O Pai Goriot



Rapaz da Provença, Eugênio Rastignac é moço ambicioso. Vive numa casa de cômodos onde conhece o Sr. Vautrin que lhe mostra o caminho das pedras a procura de um casamento nobre, passa por humilhações e avanias. O que há de mais terrível nessa sua ambição pela ascensão rápida é a falta de dinheiro que ele tenta contornar aproximando-se de Goriot. Aproximando-se do patriarca Goriot – ex-comerciante, que enriqueceu tremendamente com a especulação de trigo em tempos de crise, inquilino da pensão Vauquer, na zona central da cidade,  o velho é um espectro que havia sido, e no momento do romance não passa de um homem bronco -  humilhado pelas filhas, genros e serviçais -, aproveitando-se da fragilidade e isolamento deste, Rastignac procura se tornar amante de uma das filhas do velho, a Baronesa Nucingen. Sr. Vautrin, nababo de se babar e um dos inquilinos da Pensão de Vauquer, passa a lhe emprestar dinheiro de maneira cordial, e nos diálogos entre os dois Vautrin solta essa pérola tautológica da Literatura Universal....

“Uma fortuna rápida é o objetivo de cinquenta mil rapazes que se acham na mesma situação que você. Você é apenas uma unidade neste número. Avalie os esforços que terá de fazer e a ferocidade do combate. Como não há cinquenta mil bons lugares, vocês terão que devorar-se uns aos outros, como aranhas num frasco. Sabe como se faz uma carreira aqui? Pelo brilho da inteligência ou pela habilidade da corrupção. Eh preciso penetrar nessa massa humana como uma bala de canhão, ou insinuar-se no meio dela como uma peste. A honestidade não serve para nada. Todos se curvam sob o poder do gênio. Odeiam-no, tratam de caluniá-lo, por que ele recebe sem partilhar. mAS curvam-se se ele persiste. Numa palavra, adoram-no de joelhos quando não o puderam enterrar na lama. A corrupção representa uma força por que o talento é raro. Assim como a corrupção é a lama da mediocirdade que abunda, e você sentirá sua picada por toda a parte. Verá mulheres cujos maridos só têm seis mil francos de vencimentos, gastarem mais de dez mil em vestidos. Verá empregados de mil e duzentos francos comprarem terras. Verá mulheres se prostituirem para passear em carruagens dos filhos dos pares de França, que podem correr Longchamps pela avenida do centro. Você viu esse pobre animal do pai de Goriot obrigado a pagar a letra de câmbio endossada pela filha, cujo marido tem cinquenta mil francos de renda. Aposto minha cabeça contra esse pé de alface que você encontrará um vespeiro na casa da primeira mulher que lhe agradar, mesmo que seja rica, bela e jovem. Todas elas vivem procurando iludir as leis, em guerra com os maridos a propósito de tudo. Eu não acabaria mais de falar se fosse preciso explicar-lhe os negócios indecorosos que se fazem por amantes, por vestidos, pelos filhos, pelo lar ou pela vaidade, raramente por virtude, pode estar certo. Assim, o homem honesto é o inimigo comum. Mas que pensa você que seja um homem honesto? Em Paris, o homem honesto é aquele que se cala e se recusa a partilhar. Não falo desse pobres idiotas que em toda a parte cumprem seu dever sem jamais serem recompensados por seus trabalhos, e que eu denomino a Santa Confraria dos Sapatos Velhos de Deus. Eh certo que neles reside a virtude em todo o esplendor de sua estupidez, mas neles também reside a miséria. Já estou vendo as caretas dessas honradas pessoas se Deus nos fizesse brincadeira de mau gosto de não comparecer no Juízo Final. Portanto, se você quiser obter fortuna imediatamente, é preciso já ser rico ou parecê-lo.”

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