Tropa de Elite


Acabo de assistir ao filme Tropa de Elite do Jose Padilha. Sinceramente, o que segura esse filme é realmente a produção impecável (protagonista e antagonista bem claros e em campos distintos; cortes rápidos; cenas de ação rápidas e entrecortadas; a franquia de gritos, violência e força física para a resolução de problemas; palavrões; e um ambiente noir das vielas das favelas do Rio).
No geral, o filme parece um 'faroeste' macunaimico de argumento simples, onde tudo é narrado em primeira pessoa, por um dos personagens, o Capitão Nascimento. Não sei se são meus olhos míopes, mas nisso há também uma pitada dos filmes noir clássicos, onde o protagonista conta a estória, mas não necessariamente termina vivo. Enfim, o José Padilha soube compor bem oportunismo com técnica.

Quanto ao conteúdo - verdadeiro cerne de toda a polêmica que envolve o filme -, achei sensacionalista e apelativo. Primeiro por que mostra com muita demagogia e algum proselitismo o que todos querem ver, ou fingem que não querem constatar. Usa uma linguagem didática demais para que todos os que querem e que não querem, possam entender quem realmente é o bandido, o mocinho e o herói. Ninguém está acima do bem e do mal mas o herói ironicamente se distingue (não para mim!) dos demais mortais, não é não? É só assitir. Está lá. Não carece de argumento.
E não é que em algumas partes lembram um pouco o maniqueismo de alguns filmes do John Ford... pois afinal é muito claro quem é o Liberty Valance e o John Wayne da parada que vai garantir o sono do João Paulo II - um mote que acaba se perdendo no resto da estória, não sei bem se por esquecimento dos roteiristas, negligência da edição, ou por incompetência do infeliz do Ali Agca, que 'capou' o tiro e acabou deixando aquela missão dificílima para o tal do Capitão Nascimento.

Nessa acomodação de conveniências entre o que o público espera assitir e o que a mídia tem a oferecer, o filme me deixou decepcionado. Principalmente por que o documentario anterior de Jose Padilha, chamado Onibus 174, era infinitamente superior em qualidade e argumento que este filme atual e polêmico - e não querendo ser má língua, me cheirando a caça níquel bravo, como já havia sido o Cidade de Deus.

2 comentários:

Unknown disse...

camarada,
concordo com você em relação ao oportunismo do filme,Assisti-o no Brasil e a impressão que você teve de oportunismo e discurso preparado em funçào do que espera ouvir a platéia, percebe-se claramente nma sessão em um cinema de shopping num suburbio carioca:a platéia vibra, aplaude e muitos inclusive sabiam as falas de tantas vezes que já haviam visto o filme.Fazer refletir sobre o tema, não é tarefa das mais fáceis, visto que toda a sociedade sente-se vítima (pobres, classe média, maconheiros, ricaços, policiais, etc)e somente espera do outro que "seu lado" seja compreendido.Deixou de ser um problema da sociedade, constituindo-se em problemas isolados.O mérito do filme, sob o ponto de vista comercial é mostrar os vários lados, permitindo que cada uma das classes de vítimas compreendesse e se visse compreendida no filme.

ilusão da semelhança disse...

Meu irmaozinho, tipo de filme assim me lembra a decadencia da Republica de Weimar. Todo mundo empobrecido, todos vitimas, todos tentando expor suas mazelas... acabam vendo no estado policial e na figura do Fuhrer a solucao para seus problemas individuais. Chega o Hitler com uma solucao rapida e todo mundo aplaude.

Fazer filme sobre guerra de bandido e mocinho num formato de filme de acao americano, com discurso sociologico barato, e proselitimos sem vergonha, pra mim eh oportunismo. Afinal de contas, se o expectador (seja ele pobre, classe media, maconheiro, ricaco, policial...) eh a vitima e se ve como vitima, pra ele tudo acaba sendo permitido para justificar o erro dos outros. Que reflexao ha nisso??

A gente ainda tem que conversar sobre isso.... ah como eu lembro do 'homem cordial' do Sergio Buarque...