Meus 15 anos em New Orleans


Duas noites em New Orleans e o encontro com varios amigos, antigos e novissimos, revigoram qualquer alma.
Na primeira noite, ao lado do Quico e da Luciana resolvemos assitir ao velho Ellis Marsalis Quartet no Snug Harbor. Como o plano inicial era o de jantarmos antes do show, resolvemos andar até encontrar algum restaurante próximo à Frenchmen Street, rua do Snug Harbor. Na caminhada, não encontrávamos um restaurante onde pudéssemos comer sem reserva prévia. Pra piorar, ainda encontramos um híbrido de filósofo e músico com um violão no braço, que tentou me convencer, caminando ao meu lado por mais de seis quadras, que uma SUV é apenas uma manifestação do meu pensamento -pois é, eu sei que quem me conhece dirá que eu mereço coisa até pior.
Um detalhe, para jantar no mais simples po' boy da cidade há de se fazer reserva, coisa que evidentemente não conseguimos nem num dos mais autênticos po' boy da Frenchmen Street, que por acaso não exigia reserva prévia. Neste, o problema não foi o da reserva e sim da proximidade da hora do show. E com fome, resolvemos ir direto para o show.
O que nem o filosofo maluco, nem voodoo caribenho, nem a fome, nem os astros, que tentaram em vão conspirar, sabiam é que todos havíamos viajado milhares de milhas e quilômentros para nos encontrarmos ali, em New Orleans. Acho que velho Marsalis e seu filho perceberam nosso perrengue e fizeram o show que fizeram - e que eu não consigo contar com palavras.
A noite, que começou meio torta, foi fechada com o carinho dos amigos ao redor da mesa de um boteco, comendo um maravilhoso, providencial e insequecível misto quente, iguais aqueles que comíamos quando tínhamos 15 anos.
Na segunda noite, na Royal Street, no Preservation Hall, com o Rodrigo e o Jorge, as coisas não foram diferentes. Uma banda clássica de jazz, que da formação original tinha apenas Joe Lastie na bateria.
Penei um bocado para encontrar a letra dessa canção linda, imortalizada pelo Armstrog e que os velhinhos mandaram na noite de sábado, deixando sem palavras a todos os presentes.

Do you know what it means to miss new orleans
And miss it each night and dayI know
Im not wrong... this feelings gettin stronger
The longer, I stay away
Miss them moss covered vines...the tall sugar pines
Where mockin birds used to sing
And Id like to see that lazy mississippi...hurryin into spring
The moonlight on the bayou.......a creole tune.... that fills the air
I dream... about magnolias in bloom......and Im wishin I was there
Do you know what it means to miss new orleans
When thats where you left your heart
And theres one thing more...i miss the one I care for
More than I miss new orleans
(instrumental break)
The moonlight on the bayou.......a creole tune.... that fills the air
I dream... about magnolias in bloom......and Im wishin I was there
Do you know what it means to miss new orleans
When thats where you left your heart
And theres one thing more...i miss the one I care for
More.....more than I miss.......new orleans

Sim On Quase Tudo All

Não entendo praticamente nada de música. Não toco nenhum instrumento musical, sequer uma prosaica e miserável caixinha de fósforos; mas tenho pra mim que o Wilson Simonal, ao lado de Hyldon e Tim Maia - e põe aí também a Banda Black Rio - , talvez tenha sido o cara que mais se aproximou do sabor, do aroma, da etérea essência do Soul Americano. E ao mesmo tempo tornou a música brasileira muito mais rica. Quem escutar o cara cantando terá uma idéia cristalina dessa coisa abstrata do que estou falando.

Por um desses acasos da vida, semana passada, na Toca do Neal, encontrei o "Homenagem à graça, à beleza, ao charme e ao veneno da mulher brasileira." Um vinil de 1969. O cara tem um ritmo que é coisa de maluco. Numa das faixas ele canta um dos clássicos bregas de Johnny Mathis. Impressionante. Pode ser que ele não entendesse xongas de inglês, mas na sua interpretação do Evie, cantando numa língua que não era a sua, me desculpem mas SimOnAu mata a pau. Alem disso, existe um video da TV Cultura dele cantando com a Sarah Vaughan que é dessas coisas que se guarda com carinho http://www.youtube.com/watch?v=8Hc0FGmXONk

Estou doido pra ver esse doc do Claudio Manuel, Micael Langer e do Calvito Leal. Posso até ser levado a concordar que ele pagou um preço pelas suas relações e pelo seu excesso de 'pilantragem', até por que muitos outros não pagaram até hoje. No caso dele, especificamente, tudo revelou que por trás da malandragem e jogo de cintura que ele tinha no palco, no fundo, o sucesso passou por um tiro pela culatra. Pela reportagem da Folha, aí ao lado, já dá pra ter uma idéia do que os livros de História do Brasil dizem há tempos em suas entrelinhas: engana-se aquele que pensa que o Brasil é um pais cruel com os pilantras. Apenas com alguns deles.

Enfim entrar no mérito da questão se ele pagou um preço alto ou não pelo que ele afirma não ter feito ou nega ter feito, ou se ele foi realmente ingênuo, num tempo onde não era permitido, parece uma espécie de acerto de contas com a historia. Enfim, se foi dedo-duro há de se lamentar por sua atitude sem dignidade e pelo que ela impôs a sua voz.

Caras como o Simonal, Bebeto, Tim, Hyldon, mereciam biografias cuidadosas. O Simonal merecia uma biografia.... O Tim Maia também merecia uma melhor... pois essa que saiu há pouco, pode até ser que eu esteja enganado, mas começa com a biógrafo falando dele próprio no primeiro parágrafo. Sem comentários.

Música do dia... Sá Marina, Tributo a Martin Luther King e muitas outras... e junto vai uma de Bebeto, A beleza é você Menina.

Missivas II

Nápoles, 18 de maio de 1910

Querido chefe e amigo,

Por uma carta que acabo de receber do ilustre Alfredo de Carvalho, fiquei sabendo que o general Dantas Barreto desistia de sua candidatura a preencher na Academia a vaga do saudoso Nabuco, reservando-se para uma futura vaga, e, de acordo com aquelle, abrira mão a favor desse concorrente, dos votos de que dispunha, entre os quaes estava o meu; hypothese aliás prevista de ante-mão, quando attendi ao pedido do Coelho Netto. Escrevi immediatamente ao Mario de Alencar, mandando-lhe um novo voto para a eleição do illustre autor da =Prehistória Sul-Americana= e de = =, que acabou de chegar-me às mãos, e escrevi também ao meu novo candidato, para quem de resto para qeum de resto não tem meu voto outra signoficação além de modesto feito ao seu bello talento, pois que a sua victoria era mais que certa.

Preciso rectificar uma informação de pouco valor ou nenhum, mas que está errada na última carta que tive o gosto de escrever-lhe, e vem a ser que, para a vaga do Lúcio de Mendonça não votei, como affirmei, em Eurico de Goes, mas sim em Vicente de Carvalho. A minha memória trahio-me no momento em que lhe escrevi, porque chegaria em com effeito a fazer uma carta destinada ao autor de = Os Symbolos Nacionaes = e contava votar no nome delle, mas nessa ocasião chegou-me às mãos o livro de versos daquelle poeta com um pedido de voto. Esse versos me captivaram a admiração e encheram-me de gosto, reformei a carta destianada ao Goes e entreguei meu voto ao poeta, com a avides de uma loreira que entrega seus lábios a um sedutor. E como tudo isso foi já ha um bom par de mezes e o livro do V. de Carvalho me desappareceu da casa como por encanto (filado talvez por alguma outra victima do sedutor) escrevi no engano que agora rectifico.

E feliz e honrado por irmos juntos à festa do brilhante pernambucano, sou seu affectuoso admirador, repietoso,

Aluizio Azevedo.

Notas.

O militar Dantas Barreto somente seria eleito em setembro do mesmo ano. Meses depois, em novembro, seria nomeado Ministro da Guerra de Hermes da Fonseca. Imbuído do cargo sentaria o pau nos revoltosos da chibata e nos fanáticos do Contestado.

Loreira, provavelmente significa modernamente uma loureira, ou seja, uma mulher fácil que pretende agradar a todos. hum... sei...

Meus problemas acabaram!!

Recebi esse email enigmático hoje pela manhã. Se eu ajudar essa moça, orfã, diga-se de passagem, a retirar 20 milhões de dólares de um banco na Holanda, ela me recompensa com 7 milhões...

Letter from Holly Payne
Hello friend,
My name is Holly Payne, a citizen of wales in the United Kingdom now residing in England. I am contacting you because I need your help to solve a family problem. My family and I need your help to help us as a beneficiary to help us collect our family funds from a security company in Holland. Since the death of my father, we have been unable to do so and the security company wants us to present a foreign beneficiary. The amount involved is Twenty Million Dollars and you shall have Seven Million Dollars, please reply me back at mrshollXXXXXpayne@yyy.com I shall give you the whole details.
Have a nice day.
Holly Payne

Eu so fico intrigado com uma coisa... como é que essa dona Holly, pode subestimar tanto a um incauto...


Música do Dia. Os Direitos do Otário. Bezerra da Silva

Missivas I

Em 1996 o José Guilherme Merquior escreveu "De Anchieta a Euclides" e dedicou a Aluizio Azevedo uma página não muito digna. Disse, mais ou menos, com palavras muito mais rendadas e bizantinhas, que Azevedo, depois de conquistar uma prebenda do Estado - sob o cargo de diplomata - abandonou a literatura.
Desde a morte do pai, em 1879, Aluizio se sustentou com seus desenhos, o que o levou de volta ao Maranhão. Depois de 19 livros, centenas de artigos e caricaturas, ele se mostrou frustrado com a literatura. Sem dar maiores explicações aos amigos, trocou as noitadas, bebedeiras e a inquietação dos autores russos pela tranqüilidade e o conforto de um emprego público. O Livro de uma sogra, último trabalho do escritor, foi escrito em 1895 - exatamente no mesmo ano em que ingressa na carreira diplomática.
Pode parecer uma pergunta ingênua... mas minha única pergunta é... se um escritor com apenas 38 anos - ele é de 1857 - , cria uma obra tão volumosa, com alguns escritos consagrados clássicos, e sabendo que a produção literária não segue uma linha evolutiva, o que o impede de dar seu ponto final na carreira com o Livro de uma sogra?
Além do mais quem disse que em suas missivas não há algo de literario? Pois até agora não descobri o “segredo da caixa”...
Napoles, 19 de Dezembro de 1908

Ilustre e querido mestre Sr. Dr. [ ]

Estava para escrever-lhe, comuicando que já lhe havia remetido para ahi a caixa do nosso amigo Ferreira da Costa, como verá na cópia que a esta junto, quando tive a satisfação de receber a sua estimável carta que o próprio Costa diz ballotée de Herodes para Pilatos, tem já sua história: um bello dia, 14 de agosto deste anno, ella me surgio aqui no consulado sem vir acompanhada de aviso ou declaração de espécie algumaç ao fim de um mês, em 16 de setembro, receiando em que tivesse havido algum engano na remessa, mesmo por que havia ainda na tampa da caixa mal obliterado o endereço do cônsul em Gênova, escrevi aos agentes que a expediram de Roma, e por estes vim a saber que o remetente da caixa era o Ferreira da Costa, a quem logo escrevi igualmente, dizendo sobre a mysteriosa caixa; só em 28 de setembro recebi um bilhete postal do Costa, dirigido de Berlim, dizendo que eu tivesse paciencia e esperasse mais uns dias pelo “segredo da caixa”, que acrescentava ele, teria de ser expedida para o Rio de Janeiro e a encantada caixa foi ficando por ali no Consulado, até que ultimamente em 14 de novembro, o Costa me escreveu de novo, agora de Varsovia, com outra carta dentro, datada de S. Petersburgo, mas ambas num envelope sellado e carimbado em Roma, declarando que a caixa deveri ser remetida ao Sr., a quem ele me pedia para escrever, perguntando se o Sr. queria que ella seguisse por grande ou pequena velocidade; em fazer a pergunta e receber a resposta se perderia mais tempo talvez do que a differenca entre as duas velocidades. Eu nesse momento estava muito acabrunhado com a sorte de meu irmão e, em vez de fazer a consulta como queria o Costa, tratei logo de despachar a caixa para ahi por pequena velocidade, antes que o Costa me telegraphasse de Yokuhama ou de Honolulu, dizendo que dera a ella a outro destino e a mim novas ordens, reservando-me eu, está claro, para escrever ai Sr., explicando a remessa ao Costa não escrevi já, por não saber ao certo para onde dirigir a correspondencia, é difícil escrever-lhe com segurança, por que as suas cartas são datadas sempre de um novo ponto. A sua legação é em S. Petersburgo, mas ele, creio eu, reside em Roma, e escreve de Berlim e de Varsovia, sem nunca declarar para onde deve ser dirigida a resposta.

Agradeço-lhe do fundo d’alma as palavras de pesames que em mandou pela morte d meu querido Arthur, e desejo ao Sr. o mais feliz anno bom.

Amigo grato e contado
Aluizio Azevedo

Vaselina e Guerra Fria

Sem um log-in o serumanu não vale nada. Ontem fiquei sem log-in, password e tive todos os acessos aos meus arquivos do trabalho negados. O pessoal do centro de tecnologia disse que foi pobrema ténico. Fui do Ser ao Nada num pulo e fiquei indignado comigo mesmo.

Sem p. nenhuma pra fazer, resolvi ler, obviamente. Me caiu nas mãos um livro sobre Dean Acheson. O Acheson foi um advogado e homem de Estado americano. Portanto não foi santo. Colaborou com Roosevelt e Truman. E com o segundo chegou a ser secretário de Estado desempenhando um importante papel na Guerra Fria. Quem for reparar bem, tem dedo dele em basicamente em toda as instituições pós-guerra ( Doutrina Truman e Plano Marshall, OTAN, Banco Mundial e FMI, além de convencer a Truman de mandar tropas para a Coréia).


O calhamaço de Robert Beisner (Dean Acheson: A Life in the Cold War) é de perder o fôlego. São 800 páginas que evidentemente não li nem 10%, mas que tem passagens interessantes. Não deixa de ser interessante quando Beisner fala da animosidade pessoal entre Acheson e McCarthy no episodio da caça às bruxas. Acheson fez de tudo para defender seus subordinados, do Departamento de Estado, contra a fúria obsessiva de McCarthy. Essa briga iria perdurar por anos e determinar a saida dele da admnistração Truman. Obrigado à vida privada abriu um escritório de lobby bem em frente a Casa Branca e, por suas convicções, passou a ser uma eminência parda de Kennedy durante a crise dos misseis.

Somente um tipo como ele poderia lapidar uma frase tão simple e ao mesmo tempo tão defnitiva... "O memorando não está escrito para informar ao leitor, mas para defender o autor."


Os economistas chamam a isso de Risk Averse. Eu chamo de CYA - Cover Your Ass.







Musica do dia:Siegfrield's Death and Funeral March - Wagner - do terceiro anel .

El Aura

Resumindo: Fabián Bielisnky morreu no quarto de um hotel, se não me engano em São Paulo. Vítima de um forte golpe de caratê colombiano. Os jornais noticiaram que havia sido um ataque cardíaco. Perdeu o cinema e, pode parecer piegas, um pouco cada um de nós.

Senti muito a morte do cara que fez Nueve Reinas, um dos melhores filmes argentinos que tinha assitido nos últimos anos.

No El Aura o roteiro também é recambolesco, vendo-se um pouco a marca do maneirismo de Bielinsky, mas que ele conduz com precisão. El Aura é a estória de um taxidermista epilético, taciturno e reservado que tem uma memória imediata fenomenal, chegando a memorizar detalhes que poucas pessoas podem guardar. Depois que a mulher o deixa, sem bem saber por quê, aceita o convite de um amigo para caçar, mesmo que se recuse a matar animais. Nessa viagem se vê envolvido num assassinato acidental - na qual ele mata o dono da cabana onde estão hospedados ele e o amigo. A vítima, é o arquiteto de um assalto prestes a acontecer num cassino que está para fechar.

Aos poucos, o personagem de Ricardo Darín, acaba se envolvendo com os planos de assalato em andamento – contactando os cúmplices e se fazendo passar por comparsa do homem assassinado, mesmo sem ter a noção exata do que acontecia, mas valendo-se de sua prodigiosa memória. Nos detalhes dessa aproximação é que Bielinsky mostrou a sua maestria em conduzir um filme de tensão, pois você, pobre espectador, não sabe qual é o plano para o assalto, nem tampouco se a interpretação que taxidermista – calcado apenas em sua memória das anotações de um caderno que ele encontra com os planos - dá aos fatos é correta.

Nota: abraço pro Vivaldo, que também gostou do filme.

Recapitulando, o maneirismo de Bielinsky cessa exatamente no momento em que Aura se afasta diametralmente de Nueve Reinas. O estilo é parecido – takes incompeltos, cortes rápidos, jogos de memória, um plano último seja ele relacionado a selos ou a um assalto a um cassino - , mas no Aura há vários assassinatos, um clima de suspense e tensão pesados. Ou seja, aquele clima de tensão embaralhada com certa agitação cômica de NR não acontece em El Aura, um filme noir dos bons.


Música do dia. Do You Want to. Franz Ferdinad