C'est moi, c'est Lola

Pleure que peut
Rit qui veut

Duas ou três coisas sobre um filme de Jacques Demy. Antes de mais nada, Demy nasceu en Nantes, mesma cidade que foi cenário de seu primeiro filme, Lola, de 1961. O filme, que o português criativo para títulos chamou ‘Lola, a Flor Proibida’, foi assistido ontem pela primeira vez. De cara: uma estória simples porém com a força das imagens mexidas que não ignoram como o efeito da luz e da sombra induziram-nos ao pensar o quanto esses caras da Nouvelle Vague nos fizeram cair na real. Em Nantes, Roland (Marc Michel), reencontra ocasionalmente na rua a velha amiga Lola (Anouk Aimée) - uma mãe solteira que tem por razão a esperança de que o pai de seu filho, que a abandonou durante a gravidez, retorne. Uma estória por si só não tão incomum. O detalhe que dá vida ao filme é o fato de que Lola é uma dançarina de Cabaret e Roland é um homem voluntariamente desempregado, solteiro, sem filhos e sem o mínimo ímpeto para tê-los, que começa a perder a esperança no amor e na vida. Mas a partir do encontro, tudo muda. Roland se apaixona por Lola e avalia o tempo todo se deve ou não aceitar um trabalho de contrabandista de diamantes entre Nantes-Amsterdã-Joanesburgo.


A estória tem algo de uma metáfora cíclica. Na abertura, um homem num Cadilac branco, Jacques Harden, com um chapéu de cowby Stetson, tão branco quanto seu blazer, quase atropela um grupo de marinheiros americanos a caminho do Cabaret. No meio destes está um dos amantes de Lola que nunca encontra com Roland. Demy realiza um filme muito bem feito, com as cenas imprecisas e cuidadosas do movimento da Novelle Vague, com suas cameras soltas, o tracking shorts nas ruas e as luzes e as sombras bem ao estilo do movimento. Isso ajuda a narrar a estoria de forma vibrante pois todos os personagens, a exemplo de Roland e Frankie – marinheiro americano -, que orbitam o universo de Lola, não se encontram por muito pouco. E o desfecho se dá justamente no momento em que Roland descobre que Michel, o homem de branco, Cadilac Branco, Stetson na cabeça (do in[icio do filme), é na verdade o filho da anciã de sua hospedagem, que retorna à cidade, supondo corretamente que o mesmo Michel é na verdade o amor de Lola.


Falta notar um aspecto interessante. Nesse primeiro filme, assim como nos dois outros que se seguiram, La Baie des Anges e Les Parapluies de Cherbourg, Demy impressiona com sua visão cética, porém viva, sobre as relações. Em Lola entretanto, sua protagonista poderia ser um poico mais complexa dando mais pano para a manga, não fosse o fato de manter-se insistentemente pueril. Isso é algo, na modesta opinião de um palpiterio, que não acontece em Les Parapluies de Cherbourg e muito menos em La Baie des Anges, até por que ali estamos falando respectivamente Catherine Deneuve e Jeanne Moreau – que diga-se de passagem me parece melhor nesse filme que em Jules et Jim, dois anos antes. A música é de Michel Legrand e não preciso falar mais nada por que, por pouco, nao prefiro a música ao filme em si.
Nota: camarada, desculpe mas estou ouvindo aquele disquinho bom pra caramba do Michel Legrand em homenagem ao Luiz Eça.

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