Matarás teu pai, de quem odeias o braço hercúleo. Profanarás o íntimo colo da tua mãe, de quem arrancarás o útero. Devorarás o próximo, embora a fome não te roa o estômago. Gargalharás e dançarás sobre os ossos do patriarca cuja desgraça maior terá sido a de ter gerado - a ti, filho das trevas.
Nota: Por falar em Moçambique e em Nós Gordios, o Ednodio Quintero é um escritor venezuelano muito pouco conhecido no Brasil. Nasceu em Las Mesitas (Trujillo), um lugar nos cafundós dos judas dos Andes venezulanos. Tem uma penca de livros publicados. Tem uma penca de frases de efeito - - como esta acima - - espalhadas em contos que andam com um pé fora outro dentro do chamado realismo mágico.
Nota 2: Nunca ouvi falar do cidadão que segura o livro de Ednodio, na foto acima. Lembro-me apenas que quando eu servia mesas num café de Port Bou, encontrei um caderno de apontamentos com letra miúda e frases sem sentido algum. O caderno pertencia a este senhor aí da foto, que o esquecera sobre a mesa. Lembro bem, jamais poderia esquecer daquele rosto, apesar de que à época ser mais magro e ter mais cabelos. Neste dia, minutos antes, ele conversava com um senhor bem mais velho que ele, com entradas bem vincadas no couro cabeludo e de quem apenas sei seu nome, Marcel Duchamps, pelo cartão de crédito do Banco BBV usado para pagar a conta de dois cafés e duas doses de Domecq Carlos I Imperial. Havia um título nas páginas do caderno: Laberinto de Odradeks. E na terceira página do caderno, à minha frente, ao lado do nome Ednodio, atravessado por um risco, há o nome de Hermann Kromberg.
Contentemo-nos com a Ilusão da Semelhança, porém, em verdade lhe digo, senhor doutor, se me posso exprimir em estilo profético, que o interesse da vida onde sempre esteve foi nas diferenças,
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