Nota Fúnebre

Morreu ontem, domingo, aos 88 anos imagino que bem vividos, o escritor uruguaio Mario Benedetti. Por uma triste coincidência, somente este ano conheci o Benedetti novelista com a leitura de Quién de nosotros, apesar de já conhecer sua poesia cantada em parceira com Daniel Viglietti desde o fim dos anos 90.

Quién de nosotros é uma obra de geração sobre um triângulo amoroso existencial. Nessa primeira novela, Benedetti já lança uma técnica que mais tarde outros autores iríam utilizar, que é a de dar voz a todos os personagens envolvidos na trama. Nesta, “Miguel”, entre aspas, é na verdade o diário de Miguel, marido de Alícia. No diário, Alícia, decide deixar a casa e sua filha pequena para viver com Lucas, um amigo de juventude de ambos, Alicia e Miguel.
Todos os fantasmas que assolam Miguel passam pelo dilema de que Alícia, mesmo o tendo escolhido para casar, sempre fora apaixonada por Lucas. De alguna forma, ele, secretamente, convivia com a paradoxal situação de que a mulher com quem dividia a vida não era para ele. Ou seja, qualquer semelhança entre Jules et Jim pode ser ilusão, já que a novela é de 1953, nove anos antes do filme.

E como a novela se divide em três partes, a segunda parte é exatamente uma longa carta de Alícia a Miguel, explicando que sua atração por Lucas era decorrente dos próprios silêncios de Miguel, de sua ambiguidade em aproximá-la de Lucas alimentando uma amizade dos tempos de faculdade. Constata-se que Alícia desejava o diálogo, que Miguel, em seu laconismo, nunca correspondeu. Já na terceira parte, e exatamente na terceira parte, o título do livro começa a fazer sentido. Lucas, um escritor imaginativo e fabuloso, tem então voz ativa na estória. Seus personagens são extremamente ficcionais e percebe-se que o cidadão muitoas vezes não fala cois com coisa. Numa dessas aberturas, deixa transparecer que Alícia o abandonara novamente. E nesse finzinho, percebemos... quem deles... ou... qual deles... tem a verdadeira razão....

2 comentários:

Ricardo Duarte disse...

Chico,
Soube da morte do Benedetti ontem. Há pouco tempo me falaram muito bem da novela A Trégua.
Agora, com seu post, mais uma obra dele vai para minha lista-de-livros-que-quero-ler (copiando o Calvino). Quién de nosotros me lembrou de um livro que ainda não li (se é que isso é possível... :D): A Fera na Selva, do Henry James, que, ao que me consta, fala sobre um desencontro amoroso.

ilusão da semelhança disse...

Ricardo,
Ja ouvi muito falar de Tregua, mas acebei conhecendo o Benedetti ficcionista um pouco tarde, como disse.

Obrigado pela dica do Henry James!

Abraco, Chico