinha a Linda - Kim Novak - que nas palavras de Vera era o "mouse on the line". Linda era uma mulher, como se diz no filme, como se não houvesse amanhã. Uma típica menina de interior, submissa e apaixonada por Joey.
Ele a traz para o espetáculo que estava montando na casa financiada pela amante, que já se considerava titula do coração de Joey. O problema é que Vera, como ex-frequentadora da noite, não estava disposta a ver sua grana sendo torrada com um camarada sem escrúpulos, e muito menos financiar os casos dele com outras vedetes. Portanto, para se livrar de Linda, Joey sugere, pensando que por escrúpulos esta negaria, que ela fizesse o número de streap tease. Ela aceita, para ficar não apenas no espetáculo, mas perto de Joey – que tem ascendência sobre ela.
Nesse momento Joey põe o sonho a perder, pois ainda nos ensaios interrompe o número e desencadeia a crise que levaria ao fechamento da casa, sem nem ao menos ter sido inaugurada. O xeque-mate dado por Hayworth - ou Linda ou o sonho da casa de espetáculos e todos os benefícios adjacentes – acabou definido a estória que não conto o final, pelo final ser absolutamente dispensável (pois no fundo isso é Hollywood).
Particularmente, eu tinha gostado do roteiro sem saber de quem era. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que tinha sido de John O'Hara. Esse camarada tinha escrito o roteiro de um outro filme muito bom que tinha asssitido há um tempo com a Elizabeth Taylor – em seus aureos e voluptuosos tempos – chamado BUtterfield 8. O roteiro também girava em torno do meio artísitico. Uma modelo que, para a mãe, se fazia passar por atriz, mas que no fundo era uma espécie de scort-girl que alimentava a esperança de casar com um milionário por quem se apaixonara. O filme tinha algo de soup-opera, é verdade, mas tirando o arrependimento e aquele choro de desespero dramalhão de Taylor ao revelar para mãe sua vida dupla, que a fez ganhar o Oscar, o roteiro é bom.
Brevemente pegarei algo do John O'Hara para ler. Afinal um cara que é definido pelo John Updike como tão importante quanto Checkov, deve ter algum mérito – ainda que inflacionado. Dizem, também, que era absolutamente controverso. Na coluna que assinou por anos na New Yorker por anos, tinha opiniões bastante conservadoras. Além disso, dizem que era um mestre sem escrúpulos da auto-promoção. Enfim, vou tentar ler o Appointment in Samarra e algo mais dessa figura.
Musica do dia: My Funny Valentine
My funny Valentine
Sweet comic Valentine
You make me smile with my heartY
our looks are laughable
Unphotographable
Yet you're my favourite work of art
Is your figure less than Greek
Is your mouth a little weak
When you open it to speak
Are you smart?
But don't change a hair for me
Not if you care for me
Stay little Valentine stay
Each day is Valentine's day...
Contentemo-nos com a Ilusão da Semelhança, porém, em verdade lhe digo, senhor doutor, se me posso exprimir em estilo profético, que o interesse da vida onde sempre esteve foi nas diferenças,
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