Era do Capital I



Bem antes do telefone, da Revolução Russa, da Guerra Fria, da internet ou qualquer outra revolução tecnológica a reboque de um evento político de grande monta, existiu Perry McDonough Collins, um o americano que, na Era do Capital, tentou ligar Europa e America por cabos telegráficos através do estreito de Bering. O único problema para que seus planos se concretizassem era transpor um vasto, inóspito e incógnito território chamado Russia. Assim, usando como fachada a Russia American Telegraph, uma espécie de subsidiária da Western Union Telegraph Company, essa mistura de empresário, político e empreendedor, combinou política, interesses financeiros, diplomacia e uma boa dose de oportunismo, para fazer valer a conquista comerciais Alaska - que somente seria comprado em 1867 - e de quebra aumentar a hegemonia americana em parte da Russia e da China.

O mais interessante é que pouca coisa se sabe sobre esse homem e muito menos sobre sua juventude, parte fundamental para a formação do carater de um homem. Entretanto, recentemente, um historiador militar americano chamado John B. Dwyer lançou um livro chamado, To wire the world : Perry M. Collins and the North Pacific telegraph expedition, onde com pouca análise mas muita exposição de fatos traça um panorama da expedição feita por Collins em 1864 pela terra da Sibéria, Ásia do norte, e o rio Amur, que é exatamente o rio que separa parte da Russia de parte da China. No livro, ainda que de passagem, o autor fala da juventude enigmatica de Perry, de seu fracasso como jovem advogado, e de seu contato com um dos mais ferrenhos defensores do Destino Manifesto, o futuro senador William McKendree Gwin, durante a corrida do ouro. Perry e Gwin, cada qual a seu modo, tiveram visões distintas de seus destinos, que diga-se de passagem, passavam longe do metal precioso. Enquanto Gwin buscava apoio para se eleger senador, Perry decidiu se dedicar a mineração, não de ouro, mas de almas. Começou arregimentanto trabalhadores para as minas californianas. Assim, o encontro dos dois era uma questão de tempo. Com Gwin eleito, Perry teve livre acesso a Washington, dai a fundar uma companhia de comércio que enviava gelo do artico para os paises do pacífico e começar a fazer negócios com a Russia, foi um pulinho de nada.

É interessante notar que a influência de Perry Collins na Russia czarista foi tanta nos anos que se seguiram a Guerra Civil americana que ele foi um dos convidados de gala para a coroação de Alexander II – não o III, pai do rifado na Revolução de 17 - em 1856. Três anos depois ele começou os contatos com Hiram Sibley para a criação do Russia American Telegraph, braço russo da Western Union Telegraph Company de propriedade do mesmo. Como no mundo dos negócio o corpo precisa de uma alma, ou seja, trabalhadores, bons contatos e propaganda, associou-se com Paul Reuter, da agência de notícias Reuter, pois a propaganda também fazia parte da alma dos negócios.

Perry, assim como George Kennan – o explorador, não o da teoria da détente -, e até o ‘nosso’ Percival Farquhar, passaram para a história muito mais como empreendedores visionários, que efetivamente homens históricos, ainda que a História, é verdade, se esforçe sem conseguir muito bem explicar a ação individual desses homens que movimentaram fortunas, arregimentaram massas de trabalhadores, foram amigos de czares e presidentes, frequentaram salões diplomáticos, subornaram, corromperam, ganharam e perderam dentre outras coisas seu lugar próprio na história.


Nota: Vale a correção de uma estupidez descrita acima, que se nao fosse um amigo atento permaneceria para todo o sempre. Diz o PRA: "O Kennan de 1947, não foi da "détente", mas o do containment, o da contenção da URSS". Obrigado.

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