O destino de Berger foi inacreditável. Torturado com choques e porradas sem fim, foi deixado por um ano numa cela sem sol, sem corte de cabelo, sem banho, com pouca comida.... O tratamento desumano que Berger recebeu levou ao advogado Sobral Pinto a solicitar ao juiz responsável pelo caso a comparação de Berger a um cavalo. Levou o responsável pelo caso a concordar que: se o Estado reconhece até os direitos dos animais, por que não haveria de aplicar o mesmo tratamento a um ser humano?
Este é um dos pontos mais interessantes do documentário “Sobral – O Homem que Não Tinha Preço”. Heráclito Sobral Pinto foi um homem vazado num molde que se perdeu ao longo da história do Brasil. Torcedor do América, católico fervoroso e conservador, defendeu presos políticos do Estado Novo e da ditadura militar, incluindo o líder comunista Luis Carlos Prestes e foi responsável até mesmo pelo resgate de sua filha Anita Leocádia. Anos mais tarde atuou na defesa de Juscelino Kubitschek, mesmo, conservador que era, sendo politicamente alinhado à UDN. Nos anos 80, já em idade avançada, ainda teve fôlego para subir ao palanque das Diretas Já.
O documentário de Paula Fiuza tem partes engraçadas e tocantes: sua incapacidade para ganhar dinheiro, ou melhor saber ganhar dinheiro mas não saber como cobrá-lo de seus clientes, mesmo estando tão próximo ao poder, e sua culpa, que se arrastou até o fim de sua vida, por ter tido uma... “amiga”... nos anos de juventude. Sâo elementos humanos que tornam Heráclito um mito brasileiro.
Assistir este documentário dias antes de uma eleição presidencial como esta que passou, pode não ser aconselhável. Pode causar danos irreversíveis à tentativa desesperadora de dar sentido à nossa obtusa alma nacional.
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