The Seventh Continent

Lembra da Rosana, uma cantora com cara de silicone que nos anos 80 cantava um troço mais ou menos assim... Como uma deusa você me mantém...? Aquilo era algum tema de novela, que ficava tocando insistentemente em qualquer rádio a qualquer hora do dia e da noite. Como diria o Assis Valente... Nem dá jeito de cantar, Dá vontade de chorar, E de morrer...

Pois é, Georg, funcionário de uma grande empresa, e sua mulher Anna, oftamologista, são um casal de classe média. Ambos têm uma vida confortável, vivem numa boa casa, possuem um carro relativamente novo, consomem produtos de qualidade, sonham com férias numa paradisíaca praia na Austrália e vivem uma vida rotineira. O despertador toca todos os dias às 6 da manhã, Georg se banha, Anna acorda a filhinha para a escola, no aquário os peixes vegetam, no café da manhã quase não falam, ou seja, tudo parece perfeitamente ordenado, eles parecem se conformar com a utilidade funcional do cotidiano onde a repetição de determinados rituais passam a preencher e dar sentido a uma espécie de vazio. Tudo parece perfeitamente ordenado até o dia que a filha da oftamologista mente na escola dizendo que está cega. Aos poucos percebe-se que o casal vive uma vida um tanto miserável, pois a monotonia os torna prisioneiros de uma alienação auto-destrutiva. Passam a surgir sinais de depressão, a indiferença se torna patológica. Georg, um cara competitivo, ascende na empresa passando por cima dos caras ao seu lado. Anna se desespera com o distanciamento da filha. Essa é em linhas gerais o enredo de The Seventh Continent, um filme que definitivamente me fez perder a paciência com Michael Haneke.

Haneke decidiu filmar uma estória baseda em fatos reais de uma família austríaca que comete suicídio. Sim, tal como em 71 Fragments of a Chronology of Chance ou em La Pianiste – que até é um filmezinho máomeno -, Haneke tem gosto pelo tabu. Até aí tudo bem, Stanley Kubrick também tinha. O problema é que há uma distância quilométrica entre Kubrick e Haneke. Kubrick transforma o incômodo do distúrbio numa forma de arte. Haneke transforma o trágico numa simples exaperação de imagens. Numa das últimas cenas antes do suicídio, juro por todos os exús e deuses, com a casa completamente destruída, a família encontra-se na frente da tv assitindo uma mulher cantando em alemão... Como uma deusa você me mantém...

Com isso concluo com duas coisas. Primeiro, mal comparando, você pode até gostar de Heineken, mas a partir do momento que você prova uma Chymay, já não dá mais pra assitir os filmes do Haneke. Segundo, é evidente que sou péssimo em trocadilhos!

Música do dia. Fez Bobagem. Assis Valente/Marcos Sacramento. CD Modernidade da Tradição.

4 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom seu ultimo texto! Adora encontra seus trocadilhos e girias brasileiras na www. Hum! Você sempre me faz sorrir. Depois do Chico... Buarque,"podes crer", você é o meu Chico mais amado!Beijocas.EB

Barros (RBA) disse...

Tá muito legal essa crítica!
Dei boas risadas.
Um grande abraço!

ilusão da semelhança disse...

Elaine, obrigado pela simpatia. A gerência agradece. Eu sabia que um dia ia me dar bem com esse troço de blogui! (risos)

Mas vai por mim, o filme do Haneke é ruim pra caramba!

Grande abraco, Chico.

ilusão da semelhança disse...

Barros, acho que fiquei mais irritado com a entrevista do Haneke nos extras do dvd. Rapaz, negocio pavoroso. Tive que ironizar! Pois é... os caras assistem a versão austríaca da Rosana e cometem um suicídio coletivo... Como diria o Zeca Pagodinho, só no cinema! (risos)

Abracao, Chico.