Voltei ao Dostoievski. Comprei a obra completa, há dois anos, que foi trazida do Brasil pelo meu chapa-xara, o erudito laico Chico Octavio. Deixei-a decantar na estante até outubro passado – por absoluta falta de tempo. Desde então já passaram pelo crivo O Jogador e Crime e Castigo. Mas não estou aqui para falar nem da obsessão de Raskolnikov ao matar não a usuraria mas todo um sistema, nem tampouco da frustração do jogador absorvido pelo o amor não correspondido e a sedução do ganho fácil no bacará e na roleta, e sim do Eterno Marido.
Muitos a consideram um obra menor. André Guide considera a obra curta mais bem acabada de Dostoievski. Acho que tendo a concordar que essa é uma obra-prima pela maestria como constroi a densidade psicológica dos personagens, que nos faz mudar de opinião o tempo todo. Essa cotina de fumaça criada pelo autor é um dos pontos altos do livro, pois num determinado momento pensamos que o eterno marido, Páviel Pávlovitch Trussótzki, é um pobre coitado, condenado a viver só pelo amor devotado a mulher morta, Natália Nassílievna. Noutro momento, pensamos que Aleksiéi Ivânovitch Vieltchâninov, ex-amante da mulher de Páviel Pávlovitch, é um crápula sem sentimentos.
Com o andar da carruagem vamos tendo a sensação de que as coisa não são bem assim... nem Páviel é um corno otário e manso como um bovino, nem Vieltchâninov é o crápula que pensávamos, nem Natália Nassílievna é a Madame Bovary, em versão russo-rodriguana.
A estória começa com o reencontro do dois, numa situação completamente inusitada pois Páviel ronda a casa de Vieltchâninov por vários dias, a procura de respostas, para se certificar de que ele era mesmo o amigo da família com quem convivera há dez anos passados. De posse de umas cartas de amor da viúva, acaba encontrando o paradeiro do suposto amante - que diga-se de passgem naotem a certeza de ser Vieltchâninov.
Entre as incertezas e os delirios de Páviel Pávlovitch Trussótzki, a trama acaba mais complexa pois Natália tivera uma filha, Lisa, logo depois de terminado o caso com Vieltchâninov. A questão de quem seria o pai verdadeiro de Lisa ronda a estória como um fantasma que não aparece mas que todos suspeitam estar naquela casa do passado. De quem seria a filha? De Trussótzki, a quem a menina sempre tratara como pai? De Vieltchâninov, que dera uma rápida e saíra fora? Ou de um terceiro personagem, um jovem militar -se nao me engano - , com quem Natália tivera um relacionamento depois que Vieltchâninov deixara aquela província?
Um toque de humor é dado pelo lado bufo alcoólatra e destemperado de Páviel Pávlovitch Trussótzki, um pouco caricaturado demais pelo autor. Acho que isso se deve a opção de Dostoievski em vê-lo e descrevê-lo sempre pelos olhos do amante como um homem incapaz de ter uma vida paralela, uma aventura, um romance, ja que Natália exercia sobre ele certa ascencência. Enfim, um homem incapaz de ter vida fora do casamento:
”Um homem assim nasce e desenvolve-se unicamente para se casar e para, depois do casamento, se tornar imediatamente num apêndice da sua mulher, mesmo no caso de ter um carácter individual incontestável. A principal característica deste marido é um enfeite bem conhecido. Não pode deixar de ser cornudo, do mesmo modo que o sol não pode deixar de ser brilhante, mas não só nunca sabe disso, como também, de acordo com as leis da própria natureza, é incapaz de sabê-lo.”
Chega a ser ironica a curiosidade de meu concunhado ao me ver com o livro nas maos na semana de seu casamento.... Ah... a familia...
Muitos a consideram um obra menor. André Guide considera a obra curta mais bem acabada de Dostoievski. Acho que tendo a concordar que essa é uma obra-prima pela maestria como constroi a densidade psicológica dos personagens, que nos faz mudar de opinião o tempo todo. Essa cotina de fumaça criada pelo autor é um dos pontos altos do livro, pois num determinado momento pensamos que o eterno marido, Páviel Pávlovitch Trussótzki, é um pobre coitado, condenado a viver só pelo amor devotado a mulher morta, Natália Nassílievna. Noutro momento, pensamos que Aleksiéi Ivânovitch Vieltchâninov, ex-amante da mulher de Páviel Pávlovitch, é um crápula sem sentimentos.
Com o andar da carruagem vamos tendo a sensação de que as coisa não são bem assim... nem Páviel é um corno otário e manso como um bovino, nem Vieltchâninov é o crápula que pensávamos, nem Natália Nassílievna é a Madame Bovary, em versão russo-rodriguana.
A estória começa com o reencontro do dois, numa situação completamente inusitada pois Páviel ronda a casa de Vieltchâninov por vários dias, a procura de respostas, para se certificar de que ele era mesmo o amigo da família com quem convivera há dez anos passados. De posse de umas cartas de amor da viúva, acaba encontrando o paradeiro do suposto amante - que diga-se de passgem naotem a certeza de ser Vieltchâninov.
Entre as incertezas e os delirios de Páviel Pávlovitch Trussótzki, a trama acaba mais complexa pois Natália tivera uma filha, Lisa, logo depois de terminado o caso com Vieltchâninov. A questão de quem seria o pai verdadeiro de Lisa ronda a estória como um fantasma que não aparece mas que todos suspeitam estar naquela casa do passado. De quem seria a filha? De Trussótzki, a quem a menina sempre tratara como pai? De Vieltchâninov, que dera uma rápida e saíra fora? Ou de um terceiro personagem, um jovem militar -se nao me engano - , com quem Natália tivera um relacionamento depois que Vieltchâninov deixara aquela província?
Um toque de humor é dado pelo lado bufo alcoólatra e destemperado de Páviel Pávlovitch Trussótzki, um pouco caricaturado demais pelo autor. Acho que isso se deve a opção de Dostoievski em vê-lo e descrevê-lo sempre pelos olhos do amante como um homem incapaz de ter uma vida paralela, uma aventura, um romance, ja que Natália exercia sobre ele certa ascencência. Enfim, um homem incapaz de ter vida fora do casamento:
”Um homem assim nasce e desenvolve-se unicamente para se casar e para, depois do casamento, se tornar imediatamente num apêndice da sua mulher, mesmo no caso de ter um carácter individual incontestável. A principal característica deste marido é um enfeite bem conhecido. Não pode deixar de ser cornudo, do mesmo modo que o sol não pode deixar de ser brilhante, mas não só nunca sabe disso, como também, de acordo com as leis da própria natureza, é incapaz de sabê-lo.”
Chega a ser ironica a curiosidade de meu concunhado ao me ver com o livro nas maos na semana de seu casamento.... Ah... a familia...
Imagem: Fritz Eichenberg (1901-1990)
Musica do dia: Concerto para Piano No. 3 de Rachmaninoff
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