En los naufragios, al hundirse la nave, los marineros del Danubio rezaban: “Duermo; luego vuelvo a remar”

Escrevi isso na segunda-feira às seis horas da manhã. Relutei muito em postar isso aqui, por se tratar de um blog de idéias mal alinhavadas sobre literatura e cinema. Mas após assistir a entrevista de Luiz Eduardo Soares no Roda Viva decidi publicar. Afinal, após a entrevista, sempre ponderada, entendo e me certifico de que aquilo que aconteceu na semana passada também é um tipo de ficção. Sendo assim por que não entrar aqui?




Na História da Eternidade, Borges utiliza a metáfora do sono, do sonho, da noite para expressar a idéia da morte – sem obviamente jamais usar a palavra “morte” em sua essência.


En el Antiguo Testamento se lee (I Reyes:2:10): “Y David durmió con sus padres, y fue enterrado en la ciudad de David”. En los naufragios, al hundirse la nave, los marineros del Danubio rezaban: “Duermo; luego vuelvo a remar”. Hermano de la Muerte hijo del Sueño, Homero, en la “Ilíada”; de esta hermandad diversos monumentos funerarios son testimonio, según Lesing. Mono de la Muerte (Affe de Todes) le dijo Wilhelm Klemm, que escribió asimismo: “La muerte es la primera noche tranquila”. Antes, Heine había escrito: “La muerte es la noche fresca; la vida, el día tormentoso...” (…) “Lo que el sueño es para el individuo, es para la especie la muerte” (Weltals Wille, II: 41). El lector ya habrá recordado las palabras de Hamlet: “Morir, dormir, tal vez soñar”, y su temor a que sean atroces los sueños de la muerte. (Borges, 1997:81-82).


Me admirou muito o uso das metáforas nesse episódio lamentável da invasão de das favelas no Rio de Janeiro. Além do uso e abuso das mais ridículas metáforas, me admirou a capacidade de autoridades civis e militares criarem uma espécie de panacéia verbal para contornar as imagens que os canais de tv, com seu sencacionalismo mediático de praxe, exibiam ao vivo.


Mas uma hora tinha que acontecer. A UPP tinha que chegar ao subúrbio do Rio de Janeiro para não se tornar um plano apenas eleitoreiro do governador Sérgio Cabral Filho, que foi empossado em janeiro de 2007 e apenas iniciou o tal plano em fins de 2008. De lá para cá, já há algumas instaladas, evidentemente, mas em comunidades pequenas. O que ainda me fazem desconfiar de se tratarem apenas planos pilotos.


A primeira grande operação começa de forma atabalhoada. Precisava-se dar uma resposta firme à série de ataques a civis na última semana. Uma série de boatos se espalha pela cidade. Alguns dão conta que uma grande quantidade de dinamite estaria em mãos do tráfico e dos paramilitares. E que a ponte Rio-Niterói seria explodida. Outro boato dava conta que a Rede Globo negociara com a Secretaria de Segurança a não divulgação de que o Secretário de Segurança havia sofrido um atentado com carro bomba. Todos boatos, ou não. Então, motivados pela pressão e pela insustentabilidade da situação, a primeira grande operação começa ela Vila Cruzeiro.


Fato. Começa pela Vila Cruzeiro em represália aos mais de 100 veículos queimados na cidade nas últimas duas semanas. Entretanto, há àreas na nesse complexo de favelas que a polícia não conseguia chegar há anos, com barreiras físicas e bélicas que a polícia não conseguia transpor de forma convencional. Precisava-se então de tanques. Aliás, o episódio da entrada das forças armadas nessa ação ainda está MUITO mal contada. A única força que ofereceu apoio logístico inicial foi a Marinha com os Fuzileiros Navais.


“Hora de Show Time”


Entraram os tanques. Tanques de guerra. Tanques que passam por muros de até um metro de altura. Impressiona? Lógico que impressiona! Uma arma que dispara rajadas de balas .50 é algo brutal em zonas urbanas. A expectativa até sábado era a de que haveria um massacre. Constitucionalmente, atirar com um negócio desses em alvos civis em tempo de paz é impossível, ilegal e inconstitucional. Qualquer pessoa sabe disso, até o Governador. Mas os tanques impressionam e geram expectativa.


As imagens de criminosos fugindo da Vila Cruzeiro e migrando para o Complexo do Alemão também impressionou a todos e também está MUITO mal contada. Principalmente pela quantidade. Era muito bandido junto. Por que não havia um cerco esperando? Evidente. Não havia um plano imediato para isso.


Na versão oficial, não havia estrutura para duas operações tão complexas, simultâneas e seguras. E por isso se preferiu a tática de acuamento. Sem dúvida, uma saída negociada, sem sangue, sem perda de vidas. Preferiu-se não quebrar os ovos. No fundo um jogo onde ambos lados ganhavam tempo para minimizar os riscos de mácula nas imagens públicas.


No fundo, o governo do estado do Rio de Janeiro se apóia na errônea idéia de que os recursos do Estado são ilimitados, em comparação com os dos bandidos que sem moeda de troca (que seria na visão do Secretário de Segurança Mariano Beltrame, o território, a arma e a droga) tornam-se frágeis. Errônea idéia, por que: Por que um bandido não deixa de ser bandido da noite para o dia. Por que munição e drogas continuam entrando pela Baía de Guanabara, pelas estradas e pelas fronteiras. Por que já se fala de uma luta de bem contra o mal, como se obtusamente policiais corruptos tenham deixado de existir e de corromper o sistema por dentro.


No fundo, no fundo, a polícia hoje passa e recolhe corpos, bandidos recalcitrantes, drogas e armas. Ou seja, 400 quilos de cocaína, 50 toneladas de maconha e até agora sabe-se muito pouco sobre o armamento apreendido, menos ainda sobre os chefes do tráfico, e menos ainda sobre o apradeiro dos mais de 500 fugitivos. Foi um golpe no tráfico? Claro que sim. Isso deve corresponder a um prejuízo de seis meses nas contas do tráfico. Foi um golpe midiático? Claro que sim, pois cá pra nós, pelas proporções da operação e pelo pequeno número de prisões, tudo não passou de um golpe de vista que durou uns dias e depois será esquecido, pois em fevereiro tem Carnaval, e em dois ou quatro anos temos Olimpiadas, Copa, Visita do Papa, Posse do Sultão da Bessarábia, sem esquecer a Conferência Internacional sobre Entomologia Neurotropical.


O resto são metáforas extemporânea, como a da mãe do bandido Mister M que leva o bandido à delegacia dizendo “Filhinho vamo sintregá cua mamaen” [absurdo: como se isso fosse amor de mãe]; o rapaz da ONG negociadora que se imbui do poder evitar um “extermínio étnico”[absurdo: como se na comunidade apenas negros sofreriam com o desfecho violento]; o Secretário de Segurança chamando o Complexo do Alemão de o “Coração do Mal”[absurdo: como se o coração vivesse sem cérebro]; “vitória da ordem e fim do caos” [absurdo: comos e houvesse dois lados]; a atendente do Disque Denúncia chamando seu serviço de “Bacia das Almas”[ absurso: como se estivessemos esperando apenas os óleos santos]; e a melhor de todas

“Fernand

inho

bera mar” [sic] tatuado no braço de um infeliz.


Nota. Fotografia - Roberto (Bear) Guerra. Complexo do Alemão 2008.

Turn Your Thinking Upside Down

On a very basic level all beings think that they should be happy. When life becomes difficult or painful, we feel that something has gone wrong. This wouldn’t be a big problem except for the fact that when we feel something’s gone wrong, we’re willing to do anything to feel OK again. Even start a fight.

According to the Buddhist teachings, difficulty is inevitable in human life. For one thing, we cannot escape the reality of death. But there are also the realities of aging, of illness, of not getting what we want, and of getting what we don’t want. These kinds of difficulties are facts of life. Even if you were the Buddha himself, if you were a fully enlightened person, you would experience death, illness, aging, and sorrow at losing what you love. All of these things would happen to you. If you got burned or cut, it would hurt.

But the Buddhist teachings also say that this is not really what causes us misery in our lives. What causes misery is always trying to get away from the facts of life, always trying to avoid pain and seek happiness—this sense of ours that there could be lasting security and happiness available to us if we could only do the right thing.

In this very lifetime we can do ourselves and this planet a great favor and turn this very old way of thinking upside down. As Shantideva, author of Guide to the Bodhisattva’s Way of Life, points out, suffering has a great deal to teach us. If we use the opportunity when it arises, suffering will motivate us to look for answers. Many people, including myself, came to the spiritual path because of deep unhappiness. Suffering can also teach us empathy for others who are in the same boat. Furthermore, suffering can humble us. Even the most arrogant among us can be softened by the loss of someone dear.

Yet it is so basic in us to feel that things should go well for us, and that if we start to feel depressed, lonely, or inadequate, there’s been some kind of mistake or we’ve lost it. In reality, when you feel depressed, lonely, betrayed, or any unwanted feelings, this is an important moment on the spiritual path. This is where real transformation can take place.

As long as we’re caught up in always looking for certainty and happiness, rather than honoring the taste and smell and quality of exactly what is happening, as long as we’re always running away from discomfort, we’re going to be caught in a cycle of unhappiness and disappointment, and we will feel weaker and weaker. This way of seeing helps us to develop inner strength.

And what’s especially encouraging is the view that inner strength is available to us at just the moment when we think we’ve hit the bottom, when things are at their worst. Instead of asking ourselves, “How can I find security and happiness?” we could ask ourselves, “Can I touch the center of my pain? Can I sit with suffering, both yours and mine, without trying to make it go away? Can I stay present to the ache of loss or disgrace—disappointment in all its many forms—and let it open me?” This is the trick.

There are various ways to view what happens when we feel threatened. In times of distress—of rage, of frustration, of failure—we can look at how we get hooked and how shenpa escalates. The usual translation of shenpa is “attachment,” but this doesn’t adequately express the full meaning. I think of shenpa as “getting hooked.” Another definition, used by Dzigar Kongtrul Rinpoche, is the “charge”—the charge behind our thoughts and words and actions, the charge behind “like” and “don’t like.”

It can also be helpful to shift our focus and look at how we put up barriers. In these moments we can observe how we withdraw and become self-absorbed. We become dry, sour, afraid; we crumble, or harden out of fear that more pain is coming. In some old familiar way, we automatically erect a protective shield and our self-centeredness intensifies.

But this is the very same moment when we could do something different. Right on the spot, through practice, we can get very familiar with the barriers that we put up around our hearts and around our whole being. We can become intimate with just how we hide out, doze off, freeze up. And that intimacy, coming to know these barriers so well, is what begins to dismantle them. Amazingly, when we give them our full attention they start to fall apart.

Ultimately all the practices I have mentioned are simply ways we can go about dissolving these barriers. Whether it’s learning to be present through sitting meditation, acknowledging shenpa, or practicing patience, these are methods for dissolving the protective walls that we automatically put up.

When we’re putting up the barriers and the sense of “me” as separate from “you” gets stronger, right there in the midst of difficulty and pain, the whole thing could turn around simply by not erecting barriers; simply by staying open to the difficulty, to the feelings that you’re going through; simply by not talking to ourselves about what’s happening. That is a revolutionary step. Becoming intimate with pain is the key to changing at the core of our being—staying open to everything we experience, letting the sharpness of difficult times pierce us to the heart, letting these times open us, humble us, and make us wiser and more brave.

Let difficulty transform you. And it will. In my experience, we just need help in learning how not to run away.

If we’re ready to try staying present with our pain, one of the greatest supports we could ever find is to cultivate the warmth and simplicity of bodhichitta. The word bodhichitta has many translations, but probably the most common one is “awakened heart.” The word refers to a longing to wake up from ignorance and delusion in order to help others do the same. Putting our personal awakening in a larger—even planetary—framework makes a significant difference. It gives us a vaster perspective on why we would do this often difficult work.

There are two kinds of bodhichitta: relative and absolute. Relative bodhichitta includes compassion and maitri. Chögyam Trungpa Rinpoche translated maitri as “unconditional friendliness with oneself.” This unconditional friendliness means having an unbiased relationship with all the parts of your being. So, in the context of working with pain, this means making an intimate, compassionate heart-relationship with all those parts of ourselves we generally don’t want to touch.

Some people find the teachings I offer helpful because I encourage them to be kind to themselves, but this does not mean pampering our neurosis. The kindness that I learned from my teachers, and that I wish so much to convey to other people, is kindness toward all qualities of our being. The qualities that are the toughest to be kind to are the painful parts, where we feel ashamed, as if we don’t belong, as if we’ve just blown it, when things are falling apart for us. Maitri means sticking with ourselves when we don’t have anything, when we feel like a loser. And it becomes the basis for extending the same unconditional friendliness to others.

If there are whole parts of yourself that you are always running from, that you even feel justified in running from, then you’re going to run from anything that brings you into contact with your feelings of insecurity.

And have you noticed how often these parts of ourselves get touched? The closer you get to a situation or a person, the more these feelings arise. Often when you’re in a relationship it starts off great, but when it gets intimate and begins to bring out your neurosis, you just want to get out of there.

So I’m here to tell you that the path to peace is right there, when you want to get away. You can cruise through life not letting anything touch you, but if you really want to live fully, if you want to enter into life, enter into genuine relationships with other people, with animals, with the world situation, you’re definitely going to have the experience of feeling provoked, of getting hooked, of shenpa. You’re not just going to feel bliss. The message is that when those feelings emerge, this is not a failure. This is the chance to cultivate maitri, unconditional friendliness toward your perfect and imperfect self.

Relative bodhichitta also includes awakening compassion. One of the meanings of compassion is “suffering with,” being willing to suffer with other people. This means that to the degree you can work with the wholeness of your being—your prejudices, your feelings of failure, your self-pity, your depression, your rage, your addictions—the more you will connect with other people out of that wholeness. And it will be a relationship between equals. You’ll be able to feel the pain of other people as your own pain. And you’ll be able to feel your own pain and know that it’s shared by millions.

Absolute bodhichitta, also known as shunyata, is the open dimension of our being, the completely wide-open heart and mind. Without labels of “you” and “me,” “enemy” and “friend,” absolute bodhichitta is always here. Cultivating absolute bodhichitta means having a relationship with the world that is nonconceptual, that is unprejudiced, having a direct, unedited relationship with reality.

That’s the value of sitting meditation practice. You train in coming back to the unadorned present moment again and again. Whatever thoughts arise in your mind, you regard them with equanimity and you learn to let them dissolve. There is no rejection of the thoughts and emotions that come up; rather, we begin to realize that thoughts and emotions are not as solid as we always take them to be.

It takes bravery to train in unconditional friendliness, it takes bravery to train in “suffering with,” it takes bravery to stay with pain when it arises and not run or erect barriers. It takes bravery to not bite the hook and get swept away. But as we do, the absolute bodhichitta realization, the experience of how open and unfettered our minds really are, begins to dawn on us. As a result of becoming more comfortable with the ups and the downs of our ordinary human life, this realization grows stronger.

We start with taking a close look at our predictable tendency to get hooked, to separate ourselves, to withdraw into ourselves and put up walls. As we become intimate with these tendencies, they gradually become more transparent, and we see that there’s actually space, there is unlimited, accommodating space. This does not mean that then you live in lasting happiness and comfort. That spaciousness includes pain.

We may still get betrayed, may still be hated. We may still feel confused and sad. What we won’t do is bite the hook. Pleasant happens. Unpleasant happens. Neutral happens. What we gradually learn is to not move away from being fully present. We need to train at this very basic level because of the widespread suffering in the world. If we aren’t training inch by inch, one moment at a time, in overcoming our fear of pain, then we’ll be very limited in how much we can help. We’ll be limited in helping ourselves, and limited in helping anybody else. So let’s start with ourselves, just as we are, here and now.

Poema de Pema Chödrön lido pelo Richard no casamento do Alex.

Laranja Mecânica com tofú

Dias atrás, dois chapa, fanáticos por filmes e literatura, e eu, estávamos numa livraria aqui na capital de Vanuatu. Estavamos zanzando pelas estante de DVDs, falando bem e mal de filmes clássicos. Eu podería até dar o nome deles, dos caras, mas acontece que ninguém acreditaria. E ainda me chamariam de mentiroso, maluco e pústula. Enfim, sem tentar cruzar a linha da cabotinagem, vamos aos fatos.

Na livraria, no setor de cds e dvds, os ilustres me indicaram o filme Park Chan-wook, Oldboy. Um deles, me disse que assitira a este filme em Amsterdã, já que tinha sido o roteirista de um dos filmes brasileiros da mostra. Sendo assim tinha direito a escolher, em exibição privada, qualquer filme do festival. Ele escolheu Oldboy. Depois dessa, comprei na mesma hora. E na mesma noite o assisti. O grande problema deste filme é que se trata de uma trilogia altamente viciante. É simplesmente impossível assistir apenas um. Então, obviamente você desesperadamente procurará logo o primeiro filme da série, Simpathy for Mr. Vengence, e o terceiro, Sympathy for Lady Vengeance. Aconselho-o a assistí-los todos no mesmo dia, de outra maneira, assistindo-os em três dias distintos, como foi meu caso, voce terminará a semana no bagaço, pois é simplesmente impossível dormir após tal obra de arte. Repito: obra de arte cinematográfica.

A trilogia é do diretor sul-coreano Park Chan-Wook. Em cada uma das estórias o diretor costura com os fios da vingança, o amor e o ódio desmedidos. Macbeth dizia que “Eles ardem do desejo de vingança, por que seus mais pungentes motivos moveriam até mesmo um eremita ao mais sanguinário e feroz combate.” A frase de Shakespeare, bem podia ser o prólogo da trilogia. Em todos os três filmes, as tramas permeadas sempre pelo desejo de vingança – ou justiça, agora estou confuso - são sofisticadas. No segundo, Oldboy, há além disso intrincadas viradas psicológicas, imagens inteligentes, apoiadas numa estética absolutamente instigante.

Mas vamos por ordem.
Sympathy for Mr. Vengeance trata exatamente desse desejo desmedido de vingança que leva a um pai às últimas consequências para encontrar os assassinos de sua filha.

Ryu, é surdo-mudo e trabalha numa fábrica para sustentar sua irmã doente e que precisa desesperadamente de um transplante de rim. Cansado de ver a irmã padecer, Ryu tenta doar um de seus rins para sua irmã, mas descobre que seu tipo sanguíneo não é compatível com o da irmã, portanto ele não seria o doador adequado. Após ser despedido da fábrica onde trabalhava, Ryu entra em contato com traficantes de órgãos no mercado negro. Concorda em doar um de seus rins e usar sua indenização para comprar um compatível com o de sua irmã. Os traficantes desparecem com o dinheiro, seu rim e a promessa do rm de sua irmã. Por felicidade ou infelicidade, três semanas mais tarde, Ryu descobre através do médico de sua irmã, que encontraram um doador e que a operação custaria o mesmo valor pago aos traficantes de órgãos que desapareceram.

Cheio de lumbago, sem dinheiro, e meio revoltado com a vida, ele e a namorada, Yeong-mi, uma militante anarquista, resolvem sequestrar a filha dono da empresa. O plano é logo abandonado por perceberem que obviamente as suspeitas recairíam sobre eles. Então decidem sequestrar Yu-sol, a filha do amigo do patrão, Dong-jin, outro executivo da fábrica. A menina fica com a irmã de Ryu, mas que desconhece a origem da menina. Concomitantemente ao pagamento do resgate, recolhido por Ryu, a irmã descobre o esquema e se mata. Ryu, com Yu-sol e o corpo de sua irmã, vão para a beira de um rio enterrar a irmã de Ryu. Enquanto chora Ryu, Yu-sol acidentalmente cai em rio e morre afogada.
Horas mais tarde, Dong-jin vendo o corpo da filha, jura vingança. Enquanto isso, Ryu lança-se numa busca desesperada pelos traficantes de órgãos. Dong-jin, investiga a identidade dos sequestradores e encontra Yeong-mi. Tortura-a até a morte. Antes de morrer, além de se desculpar com Dong-ji, Yu-sol adverte-o que ele está jurado de morte pela sua organização. Ryu retorna para ver Yeong-mi. No prédio, descobre que a polícia retirou de seu corpo em uma maca. (imagem absolutamente impagável quando Ryu, dentro do elevador, pega na mão de Yeong-mi, atada pelos legistas numa maca).

Ryu vai a casa de Dong-jin. Espera. Tocaia-o. Nada. Na verdade, Dong-jin está na casa de Ryu, esperando-o, com um transformador ligado à fechadura. Ryu chega à casa. Abrea porta e recebe uma descarga. Apaga inconsciente. Dong-jin, em seguida, amarra as mãos e pés de Ryu e leva-o para o rio onde Yu-sol morreu. Leva-o par ao meio do rio, com àgua na altura do peito. Dong-jin reconhece que, apesar de Ryu ser um homem bom, ele não tem escolha e deve matá-lo. (imagem absolutamente impagável quando Dong-jin está cara a cara com Ryu, em seguida mergulha, a camera se afasta, Ryu olha ao redor e não entede o que está passando. Por alguns minutos somente a cabeça de Ryu aparece na superfície do rio. Ryu começa a se debater. Dong-jin mergulhou e cortou-lhe os dois tendões de Aquiles de Ryu. A câmera mostra o corte embaixo d’agua com o sangue jorrando aos borbotões). Dong-jin arrasta Ryu até a margem. Cava. Antes de colocar os corpos cortados do irmão e da irmã mantidos em sacos de lixo, o grupo de Yeong-mi chega. Eles cercam e esfaqueam repetidamente Dong-jin, finalmente cravando a nota em seu peito com uma faca. Se identificam como grupo terrorista do qual Yeong-mi fazia parte. O grupo deixa Dong-jin morrer ao lado de seu carro com as ferramentas e os sacos ensanguetados que ele usou para cortar, desmembrar o corpo de Ryu. A nota, by the way, já aparecera numa cena no início do filme, no cumputador de Yeong-mi. Filmaço.

Oldboy talvez seja o mais incrível dos três. Mas vamos por ordem. Fiquei louco pelo Oldboy quando assiti há duas semanas atrás. Com um roteiro primoroso, Oldboy é o melhor dos três.
Um adendo. Sabe aquele pequeno deslize, aquele vacilo cometido com aquele amigo de adolescência? Todo mundo tem um, pelo menos. Pois é. No universo de Park Chan-wook, o amigo vem cobrar a conta 15 anos depois.

Oh Dae-su é um falastrão. Está bêbado e retido numa delegacia, na noite de aniversário de sua filha, esperando pela chegada de seu amigo Joo-Hwan. Após várias horas e o pagamento de fiança é liberado. Oh Dae-su chama à esposa de um telefone público para explicar o acontecido. Quando Joo-Hwan pega o telefone, Dae-su desaparece no meio da noite chuvosa, deixando caídas as asas de anjo que comprara de presente para a filha.

Desde esse dia, fica preso por mais de 15 anos sem a menor explicação. Dae-su nasceu em 1963. Frequentou a escola secundária católica de Sangnok, da qual saiu em 1979. Tornou-se um pequeno empresário. Casado, tinha uma filha, Yeun-Hee. Com os anos tornou-se obeso e alcoólatra. Seqüestrado e confinado, sem nenhuma explicação, a uma espécie de quarto, Oh Dae-su fica alí por tempo indeterminado e incomunicável. A incomunicabilidade é enlouquecedora. Mais enlouquecedora ainda seria a pena. Ele não sabe, mas ficaria preso por 15 anos, sendo alimentado apenas por bolinhos fritos. Suas tentativas de suicídio era contidas com a introdução de gases alucinógenos pelo sistema de ventilação. O contato com o mundo externo é feito apenas através de uma televisão, por onde sabe que sua esposa tinha sido assassinada e que de sua filha se encarragava uma família adotiva. Ele era o principal suspeito do crime.

Um dia Dae-su é subitamente posto em liberdade no último andar de um prédio. Quando ele é liberado, ele é vestido com roupas caras. No alto do prédio há um homem suicida. Ao caminhar pela rua, um desconhecido lhe dá um celular. Ao sair da prisão era um homem revoltado que busca explicações.Ele sente fome e vai a um restaurante local, onde ele encontra a jovem chef Mi-do, que o leva para sua casa e em poucos dias começam um romance. Ela o ajuda a descobrir o porquê de sua retenção e quem era o responsável por sua kafkaniana situação. Tudo ainda parece onírico, ainda, mas Dae-su com a ajuda de Mi-do localiza o restaurante, e por ele o paradeiro de sua prisão. Os dois acabam por se envolverem amorosamente. Dae-su, então, tortura o diretor de informação para obter as gravações de seu raptor, que revelam pouco ou quase nada de sua identidade. Nessa busca, há uma cena interessante, quando os capangas do diretor de informação do cativeiro atacam a Dae-su. Toda a luta se parece a um desses jogos de video-game. Muito bem sacado e irônico nesse contexto do roteiro.

Um homem chamado Woo-jin revela-se algoz de Dae-su e o instrui por telefone que descubra seus motivos para mantê-lo em cativeiro por tantos anos. Woo-jin é aquele amigo que vem cobrar a conta...
Dae-su descobre que Woo-jin e ele freqüentaram a mesma escola e se lembra da relação Woo-jin com sua irmã, Lee Soo. Dae-su, espelhara propositalmente o boato de que os irmãos mantinham uma relação incestuosa. Espalhou o boato antes de se transferir para outra escola em Seul. Durante a peregrinação de Dae-su, Woo-jin mata Joo-Hwan, amigo de infância de Dae-su por este ter insultado sua irmã numa conversa telefônica devidamente grampeada – que havia se suicidado assim que os primeiros sinais da gravidez precoce apareceram.

Dae-su finalmente encontra Woo-jin em seu apartamento. Este lhe dá um álbum de fotos. Dae-su folheia o álbum com retratos de sua própria filha. Ele vê sua filha crescer nas fotos, até descobrir Mi-do. Woo-jin, revela que os eventos em torno Dae-su foram orquestrados com toques de hipnose para provocar Dae-su e Mi-se a cometessem o incesto. Horrorizado, Dae-su implora a Woo-jin para esconder o segredo de Mi-do. Rasteja. Pede perdão, antes de cortar a própria língua como prova de seu sacrifício, oferecendo-a a Woo-jin como um símbolo de seu silêncio. Woo-jin concorda em poupar Mi-do – que naquele instante se encontra sob a guarda de capangas. Ele então telefona para que os capangas a libertem deixando-a em seu apartamento. Sozinho, remoído pela culpa de ter participado no suicídio da irmã – da mesma forma que Dae-su participara na do suicida do alto do prédio -, Woo-jin atira na própria cabeça.

Esgotado, Dae-su se senta num lugar ermo e coberto de neve. Faz um estranho acordo com uma hipnotizadora, para que esta o faça esquecer do segredo. Ela lê uma carta com os fundamentos do esquecimento. Começa o processo de hipnose. Horas depois, Dae-su desperta. A hipnotizadora já se foi. Ele anda sobre a neve. Encontra Mi-do, que diz lhe amar. Eles se abraçam. O filme acaba e não se sabe se Dae-su lembra-se ou não do segredo. Filmaço.

Mas o diretor Park Chan-wook tem outras armas.

Em Sympathy for Lady Vengeance um pequeno coro vestido de Papai Noel espera na saída de uma prisão pela jovem Lee Geum-ja, recém-reformada. Ela tinha sido condenada 13 anos atrás pelo assassinato da menor Won-mo. (corta). O caso, mostrado na televisão, tinha provocado uma comoção nacional, devido à sua pouca idade no momento do assassinato, e a sua aparência inocência. A pena fora reduzida por sua transformação espiritual. Mas isso era apenas uma cortina de fumaça para deixar a prisão.

O crime tinha sido praticado quando ela tinha apenas 19 anos. O país inteiro estremeceu com sua pouca idade e com a brutalidade com que o crime, e os métodos perversos com que fora praticado. Mas o que impressionou mais, foi sua beleza. Alguns diziam que ela se parecia com Olivia Hussey, a Juliete da ópera de Franco Zeffirelli. Um diretor sem escrúpulos disse que tinha planos para filmar a estória de Lee Geum-ja, criando uma reação imediata nos meios de comunicação.

Quando sai da prisão, ela se dirige ao pai, que lhe oferece uma torta de tofú como símbolo de que ela não voltaria a pecar. (corta). Por uma série de flashbacks, sabe-se do processo de arrependimento da moça, dentro da prisão. (corta). Ela derruba a torta de tofú no chão e diz, em coreano, para que o pai fosse tomar no cú, ou enfiasse a torta no orifício supra referido – as legendas em inglês não deixam claras as intenções da moça. O que fica claro é que Lee Geum-ja não está arrependida, que aquele papo de Jesus é pura balela e que ela não vai deixar essa estória barata para com aqueles que a puseram ali. (corta). O filme começa.

Lee Geum-ja era inocente, mas confessa o crime pois o verdadeiro assassino, Sr. Baek, sequestrara sua filha ameaçando matá-la. Na prisão, Geum-ja, com seu comportamento angelical, faz sólidas amizades, chegando a doar um rim para uma detenta, que mais tarde seria assassinada por ela. Em liberdade condicional, Geum-Ja imediatamente visitas outras detentas em liberdade condicional, cobrando favores que incluem abrigo e armas. Distancia-se, assim cada vez mais da imagem criada no cativeiro. Passa a usar salto alto e sombra vermelha nos olhos. Mas por outro lado, também começa a trabalhar numa confeitaria local, onde se torna uma especialista em tortas,sob a tutela de um chef que lhe oferecera trabalho na prisão.

Ao investigar sobre o paradeiro da filha, descobre que ela foi adotada por pais australianos. Jenny, agora um adolescente, não fala coreano. Após convencer sua família a deixá-la voltar para Seul, Jenny segue Geum-ja ao redor da cidade e com ela planeja sequestrar o Sr. Baek, com a ajuda da esposa, outra ex-presidiária. Baek, agora tragicamente, é professor de ensino fundamental e descobre que Geum-ja está em liberdade. Aterrorizado, contrata capangas para emboscar Geum-ja e Jenny. Na luta, Geum-ja mata dois bandidos, enquanto na outra cena Baek cai desacordado devido às drogas que sua esposa colocou em sua comida.

Geum-ja quer matar Baek ali mesmo em sua casa. Entretanto, descobre uns penduricalhinhos de criança presos a seu celular. Uma pequena esfera de âmbar chama sua atenção. Lembra que esta era a mesma de Won-mo. Então associa estes objetos ao modus operandi de Baek e percebe que estes são lembranças das vítimas, deduzindo que Baek é um assassino em série.

Ela o aprisiona. Contacta o detetive do caso Won-Mo, e, juntos, eles se infiltram em apartamento Baek e descobrem gravações em VHS da tortura e assassinato das crianças.

A partir desse momento o filme dá uma virada sensacional.

Geum-ja e o detetive entram em contato com os pais das vítimas e os conduzem para uma escola abandonada na periferia de Seul. Mostram as fitas nas salas de aula. Um por um cada pai desaba em desespero. O grupo, então, delibera sobre o destino do Baek. Decidem coletivamente assassiná-lo. E no sótão da escola encontra-se Baek, que pode escutar todo o teor do julgamento. Vestindo capas de plástico e portando uma variedade de armas - que no jargão legal pode-se dizer - perfuro-contudas.

Todos esperam numa sala, uma ante-sala. Um a um, tendo previamente sorteada a ordem de entrada, entra e dá uma estocada em Baek tomando o devido macabro cuidado para não matá-lo, já que há pessoas na fila ainda. A última pessoa, uma avó, mata Baek com a tesoura de sua neta assassinada.

Ao final, hirtos, perfilados, com a câmera pelas costas, posam para uma foto tirada pelo detetive. Assim que o flash detona, todos caem em pranto amparando-se mutuamente. O grupo assume um pacto de jamais revelar o que se passou ali e enterram Baek.


Geum-ja, o investigador, e os pais vão no meio da noite para a confeitaria, onde Geum-ja serve-lhes uma torta. Um dos momentos mais emocionantes nos três filmes, talvez um pequeno delize de Park Chan-Wook, é quando começam a cantar involuntariamente um parabéns a você pelo aniversário coletivo para seus filhos falecidos. Uma cena sem dúvida de profunda delicadeza. Filmaço.

Os três filmes são de uma beleza estética impressionante. O uso de grandes closes, enquadramentos ousados, cores fortes bem escolhidas e pequenos efeitos especiais inesperados enfatizam as emoções de uma maneira extremamente elegante e única. O roteiro, absolutamente genial, aliado a uma montagem primorosa, fazem desses filmes algo incomum na história do cinema. A sequência prisão, a vingança e a catarse, estão nos três.

Um capítulo à parte neste último filme é a música totalmente barroca de Jo Yeong-Wook que ilustra a ótica feminina da revanche. E por barroca, entenda-se toda a contradição entre bem e mal, entre os desígnios da Providência e a razão dos Homens, enfim as contradições e os mais pungentes motivos moveriam até mesmo um eremita ao mais sanguinário e feroz combate.

Música do dia. Arvo Part. Spiegel Im Spiegel


Podia ser Sergio Leone. Podia ser o The Good, the Bad and the Ugly. Mas, não. Você pega um filme do Tarkovsky. Vamos supor o The Mirror. Tudo onírico, não é? Então. Então você coloca ali um pouco de Faulkner, de De Lillo e de Elmore Leonard. Clica a tecla forward umas duas vezes. O negócio fica muito rápido. Mas no enquadramento dos personagens voce só vê o essencial, mesmo que aqueles seres humanos em conflito não tenham passado e nem futuro, você só vê o essencial. Tudo é tão rápido que as vezes você nem se dá conta que ao ler Faroestes de Marçal Aquino, como bem disse o Cristóvao Tezza você está entrando numa zona franca, onde os 5 sentidos devem estar muito apurados e a tua arma tem que estar sempre carregada e principalmente en-ga-ti-lha-da. Na cidade, na roça, numa rodoviária de interior, num necrotério, onde quer que você esteja, o espaço criado por Aquino é um espaço sem lei e sem ordem.

Além da falta de lei e ordem, eu ousaria dizer que, a exemplo de Faulkner, o Marçal Aquino também penetrar seu cutelo no coração do conservadorismo brasileiro. Num sentido mais prosaico, nesse universo conservador, evangélico e de classe média, é como se o nome de Deus fosse evocado a todo o instante, mas qualquer idéia que o associasse aos atributos de generosidade e solidariedade ficasse de fora, deixando o papo para os mortais. Como se Aquino dissesse a deus, ô cidadão, fica de fora da minha Yoknapatawpha que aqui mando eu mando eu. Se você não tiver safisfeito, eu não vou sujar minhas mãos contigo, mas você toma muito cuidado quando chegar em casa tarde da noite, ou na saída para o trabalho de manhã, pois voce sabe... tem muito coisa ruim acontecendo no mundo...

No espaço geográfico do Aquino tudo é violento, fragmentário e multifacetado tipo filme de Chan-wook Park. O instrumento pérfuro-contuso está ali na tua cara, mas não é ilustrar nada não. Aquilo é pra furar, para sangrar, para foder com alguém. Você tem ainda uma outra certeza, armamento pesado não é só para dar confiança para o cara. Ou seja, a prosa do Marçal Aquino é um problema. E pode ser que as frases curtas, quase metrificadas, sugiram uma espécie de poesia, uma espécie de sonho. Pois tudo é tão real que passa a ser quase irreal, quase um sonho daqueles que você acorda no meio da noite atordoado, enxugando o suor do pescoço, com uma sensação de que se você voltar a dormir o sonho volta, duro e hiperrealista.

E ainda tem uma outra coisa. Como tudo que ele narra é aterrorizantemente familiar, passando no telediário da noite, no cinema, podendo ser ouvido no rádio ou num comentário no boteco da esquina, tudo dá mais medo ainda.

Só um exemplo:

DEZ MANEIRAS INFALÍVEIS DE ARRANJAR UM INIMIGO (PARA FACILITAR O TRABALHO DO LEGISTA)


3 – Você repara como é pernuda a repórter da TV que veio filmar o boteco onde aconteceu a chacina na sexta-feira. De minissaia, uma beleza. Ela começa a fazer perguntas, todo mundo se encolhe. Surdos e mudos. Então você se aproxima, como quem não quer nada além de ver de perto as manchas de sangue no chão, os buracos de bala nas paredes e no balcão. E, é claro, aquele belo par de pernas. Na hora em que surge a oportunidade, você diz a ela que topa contar o que sabe. Desde que seja longe dali e com duas condições: você só aparecerá de costas e terão de mudar sua voz quando a entrevista passar na televisão. Naquela noite, com a família e amigos na sala, é a primeira vez que você vê alguém impaciente com o capítulo da novela. Você se sente meio artista, ganha até um tapinha nas costas. Começa a reportagem, a repórter surge na tela, microfone em punho - e você comenta que ela é mais bonita pessoalmente. Sua voz, alterada, ficou parecida com a de um personagem de desenho animado, você não se lembra qual. Todos se divertem na sala. Menos você, porque acabou de notar que aparece vestindo sua velha jaqueta, que tem nas costas uns desenhos coloridos e manjados. A entrevista dura uma eternidade, mas você já não presta atenção. Está pensando que nunca mais vai usar aquela jaqueta. Gosta muito dela. Seria um pecado ela ficar cheia de furos.

Mas não pára aí não. Os sismógrafos de Aquino resgistram desde o minimalismo do ódio entre os olhares de um padrinho e uma madrinha, observados pelo afilhado, até a angustia de um pai que tem um filho marginal com tudo para acabar morto e acaba mesmo morto.

Ao terminar o livro você tem um dilema nas mãos. Uma sensação de angústia. Voce se sente esmagado, meio que um merda. Mas você tem duas certezas. Primeira, nem sempre quem está a fim de te ajudar é teu amigo – como no conto Tocaia. Segunda, nem sempre quem está afim de te ferrar é teu inimigo – como no conto Clinch, no chute que Abdala deu num cara para que ele aprendesse a nunca mais mexer com mulher alheia. Portanto, se voce está na merda, fica calado.

Em outras palavras, se você achar Faroestes ruim, você prova uma certa obtusidade. Se você achar bom, você se ferra, pois não dá para fechar o livro em paz. Lógico que não se trata de gostar ou não gostar apenas. Em todo o caso, não fala nada, fica calado e clica a tecla play novamente. The Good, the bad and the Ugly ou The Mirror. Tanto faz. Você não vai conseguir dormir mesmo…