Aterro


Ultimos meses, falta de tempo absoluta que impõe ao blog uma espécie de silêncio estagnado. Mas. Fim de Semana em NYC. Casa de amigos. Evidentemente, como o tempo é curto para se ver tudo que se quer, quase nos deixamos levar pela pressa da cidade com seus taxistas em suas ansiedades dos javalis. Mas o que nos salva é que algumas ruas mostram ainda uma paz de roça, onde alguns vizinhos se conhecem, os cachorros fazem seu cocô tranquilos, e quase se pode ouvir um velho ofegante do outro lado da calçada a tossir com seus pulmões cheios de lodo.

No MoMA, um dos meus interesses numa cidade de muitos abismos, ao entrar, não consigo disfarçar minha cara de beduíno pasmado olhando para cima. Por absoluta falta de tempo, ainda não visitara o museu desde sua reforma. A arquitetura é magnífica, moderna, imponente, quadriculada, ampla, luminosa, um espetáculo por si só a ser adulado. Detalhe importante. Esse amigo tem um providencial membership do museu, o que nos permite entrar sem pagar e entrar sem filas. Me senti mais feliz que jogador de futebol em camarote do Sambódromo.

Por motivos de força maior, fui obrigado a voltar 3 vezes na exibição de Tim Burton. Eu ainda avisei pro cidadão que ele ia sonhar com aquelas porcarias, mas ele quis por que quis assistir aquele espetáculo de monstros psicodélicos. Conclusão, com quase cinco anos, tremendo homem feito, diz que sonhou com o monstro da boca grande e fez xixi na cama.

Infelizmente, por motivos de meltdown relacionados mais uma vez ao Burton, não consegui assitir com a atenção que eu queria a exibição de Picasso. Picasso: Themes and Variations. Eram mais de cem trabalhos entre xilos, carvão, aquarela que já estiveram parcialmente numa exibição da Aliança Francesa do Rio - no século passado. No MoMA havia alguns visíveis estudos das suas fases azul e rosa. Um deles, como nesse aqui abaixo, vê-se o acrobata, um dos personagens do quadro da Família de Saltimbacos da coleção da National Gallery of Art, e que no quadro aparece sem uma perna. Outras litogravuras lembram muito outros quadros famosos de Picasso, como uma série de estudos, onde o traço lembra muito o clássico Guernica, presente no Reina Sofia. Enfim, o que esperar de uma tarde de sábado num dos museus mais frequentados do mundo. O universo só podia conspirar, num museu abarrotado de gente falando alto e ciscando mais que galinhas em trovoada.

Para concluir, o que mais me espantou na imensa instalação da inflacionada artista Marina Abramovic´ -  uma artista que está por meses sentada por horas do dia a fio em sua instalação sem se mover para nada - não foi o conceito de que entreouvi um casal, desses  inteligentespracaramba, mas sim o tamanho de seu nariz. Uma coisa impressionante que me faz a cada dia implicar mais e mais não com pessoas de narinas grandes, mas  com essa idéia de arte-instalação -  a arte dos pulhas.

Já com comichão nas pálpebras cansadas, demos uma parada na Pasticceria Bruno perto do Village, numa padaria bonita, dessas de gente bacana, que vende tudo quanto é doce colorido -  e que tem aquela gente que dá aquelas risadinha elegantes e faz pose enquanto o café esfria -  mas que no fim das contas, não vende pão na chapa.

Música do dia. Feeling Good - Nina Simone, again.

2 comentários:

Alexandre Kovacs disse...

O problema do MoMa é o desespero que dá na gente quando percebemos a impossibilidade de ver uma mínima fração de tudo que existe por lá (sem falar nas outras atividades obrigatórias de NY). Pela sua descrição acho que aproveitou bem o final de semana!

ilusão da semelhança disse...

Pois é Alexandre... o pior é que eu tinha ainda uma ambição de ir ao Met, mas realmente foi impossivel. A cidade é realmente interessante, mas curioso é que eu nunca visitei muito dos pontos turísticos.

Enfim, fica para um outro fim de semana.

Abraco. Chico