En los naufragios, al hundirse la nave, los marineros del Danubio rezaban: “Duermo; luego vuelvo a remar”

Escrevi isso na segunda-feira às seis horas da manhã. Relutei muito em postar isso aqui, por se tratar de um blog de idéias mal alinhavadas sobre literatura e cinema. Mas após assistir a entrevista de Luiz Eduardo Soares no Roda Viva decidi publicar. Afinal, após a entrevista, sempre ponderada, entendo e me certifico de que aquilo que aconteceu na semana passada também é um tipo de ficção. Sendo assim por que não entrar aqui?




Na História da Eternidade, Borges utiliza a metáfora do sono, do sonho, da noite para expressar a idéia da morte – sem obviamente jamais usar a palavra “morte” em sua essência.


En el Antiguo Testamento se lee (I Reyes:2:10): “Y David durmió con sus padres, y fue enterrado en la ciudad de David”. En los naufragios, al hundirse la nave, los marineros del Danubio rezaban: “Duermo; luego vuelvo a remar”. Hermano de la Muerte hijo del Sueño, Homero, en la “Ilíada”; de esta hermandad diversos monumentos funerarios son testimonio, según Lesing. Mono de la Muerte (Affe de Todes) le dijo Wilhelm Klemm, que escribió asimismo: “La muerte es la primera noche tranquila”. Antes, Heine había escrito: “La muerte es la noche fresca; la vida, el día tormentoso...” (…) “Lo que el sueño es para el individuo, es para la especie la muerte” (Weltals Wille, II: 41). El lector ya habrá recordado las palabras de Hamlet: “Morir, dormir, tal vez soñar”, y su temor a que sean atroces los sueños de la muerte. (Borges, 1997:81-82).


Me admirou muito o uso das metáforas nesse episódio lamentável da invasão de das favelas no Rio de Janeiro. Além do uso e abuso das mais ridículas metáforas, me admirou a capacidade de autoridades civis e militares criarem uma espécie de panacéia verbal para contornar as imagens que os canais de tv, com seu sencacionalismo mediático de praxe, exibiam ao vivo.


Mas uma hora tinha que acontecer. A UPP tinha que chegar ao subúrbio do Rio de Janeiro para não se tornar um plano apenas eleitoreiro do governador Sérgio Cabral Filho, que foi empossado em janeiro de 2007 e apenas iniciou o tal plano em fins de 2008. De lá para cá, já há algumas instaladas, evidentemente, mas em comunidades pequenas. O que ainda me fazem desconfiar de se tratarem apenas planos pilotos.


A primeira grande operação começa de forma atabalhoada. Precisava-se dar uma resposta firme à série de ataques a civis na última semana. Uma série de boatos se espalha pela cidade. Alguns dão conta que uma grande quantidade de dinamite estaria em mãos do tráfico e dos paramilitares. E que a ponte Rio-Niterói seria explodida. Outro boato dava conta que a Rede Globo negociara com a Secretaria de Segurança a não divulgação de que o Secretário de Segurança havia sofrido um atentado com carro bomba. Todos boatos, ou não. Então, motivados pela pressão e pela insustentabilidade da situação, a primeira grande operação começa ela Vila Cruzeiro.


Fato. Começa pela Vila Cruzeiro em represália aos mais de 100 veículos queimados na cidade nas últimas duas semanas. Entretanto, há àreas na nesse complexo de favelas que a polícia não conseguia chegar há anos, com barreiras físicas e bélicas que a polícia não conseguia transpor de forma convencional. Precisava-se então de tanques. Aliás, o episódio da entrada das forças armadas nessa ação ainda está MUITO mal contada. A única força que ofereceu apoio logístico inicial foi a Marinha com os Fuzileiros Navais.


“Hora de Show Time”


Entraram os tanques. Tanques de guerra. Tanques que passam por muros de até um metro de altura. Impressiona? Lógico que impressiona! Uma arma que dispara rajadas de balas .50 é algo brutal em zonas urbanas. A expectativa até sábado era a de que haveria um massacre. Constitucionalmente, atirar com um negócio desses em alvos civis em tempo de paz é impossível, ilegal e inconstitucional. Qualquer pessoa sabe disso, até o Governador. Mas os tanques impressionam e geram expectativa.


As imagens de criminosos fugindo da Vila Cruzeiro e migrando para o Complexo do Alemão também impressionou a todos e também está MUITO mal contada. Principalmente pela quantidade. Era muito bandido junto. Por que não havia um cerco esperando? Evidente. Não havia um plano imediato para isso.


Na versão oficial, não havia estrutura para duas operações tão complexas, simultâneas e seguras. E por isso se preferiu a tática de acuamento. Sem dúvida, uma saída negociada, sem sangue, sem perda de vidas. Preferiu-se não quebrar os ovos. No fundo um jogo onde ambos lados ganhavam tempo para minimizar os riscos de mácula nas imagens públicas.


No fundo, o governo do estado do Rio de Janeiro se apóia na errônea idéia de que os recursos do Estado são ilimitados, em comparação com os dos bandidos que sem moeda de troca (que seria na visão do Secretário de Segurança Mariano Beltrame, o território, a arma e a droga) tornam-se frágeis. Errônea idéia, por que: Por que um bandido não deixa de ser bandido da noite para o dia. Por que munição e drogas continuam entrando pela Baía de Guanabara, pelas estradas e pelas fronteiras. Por que já se fala de uma luta de bem contra o mal, como se obtusamente policiais corruptos tenham deixado de existir e de corromper o sistema por dentro.


No fundo, no fundo, a polícia hoje passa e recolhe corpos, bandidos recalcitrantes, drogas e armas. Ou seja, 400 quilos de cocaína, 50 toneladas de maconha e até agora sabe-se muito pouco sobre o armamento apreendido, menos ainda sobre os chefes do tráfico, e menos ainda sobre o apradeiro dos mais de 500 fugitivos. Foi um golpe no tráfico? Claro que sim. Isso deve corresponder a um prejuízo de seis meses nas contas do tráfico. Foi um golpe midiático? Claro que sim, pois cá pra nós, pelas proporções da operação e pelo pequeno número de prisões, tudo não passou de um golpe de vista que durou uns dias e depois será esquecido, pois em fevereiro tem Carnaval, e em dois ou quatro anos temos Olimpiadas, Copa, Visita do Papa, Posse do Sultão da Bessarábia, sem esquecer a Conferência Internacional sobre Entomologia Neurotropical.


O resto são metáforas extemporânea, como a da mãe do bandido Mister M que leva o bandido à delegacia dizendo “Filhinho vamo sintregá cua mamaen” [absurdo: como se isso fosse amor de mãe]; o rapaz da ONG negociadora que se imbui do poder evitar um “extermínio étnico”[absurdo: como se na comunidade apenas negros sofreriam com o desfecho violento]; o Secretário de Segurança chamando o Complexo do Alemão de o “Coração do Mal”[absurdo: como se o coração vivesse sem cérebro]; “vitória da ordem e fim do caos” [absurdo: comos e houvesse dois lados]; a atendente do Disque Denúncia chamando seu serviço de “Bacia das Almas”[ absurso: como se estivessemos esperando apenas os óleos santos]; e a melhor de todas

“Fernand

inho

bera mar” [sic] tatuado no braço de um infeliz.


Nota. Fotografia - Roberto (Bear) Guerra. Complexo do Alemão 2008.

2 comentários:

Alexandre Kovacs disse...

Muito bom o seu texto, pena do Rio de Janeiro e dos cariocas que precisam participar deste “Show Time” com as certezas imediatistas da mídia.

ilusão da semelhança disse...

Alexandre, fico aflito com amigos meus que vivem no suburbio - largado ao descaso - e que tem de passar por isso todos todos os dias. Fico triste de ver minha cidade nesse grau de degradação.