Ma Nuit Chez Maud

O engenheiro Jean-Louis, interpretado por Jean-Louis Trintignant, chega a cidade de Clermond-Fernand para trabalhar na filial da Michelin, depois de alguns anos trabalhando no Canadá. Católico praticante, numa missa passa fixar sua atenção numa devota e decide, do nada, que ela será sua mulher. Na cena seguinte encontra a um velho amigo, Vidal, um comunista esquisito pracaramaba, que combina numa fórmula mágico realista Marx com Pascal. Percebendo-o sozinho na cidade, o amigo Vidal o convida a passar a noite de natal na casa da amiga Maud. Maud é mulher independente, divorciada, com uma filha, e sem grandes restrições à entrega a novas relações. Vidal, la pelas tantas, já com alguns drinques a mais na cachola, decide ir embora deixando Jean-Louis em casa de Maud com a noite e as promessas em aberto.

Este é o terceiro dos seis contos morais de Eric Rohmer. E basicamente a cena em que Vidal deixa o protagonista no apartamento de Maud representa o ponto de inflexão dos contos morais. Um homem, apaixonado por uma mulher, que encontra-se e passa tempo com uma segunda mulher extremamente atraente trocando confidências, mas com que não consegue superar a barreira platônica da contemplação. Neste ambiente estóico, o mais interessante em Rohmer, neste e nos outros contos morais,  é a possibilidade de colocar quatro personagens articulados, interesantes, educados, vulneráveis e totalmente livres. A única objeção é como irão desempenhar suas identidades afetivas. Rohmer é um cineasta realista, trata os personagens como invenções sem pretensão, ainda que algumas vezes os diálogos reenforcem algum ar de artificialismo, já que falamos de personagens um tanto reais. Há algo relativamente probo nos desfechos que Rohmer dá a seus contos morais.  Como por exemplo, no final, após cinco anos desde a última vez que encontrara Maud,  chega a praia com sua esposa e um fliho pequeno e a encontra fortuitamente. Conversam brevemente sobre generalidades. Despedem-se e ele corre em direção ao mar. Há algo que não me agrada em Rohmer e que certamente tem alguma relação com sua forma de fazer arte, concentrando-se  mais na tentativa de transmitir a compreensão ao sentimento. Salvo ledo engano, essa negação epicurista é de uma caretice cretina.



Françoise Fabian

2 comentários:

Ricardo Duarte disse...

Chico,
Sobre o post de 10/12:
É por essas e outras que, apesar dos horrores descritos em suas páginas, Meridiano de Sangue é um livro mais que atual - e deve continuar sendo.

Sobre o post de 23/12:
Concordo com o Kovacs: lindo o poema do Ivan Junqueira, e linda a imagem escolhida para ilustrá-lo.

Obrigado pelas ótimas conversas de 2009!

Feliz 2010!

Abraços

ilusão da semelhança disse...

Obrigado a voce Ricardo pelo fidibéquis e pelas conversas e pelas tuas resenhas que muito me instigam. Um grande 2010 para voce também. A proposito sequencia das postagens foi totalmente involuntária (risos).