Alvaro

Conheço alguns Alvaros, mas ainda não conheço os livros do Charles Kiefer,



infelizmente...

A Casa de Alice


Alice é uma manicure quarentona. Ao lado de sua família, Alice segue a lógica de Pangloss e insiste no sonho de ter uma família feliz, a lado da mãe senil, do marido e dos três filhos. A casa de Alice é uma casa tipicamente de classe média baixa. O apartamento é apertado, e a grana nunca chega ao fim do mês. Ou seja, uma realidade não é muito distante, e quase real. Neste contexto, vamos descobrindo aos poucos que os habitantes da casa, de quotidiano bem pacato, frequentam mundos paralelos, com segredos e crendices, e que nos momentos de crise revelam-se pessoas mesquinhas e egoístas.

Talvez este tenha sido um dos ótimos filme brasileiro que eu merecia há tempos assistir. Alice, interpretada pela impresionante atriz Carla Ribas, não é uma mulher linda, mas é uma mulher bonita, atraente, e certamente meio desleixada com sua aparência. Alice, como já disse, se esforça para transformar sua casa num lar. O problema é que em sua relação com o marido já não há amor, portanto não há sexo, e tudo não passa de um convívio de indiferenças. O marido é um homem frio e distante dentro de casa. Na rua tem amigos, bebe, ri e tem até uma amante ninfeta, que por acaso é vizinha. Os filhos são ociosos e problemáticos. O mais novo é apático mas carinhoso, o do meio encrenqueiro e ladrão, e o mais velho michê. A mãe, senil, hipertensa e cega, fragilizada pela indiferença e pelo desprezo dos meninos e do genro. Mas se perguntada, Alice, no salão, garante com ar de banalidade que em casa está tudo em ordem, que os filhos são maravilhosos e que a família vai bem, obrigada. De uma certa forma, Alice mente pois sabe que tudo está prestes a desmoronar, pois sabe que é uma mulher massacrada pelo que o cotidiano tem de mais cruel, a falta de esperança. No entanto, Nilson, um antigo amor, surge meio que por acaso na vida de Alice. Ela volta a se apaixonar, a encontrar uma razão. Mas a antepenúltima viga dessa estrutura frágil cai, quando Alice descobre que o marido tem um caso com a vizinha, uma menina de...14, 13... anos. A penúltima cai, quando é abandonada por Nilson e a última quando se descobre só, irremediavelmente.

O filme é realista. As falas naturais. Os personagens incrivelmente reais. A câmera treme e muitas vezes foca mais nas expressões corporais que na fala do personagem. Não há sentimentalismo barato. Não há recurso artificial algum (flashback, música, narrador…). Enfim, descubro nos extras do DVD uma entrevista ótima com o diretor Chico Teixeira. Descubro nesse meu xará um profissional, um ex-economista com pós-graduação, que chutou tudo para o alto para fazer o que queria, documentários. Pensei: tá explicado. Extremamente sincero e despido de intelectualismo barato, o diretor me convenceu que o filme é uma espécie de documentário sobre uma ficção. Quase como uma nova experiência de linguagem, tão ou mais importante quanto aquela experiência do grupo Dogma 95, sem a soda cáustica de seus roteiros sofríveis, com personagens intelecutalizados, afetados, inverossímeis, apesar das imagens inovadoras. E não é que só hoje pela manhã me veio a idéia que não há uma uma nota, uma trilha sonora no filme inteiro! Tremenda ironia. Nunca pensei que o realismo italiano pudesse se sustentar sem as notas do Nino Rota....


Primer Amor


Primer Amor, é uma novelinha curta e bastante celebrada de Turguenev. Publicado em 1860, o livro é francamente bem escrito, moderno, mas extremamente previsível. Além disso, sofre de um digamos assim pecado original. Se não me engano, por essa época dos inícios dos anos de 1860, Dostoiévski já retornara da Sibéria - já publicara Humilhados e Ofendidos, já traduzira uma penca de novelas de Balzac e andava a escrever o Recordações da Casa dos Mortos. É mais ou menos, mal comparando, como se alguém quisesse publicar um livro nos anos posteriores a 1984, ano de Viva o Povo Brasileiro.

Vladimir Petrovich. 16 anos, ou seja, para bom entendedor pingo é letra. Exalando testosterona pelos poros vai passar umas férias no campo com a família. Lá conhece Zenaida Alexandrovna Zasyekina, uma moça de 21 anos que pertencente a uma família em franca decadência, com uma mãe divorciada, e que ainda mantém algum prestígio por pertencer à nobreza. Mas para Vladimir, que desconhece a palavra pindaíba em russo, isso não importa. O que importa é que mesmo Zenaida tendo um monte de pretendentes, que podem tirá-la da situação de pindaíba financeira, sua paixão arrebatadora, digo, a paixão arrebatadora de Vladimir é maior que tudo.

Não é preciso avançar muitas páginas para perceber que em Zenaida, digo, no ser de Zenaida é cheio de vitalidade e de beleza, e havia neste uma mescla de astúcia e despreocupação, de afetação e sensibilidade, de calma e vivacidade. Ou seja, Zenaida, para além de sua situação calamitante de pindaíba financeira, estava na flor da idade e queria flertar e amar sem preocupação. Pretendentes não faltavam. Belovsorov, a quem chamava de ‘meu animal’ – que para bom entendedor, pingo é letra -, era o que lhe ateva fogo... Maidanov era o poeta que tratava de convencê-la em versos que a adorava... Lushin era um médico, o mais mordaz de todos os pretendentes, o que tinha alguma ascendência sobre ela... e o conde de Malevskiy era o mais escorregadio, cheio de palavras doces e toques sedutores. Zenaida se esbaldava e o pobre do Vladimir sofria às pampas na mão da danada da lúbrica Zenaida que, mesmo tentando, falha na recipocidade do amor ao rapaz.

Falha de maneira brutal, pois usa com Vladimir os mesmo jogos de sedução que usa com os outros homens mais maduros. Usa-os de maneira a não refreá-los ou sublimá-los em tempo algum. Sem reservas de controle sobre si, deixa-se levar por uma paixão altamente combustível e até mesmo trágica.

Vladimir descobre com uma tremenda dor, dentro de sua própria casa, após uma discussão dos pais, que o objeto do desejo de Zenaida é nada mais nada menos que seu pai Pyotr Vasilyevich. A família então decide partir abruptamente de Kaluzhkaya Zastava, deixando para trás o escândalo que começava a se formar. Após um último passeio a cavalo com o pai, este desata numa carreira sumindo na poeira. Vladimir tenta segui-lo, mas não o alcança. Chega então a uma cabana, onde o pai se encontrava perto da janela. Na espreita, observa quem estava na cabana era nada menos que Zenaida. Pyotr a surra com seu chicote. Ela beija os entalhes avermelhados da pele. Não, não se iluda, esta não é uma estória de pornografia. Mais bem uma estória que prova como um enredo pouco construído pode tropeçar no óbvio - do que podería estar implícito no próprio desenrolar da estória e nas obsessões de Vladimir, Pyotr e da própria Zenaida.

Oito meses depois os Petrovich recebem uma carta ameaçadora pedindo alguma recompensa não bem explicada. A Providência faz com que Pyotr morra poucos dias depois de um ataque do coração. Três ou quatro anos depois, Vladimir encontra Maidanov na saída de um teatro. Este revelha que Zenaida casara-se com um tal de Monsieur Dolsky. Quando finalmente Vladimir decide procurá-la, descobre que ela morrera poucos dias antes ao dar a luz. Enfim, uma síntese didática dos males do amor jovem sem a complexidade, sem a força, sem aquela sensação de limite do intolerável, do inapropriado que Dostoievski nos deixa. Ou talvez não tenha ficado satisfeito pois no fundo, o livro - lido numa noite - encaminha uma estória que poderia ser densa em sua paixão destruidora, em sua deterioração, em seu esgaçamento de relações filiais, para um recuo visível e nos proporciona solução decerto conciliadora com a morte de Pyotr e Zenaida. Enfim, talvez eu não tenha entendido Turguenev.

Luz de Agosto



Luz em Agosto é um desses livros que nos deixa sem ar. Mesmo numa leitura avulsa, setenta e sete anos após o seu lançamento, a força e o impacto que suas palavras, expressões, inúmeros personagens e de sua inventividade corrosiva nos deixa com a glote por um fio de ar e faz a pulsação do leitor disparar. Dizer que Faulkner buscou em Luz em Agosto uma narrativa polifônica é uma redundância barata, pois esta era a marca do autor que imprimiu, basicamente a mesma técnica em Sound and Fury e em muitos outros de seus livros e contos. Não só a marca do autor, mas quase de uma época. Neste mesmo período, contemporâneos de Faulkner, tais como Virginia Woolf e Joyce escreviam com a mesma pungência dando voz ao fluxo de consciência de seus personagens.

Um dos muitos méritos de William Faulkner foi o de ter a ousadia de penetrar seu cutelo no coração do puritanismo norte-americano. Mais, é como se Faulkner tivesse dito a Deus, ô cidadão, fica de fora que em Yoknapatawpha mando eu. Ou num sentido mais prosaico, nesse universo puritano, é como se o nome de Deus fosse evocado a todo o instante, mas qualquer idéia que o associasse aos atributos de generosidade e solidariedade ficasse de fora, deixando o papo para os mortais.

A construção da estória em vários eixos narrativos é talvez a inovação de Faulkner. Um destes eixos está centrado no personagem principal Joe Christmas, a princípio tido como homem um branco que acredita ter sangue negro. Atormentado ou motivado por tal crença, Joe, age de maneira alheia aos valores dos brancos e instiga a intolerância racial que campeia no sul dos Estados Unidos. Num segundo eixo, uma outra personagem importante é Lena Grove, uma adolescente grávida que vem do Alabama e chega a Jefferson, a cidade ficcional criada por Faulkner em Yoknapatawpha County, a procura de Lucas Burch, o rapaz que a deixou grávida. No exato momento de sua chegada, a casa de Joana Burden, mulher de quem Joe Christmas foi amante, esta em chamas. Um terceiro eixo encontra sentido no reverendo Hightower, que é o personagem que ata as narrativas esparsas.

Joe Christmas é um personagem à parte. Um homem sem passado específico, uma espécie de órfão, que pouco a pouco vai se tornando uma espécie de pária, sem destino específico, à procura de sua identidade a ponto de quase perder de vez a razão nessa procura. Para o bom leitor, é um personagem que carrega um estigma que o força a ser indiferente por seu semelhante. Este mesmo estigma é usado para justificar seus atos violentos. É um personagem trágico e altivo que não se dobra às circunstâncias. Joe chega a Jefferson três anos antes do início da novela, ou seja, da chegada de Lena à cidade, ou seja, do incêndio e assassinato de Joanna Burden. Assim que chega, começa a trabalhar na lavoura, e este trabalho cria uma cortina de fumaça para a sua real atividade que é a de distribuição de àlcool durante a Lei Seca. E notório na cidade que Christmas é um homem que fabrica bebida clandestinamente durante a Prohibition - que vigorara nos EUA durante toda a década de 1920. Suas atividades ilícitas não chegam a chocar, pois acaba fornecendo birita a muita gente na cidade. As coisas mudam quando este passa a ser suspeito do assassinato da velha solteirona, de quem fora amante por algum tempo, quandoBrown, seu cúmplice na destilaria clandestina, de olho nos negócios do sócio, interrogado e pressionado, delata o companheiro. O sangue negro encoberto de Christmas, delatado pelo o assecla, desperta o ódio da comunidade. No mesmo dia em que a casa arde, chega à cidade Lena Grove.

Lena, após a morte do pai, vai morar com um irmão casado e cheio de filhos. O irmão é um homem rude, ‘doçura, delicadeza e idade florescente e quase tudo mais – exceto uma espécie de inteireza tenaz e deseperada e uma triste herança de orgulho familiar – tinham desparecido com a dureza do trabalho’. Após sofrer humilhações e ser constantemente chamada de meretriz, Lena foge de casa a procura do pai de seu filho, Lucas Burch. Sem destino certo acaba vindo parar em Jefferson, mais precisamente na serralheria de Mr. Breads, onde Byron Bunch trabalha. As proximidades dos nomes de Bunch e Burch acabam gerando um certo mal entendido fonérico – impressionantemente possível com o sotaque sdo sul dos Estados Unidos - , prontamente preenchido e aumentado pelos locais. Para muitos Buch é o pai da criatura que Lena carrega. O problema é que algo está fora do lugar nessa estória, mesmo para os mais interessados em tocar com a aldraba a porta do chisme. Bunch é um homem que segue à risca a ética puritana. É um homem trabalhador que dedica-se, inclusive aos sábados, a carregar carroças de tábuas e aos domingos, e após a jornada de trabalho anda mais de trinta milhas para ensaiar o coro de uma igreja. Seu amigo Hightower é o único que sabe de sua dedicação e entrega ao trabalho e à fé, e portanto seria algo diacrônico ser o pai da criança. Byron Bunch é um homem de poucas palavras, não por expressão de sabedoria, mas por inabilidade em usá-las. E um homem inculto. Faulkner é sutil ao contornar os detalhes seu intelecto, finalizando seus diálogos sempre com alguma reticência e evocando várias vezes sua admiração pela eloquência de Hightower.

Gail Hightower, é um homem que tendo sido reverendo, era obrigado a viver uma vida de aparências ao lado da esposa. Um homem fanático pelo passado de seu avô Confederado, julgado sumariamente por ser pego roubando um frango numa granja, e que proclama sermões inflamados causando desconforto na cidade evocavando constantemente a saga e o infortúnio do avô. Entretanto, não por ser difuso tampouco por ser repetitivo que Hightower é preterido, mas por que foi abandonado pela mulher, encontada morta pouco tempo depois. Os rumores que se seguiram o fizeram perder não apenas a mulher, mas sua reputação e sua congregação. Este passado distante ainda reverbera em sua vida eremita pois as desconfianças da preconceituosa sociedade local de Jefferson, que lhe vira as costas, são um componente fundamental para entender o destino de Joe Christmas, personagem principal dessa obra monumental.
Byron Bunch é o único que rompe esse círculo de isolamento e o visita eventualmente. Numa destas visitas Bunch pede que Hightower sirva de álibi a Joe Christmas, que ao escapar da prisão pelo suposto assassinato de Joanna Burden, se refugia na casa do reverendo. Interessante pois em nenhum momento do livro - ao menos que me lembre - fica claro que foi realmente Joe Christmas o assassino de Joanna Burden e tampouco é muito bem explicado - talvez eu necessite de uma segunda leitura - esse pedido de Bunch a Hightower, salvo por vagas razões. Sabe-se que quando Christmas foge do posto policial e se refugia na casa de Hightower, este o aceita, ainda que já seja tarde demais pois Percy Grimm ja anda em sua cola. Sabe-se também que Bunch é visto nas redondezas da casa de Joanna Burden enquanto a mesma ardia, mas nada é afirmado categoriacamente.

Mais interessante ainda é a falta de certezas em que Faulkner imerge o leitor evitando ser categórico sobre a relação entre Joe Christmas e Joanna Burden. A princípio, aquela era uma relação conflituosa, pois ao passo que Burden se dizia defensora dos ideais abolicionistas e fazia vista grossa para os pequenos roubos que Christmas efetuava, entrava em conflito com os demais habitantes da cidade por protegê-lo. Joe Christmas, por sua vez passa a sentir desprezo por Burden, uma mulher já em idade de menopausa, sem possibilidade de ter filhos e por isso mesmo entregue ao fanatismo religioso. Joe, que era órfão, tinha sido criado e abusado, física e psicologicamente, por uma família religiosamente conservadora.

Faulkner se utiliza de um recurso absolutamente original. Em cima dos fluxos de consciência, sejam eles falsos ou verdadeiros, de um personagem, Faulkner cria outras direções. Assim, vai instaura enredos intermináveis sobre o que o preconceito cristalizado na fala de um personagem cria a respeito de outros. Tendo em vista que a novela não é organizada de maneira linear, e é interrompida contantemente por flashbacks, o foco narrativo muda de um personagem para outro. Mesmo que um personagem desconheça a verdade dos fatos, tem sua própria versão moral sobre os mesmos. Neste sentido, apenas resta ao leitor a dedução das pistas deixadas pelo autor.

Impressiona também como é possível encontrar ainda hoje, numa novela de 1932, elementos de uma América ainda presente naquele tempo. Afinal, muitos dos elementos de identidade do americano não mudaram desde então: os constantes dogmas puritanos resgatados para afirmar a crença no protestantismo; a prática constante da desconfiança contra a alteridade como subterfúgio para a busca da própria identidade; a divisão de uma sociedade de classes em raças... Enfim todos fios de uma espécie de destino do qual um povo todo não pode escapar. Sina? Não sei. Mas é nesse ambiente em que os derrotados de todo o tipo deixam aflorar o fanatismo religioso numa pasma tentativa de fugir ao que o destino, de trágico, reservou, que se passa Luz de Agosto - e é sobre ele que se tenta reconstruir uma América pós-Era Bush.

A falta de ar é apenas uma metáfora para mostrar o quanto se precisa de fôlego e sentido para ler a Faulkner.
(continua...)


Nota. Na minha tradução portuguesa de Armando Ferreira de anos atrás está grafado Luz de Agosto

La Guerre est Finie

La guerra ha terminado, famosa frase de Franco dita em 1939, enquanto todavia existiam guerrilhas pelo interior da Espanha, serviu de mote a Resnais para executar este filme no qual faz um estudo profundo da luta revolucionária nos anos 1960. Na minha opinião um filme tão bom ou melhor que o clássico Hiroshima mon Amour, no que tange a desilusão de uma geração erudita e culta quanto aos destinos da Europa no pós-guerra, com o início da falência da esperança – um processo que demorou quase duas décadas para se concretizar. Resnais tem um papel importante nesse processo que se não me engano foi o Zuenir Ventura definiu como internacionalização de propostas contra-culturais.

O histórico Yves Montand interpreta Diego Mora, um histórico lider do PCE que se vê obrigado ao exílio na França e que vive à risca uma vida de clandestinidade solitária, com sucessivos nome falsos, estudos doutrinários, conexões com vários movimentos de esquerda europeus, e os naturais questionamentos sobre os destinos revolucionários de uma Espanha sob a égide do Franquismo. Diego quer ajudar a organizar a reestruturação sindical espanhola em seu exílio francês. Nesse momento, a centrais sindicais começam a se organizar no Pais Basco e em Madrid com o reagrupamento das antigas UGT e a CNT que faziam frente a corporativa Central Nacional Sindicalista – sindicato oficial do regime. O roteiro de Jorge Semprum está absolutamente a par desse momento histórico na Espanha.

Após atravessar a fronteira com identidade falsa, Diego é retido numa barreira francesa, mas salvo quando os policiais decidem checar o endereço expresso no passaporte e falam ao telefone com Nadine Sallanches, filha do homem que empresta a identidade a Diego. Nadine confirma sua identidade e os policiais liberam sua passagem. Depois de cruzar a fronteira, descobre-se que Diego ja estivera exilado algumas vezes em França, e que inclusive possui algumas raizes, relações amorosas e amigos de militância. Uma dessas relações é com Marianne, interpretada por Ingrid Thulin – que por acaso, ou não, manteve em La Guerre est Finie o mesmo nome que tivera no road movie de Bergman, Morangos Selvagens. Ingrid é uma editora influente, bonita, sofisticada e independente que vive em Paris e que conhecera Diego quando este ainda usava outros nomes falsos. Ela estaria disposta a largar a vida confortável em Paris para voltar à Espanha com Diego. Este vacila em levá-la que apesar de amá-la não se sente seguro em levá-la consigoe assumir a paternidade do filho de Marianne. Além disso, Diego passa a se envolver com Nadine, que também milita num obscuro movimento de apoio a grupos espanhóis. O envolvimento acontece no mesmo momento em que o Comitê Central tem outros planos para Diego.

Resnais opta por mostrar o lado humano deste militante em suas indagações existenciais, suas dúvidas ideológicas, seu amor dividido e o progressivo cansaço das discussões teóricas e dos destinos que a esquerda ia tomando naquele momento. Um desses momentos é quando o Comitê Central adia seu retorno para a Espanha pois em Paris descobre-se que Diego se tornou uma figura conhecida das policias de ambos países. Ver-se como prescindível o inquieta e desencadeia uma série de questões sobre sua própria nacionalidade e seus parâmetros culturais. Num jantar com amigos de Marianne, por exemplo, choca a seus amigos intelectuais, para quem mente dizendo-se um tradutor da Unesco, quando diz que está cheio de Lorca e de suas mulheres camponesas e estéreis.

Preterido pelo Partido, passa então a frequentar as discussões do grupo de Nadine, um grupo muito mais jovem e extremamente teórico e radical. A partir dessas discussões – e já afastado do PC – Diego recebe a incumbência de atravessar uma mala a Espanha. Na mala, descobre mais tarde, que há explosivos destinados a um atentado contra civis num ponto turístico da Espanha, o que o leva a questionar a opção do grupo de Nadine pelo terrorismo, levando-o a se reconciliar com os propósitos do velho grupo do PCE – mais ou menos como a opção do PCB na época da ditadura, pois o bom comunista sabe que quando uma bomba explode os primeiros a tomar pau são os comunistas, Semprum como dirigente do PC à época sabia bem desse fao e o usou com maestria no roteiro.

Interessante como Truffaut em The Films in my Life dedica uma importância apenas laudatória a Resnais e a Melville. Uma injustiça, pois cá pra nós, Resnais, obviamente auxiliado pelo time da pesada que seleciona para os seus roteiros (Duras, Semprum...), é melhor que muita gente do Nouvelle Vague. Neste filme ele consegue capturar a alma, o subconsciente de Diego. Antecipando as cenas das caidas de outros militantes mostra os medos subconsciente de Diego. E os pedantes que me desculpem, mas achei este filme mais rico e detalhado que Hiroshima, Mon Amour – apesar de ter gostado imenso deste também.

Ensaio sobre a Cegueira



Li Ensaio Sobre a Cegueira em 1998 - mais exatamente, como atesta a data de término da contra-capa autografada pelo próprio Saramago, julho de 1998. Mas sempre que me lembro do livro, a imagem de seus interiores claustrofóbicos é tão nítida em minha lembrança como a esperança que os personagens têm ao emergir do caos. Engraçado que a cegueira em si não abandona os personagens à deriva mas, ao contrário, radicaliza as existências daqueles homens e mulheres enclausurados em quarentena. Só me dei conta disso, de fato, finalmente assitindo o filme de Fernando Meirelles, há meses atrás.


Ensaio Sobre a Cegueira – o livro - narra os efeitos de uma inexplicável epidemia de cegueira que assola uma população. A primeira manifestação ocorrre logo nas duas primeiras páginas com um homem no trânsito e, lentamente, se espalha pelo seu oftamologistas, pelos pacientes da sala de espera, pelo meliante que tenta roubar seu carro e por todo o país. O governo, então, obriga o confinamento dos contaminados para os que ainda não perderam a visão, não sejam contaminados.

Este, de forma geral é o enredo do livro. Sempre tive a impressão que os livros de Saramago seriam dificílimos de uma adaptação para o cinema, justamente por tratarem os temas abordados com um viés demasiado alegóricos. Transmitem, os livros, muito mais sentido do que a simples compreensão literal das imagens contidas em suas linhas. Mas depois do filme certifiquei-me de meu engano. Ledo engano.


Meireles é um grande diretor. Grande mesmo. Ainda que tenha algo que me incomoda um pouco ao aproximar a estética de seus filmes a um enquadramento comercial demais. Vide em Cidade de Deus, dentre inúmeras outras, a cena do menino matando o vigia de um motel, dando-lhe as costas, e sair gargalhando. Aquela violência, ou sugestão da mesma – já que o elemento sangue não é visível (?), - parece-me Hollywood de baixa qualidade. A cena me pareceu a mais desnecessária de todo o filme, exatamente pela violência – mesmo não explícita – desnecessária. Me lembro que numa entrevista Meireles tentou ainda se defender dizendo que a forma como vemos a violência é diferende daquela nos filmes americanos. Não comprei o argumento. Como tampouco não aceitei as supressões feitas pelo roteiro, na cena em que o marido se descobre traído. No filme ele “apenas” mata a mulher. A cena não aparece, como sequer aparece a menção ao assassitado da mulher a golpes de pá, e o consequente emparedamento do cadáver - como se existissem níveis distintos de violência. Nesse sentido, Meireles traçou um caminho oposto ao de um Billy Wilder, que recusava-se a abrandar certos elementos dramáticos e realçar elementos mais técnicos como a velocidade das cenas num estilo mais palatável para as grandes audiências.


Mas por que Meireles é grande, mesmo? Bom, por que neste filme tudo foi preciso. Um outro diretor poderia trasnformar o filme numa bomba de filme com zumbis, assassinos em serie, e colocar no meio psicopatas com serras elétricas.... pois no fundo os elementos da falta de ordem, milícias mercenárias, ausência do Estado, e uma gama de medíocres reações humanas ante o caos poderiam descambar para um filme ruim. Ensaio sobre a Cegueira vai por outro caminho. Julianne Moore (a Mulher do Médico) e Mark Ruffalo (o Médico), dão um caráter humano à desumanização em seu Estado de Natureza mais brutal.


Tanto o romance como o filme nos mostram como a humanidade perdeu o jogo e não se deu conta, pois as atitudes de individualismo, de falta de solidariedade, não passam de atitudes individuais e portanto impreceptíveis num plano mais geral. Ou seja, enquanto um indivíduo perde a visão, tudo não passa da infelicidade de um infeliz desgraçado que perde a visão. Mas quando a sociedade por completo que, por causa da cegueira, perde tudo aquilo que considerara como pacto civilizatório, imergindo numa crise epidêmica, os indivíduos passam a ser obrigados a confiar uns nos outros. Sem outra escolha, passam a ser obrigados a buscar, em meio a um ambiente caótico de todos contra todos, a dignidade esquecida. Pensando bem, Saramago é esse escritor que resgata esse sentimento de solidariedade esquecida, existente num certo século XX.

O Importante é que nossa emoção sobreviva

Cautela

Se não te cuidares o corpo, cuida teu espirito torto, que teu corpo jaz perfeito
Se não te cuidares o peito cuida teu olho absurdo que teu peito tomba morto ante a tudo.
Se não te cuidares, cuidado, com armadilhas do ar, qualquer solto som pode dar tudo errrado.

Mordaça
Tudo o que mais nos uniu separou
Tudo que tudo exigiu renegou
Da mesma forma que quis recusou
O que torna essa luta impossível e passiva
O mesmo alento que nos conduziu debandou
Tudo que tudo assumiu desandou
Tudo que se construiu desabou
O que faz invencível a ação negativa
É provável que o tempo faça a ilusão recuar
Pois tudo é instável e irregular
E de repente o furor volta
O interior todo se revolta
E faz nossa força se agigantar
Mas só se a vida fluir sem se opor
Mas só se o tempo seguir sem se impor
Mas só se for seja lá como for
O importante é que a nossa emoção sobreviva
E a felicidade amordace essa dor secular
Pois tudo no fundo é tão singular
É resistir ao inexorável
O coração fica insuperável
E pode em vida imortalizar

Paulo Cesar Pinheiro

Nota. 14 - 15 - 16 de Julho

O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro


Desconheço até agora o título do filme que assiti ontem. Estava anunciado como Antônio das Mortes. O folder dizia “Antonio das Mortes”. Nos créditos iniciais estava escrito “Antônio das Mortes”. O problema é que, baseado em sinopses que eu já lera, tenho a ligeira impressão de que assisti O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro. O problema é que nunca assiti O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, e apenas li sinopses e análises. Para piorar a minha situação tinha um cara francês da Cahiers du Cinéma fazendo as apresentações. Cidadão novinho, que apesar de falar francês e inglês, tinha um vocabulário limitadíssimo, um desses tipos que falam um monte de línguas mas não sabem se expressar em nenhuma, cheio da impáfia dessa gente cabeça que transa vídeo, jurando de beicinho em riste que o nome do filme era simplesmente "Antônio das Mortes" . Portanto, continuo com a dúvida.

Desconfio que deva haver algum problema de direito autoral envolvido com o título do filme que assiti. Pois, como anunciado nos créditos iniciais, a cópia master do filme, no Brasil, perdera-se num incêncio. Restara então essa tal cópia, que fora restaurada e digitalizada na França com o nome de Antônio das Mortes. Enfim, quem passar por aqui e vir essa mensagem na garrafa, me esclareça a dúvida por favor. Já sei que Antônio das Mortes era o mesmo de Deus e o Diabo na Terra do Sol...

Antônio das Mortes é um miliciano, um matador profissional, interpretado por Maurício do Vale, que é contratado pelo delegado Mattos (Hugo Carvana) para matar o cangaceiro Coirama, que anda espalhando pela localidade de Jardim das Piranhas umas idéias... de justiça social, reforma agrária, distribuição de riqueza e um monte de outras idéias estranhas nessa mesma linha. Isso, evidentemente, assuta ao velho Horácio, que apesar de civil, ostenta o apodo de Coronel Horácio (Jofre Soares). Das Mortes tem o laconismo do Gary Cooper em High Noon, e a pontaria do Franco Nero em Django portanto é o cabra mais indicado para fazer o serviço de limpar a àrea.
A estória é simples. Das Mortes passa a mão na sua papo amarelo, calibre 44 e vai atrás de Cairama. Sangra Coirama num duelo épico onde todos os personagens assistem, inclusive Santa Bárbara. Porém em decorrência dos fatos se conscientiza que a luta de Coirama por justiça social era inglória, ainda que legítima. Por isso mesmo exige que Matos leve um recado ao Coronel. Exige que Coronel Horácio abra seus armazens e distribua comida aos pobres, pois como o próprio Antônio das Mortes diz a certa altura, Deus faz o Mundo e o Diabo o arame farpado.. Horácio se recusa, e contrata um outro matador chamado Mata-Vacas para dar cabo de Antônio das Mortes. Oton Bastos interpreta um professor de história que preocupa-se com uma história factual, episódica e memorialista. O professor, sempre manguaça, vive na birosca onde joga sinuca com Mattos, e está aparentemente conciliado com as injustiças locais, ou no mínimo alheio a elas.

O que torna esse filme sensacional, e aumenta a mítica sobre a tal genialidade de Glauber é o fato de que a história principal se desdobra em alegorias atemporais baseadas em narrativas folclóricas, cantos de cordel, e evocações de árias de óperas. Na maior parte das vezes não se sabe se estamos dentro da estória principal, dentro do sonho ou da divagação de algum personagem, bem no estilo de Rashomon de Kurosawa, ou Memento, ou até mesmo forçando um pouco a barra em algum dos filmes de David Lynch. As estórias se confundem e se embricam numa metalinguagem com muito de alegórico, pois, Coirama vê de perto os cutelos da morte mas não morre. Agoniza. Este somente vem a ser assassinado pelo bando de Mata-Vacas. O que aumenta ainda mais a ira de Antônio das Mortes e o sentimento de injustiça que paira no sertão. Para tanto, uma cena emblemática para mim é a do Professor recolhendo os estandartes em meio aos corpos dos jagunços que o bando de Coirama massacrara. Ou seja, incorporando sua luta e se aliando à de Antônio das Mortes. A própria cena final do duelo entre os capangas de Mata-Vacas, a mando do Coronel Horácio, contra Antônio das Mortes e seu agora aliado o Professor de história, é digno dos melhores filmes de Sergio Leone. Tudo é apoteótico, como numa ópera. É fogo pra todo o lado, sol, sertão, bala pipocando, a chapa quente, mas Antônio das Mortes mata a todos do bando adversário, mas não consegue matar ao Coronel. Sua amante Laura (no filme, a deslumbrantemente gótica Odete Lara) é beijada já sangrando pelo Professor numa cena que seria dramática se não fosse tão caricata – aliás como quase tudo no filme . Finalmente, o Coronel é assassinado por um homem negro que chega sobre um cavalo branco, portando uma lança. A alegoria a São Jorge, o Santo Guerreiro, é clara. E o Dragão da Maldade, nem preciso dizer.
Música do dia. Desafio: Abertura do Auto da Catingueira e . Elomar. Cantoria 1.

The Seventh Continent

Lembra da Rosana, uma cantora com cara de silicone que nos anos 80 cantava um troço mais ou menos assim... Como uma deusa você me mantém...? Aquilo era algum tema de novela, que ficava tocando insistentemente em qualquer rádio a qualquer hora do dia e da noite. Como diria o Assis Valente... Nem dá jeito de cantar, Dá vontade de chorar, E de morrer...

Pois é, Georg, funcionário de uma grande empresa, e sua mulher Anna, oftamologista, são um casal de classe média. Ambos têm uma vida confortável, vivem numa boa casa, possuem um carro relativamente novo, consomem produtos de qualidade, sonham com férias numa paradisíaca praia na Austrália e vivem uma vida rotineira. O despertador toca todos os dias às 6 da manhã, Georg se banha, Anna acorda a filhinha para a escola, no aquário os peixes vegetam, no café da manhã quase não falam, ou seja, tudo parece perfeitamente ordenado, eles parecem se conformar com a utilidade funcional do cotidiano onde a repetição de determinados rituais passam a preencher e dar sentido a uma espécie de vazio. Tudo parece perfeitamente ordenado até o dia que a filha da oftamologista mente na escola dizendo que está cega. Aos poucos percebe-se que o casal vive uma vida um tanto miserável, pois a monotonia os torna prisioneiros de uma alienação auto-destrutiva. Passam a surgir sinais de depressão, a indiferença se torna patológica. Georg, um cara competitivo, ascende na empresa passando por cima dos caras ao seu lado. Anna se desespera com o distanciamento da filha. Essa é em linhas gerais o enredo de The Seventh Continent, um filme que definitivamente me fez perder a paciência com Michael Haneke.

Haneke decidiu filmar uma estória baseda em fatos reais de uma família austríaca que comete suicídio. Sim, tal como em 71 Fragments of a Chronology of Chance ou em La Pianiste – que até é um filmezinho máomeno -, Haneke tem gosto pelo tabu. Até aí tudo bem, Stanley Kubrick também tinha. O problema é que há uma distância quilométrica entre Kubrick e Haneke. Kubrick transforma o incômodo do distúrbio numa forma de arte. Haneke transforma o trágico numa simples exaperação de imagens. Numa das últimas cenas antes do suicídio, juro por todos os exús e deuses, com a casa completamente destruída, a família encontra-se na frente da tv assitindo uma mulher cantando em alemão... Como uma deusa você me mantém...

Com isso concluo com duas coisas. Primeiro, mal comparando, você pode até gostar de Heineken, mas a partir do momento que você prova uma Chymay, já não dá mais pra assitir os filmes do Haneke. Segundo, é evidente que sou péssimo em trocadilhos!

Música do dia. Fez Bobagem. Assis Valente/Marcos Sacramento. CD Modernidade da Tradição.

Whisky



O filme Whisky, de Pablo Stoll, lança uma dúvida bem prosaica. Que diabos de relação há entre o nome do filme e a estória dos protagonistas Marta, Jacobo Koller e Herman Koller?

Jacobo tem uma pequena confecção de meias no centro de Montevidéu. É um homem solitário, na faixa etária dos 50 anos, que cuidou da mãe doente até o falecimento desta. Na fábrica trabalham apenas 3 mulheres. Dentre elas Marta (interpretada pela ótima Mirella Pascual), a mais velha, é uma espécie de gerente das outras moças. A relação entre Jacobo e Marta é, antes que fria e distante, uma relação de respeito e cordialidade pautada nas pouquíssimas palavras que trocam no decorrer dos dias. Quando Jacobo chega à fabrica, Marta, pontualmente o espera diariamente. Assim como Jacobo, Marta também é uma mulher solitária que afugenta sua condição humana de isolamento numa sala de cinema após a jornada de trabalho. Na manhã seguinte, a cena dela esperando que o patrão chegue em frente a porta da fábrica se repete religiosamente.

Essa rotina quase mecânica muda na ocasião do Matzeiva da mãe de Jacobo pois seu irmão Herman, que vive no Brasil e também tem uma fábrica de meias, chegará para a celebração póstuma. Jacobo então propõe a Marta que ela fique em sua casa nos dias de estada do irmão, simulando que estão casados.

Nesse momento percebemos que o filme se trata de uma ótima comédia de humor seco e cortante, pois no momento da proposta o telefone toca. Jacobo vai atender. Retorna dizendo se tratar de um engano e prosseguindo a coversa. A presença providencial do telefone tocando em momentos centrais da trama se repete comicamente umas duas ou três vezes. Como por exemplo quando Jacobo com certa torpeza lhe dá uma aliança de “casados”. O anel fica grande e cai no chão. Ela imediatamente se abaixa para procurá-lo embaixo da mesa. Jacobo fica estático. Ela encontra o anel e pergunta se a aliança era de sua mãe. Jacobo responde desconcertado que sim. Providencialmente o telefone toca. Jacobo retorna e diz equivocado. E Marta responde como em outras ocasiões... Sí, a veces pasa.

Aos trinta minutos de filme, vem finalmente a resposta. Para que a presença de Marta não levante as suspeitas do irmão, Jacobo providencia que Marta passe uns dias em sua casa e a leva para que tirem uma foto como casados. Nesse momento o nome do filme faz sentido. No estúdio fotográfico eles estão sobre um fundo azul, bem vestidos e constrangidos. O fotógrafo diz, A ver una sonrisita... digan whiskyyyy.... Eles se abraçam de maneira torpe e repetem a palavra whiskyyy mostrando os dentes, simulando um sorriso, sem muito empenho.

Tudo pronto. So falta Herman chegar.

A presença de Herman torna tudo muito mais constrangedor. Os dois irmãos não se viam há anos, não tinham maiores intimidades. Herman é um tipo expansivo e auto-centrado, sua efusividade contrasta com a indiferença de Jacobo a tudo e a todos tornando o filme uma comédia com detalhes brilhantes. Como quando os irmãos, que não se viam há anos, se presenteiam meias. Ou quando vão assistir um jogo de futebol da segunda divisão, do time de Jacobo. Ou quando decidem ir passar uns dias num hotel no balneário de Piriápolis, um local onde os irmãos iam de criança e que se encontra decadente e vazio.

O roteiro do filme, assinado pelo diretor, por Juan Pablo Rebella e Gonzalo Delgado Galiana, tem diálogos econômicos e situações de inisitada originalidade. Eu diria que este é um roteiro muito bem amarrado. A frieza e a parsimônia com que os personagens são apresentados permite a revelação gradual de detalhes de suas personalidades através de pequenos gestos incorporando-os a um sentido mais universal de melancolia e solidão. Além disso é evidente um certo sabor das comédias do romeno Cristi Puiu e do finlandês Aki Kaurismäki em algumas situações do filme.

Uma curiosidade trágica: no dia 7 de julho fará 3 anos que o roteirista Juan Pablo Rebella se matou. Ao lado de seu corpo, em frente ao computador, foi encontrado um revólver calibre 32 e uma garrafa de whisky pela metade.


Pina Bausch

O mundo perde uma das grandes coreógrafas da dança moderna. Pina Bausch morreu ontem, cinco dias após ser diagnosticada com câncer. Nunca tive a oportunidade de assitir Bausch dançando, mas já assisti vários vídeos de suas performaces e coreografias. Muito antes de assistir ao filme de Almodovar Hable con Ella - onde Bausch faz uma breve aparição exibindo um fragmento do Café Müller - o que mais me atraía em seus movimentos era a inovação da linguagem corporal. Bausch (além de van Manen, Balanchine, Cunninghan e toda essa turma) recriou a expressão do corpo contemporâneo, desenhando movimentos repetitivos e fragmentados, quebradiços, e ao mesmo tempo sugerindo uma proximidade entre a dançarina e o público, como se convidasse-nos a um diálogo quase sussurrado. Havia muito de teatro em suas coreografias. A expressão corporal e a expressão facial eram elementos importantes em suas composições que sugeriam algo visual, algo narrativo e nem sempre harmônico ou pacificador.

Toda essa geração de Bausch e Merci Cunninghan - que tive a feliz oportunidade de assistir ao vivo meses atrás, ele já com 90 anos e numa cadeira de rodas - está nos deixando....

Neda Agha Soltan

Há meses atrás recebi um email bastante grosseiro, em inglês, sobre essa postagem
http://ilusaodasemelhanca.blogspot.com/2008/12/golias-davi.html
A foto tinha sido retirada do jornal El Pais.
Não respondi.

Nesta semana, ainda titubeante, decidi não colocar o vídeo da morte de Neda Agha Soltan assassinada por um atirador de elite Basij, pois  a brutalidade de imagens dolorosas como estas, apesar de longe dos olhos, povoam o mundo diariamente.
http://www.youtube.com/watch?v=Ej59UI5yyw8&feature=related

Os Basij são uma espécie de grupo paramilita surgido na época da revolução iraniana, e aparentemente tão brutais e corruptos quanto outras milícias próximas a nós.

Um Poema de Amor e Duas Canções Desesperadas

Tom Waits - San Diego Serenade 1974 - Disco. The Heart of Saturday Night.


Crosby, Stills and Nash Suite: Judy Blue Eyes Woodstock 1969


Jethro Tull - Living In The Past 1969

SoBRe NOtíCiAs e ChIChas



De tanta bobagem que li na internet hoje, a opinião mais ponderada é a do Nassif.



Mas não nos iludamos... Amados Pinheiros sempre existirão... com o sem diploma.


Casa de Bonecas


Casa de Bonecas é uma magnífica peça em moldes feministas de 1879. Na versão escrita original, Ibsen ambienta toda a ação num cômodo da casa, geralmente na sala de visitas, nas vésperas de Natal. A versão de 1973 que assiti, dirigida por Patrick Garland, é filmica e diga-se de passagem estática, com poucos mas distintos cenários, ainda que os diálogos sigam em grande medida o roteiro original de Ibsen.

Toda a trama se passa em torno à família Helmer. Anthony Hopkins é Torvald Helmer, o diretor de um pequeno banco de investimentos, um businessman extremamente concentrado em seus negócios, casado com a delicada e confusa Nora Helmer. Torvald, em sua concepção, tem uma casa perfeita, com empregados conscienciosos que servem a filhos perfeitos, bem como à sua esposa perfeita. Nora Helmer, com seu toque feminino, esforça-se a nível da quase-insanidade para que este mundo construído por Torvald continue assim, como numa casa de bonecas. Lendo a peça, me pareceu vagamente que Torvald Helmer seria um homem autoritário. Impressão apagada pelo efeito desconstrutor que Anthony Hopkins imprime ao personagem, tirando-lhe o peso maniqueista que por vezes o leitor carrega da leitura e tranformando-o num tipo refinado, de gestos contidos, e um tanto edulcorado.

De certo que em toda a peça há um certo maniqueísmo nos diálogos, com uma forte dose de moralidade sobre qual seria o papel dos esposo e da esposa num casamento em moldes conservadores e (?) vitorianos – nem sei se o termo se aplica à Noruega. Curiosamente o Natal não é apresentado como uma festa religiosa e quando o celebram, o fazem com danças e fantasias fora de casa. Interessante, pois no ajuste das contas finais entre Nora e Torvald, no terceiro ato – da peça escrita - , ela evoca essa referência referindo-se a tudo a sua volta com uma ótica absolutamente material, querendo, mas sem poder, se distinguir da ótica do próprio Torvald.

Neva fora. Nora faz os últimos arranjos na decoração de natal. A neve que Ibsen evoca constrasta com o calor artificial do lar dos Helmer, por um motivo específico. Nora, anos atrás cometeu um crime de estelionato para cobrir uma dívida de Torvald, sem este saber que as promissórias tinham sido assinadas em seu nome pela própria esposa. No fim do primeiro ato, Nora é chantageada por Nils Krogstad, um empregado do banco onde Torvald ascende profissionalmente. A razão da dívida é um tanto obscura. Algo relacionado a uma viagem a Itália. Algo relacionado ao pai de Nora, que considerava Torvald um incapaz financeiro... enfim, algo que em hipótese alguma justificaria o crime. A razão da chantagem é a falta de confiança que Krogstad inspira em Torvald. Na corda bamba, tendo seu emprego em jogo, Krogstad decide chantagear a esposa do chefe.

Nesse momento, uma velha amiga de Nora, Mrs. Linde, retorna à cidade procurando emprego já que encontrando-se viúva e com filhos, procura no trabalho o preenchimento de seu vazio vital. Linde conversa com Nora, enquanto Dr. Rank conversa com Torvald no escritório deste. Linde pede para que Nora interceda por ela junto a seu marido com o intuito de conseguir-lhe um emprego no banco. Nora revela a Linde o episódio da falsificação da assinatura e do empréstimo e pede para que esta consiga as promissórias assinadas com Krogstad. Nesse momento, em que Rank e Torvald deixam o estúdio, enquanto Torvald comenta sobre a corrupção da sociedade, Krogstad chega e entra no estúdio para pedir que Torval d o mantenha em sua posição já que há fortes desconfianças de sua retidáo moral. Do lado de fora, Dr. Rank, que arrasta uma asa por Nora numa atitude que lhe causa a fascinação de algo semi-proibido, ousado, afirma que Krogstad e um dos seres mais corruptos do mundo. Dentro do escritório Torvald comunica a Krogstad que seu posto foi dado a Linde.

Nesse momento começa a triangulação que se desenrolará nos próximos atos. Krogstad procura Nora pressionando-a para que ela consiga seu posto de volta, com a condição de que caso não consiga revelará o crime ao seu marido. Linde, a pedido de Nora, procura Krogstad tentando convencê-lo de que volte atrás. No entanto, no momento em que Linde chega a casa do chantagista, a carta reveladora, escrita por ele, já havia sido enviada. Essa tensão se arrata pela noite de natal, com a carta enviada, já na caixa de correios, até que finalmente de volta da festividade, Torvald decide conferir sua correspondência. Encontra dois cartões de visita de Dr. Rank com cruzes negras. Torvald não entende a mensagem, mas Nora, ainda em estado de choque pelo seu destino iminente, revela que Rank – um homem absolutamente apaixonado poe Nora - se mataria naquela noite. Quando Torvald prepara-se para entrar em seu estúdio e conferir o resto de sua correspondência, Nora se retira e se prepara para deixar a casa. Nesse momento decisivo e dramático da peça, Torvald para-a agressivamente, desesperado, aturdido, dizendo coisas sem sentido, atacando-a verbalmente agitando a carta de Krogstad nas mãos. Torvald, desesperado, apenas preocupa-se com o abalo de sua carreira em ascensão. Culpa-a de maneira despropositada por qualquer iminente ameaça. Seu amor desesperado pela esposa se desfaz como numa onda que varre um castelo de areia. Ele a insulta sem que ela reaja, sem que ela se altere na condição humilhante em que se encontra naquela espécie de estágio de vigília inicial de um longo sono. Nesse momento a empregada entra com mais uma carta. É uma segunda carta de Krogstad se desculpando por tudo contendo as as letras de câmbio assinadas por ela. Torvald exultante abraça-a e tenta a reconciliação, após a série de palavras insensatas despejadas na discussão de instantes anteriores. Propõe a reconciliação e que tudo volte ao normal.

É tarde. Tarde demais. O diálogo final, é um dos grandes e memoráveis momentos da história do teatro. Ele compassivo, ela encarcerada em seu mimetismo. Eh comovente a força de uma mulher que não sabe exatamente para que direção partir, mas que não tem outra saída se não a de deixar para trás o passado, irreconciliavelmente.

Eugénie Grandet


Eugenia Grandet ou Eugénie Grandet, novela de Honoré de Balzac é parte do projeto da Comédia Humana. De um modo geral a estória trata de Eugenia, a portagonista, filha de um rico e ambicioso homem de província e de como essa prosaica, trivial e até ingênua mulher contorna a realidade de uma vida familiar solitária e sem desafios. A composição dos personagens que giram em torno a Eugenia é de uma riqueza psicológica que só mesmo Balzac poderia criar. A moça é bela e apesar de passar dos 20 anos ainda mantém uma certa inocência dada pela combinação das convenções sociais da vida no interior e a constante vigilância da mãe, uma mulher infeliz e, segundo a descrição de Balzac, não lá muito dotada de beleza física. Pela lenda que corre na cidade de Saumur, o pai, o senhor Grandet, possui uma fortuna incalculável e isso desperta a cobiça das famílias locais em torno da mão se sua jovem filha, ainda que esta se mantenha fiel ao seu jovem primo Charles que chega de Paris após a falência e morte do pai.

É uma estória de trama simples, mas que retrata de maneira bem cinematográfica a escalada de um plebeu que nada mais vê a sua frente que o brilho enriquecedor do ouro. A ganância do senhor Grandet é inescrupulosa. Chega a ser caricata mas não de todo inverossímil, pois mostra bem a trajetória de um novo rico de província que coloca a ascensão social e financeira acima de sua própria família, da esposa, da filha única Eugénie, e da empregada Nanom - que de certa forma participa dos meticulosos gestos mesquinhos de seu senhor para salvar sua própria pele.

É nesse cenário de uma casa solitária, monótona e melancólica, que a introspectiva Eugenia habita, até que seu primo Charles chega de Paris. Nesse momento da chegada do sobrinho, o senhor Grandet recebe a trágica carta anunciando o suicídio do pai de Charles, seu irmão. Charles que chegara com hábitos cosmopolitas, roupas estranhas e extravagantes jamais vistos pelas mulheres, havia sido enviado a Saumur pois seu pai falira e não tendo mais condições de criar o filho, envia-o aos cuidados do tio. A monotonia em que Eugenia vivia logo se apaga. A jovem passa a querer agradar o rapaz a todo o custo, ordenando que a empregada preparasse pratos especiais, providenciando velas para que ele pudesse ler à noite... Tal mudança de comportamento é notada pelo avarento Grandet.

Charles ao saber da falência e suicídio do pai, entra em depressão profunda o que causa verdadeira comoção nas mulheres da casa. Eugénia, ainda abalada e compadecida pela notícia invade sorrateiramente o quarto de Charles que estava adormecido e lê algumas de suas missivas. Numa destas, pede a um amigo para vender seus pertences e pagar todas suas dívidas, já que irá tentar a vida nas Índias. Noutra, descobre que Charles tem uma namorada em Paris o a torna apreensiva. Entretanto, ignorando a dor do sobrinho, o senhor Grandet, articula sua ida às Indias com o intuito de se livrar de uma boca a mais na casa. O intuito avaro do homem contrasta com o sentimento de misericórdia e admiração da filha, Eugenia e da mãe desta. E percebendo as articulações do pai, Eugenia dá a Charles umas moedas de ouro, presente de seu pai, para que ele recomeçe a vida nas Indias.

Agora, do meio para o fim de um livro que é impossivel largar, a ironia fina de Balzac começa a operar. Charles, após anos nas Índias fica tal qual Grandet, com perdão da má palavra um somítico. Como se o individualismo e a escrotice de Grandet tivessem passado por osmose, ao passo que Eugenia passa a adquirir certos rasgos de personalidade do pai, Charles, distante, viajando por anos em mares das Indias e das Américas, se embrutece e esquece o amor que prometera a Eugenia. Nessas viagens faz dinheiro comercializando escravos negros e chineses e praticando a usura. O embrutecimento, talvez decorrente de suas atividades, torna a relação com a prima uma relação distante e meramente financeira, já que ela emprestara seu primeiro capital para iniciar a viagem.

Enquanto isso, Eugénia perde mãe e logo em seguida o pai. O espólio a torna tão quanto uma mulher rica, uma mulher em busca – continuando o legado da nossa miséria - da solidificação da fortuna do pai. De uma maneira mais branda, é verdade.

Alguns anos se passam até que recebe uma carta de Charles contando que se casaria com uma das herdeiras dos Aubrion, em Paris. Destruída toda a ilusão vê quão falsa foi sua espera e sua esperança. Descide então se casar por conveniências com o advogado Bonfons, não sem antes imbuí-lo de uma missão: ir a Paris e saldar as dívidas do primo. Porém, quis o destino que o rapaz morresse após breve trajetória política, revelando que este, não o destino, mas Bonfons não fosse o homem tão respeitoso que ela pensava se tratar. O rapaz tinha, como dizia-se no tempos antigos “amigas”.

Um romance simples, mas Balzac possui uma capacidade de descrição psicológica e corrosiva do endurecimento da alma diante das ascensões materiais. O livro termina num tom um tanto melancólico, nem tanto pela aura de contorno romântico com a qual Balzac envolve a jovem, mas pela forma com que Balzac optou por conduzir a estória em dois campos sem tramas paralelas ou zonas cinzentas. Balzac nos faz viajar em dois continentes isolados, um mundo da ambição patriarcal e um mundo de ingenuidade onde a protagonista, Eugenia, gradualmente se anula, e que raramente se cruzam.
No meio do livro ainda há uma esperança. O leitor embarca na possibilidade do romance açucarado de Eugenie e Charles, quando esta tenta com suas parcas armas de sedução conquistar Charles. Essa é a mesma esperança de Stefan Zweig na biografia de Balzac quando lá pelas tantas diz, “A pequena Eugenia Grandet, em si trivial e um pouco ingênua, ao não se sujeitar ao olhar ameaçador de seu pai avarento por um torrão de açúcar no café de seu querido Charles demonstra tanto valor como Bonaparte quando atravessa precipitadamente a ponte do Lodi com a bandeira na mão.” Só para constar -até para mim que não sabia -, a batalha de Lodi foi o episódio no qual Napoleão derrota o marechal Beaulieu abrindo caminho austríaco para que as tropas francesas cheguem a Milão. A comparação é, sem intermitência, não sem intencionalidade, pois antes da virada do século ninguém sabia no que Napoleão se transformaria. Tampouco no que Eugenia viria a se tornar após a morte dos pais. Mas no final, com Eugenia já balzaquiana - perdoem o tocadilho - e portanto sem a ingenuidade de outrora, as famílias locais começando a confabular novamente sobre a da mão da jovem viúva, não há como não lamentar o legado da nossa miséria.

Garrincha


Não sou botafoguense, ainda bem. Mas se fosse ficaria triste com o filme Garrincha -- Estrela Solitária. Esse é o sentimento que toma conta do espectador, independente do clube de coração, ainda no meio do filme. Um filme laudatório, formal e extremamente mal feito e mal produzido. O cinema brasileiro já vem fazendo isso há algum tempo, transformando excelentes biografias em filmes de qualidade e gosto duvidosos. Primeiro, com Olga de Fernando Morais, e agora com o fantástico Garrincha -- Estrela Solitária, de Ruy Castro – diga-se de passagem, sem reserva alguma, um dos melhores biógrafos brasileiros.

Não sei exatamente o porquê deste fracasso mas em relação ao filme em questão, Garrincha – estrela solitária, dirigido por Milton Alencar e com roteiro de Rodrigo Campos, me parece que o ator principal, André Gonçalves, não entendeu bem as duas faces do espírito de Garrincha, a alegria da juventude e a decepção do fim da vida – optando por interpretá-lo o tempo todo com uma expressão apática e distanciada dos anos de alcoolismo. Além disso, o roteiro, assinado Rodrigo Campos, me pareceu extremamente formal, optando por iniciar o filme exatamente pelo fim da vida, quando Garrincha, empobrecido, cheio de filhos, cheio de amantes e entregue à bebida, não era a sombra que foi, dando assim um aspecto decrépito ao mito. O filme mostra que a opção do flashback é sempre perigosa no cinema. Se não for bem feita, resulta e trabalho mal acabado e até desrespeitoso.
Além disso o filme, já que biográfico, deixou de fora vários pontos importantes que poderiam amarrar melhor a história. Por exemplo, as atuações do craque com os joelhos enxarcados de infiltrações em analgésicos, as batalhas judiciais em torno do divórcio da primeira mulher de Garrincha, representada por Dirceu Rodrigues Mendes, um advogado pralá de mau-caráter, e as inúmeras tentativas de retorno aos campos, jogando pelo nordeste e até mesmo em campos de várzea para conseguir alguns tostões no fim da vida.

Decepção. Não cheguei a ver Garrincha jogar, mas acho que a transposição da biografia do cidadão para a tela grande deveria ter sido um pouco mais cuidadosa. E olha que sou flamenguista, se eu fosse botafoguense escrevia um desagravo!