À epoca, achei um certo exagero de Wilder. Mas depois de assitir Jackie Brown e principalmente Bill Kill um e dois, chego a conclusão que Wilder tinha razão. Tarantino é um pastiche dele mesmo, um reciclador de lixo, prova disso é que seu filme anterior, Death Proof nem chegou a ser lançado. No fundo o que ele faz é usar filmes B dos anos 70, colocar uma trilha sonora eletrizante, dar novos ângulos, encher tudo com violência explícita e gratuita, juntando humor negro, para brincar com os fatos e estereótipos, transformando tudo num novo filme B com um suposto ar cool. Essa antropofagia é ótima para fazer teses.
O título inglês original está grafado errado de propósito para enfatizar que os Basterds são energúmenos e psicopatas violentos. Tudo no filme é assim, surpreendente e ao mesmo tempo rigorosamente calculado para conseguir um efeito esdrúxulo: A visão vingativa - que funciona nos quadrinhos e nos filmes B mas não na História. No fundo aposta na idéia excepcional e infantilmente forçada de que nada foi daquele jeito, mas que bem poderia ter sido.... No fundo, falta-lhe um certo pudor com seu prórpio passado, com aquele cineasta genial que poderia ter sido levado a sério uma década atrás.
Se há algum mérito nesse filme, não sei bem. Há sem dúvida, diálogos bons, como o da sequência inicial quando um fazendeiro francês, na França de Vichy recebe a visita de um oficial da SS que vem interrogá-lo aparentemente de forma amigável. Além disso as sequências dos filmes quando Hitler, Goebbels e o alto comando morre no cinema, são reais. Dá pra notar que pelo menos um dos filmes é da Leni Reifensthal.
Pensar que nessas duas horas e meia (!) eu podia não ter feito nada, ou ter dado 5 Ctrl+Alt+Del, ou 25 ls –ls e pwds, ou ter lido de 20 páginas, ou ter dado 40 Enters, ou trocado 1 fralda fedida e asquerosa, ou traduzido e revisado um texto, ou ter assinado meu nome num papel que será arquivado e esquecido, ou simplesmente não ter feito nada, pois melhor a metafísica em não pensar em nada a um desses filmes do Tarantino.
Música do dia: Hoje não tem música....
Há qualquer coisa a que eu chamo o rancor da grandeza: tudo o que é grande, uma obra, um feito, volta-se imediatamente, uma vez realizado, contra quem o fez. Este, precisamente porque o fez, encontra-se fraco — já não suporta o seu acto, já não o olha de frente. Ter atrás de si algo que nunca se deveria ter querido, algo em que está atado o nó que há no destino da humanidade — e tê-lo, doravante, sobre si!... É quase esmagador... O rancor do que é grande! Outra coisa é o silêncio horripilante que se ouve à nossa volta . A solidão tem sete peles; nada mais as atravessa. Encontramos pessoas, saudamos os amigos: novo ermo, já nenhum olhar nos saúda. No melhor dos casos, uma espécie de revolta. Uma tal revolta senti-a eu, em graus muito diversos, mas por parte de quase toda a gente que me era próxima; parece que nada ofende mais do que fazer, subitamente, notar uma diferença — as naturezas nobres, que não sabem viver sem venerar, são raras.
in Ecce Homo, Friedrich Nietzsche
Imagem. Cannibalism in Autumn. Dali.
Imagem. Cannibalism in Autumn. Dali.
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