Jose do Patrocinio Filho

José do Patrocínio Filho, assim como Sylvio Floreal ou Benjamin Constallat são uma dessas figuras difíceis de definir. Autênticos outsiders da literatura. José do Patrocínio Filho (1885-1929) foi jornalista e escritor. Foi dono também dono de personalidade controvertida, foi uma figuraça que de tanto mentir, já não distinguia verdade de mentira. Foi uma dessas personagens que criaram para si um alter ego dos mais surpreendentes, para não se sabe bem por que justificar suas ações mais teratológicas possíveis. Dizem que mentia com a mais absoluta naturalidade, e que envolvido por suas próprias estórias era o primeiro a crer em suas cabotinagens.

Li há uns meses A Sinistra Aventura. Um livrinho pequeno onde o filho do abolicionista, por uma indiscrição cometida num vapor que partira, se não me engano, de Amsterdã com destino à Inglaterra, é levado a prisão por suspeita de espionagem contra a coroa inglesa durante a I Guerra Mundial. Tudo começa numa conversa informal no vapor com um cidadão estranho a ele. Na conversa Patrocinio, abertamente, revela uma certa inclinação e simpatia pelos alemães - diga-se de passagem, pecado mortal na época que havia inclusive influenciado, no Brasil, para a caida do Ministro da Relações Exteriores dos governos de Hermes da Fonseca e Venceslau Brás, Lauro Muller por suas simpatias germanófilaa. Detido pela polícia inglesa como espião, encerrado em Reading, mesma prisão onde Oscar Wilde esteve preso, e escreveu sobre sua inacredítável experiência.

Redigiu as suas memórias do cárcere, não deixou por menos. Transformou os detalhes mais cotidianos em aventuras épicas e engraçadíssimas. Por exemplo, como um de seus companheiros de prisão russo tornara-se embaixador após o triunfo dos bolcheviques em 1917. Até aí tudo bem, pois por que não? Porém, duro de engolir são suas lágrimas e emoção ao receber a notícia da morte de Mata Hari, fuzilada pelos franceses acusada de espionagem, e que segundo Patrocinio Filho fora sua amante em Amsterdã. Duro não? Mas para quem lia Anatole France com tanta devoção que merecia a leitura de joelhos, qualquer coisa é possível!

No total Patrocínio Filho amargou 403 dias no xilindró ingles, o que diga-se de passagem foi a sua glória. Ao voltar ao Brasil, foi recebido como herói, vítima de uma incomensurável injustiça, mas ao mesmo tempo, para nosso orgulho tupiniquim, um brasileiro a quem coubera um papel em cruciais acontecimentos mundiais.

Enfim, é de rolar de rir.

O exemplar que me caiu nas mãos, por felicidade, era uma primeira edição, coisas que só a Biblioteca proporciona, e meus espanto não foi pequeno ao descobrir que a capa foi desenhada por seu primo. Ninguém menos que Di Cavalcanti.

Enfim, num momento anterior ao modernismo, essas figuras, diriamos com certa injustiça, menores, povoaram também a vida literária do Rio de Janeiro. No caso de Patrocinio Filho, mesmo que a vida tenha sido muito melhor do que a obra, não deixe de ler a obra pois são momentos de pura diversão. Além disso, quem dirá que ele não é um herói nacional, afinal travar um duelo com o Rei Leopoldo da Bélgica, não é pouca coisa e além de tudo, a Mata Hari é a Mata Hari...

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