Diario do Farol


O nome desse aí é Christian Von Wernich, 69 anos.

Como capelão da polícia de Buenos Aires, usando a prerrogativa do segredo da confissão, denunciava presos e auxiliava na localização de outros, extorquia as familias, e chegou a participar pessoalmente dos vôos da morte.

CV do fdp:
7 homocídios

31 casos de tortura

42 sequestros
Sentença: Prisão pertpétua.


Não posso me furtar de lembrar do Diário do Farol do João Ubaldo Ribeiro.

O personagem principal é um velho ex-padre que narra sua história a partir de um farol, ao qual chama de Lúcifer, o portador da luz, situado numa ilha deserta. O livro é todo a autobiografia deste padre cuja vida foi orientada para o alcance de dois objectivos: matar seu pai e a mulher que o desprezou.
Já faz tempo que li este livro, mas me lembro bem que o velho protagonista meio que se sentia acima do Bem e do Mal. Tudo em nome de uma vingança e o desprezo último pela conciliação entre fé e razão num sentido mais elevado. Baseado em suas idéias fixas, inevitável é a morte do pai. Porém, no nível ficcional, a linha que o ligava ao parricídio não era reta. Mesmo que o protagonista sem nome tivesse algo Ivã e Dimitri Fiodórovith ou de Hamlet pelo avesso, sua impertinência doentia, uma certa falta de rigor hieratico e uma pitada do que o Sergio Buarque chamou de prestancia, faziam dele um cara bem brasileiro por isso passa a agir como agente infiltrado em grupos de esquerda na ditadura brasileira. Nisso, chega a torturar. Chega a autorizar assassinatos. Friso, tudo sem culpas.
O farol é então a luz que o guia pelo inferno obsessivo em que vive. Enfim, um vilão ficcional em primeira pessoa, sem perdão e duro de engolir.
Assusta muito essas semelhanças entre a realidade e a ficção....
Mas voltando para a realidade e parafraseando o General Quiroga de seu compatriota Borges, Christian Von Wernich entrará na sombra da história levando suas vítimas, afiançado e metido numa prisão perpétua, até morrer de má morte. Já morto se apresentará ao inferno que Deus lhe havia marcado. E cá pra nós, seu inferno - o que eu e um monte de gente imagina para esse aí - será talvez um lugar que lhe cabia bem!

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