Todas as manhãs do mundo

 



Todas as manhãs do mundo é um filme francês de 1991 dirigido por Alain Corneau, um diretor francês um uma extensa produção fílmica, mas pouco conhecido fora da França. O filme é baseado na novela homônima do escritor francês Pascal Quignard, e tem como protagonista, não Gérard Depardieu, como muitos pensam, mas a música. Apesar de um roteiro linear, abortando um tema um tanto austero como a música erudita barroca, o filme é fluido. Ambientado durante o reinado de Luís XIV, o filme mostra a trajetória do músico Marin Marais, relembrando em flash banks sua juventude quando ele foi brevemente aluno de Monsieur de banks, um dos maiores músicos especialistas na viola de gamba. Colombe, interpretado pelo ator Jean Pierre Marielle, é um homem ´austero e mudo como um peixe´, nas palavras de Marais. O filme começa com a cena de um Marais já envelhecido, relembrando os anos juventude quando ele foi renegado por Sainte Colombe, um homem viúvo, jansenista por princípio religioso e com duas filhas para criar. Durante as divagações de sua memória, ele interrompe um de seus sectos e diz que ´todas as notas de uma música devem terminar morrendo´.
Após a morte de sua esposa, banks se isola numa cabana, nos fundos de sua propriedade, e dedica-se inteiramente à sua música, criando suas duas filhas por conta própria, ensinando-as a serem musicistas e tocando com elas para um público nobre local. Colombe não vê mérito musical no jovem Marais e o manda embora, recusando-se a ensiná-lo. Madeleine, a filha mais velha, fica triste por se apaixonar por Marais. Ela ensina a ele o que seu pai lhe ensinou e permite que ele ouça em segredo o pai tocando. Durante esse período, Marais é contratado para ser músico da corte e paralelamente inicia um romance com Madeleine, que não é correspondida em sua paixão.
Marais e Madeleine começam um relacionamento. Marais deixa Madeleine gravida, que dá à luz um filho morto. Marais se casa com outra mulher, a irmã mais nova de Madeleine se casa e tem cinco filhos, deixando sua vida prosseguir. Mais tarde, Madeleine fica gravemente doente. banks chama Marais para sua casa, onde Madeleine moribunda pede para ouvir de seu antigo amante uma peça que ele escreveu para ela: "La rêveuse" ou "A sonhadora". Depois que Marais sai, Madeleine se enforca com os cadarços de um par de sapatos, que havia sido um presente rejeitado, dado por Marais, anos antes.
A reputação de Colombe chega à corte e o rei envia Caignet, um dos principais músicos da Corte para solicitar que ele toque na corte. Sainte-Colombe dispensa bruscamente o enviado. A cena é teatral. Colombe, que é um homem igualmente rude e erudito, empurra o afetado Caignet para fora de sua propriedade e diz que não precisa da corte, já que é um homem que vive no meio das orquídeas que se enraízam na madeira dos troncos cinzentos e que vive apenas para o som das sete cordas de sua viola e para suas duas filhas. Seus amigos são suas memórias, e sua corte é composta por salgueiros, córregos com peixes miúdos, e botões de rosas. E arremata que a Corte, não precisa de um homem rude como ele.
Sainte-Colombe se isola cada vez mais em uma cabana em seu jardim, a fim de aperfeiçoar a arte de tocar viola, passa a ter visões com sua esposa falecida.
Anos mais tarde, o velho Marais volta para reencontrar seu mestre na cabana. Encontra um Sainte-Colombe solitário, que reconhece finalmente a musicalidade de Marais. Alias este último diálogo entre Sainte-Colombe e Marais é de uma beleza poética e visual inigualável. Os dois se reencontram na cabana, bebem e começam a discutir o que seria a essência da música. Colombe diz que a música existe para dizer coisas que as palavras não são capazes de dizer, por isso mesmo é algo que não é inteiramente humano e dificilmente alcançável, como a Graça que está para os jansenistas, assim como a luz está para o espírito. Ele reitera que, portanto, a música não é para os reis, para entreter o Poder. Marais diz que a música é Deus, e Colombe discorda dizendo que `Deus é capaz de falar pelas palavras`, portanto nem isso é a música, e Marais vencido em suas tentativas de definição cede e os dois começam a tocar. Marais toca a viola de gamba de sua falecida amante, Madaleine, filha de Colombe.
Enfim, o título do filme é explicado no final do filme; «Todas as matas do mundo sem retorno» ("todas as manhãs do mundo nunca voltam") ditas por Marais, quando ele descobre a morte de Madeleine. E a música é de uma beleza indescritível em palavras.

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