Título: Luiz Pacheco
Dimensões: 9x9cm
Dimensões: 9x9cm
Técnica: Xilogravura
Data: Maio de 2022
A partir de 1945 começa a fazer alguns amigo e inimigos quando começa a publicar diversos artigos em vários jornais e revistas, como O Globo, Bloco, Afinidades, O Volante, Diário Ilustrado, Diário Popular e Seara Nova. Em 1950, funda a editora Contraponto, onde publica escritores como José Cardoso Pires, Maria Lisboa, Raul Leal dentre muitos outros de quem, inclusive, conseguiu ser amigo.
Foi sempre muito próximo dos
surrealistas portugueses e verdadeiramente o seu primeiro e apaixonado
editor. A relação começa por volta de 1953 quando publica o Manifesto
Surrealista “Afixação Proibida”. O crítico João Gaspar Simões chamou-o de
"sacristão do surrealismo", se tornando amigo íntimo de António Maria
Lisboa e de Mario Cesariny, que mais tarde cortaria relações com Pacheco por
desavenças intelectuais, mas que de fato se deviam à questões paralelas. Quando
em 1959 Cesariny troca a Contraponto pela Guimarães Editores, o caldo entorna.
Pacheco sente-se traído e aproveita a ocasião de uma exposição de pinturas de
Cesariny para escrever um artigo “Cesariny ou do Picto-Abjeccionismo” onde
expões 3 razões para se detestar as pinturas de Cesariny, dentre elas,
acusações de que se vendera ao Mercado, e de que a obra não passaria de um bluff
surrealista, o que a geração atual talvez chamasse de fake. A briga se
prolonga por alguns anos e Cesariny. O espólio dessa guerra é recolhido por um
Pacheco com faro de editor, para publicar em 1974 o volume Pacheco vs
Cesariny. Cesariny por sua vez funda o jornal O Gato, onde revela
implicações sobre a suposta homossexualidade de Pacheco. Fato que Pacheco
jamais perdoaria em Cesariny, e sempre que tinha a oportunidade de soltar algum
veneno contra o antigo desafeto o fez, mesmo depois da morte de Cesariny.
Abrasivo, Pacheco
era um homem sem filtros no melhor estilo das personalidades encrenqueiras e
bipolares. Um
crítico furioso, mas com uma lucidez provocadoramente genial. De sua boca
saíram pérolas de insultos que muitos já até chegaram a pensar, mas
pouquíssimos teriam a coragem sequer de dizer a primeira sílaba de seus pejorativos.
Para ele, o escritor Fernando Namora era menor que um cão, Saramago deveria ter
parado de escrever em “Memorial do Convento”, Inês Pedrosa era uma estúpida,
Natália Correia uma devassa, e Cesariny, por alguns anos um dos seus melhores
amigos literários, era um poeta de urinóis. Mais direto, corrosivo e
politicamente incorreto, impossível.
Com Herberto Helder chegou quase às
vias de fato. Dizem que na ocasião da publicação de O Corpo,
o Luxo, a Obra, Helder havia decidido com Victor Silva Tavares de fazerem
uma edição quase artesanal, de apenas 250 cópias. Mas, um amigo encontra uma
versão pirata da obra numa das livrarias de Lisboa, assinada pelo nosso bom e
velho safado, Luiz Pacheco, ex-editor da Contraponto, que agora decidira por
conta própria publicar o mesmo livro, engabelando o velho amigo. Aquilo deixou
Herberto furioso, e com razão.
Quando se encontraram num café, o
tempo fecha, e o velho Pacheco, depois de provavelmente ter a mãe xingada
várias vezes e seu esfíncter vilipendiado com as mais deselegantes metáforas,
joga um copo de cerveja na cara de Herberto. Este, revida quebrando uma
garrafa em sua cabeça. Todos pensavam que aquilo não ia terminar bem. E realmente
não se sabe como terminou. Não se sabe se o tacanho Luiz Pachedo pagou aquela
rodada de cerveja, ou não, saldando a dívida de copyright, mas o fato é que
pouco tempo depois já estavam os dois de boas, dizem uns, e outros dizem até que
rindo de toda aquela situação.
Pacheco era alto, magro, careca,
usava óculos de lentes grossas decorrente de fortíssima miopia. Beberrão, porém
hipersensível ao álcool desconcertava-se facilmente. Além do mais, era um
inveterado hipocondríaco, o que lhe dava um ar compassivo pela sua asma crônica
e caricato por vestir roupas usadas e andrajosas, ao mesmo tempo.
A sua obra literária, constituída por pequenas narrativas e relatos (nunca se dedicou ao romance ou ao conto) tem um forte pendor autobiográfico e libertino, inserindo-se naquilo a que ele próprio chamou de corrente "neo-abjeccionista". Em O Libertino Passeia por Braga, a Idolátrica, o Seu Esplendor (escrito em 1961), texto emblemático dessa corrente e que muito escândalo causou na época da sua publicação (1970), narra um dia passado numa Braga fantasmática e lúbrica, e a sua libertinagem mais imaginária do que carnal, que termina de modo frustrantemente num onanismo solitário.
Excêntrico, em 1989, Luiz Pacheco tornou-se militante do PCP, segundo o próprio afirmou em entrevista, "para ter um enterro igual ao de Ary dos Santos". Morreria 19 anos depois, sem a mesma pompa de Ary. Passou os últimos anos fisicamente debilitado, quase cego em decorrência de uma catarata, na casa de um filho, e posteriormente passaria por quatro lares de idosos na cidade de Montijo. Morreu a 5 de Janeiro de 2008, a caminho do hospital de Montijo.
A sua obra literária, constituída por pequenas narrativas e relatos (nunca se dedicou ao romance ou ao conto) tem um forte pendor autobiográfico e libertino, inserindo-se naquilo a que ele próprio chamou de corrente "neo-abjeccionista". Em O Libertino Passeia por Braga, a Idolátrica, o Seu Esplendor (escrito em 1961), texto emblemático dessa corrente e que muito escândalo causou na época da sua publicação (1970), narra um dia passado numa Braga fantasmática e lúbrica, e a sua libertinagem mais imaginária do que carnal, que termina de modo frustrantemente num onanismo solitário.
Excêntrico, em 1989, Luiz Pacheco tornou-se militante do PCP, segundo o próprio afirmou em entrevista, "para ter um enterro igual ao de Ary dos Santos". Morreria 19 anos depois, sem a mesma pompa de Ary. Passou os últimos anos fisicamente debilitado, quase cego em decorrência de uma catarata, na casa de um filho, e posteriormente passaria por quatro lares de idosos na cidade de Montijo. Morreu a 5 de Janeiro de 2008, a caminho do hospital de Montijo.