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A Doce Vida em Paris



A edição anterior da The New York Review of Books traz um artigo ótimo sobre o o ambiente cultural durante o regime de Vichy na França. Ian Buruma escreve um artigo sobre estes anos de ocupação alemã, afirmando que ao menos para uma fatia da classe média culta e privilegiada a opressão nazista era algo tão distante, que poderia-se quase dizer que nem sequer fosse sentida. Os cafés de Paris continuavam cheios, as pessoas continuavam impecavelmente bem vestidas, muitos artistas mantinham uma vida cotidiana normal, e até os bordéis de luxo continuavam operando de maneira satisfatória para a nova clientela alemã que circulava pela cidade em seus uniformes engomados.



A análise de Buruma não representa  nenhuma novidade conceitual, Robert Darton e o próprio Simon Schama já dividiam estes pontos de vista há pelos menos duas décadas. Mas é sempre interessante perceber como o autor, pautado em biografia sólida, vai desconstruindo um mito muito caro aos franceses de que todo o pariense fez parte da resistência. O argumento para sustentar seu ponto de vista é muito sólido e parte de uma premissa bastante irrefutável: a alienação da normalidade.

Por exemplo, nos diários da estudante de literatura da Sorbonne Hélène Berr e de suas cartas trocadas com seu amigo Philippe Julian, havia uma intensa troca de idéias sobre Dostoievski, Balzac, Proust, Valéry, mas não havia quase nenhuma referência à ocupação alemã a não ser quando se falava da comida escassa – fato que, com boas conexões e dinheiro, tudo podia ser resolvido.



Partindo do universo privado para o público, Buruma segue chutando as canelas dos mitos da resitência. Herbert von Karajan era o maestro principal da German State Opera em Paris, as peças de Cocteau foram encenadas durante todo o período, mesmo ele sendo homosexual, bem como as de Sartre – que contavam sempre com a presença da oficialidade alemã. O autor chega a dizer que Camus recebia patricínio de Gerhard Heller, chefe da propaganda alemã mesmo quando todos sabiam que Camus e Sartre escreviam e reviam artigos da resistência. Ou seja, viver em Paris era até bom!

Cocteau, por exemplo, se dizia ‘apolítico’ e beliscava verbas públicas para a motagem de suas peças – mesmo tendo se oposto a prisão de seu amigo Max Jacob, que acabaria morrendo na prisão. Com a mesa postura, o fotógrafo André Zucca clicava e vendia suas fotos livremente para as revistas da moda. Até o bordel de madame Billy, L’Etoile de Kleber, frequentado por Piaf e por razões etnográficas pelo próprio Cocteau, funcionava sem grandes problemas.



Voltando ao ambiente privado, os diário de Hélène Berr, revelam pouco a pouco as sutilezas da técnica imortalizada por Borges, de omitir a palavra e recorrer à suas metáforas e perífrases. Berr era judia. Sua família foi presa e deportada em março de 1944. Paris seria liberada em agosto. Mas Hélène já se encontrava em Auschwitz, sem saber ao certo do destino dos pais, que já estavam mortos. Meses depois, contrai tifo e morre.

Meses antes, ela transcrevera em seu diário um poema comovente de Keats sobre seu medo de sentir suas mãos frias:

This living hand, now warm and capable
Of earnest grasping, would, if it were cold,
And in the icy silence of the tomb,
So haunt thy days and chill thy dreaming nights
That thou would wish thine own heart dry of blood....






Naquele momento, ainda tinha esperança de encontrar seu namorado, o estudante de filosofia, Jean Morawiecki, que partira para a Africa a fim de unir-se à resistência.



Nos diários de seu amigo Philippe Julian, encontra-se as emoções extremas que o impacto da notíca de sua morte causou. Buruma, o autor, refuta o argumento da alienação de Hélène Berr. Para ele, ela tinha a plena consciência da precariedade de sua liberdade, mas por ingenuidade ou licença poética, preferia se manter positiva em relação à vida.



Este é um daqueles artigos bem escritos, que incomodam a memória quando se pensa que na anormalidade tudo é normal, e pior ainda, que na normalidade tudo está na mais perfeita ordem...



Enquanto isso, no Oriente Médio...



A edição da Wired deste mês traz uma reportagem fantática e chocante sobre as fotos dos arquivos do The National Museum of Health and Medicine, em Washington DC, relacionadas à II Guerra Mundial. Nesta ai de cima, o cidadão que degusta seu Captain Black pulveriza uma casa na Itália com DDT e querosene em fevereiro de 1945 - esta foi a imagem mais levinha que consegui, já que há outras muito melhores, ou piores, dependendo do ponto de vista.
http://www.wired.com/science/discoveries/multimedia/2009/03/gallery_WWII_photos

Música do dia. Inferno. Nação Zumbi. Disco: Fome de Tudo.

O homem de palavras

O discurso político eficiente, requer retórica própria. E a persuasão é uma regra básica da retórica. Aristóteles sabia disso e nos ensinou uma palavra mágica, Ethos, para definir a parte da retórica que estabelece a bona fides do orador, seja ele político ou não. Assim sendo, o camarada pode escolher caminhos diametrais para ser persuasivo, usando o Logos, o Pathos, ou ambos. Ou seja, um exemplo literário claro, já que no estamos falando de outra coisa, poderia ser expresso de três formas: Ethos ( compre meu livro por que me chamo XYZ); Logos ( compre meu livro, leia-o, pois nele há uma estória que pode te dizer algo); Pathos (compre meu livro, mesmo que não o leias, caso contrário torço o pescoço do teu bigglesworth). Evidentemente que estes caminhos são diametrais porém não excludentes.

Pode ser ilusão, mas em termos de discursos, as semelhanças entre Obama e Kennedy foram comentadas durante as eleições americanas. O poder da retórica dos dois foi alvo de comparações e, justamente, por esta capacidade de argumentar não necessariamente se tornaram presidentes, mas sem dúvida políticos notórios. Tenho 4 sisos há quase 20 anos, e não sou ingenuo em afirmar presidentes se sustentam simplesmente pela força da retórica até por que as biografias pesam e pesam muito. Há diferenças. Kennedy era filho de um especulador imobiliário em NYC, de um prevaricador que por tráfico de influências fechava negócios milionários e lavava a grana em ramos da metalurgia, importação de àlcool durante a Prohibition, e filmes para Hollywood. Quando Jack assumiu o poder, estima-se que a fortuna do pai beirava os 400 milhões de dólares. Obama é filho de universitários, um queniano e uma americana. Isso explicaria muito de sua trajetória se ele continuasse sendo apenas um advogado de direitos civis, ou apenas um brilhante e dedicado presidente de Harvard. Mas não, o camarada tornou-se aos 34 anos escritor sensível com Dreams of My Father, presidente e mito aos quarenta e poucos anos.

No nível retórico, estou sinceramente curioso para ouvir as palavras de Obama em seu discurso de posse já que os discursos de posse imprimem as marcas pessoais dos presidentes. Como se fossem os selos que suas administrações mostrarão. Portanto, são diferentes dos discuros de camapanha. Até por que o discurso de campanha é um, o discurso inaugural é outro, e os discursos no poder são outros – estes sim diametralmente diferentes dos dois anteriores. Analisar os discursos de posse dos presidentes pode ser diletantismo mas é um exercício interessante. Kennedy disse em 1961:


“[...] não perguntem o que o seu país pode fazer por vocês, perguntem o que vocês podem fazer por seu país. Cidadãos do mundo, não perguntem o que os Estados Unidos podem fazer por vocês, e sim o que podemos fazer juntos pela liberdade"


Estes eram tempos de Eisenhower, da Guerra Fria, da neurose anti-comunista. Os americanos ainda não tinham ido para o Vietnã e a política da Détente nem era sonho.

Eu ainda podia citar mais dois exemplos de discursos clássicos recentes. Um deles o de Reagan em 1981: "Na atual crise, o Estado não é a solução para nosso problema; o Estado é o problema". Estes eram tempos da Dama de Ferro, monetarismo, fim dos programas socias, da Guerra nas Estrelas, da onda New Wave e de muitas outras coisas esquisitas.

Ainda nessa linha poderiamos citar o discurso de posse deste que sai – o qual me recuso pronunciar o nome. Em sua segunda posse, em 2005 disse:


"A política dos Estados Unidos é apoiar a expansão dos movimentos e instituições democráticas em todos os países e culturas, com o objetivo último de pôr fim à tirania em nosso mundo[...]"


“[...] pois enquanto regiões inteiras do planeta fervilharem em ressentimento e tirania inclinadas a ideologias que alimentam o ódio e perdoam o assassinato, a violência gerará e multiplicará seu poder destrutivo, cruzará as mais defendidas fronteiras e representará sempre uma ameaça mortal. Existe apenas uma força na história capaz de pôr fim ao reino do ódio e do ressentimento, de expor as pretensões dos tiranos e recompensar as esperanças das pessoas decentes e tolerantes, e é a força da liberdade humana[…]”.



Estes foram tempos de torturas de Abu Ghraib televisionadas, relatórios falsos na Assembléia Geral da ONU televisionados, enforcamento de tiranos televisionados, e uma grande apatia por parte dos telespectadores. Um Logos sem Ethos. Um Pathos com o Logos de manipular as emoções da audiência.

Em poucas horas Obama fará seu discurso de posse. Vai dar tudo certo. Eu também hope .

Golias – (Davi) = ?

Desde o dia 17 de dezembro, por razões ligadas ao rompimento da trégua entre Hamas e Israel, ou entre Israel e Hamas - já que nesse caso a ordem pode implicar em favorecimento de um em detrimento ao outro - , iniciaram-se os bombardeios israelelnses a ‘alvos oficiais’ palestinos na Faixa de Gaza.

No total, a Faixa de Gaza tem registradas, como refugiadas, 750 mil almas. Estas almas, respectivas a cada corpo, já não recebiam a comida fornecida pelos caminhões de ajuda humanitária das Nações Unidas, retidos pelas autoridades israelenses, desde fins de Novembro. Mas isso são apenas palavras sobre fatos e estatísticas que virão a ser História, e que por ventura esta mesma História, dependendo de quem a escreva, redimirá os algozes de suas responsabilidades históricas, culpando as vítimas por sua falta de sorte. Nesse caso, importante são as imagens...



Os cadáveres de cinco irmãs palestinas de 4 a 17 anos mortas no bombardeio noturno israelense a uma mesquita do campo de refugiados de Yabalia. Publicada no El País - 27-12-2008

Feliz 2009.

Declaração da inutilidade de meu voto


Falta 3 dias e algumas horas para uma das eleições mais importantes da historia dos Estados Unidos desde, talvez, a de Roosevelt ou quem sabe Lincoln. Não criei este espaço para falar de política. Que Bertold Brecht me perdoe, mas não gosto de politica e nem por isso me considero um analfabeto político. Acredito piamente na máxima do historiador Marc Bloc sobre a qual os eventos políticos estão na epiderme, e portanto, por isso, tornam-se irrelevantes para a história. Mas não posso deixar de comentar este fato importante: Faltam 3 dias para todos se livrarem da ignorância crapulosa, da desgraça invencível, da desmoralização, da penúria absoluta que se abateu sobre as cabeças de todos nós – e aqui incluo você - desde 2001.

A falta de 3 dias para um fato - que fique claro - não é um fato, pois não se pode fazer do apenas iminente um algo concreto. Mas a ansiedade é tamanha, que me deixei contagiar pela ilusão de que a falta de três dias já é sobranceiramente um evento que sintetiza a esperança no futuro e ao mesmo tempo o medo de que a ilusão perdida numa era perdida aprofunde o fosso do obscurantismo oportunista dessa era, que em três dias terminará.

No fundo, pouco importam os três dias, pois qualquer apedeuta que como eu que tenha lido Robert Dahl ou Lijphart sabe que o voto é irracional e que há sempre algo estranho na estabilidade política de regimes bi-partidarios, como este. Eu, particularmente, não acredito no voto por dois motivos muito mais prosaicos e admito um tanto retóricos: primeiro, pelo total desconhecimento como se constrói a imagem de um candidato a presidente; segundo, pelo fato de que a fé na vitória, assenta-se na defesa emocional de ideologias e valores morais apelativos.

Fato é que há 3 dias das eleições, a minha esperança ainda está no ar. É etérea. Democratas e Republicanos não cantam vitória ainda, por um motivo claro. Sabem que as eleições americanas não são simples. A certeza do futuro não existe. Democratas sabem que levam no voto popular California, NY e outros estados ricos e importantes, mas não sabem se levam os voto colegiado dos delegados de estados da caipirolândia. Ainda paira sobre a cabeça dos Democratas a sina dos 5 votos que faltaram para Gore se eleger no Colégio Eleitoral, mesmo que tivesse conquistado meio milhão a mais no voto popular. Ainda paira sobre a cabeça dos Democratas uma coisa pior, o fantasma da fraude eleitoral baseado nos Southern Sheriffs, nos desdentados do Wall-Mart, na felicidade histérica do Good Morning América da ABC, nas notícias manipuladas da Fox News, no assombro dos fantasmas de Cheney e de Edgar Hoover e nos ativistas cristão-pseudo-fascistas que tentam induzir o voto de americanos ignorantes.

Não sei se já disse que não creio no voto, e o proselitismo, é mais um dos motivos que me levam a desconfiar. E um idiota pode até levantar-se e dizer, o Chico não acredita na Democracia! Não só acredito, como considero-a indispensável para perpetuar os princípios democráticos calcados na justiça, na liberdade, na igualdade e na solidariedade. Ideais vagamente defendidos por Obama. São esses mesmo ideais democráticos que alimentam a minha esperança de que o GOP seja derrotado e com ele o eleitor arquetípico conservador, obeso e branco, religioso e obscuro, que defende os valores da família dentro de seu SUV, opõe-se ao casamento de veados, e ao finaciamento do aborto com recursos públicos – valores que por sinal, são defendidos pela última flor do láscio, a calipígia porém palilógica, Sarah Palin.

Barack Obama pode ser eleito em 3 dias. Se eu votasse, votaria, cético, nele. Cético, pois não acredito na sua proposta de espalhar a riqueza aumentando o imposto dos mais ricos e distribuindo a riqueza aos pobres; não acredito que ele jacksonianamente terminará com a permissividade regulatória, cara a Greenspan e Bush; não acredito que assumindo a presidência - se de fato for eleito e vier a assumir – abandonará as idéias liberais e adotará algumas poucas idéias intervencionistas, tal como Roosevelt fez em 1932, pois quando chegou, este, de alguma maneira, herdou melhores condições que o próximo presidente herdará. Além do mais, há três dias das eleições, não acredito que uma campanha muito mais rica que a de John McCain sustente as promessas eleitorais feitas até agora. Acima de tudo, pelo pouco que vi até agora, não acredito que o desdentado-cristão-pseudo-fascista-conservador-branco-pro-life vote em Obama. Ainda assim, mesmo não tendo todos os dentes bons mas tendo um bom atestado de antecedentes Iluministas, se eu votasse, mesmo não acreditando nos políticos, votaria, cético, em Barack Obama.

There Will Be Blood




There will be blood é do mesmo cara que fez Magnólia e Boogie Nights. Paul Thomas Anderson é um diretor jovem, mas que faz cinema como deve ser feito, alinhava um bom roteiro a belas imagem – para o bem e para o mal - de maneira impressionante.

O filme conta a história de uma família - os Sunday - envolvida na saga do petróleo e de Daniel Plainview. Plainview torna-se ao longo da estória, de um simples minerador de prata, dono de uma grande companhia de extração de petróleo. O roteiro de Paul T. Anderson utiliza aspectos do livro de Upton Sinclair, Oli.

Começa em 1898 quando Daniel Plainview, interpretado por Daniel Day-Lewis, um homem frio e calculista, movido pela rudeza, ambição e a complexidade dos homens sem qualidades, descobre petróleo nas minas de prata que garimpa e torna-se um prospector de petróleo. De um simples gaimpeiro de prata, converte-se em pouco tempo num extrator de petróleo. Num acidente fatal com um de seus empregados, Daniel adota H.W., o filho do empregado como se fosse seu filho e as poucos sócio.

Certo dia, chega a seu escritório Paul Sunday (Paul Dano) - e estou na duvida ate agora se Paul realmente existiu ou se foi uma invencao de Eli - , que troca a informação de uma reserva prospectiva – por acaso nas terras de seu pai – por 500 dólares em Little Boston, Califórnia. Daniel parte para Little Boston. Chega à propriedade com a desculpa de caçar pássaros e acaba negociando as terras dos Sunday sem o patriarca da família saber. Nesse momento Eli Sunday, irmão gêmeo de Paul, sobre o preço da propriedade para 10 mil dólares convertidos a sua igreja, enquanto Daniel oferece apenas 5 mil.

Nesse momento a história converte-se então numa alegoria sobre ambição e fé, representada pelo garimpeiro que realiza o sonho americano - e é conseqüentemente destruído por ele – e os interesses religiosos manipulativos a serviço da política e da economia.

Com a grana fácil que jorra dos poços, a parceria entre Daniel e Eli tinha tudo para dar certo. Eli era o pastor da Church of the Third Revelation, agora expandida com o suporte financeiro de Plainview. Porém a inimizade entre os dois começa na inauguração do poço de petróleo. Eli exige que ele abençoe a inauguração e Plainview o trapaceia abençoando ele mesmo o produto de seu esforço empresarial.

A partir desse momento a relação entre fé e dinheiro degringola de vez com Eli exigindo cada vez mais dinheiro em nome do Senhor, e Plainview se tornando cada vez mais fdp com tudo e todos. Um momento tocante e determinante na caracterização dos personagens e da estória se passa na explosão do poço de petróleo, quando H.W. cai e perde a audição. Eli insiste que o acidente teria sido causado pela ira do Senhor, por ele, Eli, não ter abençoado o poço. Plainview da-lhe uma sova humilhante na frente dos empregados e Eli, antes de partir em missão, vinga-se.

Plainview necessiatava das terras de Mr. Brandy para construir um oleoduto que ligasse Little Boston ao mar. Voilá. A condição para que conseguisse a terra era de que fosse batizado na igreja do pastor Eli. Uma das cenas mais impressionantes do filme acontece quando o babaca do expectador pensa que Daniel completamente em transe, esbofeteado, humilhado e quase convertido a fe' de Eli esta de joelhos à frente de um Eli espiritualmente forte e vingativo, esta praticamente convertido à Church of the Third Revelation. No fim do carnaval anímico, Plainview olha nos olhos de Eli e diz que aquilo valia o duto!


Daniel Day-Lewis levou o Oscar nessa cena, tenho certeza.


Se tu duvida da uma olhada nisso... http://www.youtube.com/watch?v=QP7lFpPnHg4


Na manhã seguinte Mr. Brandy concorda em alugar suas terras e Eli parte para uma missão. E nesse ponto a estória dá um salto para o ano de 1927 when there will be blood...
Musica do Dia: Brahms. Concerto para violino. Terceiro Movimento

Vaselina e Guerra Fria

Sem um log-in o serumanu não vale nada. Ontem fiquei sem log-in, password e tive todos os acessos aos meus arquivos do trabalho negados. O pessoal do centro de tecnologia disse que foi pobrema ténico. Fui do Ser ao Nada num pulo e fiquei indignado comigo mesmo.

Sem p. nenhuma pra fazer, resolvi ler, obviamente. Me caiu nas mãos um livro sobre Dean Acheson. O Acheson foi um advogado e homem de Estado americano. Portanto não foi santo. Colaborou com Roosevelt e Truman. E com o segundo chegou a ser secretário de Estado desempenhando um importante papel na Guerra Fria. Quem for reparar bem, tem dedo dele em basicamente em toda as instituições pós-guerra ( Doutrina Truman e Plano Marshall, OTAN, Banco Mundial e FMI, além de convencer a Truman de mandar tropas para a Coréia).


O calhamaço de Robert Beisner (Dean Acheson: A Life in the Cold War) é de perder o fôlego. São 800 páginas que evidentemente não li nem 10%, mas que tem passagens interessantes. Não deixa de ser interessante quando Beisner fala da animosidade pessoal entre Acheson e McCarthy no episodio da caça às bruxas. Acheson fez de tudo para defender seus subordinados, do Departamento de Estado, contra a fúria obsessiva de McCarthy. Essa briga iria perdurar por anos e determinar a saida dele da admnistração Truman. Obrigado à vida privada abriu um escritório de lobby bem em frente a Casa Branca e, por suas convicções, passou a ser uma eminência parda de Kennedy durante a crise dos misseis.

Somente um tipo como ele poderia lapidar uma frase tão simple e ao mesmo tempo tão defnitiva... "O memorando não está escrito para informar ao leitor, mas para defender o autor."


Os economistas chamam a isso de Risk Averse. Eu chamo de CYA - Cover Your Ass.







Musica do dia:Siegfrield's Death and Funeral March - Wagner - do terceiro anel .

Era do Capital I



Bem antes do telefone, da Revolução Russa, da Guerra Fria, da internet ou qualquer outra revolução tecnológica a reboque de um evento político de grande monta, existiu Perry McDonough Collins, um o americano que, na Era do Capital, tentou ligar Europa e America por cabos telegráficos através do estreito de Bering. O único problema para que seus planos se concretizassem era transpor um vasto, inóspito e incógnito território chamado Russia. Assim, usando como fachada a Russia American Telegraph, uma espécie de subsidiária da Western Union Telegraph Company, essa mistura de empresário, político e empreendedor, combinou política, interesses financeiros, diplomacia e uma boa dose de oportunismo, para fazer valer a conquista comerciais Alaska - que somente seria comprado em 1867 - e de quebra aumentar a hegemonia americana em parte da Russia e da China.

O mais interessante é que pouca coisa se sabe sobre esse homem e muito menos sobre sua juventude, parte fundamental para a formação do carater de um homem. Entretanto, recentemente, um historiador militar americano chamado John B. Dwyer lançou um livro chamado, To wire the world : Perry M. Collins and the North Pacific telegraph expedition, onde com pouca análise mas muita exposição de fatos traça um panorama da expedição feita por Collins em 1864 pela terra da Sibéria, Ásia do norte, e o rio Amur, que é exatamente o rio que separa parte da Russia de parte da China. No livro, ainda que de passagem, o autor fala da juventude enigmatica de Perry, de seu fracasso como jovem advogado, e de seu contato com um dos mais ferrenhos defensores do Destino Manifesto, o futuro senador William McKendree Gwin, durante a corrida do ouro. Perry e Gwin, cada qual a seu modo, tiveram visões distintas de seus destinos, que diga-se de passagem, passavam longe do metal precioso. Enquanto Gwin buscava apoio para se eleger senador, Perry decidiu se dedicar a mineração, não de ouro, mas de almas. Começou arregimentanto trabalhadores para as minas californianas. Assim, o encontro dos dois era uma questão de tempo. Com Gwin eleito, Perry teve livre acesso a Washington, dai a fundar uma companhia de comércio que enviava gelo do artico para os paises do pacífico e começar a fazer negócios com a Russia, foi um pulinho de nada.

É interessante notar que a influência de Perry Collins na Russia czarista foi tanta nos anos que se seguiram a Guerra Civil americana que ele foi um dos convidados de gala para a coroação de Alexander II – não o III, pai do rifado na Revolução de 17 - em 1856. Três anos depois ele começou os contatos com Hiram Sibley para a criação do Russia American Telegraph, braço russo da Western Union Telegraph Company de propriedade do mesmo. Como no mundo dos negócio o corpo precisa de uma alma, ou seja, trabalhadores, bons contatos e propaganda, associou-se com Paul Reuter, da agência de notícias Reuter, pois a propaganda também fazia parte da alma dos negócios.

Perry, assim como George Kennan – o explorador, não o da teoria da détente -, e até o ‘nosso’ Percival Farquhar, passaram para a história muito mais como empreendedores visionários, que efetivamente homens históricos, ainda que a História, é verdade, se esforçe sem conseguir muito bem explicar a ação individual desses homens que movimentaram fortunas, arregimentaram massas de trabalhadores, foram amigos de czares e presidentes, frequentaram salões diplomáticos, subornaram, corromperam, ganharam e perderam dentre outras coisas seu lugar próprio na história.


Nota: Vale a correção de uma estupidez descrita acima, que se nao fosse um amigo atento permaneceria para todo o sempre. Diz o PRA: "O Kennan de 1947, não foi da "détente", mas o do containment, o da contenção da URSS". Obrigado.

Churchill

Quando Churchill fez 80 anos um repórter de menos de 30 foi fotografá-lo e disse: - Sir Winston, espero fotografá-lo novamente nos seus 90 anos. Resposta de Churchill: - Por que não? Você me parece bastante saudável.
*****
Telegramas trocados entre Bernard Shaw ( maior dramaturgo inglês do século 20 ) e Churchill ( maior líder inglês do século 20 ). Convite de Bernard Shaw para Churchill: "Tenho o prazer e a honra de convidar digno primeiro-ministro para primeira apresentação minha peça Pigmalião. Venha e traga um amigo, se tiver." Bernard Shaw Resposta de Churchill para Bernard Shaw: "Agradeço ilustre escritor honroso convite. Infelizmente não poderei comparecer primeira apresentação. Irei à segunda, se houver." Winston Churchill
*****
General Montgomery estava sendo homenageado, pois venceu Rommel na batalha da África, na IIª Guerra Mundial. Discurso do General Montgomery: "Não fumo, não bebo, não prevarico e sou herói" Churchill ouviu o discurso e com ciúmes, retrucou: "Eu fumo, bebo, prevarico e sou chefe dele."
*****
Bate-boca no Parlamento inglês. Aconteceu num dos discursos de Churchill em que estava uma deputada oposicionista, do tipo Heloisa Helena, que pediu um aparte. Todos sabiam que Churchill não gostava que interrompessem os seus discursos. Mas foi dada a palavra a deputada e ela disse em alto e bom tom: -"Sr. Ministro, se V. Exa. fosse o meu marido, colocava veneno em seu café!" Churchill, com muita calma, tirou os óculos e, naquele silêncio em que todos estavam aguardando a resposta, exclamou: -"Se eu fosse o seu marido, eu tomava este café."

Arthur Schlesinger


Nota funebre: Morreu ontem aos 89 anos de ataque cardiaco, em NYC, o historiador americano Arthur Schlesinger. Se pudessemos destacar uma tese central que varre todos seus escritos, ousariamos dizer que, em sua controvertida defesa liberal, o individuo tem o peso e a fibra de dobrar a Historia. Ou seja, individuos fortes, com carisma, habilidade politica e tenacidade podem inverter situacoes historicas adversas. Para provar isso, suas duas obsessoes, as administracoes de Andrew Jackson - pai da democracia de massas - e Franklin Delano Roosevelt, sao levadas ao extremo da analise. So sobre Franklin Roosevelt foram tres volumes de folego.
Mas o Historiador do Poder, como passou a ser conhecido em sua igreja de historiadores - que diga-se de passagem, frequentava com total descaso hebdomadario - passou a ficar conhecido mais por sua proximidade ao poder que pela sua obra - extensa e importante, por sinal. Nos anos 60, passou a colaborar com a administracao de Kennedy e justamente nesse caso, ironicamente, sua tese passa pelo teste mais extremo: o assassinato do presidente (ao que talvez Hegel chamaria ardil da historia como sendo a sutileza traicoeira que poe todas as teses e hipoteses sobre a propria historia por terra). Mesmo assim, apos o assasinato de JFK, ganhou um Pulitzer e um National Book Award por A Thousand Days: John F. Kennedy in the White House, em 1966. Mas a criticas a sua obra nao vinham apenas da paroquia. Gore Vidal, amigo intimo da casa dos Kennedy (e dizem muitos, amicissima intima de Jackie) definiu o livro como uma novela politica precaria por ignorar as aventuras sexuais do presidente, que, apesar dos seus bicos de papagaio, teve acesso aos mesmos segredos que Arthur Miller e Joe Di Maggio conheceram.
Enfim, como nao se pode reduzir a obra de uma vida a uma nota exequia, fica a frase que cunhou para a administracao do presidente Nixon: the imperial presidency.

Livros:

1939 Orestes A. Brownson: A Pilgrim's Progress
1945 The Age of Jackson
1949 The Vital Center: The Politics of Freedom
1950 What About Communism?
1951 The General and the President, and the Future of American Foreign Policy
1957 The Crisis of the Old Order: 1919-1933 (The Age of Roosevelt, Vol. I)
1958 The Coming of the New Deal: 1933-1935 (The Age of Roosevelt, Vol. II)
1960 The Politics of Upheaval: 1935-1936 (The Age of Roosevelt, Vol. III)
1960 Kennedy or Nixon: Does It Make Any Difference?
1963 The Politics of Hope
1963 Paths of American Thought (ed. with Morton White)
1965 A Thousand Days: John F. Kennedy in the White House
1965 The MacArthur Controversy and American Foreign Policy
1967 Bitter Heritage: Vietnam and American Democracy, 1941-1966
1967 Congress and the Presidency: Their Role in Modern Times
1968 Violence: America in the Sixties
1969 The Crisis of Confidence: Ideas, Power, and Violence in America
1970 The Origins of the Cold War
1973 The Imperial Presidency
1978 Robert Kennedy and His Times
1983 Creativity in Statecraft
1986 Cycles of American History
1988 JFK Remembered
1988 War and the Constitution: Abraham Lincoln and Franklin D. Roosevelt
1990 Is the Cold War Over?
1991 The Disuniting of America: Reflections on a Multicultural Society
2000 A Life in the 20th Century, Innocent Beginnings, 1917-1950
2004 War and the American Presidency
Link: http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/discussion/2007/03/01/DI2007030100554.html

Musica do dia: Aretha Franklin. All the king's horses