Intimate Lighting

Livro do dia: Bronfman. Alejandra. Measures of Equality: Social Science, Citizenship and Race in Cuba, 1902-1940.

Livro desses que se lê de cabo a rabo sem parar. O título, como todo o atual livro acadêmico americano tem raça no título. Esta é uma obsessão mercadológica de orientadores, que querem ver seus pupilos publicados; editores, que não querem mudar um esquema que venda; e de jovens historiadores que querem a todo custo ver suas teses publicadas. Sob a cifra publica-se muita, mas muita palha – qualquer dia me dispo dos escrúpulos e começo a dar nome aos burros. Mas esse não é o caso do livro de Bronfman que por sinal é muito bem construído e articulado.
O livro fala em linhas gerais do período pos-independente cubano, quando nacionalistas tentaram criar uma unidade política transcendendo à questão da raça e priorizando a formação de Cuba como um país multicultural. Já na introdução ela dá uma mostra de que lado está no polêmico debate sobre raça e certamente não é engrossando as fileiras de Aline Helg, que via o mito da ‘democracia racial’ como uma forma de ‘powerful weapon in the hand of the white elites, who were able to silence or violently repress demands for political and social equality’ – basicamente, o mesmo blábláblá que rendeu anos e anos de discussão e ataques a figura de Gilberto Freyre e ao seu suposto engajamento na idéia de que no Brasil se vivia de fato uma Democracia Racial. Bronfman rompe corajosamente com esse tipo de perspectiva afirmando que o ‘mito’ em Cuba, ao contrário, limitou o escopo das práticas racistas exclusivistas. Boa parte de seu argumento baseia-se nas idéias de Alejandro de La Fuente, um jovem historiador que definitivamente rompeu com a idéia de que Cubans of African descents eram tidos como pobres coitados por estarem sujeitos a democracia dos brancos, e por isso não tinham poder de barganha ou espaço de manobra, e por isso não lhes era permitida a participação política, e por isso eram oprimidos, e por isso não eram felizes e por ai vai...
Bronfman traça, como ela mesmo diz, uma genealogia das teorias eugênicas e das idéias de alguns teóricos criminalistas para provar que as hipóteses de Fernando Ortiz ou até mesmo um Israel Castellanos sobre criminalidade não era apenas uma forma de incriminar o indivíduo que comete um ato ilícito, mas o conjunto de indivíduos que apresentando determinadas características físicas e psicológicas estariam aptos a cometer atos criminais. E La Nave Va. Nesta balsa, as elites brancas poderiam colocar muita gente que não fosse suficientemente virtuosa para pleitear a cidadania. Entretanto, Bronfman inverte esse jogo e foge da resposta fácil, dizendo que apesar da normatização e da tipificação do crime, da limitação da participação popular negra, ainda assim havia espaços de negociação abertos. Ainda assim a cidadania ofereceu vantagens concretas ao invés de promessas vazias.
Vale notar que a perspectiva de Bronfman eleva a discussão historiografica sobre a America Latina pois refuta a idéia de que este espaço abaixo da linha do equador é o lugar da desordem, da falta de instituições fortes e consequentemente da falta de democracia.

O Intimate Lighting do título é um filme tcheco comprado hoje no Potomac video, que anda vendendo o estoque da filial de Cleveland Park por 3 dólares cada VHS. Na era do DVD e das imagens de arquivos digitais, já comprei alguns Truffauts, Fellinis, Rosselinis e Bergmans, que ficam espalhados em caixas de papelão no chão da loja.

Todos longe e eu aqui. Gabriel foi pra mais uma de suas viagens, Carrie só retona do sábado e Fred a essa hora está num avião rumando para Caberra ou Sidney.

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