Sobeja efeméride



Ontem. 50 anos atrás. Albert Camus morreu. Acidente de carro aos 46 anos. De Camus li O estrangeiro e o maravilhoso ensaio O Mito de Sísifo.  Dos dois guardo lembranças distintas. Lembro que O estrangeiro foi-me um livro estranho, lido quando mal completava 19 anos. As cenas em que Mersault mata o irmão - árabe, diga-se de passagem -  de uma das mulheres de Raymond, o amigo rufião, foi para mim de uma frieza bastante pungente, mais até que a da cena da morte da mãe, que mesmo contada de maneira distanciada nunca conseguiu nem conseguirá afastar do espírito humano o terror que só inspira o pensar-se na morte. Isso, combinado com la Família de Pascual Duarte, boa coisa não podia gerar na cabeça do cidadão adolescente. Há pelo menos seis anos persigo a adaptação de Luchino Visconti para O Estrangeiro, sem sucesso.

Em contrapartida, O Mito de Sísifo - livro escrito quando o autor tinha apenas 30 anos -,  especificamente o último capítulo, ainda hoje me traz lembranças temerárias de que o lugar reservado para este estranho e absurdo lugar que é o mundo cotidiano, sem a faculdade da Razão,  pode nos massacrar de maneira densa, lenta, precisa, aquiescente…

Imperdível é o debate entre Camus e Sartre sobre a alcunha de existencialista que os existencialistas impuseram àquele. Quem tiver tempo, sossego na alma ou pachorra, muito recomendo o livro Sartre and Camus: A Historic Confrontation, sobre os "debates entre o autor e o filósofo. Lembro-me que o Mais! Folha de São Paulo publicara alguns trechos traduzidos do debate acalorado entre um Sartre totalmente proselitista e um Camus evasivo e irascível. 



Esperava que hoje Camus tivesse menos fãs que leitores.

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