“Caro Francis” é um documentário sobre o jornalista Franz Paulo Trannin Heilborn, mais conhecido como Paulo Francis. Se você pensa em encontrar, nesse documentário, respostas para a explicação sobre o sucesso de Paulo Francis, esqueça. O documentário feito por Nelson Hoineff, o mesmo do famoso Documento Especial na antiga TV Manchete, tenta desvelar ainda mais o lado polêmico de Francis, tanto quanto tenta reforçar a veia transgressora do jornalista que um dia escreveu isso.
A imagem do Francis já velho no Manhattan Connection era uma caricatura gasta do personagem que ele próprio criou para si. Já em meados dos anos 90, Francis passava a imagem de um homem inteligente, arrogante e botocudamente grosseiro. Mas se você pensa que foi sempre assim, esta redondamente certo. O documentário mostra bem, em termos próprios como desde as suas polêmicas críticas teatrais e insultos a Paulo Autran e Tônia Carreiro, até a sua saida do Pasquim, Francis já alimentava essa imagem pública de polemista nem sempre elegante mas incrivelmente engraçado. E um dos seus grandes méritos foi exatamente o de se tornar um fenômeno de comunicação, tanto na palavras escrita como na palavra falada e televisionada, transplantando de um meio para o outro suas características críticas e méritos intelectuais, sempre com uma boa dose bufa.
Se no ambiente público era esse tipo discutível, no ambiente privado, entre amigos, não havia ressalvas. Todos tinham sempre um causo interessantissimo e nunca repetido para contar sobre Francis. Jaguar, se não me engano, certa vez disse que detestava discutir com Francis pois ele sempre escolhia como cenário um taxi sem destino fixo, o que o levava - a Jaguar - sempre a se desconcentrar do bate-boca e desesperar-se com o taxímentro. Lucas Mendes, no documentário, dizendo que certa vez Francis termina um texto, levanta o papel da máquina de escrever com virulência e se vangloria: “nenhum advérbio de modo!” Ou o ataque ao amigo Fausto Wolff, dizendo que um dia escreveria um livro sobre todas as suas ignorâncias. Ou seja, uma figura impagável e divertidíssima. Ou seja, melhorando essa frase, uma figura impagável, por ser cara; incomprável por só trazer problemas; e invendável pois a partir dos anos 90 seu tipo de jornalismo pitoresco, impressionista e irresponsável – criado prêt-à-porter para a televisão - passou a ser um problema para as redações e uma impossibilidade para os canais de TV aberta. Prova disso é que hoje em dia, figuras como Reynaldo Azevedo e Diogo Mainardi transcencem ao espaço das colunas escritas apenas para o universo dos blogues onde encontram o feedback apenas de prosélitos.
O sinal desses tempos que vivemos hoje, é bem mostrado no final do documentários, com a saída de Francis da Folha de São Paulo, sua ida para o Manhattan Connection e sua polêmica com o antigo presidente da Petrobrás Joel Rennó, quando numa edição do programa Manhattan connection, Francis afirmou que os diretores da empresa tinham dinheiro na Suíça, formando “a maior quadrilha que já existiu no Brasil”. Uma absoluta inverdade comparado com os padrões de tamanho, organização e eficiência dos esquemas de corrupção atuais. Mas merecidamente ou não, nesse caso específico, foi processado por tratar uma das empresar mais fortes do Estado brasileiro, bem como a seus gestores, como quem sempre se habituou a tratar a esqueda. E não se deu bem.
O documentário conta ainda com uma irrelevante surreal carta lida pela viúva, sobre a morte de sua gata de estimação, e uma “bombástica” acusação de negligência médica no caso de seu infarte, tratado como bursite ou algo que o valha por insignificante que fosse. Felizmente a viúva trata logo de desmentir o terrível e melancólico fechamento-Conrad Murray-Michael Jackson que Diogo Mainardi calhordamente tenta, com a beneplácito de edição do diretor, imprimir no final. Isso tudo ao som de Wagner.
Música do dia. A Pipa do Vovô não sobe mais. Marchinha de Carnaval.
Contentemo-nos com a Ilusão da Semelhança, porém, em verdade lhe digo, senhor doutor, se me posso exprimir em estilo profético, que o interesse da vida onde sempre esteve foi nas diferenças,
Ferocidade como entretenimento
A cada vez que assisto um desses filmes coreanos me sinto um tanto constrangido. Perdi muito tempo assistindo a filmes americanos. Essa é a verdade. The Chaser, primeiro longa-metragem Na Hong-jin, é mais um dos grandes filmes da lavra coreana.
Neste país a polícia é mal paga, corrupta e violenta. Não, não, as semelhanças são apenas uma ilusão, pois estou falando da Coréia do Sul. Num ambiente onde campeia a violência e a corrupção, Joong-ho, o protagonista, tira partido. Para seus ex-companheiros de farda ele é um homem de moral duvidosa. Ex-detetive que virou cafetão por problemas financeiros, começa a se irritar com o despareceimento de suas “funcionárias”. Ao tentar rastrear o paradeiro das moças, descobre que todas as meninas tinham sido contratadas sequencialmente por um único cliente, e que tinham sido assassinadas. Ele então forja um plano para pegar o assassino. Joong-ho consegue capturar o assassino e entregá-lo à polícia. Mesmo confessando os crimes, como não há corpos, não há provas materiais contra o assassino, que dessa forma estará em liberdade em 24 horas. Por algum motivo que o roteiro deixa passar, Jung-ho acredita que uma de suas prostitutas ainda está viva. E aí sim começa a caçada, não do culpado mas dos corpos que devem ser encontrados em menos de 24 horas.
Essa corrida contra o tempo dá o tom do excelente filme, até o momento da inversão do plot. O prazo se esgota. A polícia, pressionada pelo governador, num momento de intensa pressão pelos métodos brutais empregados, precisa liberar Yeong-min. A procuradoria sugere que um suspeito que confessa sobre tortura pouco melhor a imagem da polícia. Para evitar o escândalo político, o governador decide pela liberação do suposto assassino. Enquanto isso, é pedida a prisão de Joong-ho como o bode expiatório de toda a crise. Apesar de algemando, o ex-policial escapa para procurar Mi-jin, uma de suas meninas que suspeita ainda estar viva.
A intuição de Joong-ho é correta. Mi-jin de fato ainda está viva, tentando se libertar das cordas que a amarram em meio aos corpos das outras 11 mulheres assassinadas, escondidas na casa do assassino. Gravemente ferida porém lúcida, Mi-jin escapa e pede auxílio numa loja das redondezas. Tenta telefonar. Enquanto isso o assassino, já liberado, prestes a chegar a casa, decide comprar cigarros exatamente na lojinha das redondezas... Joong-ho chega tarde demais.
O plot se inverte novamente. Joong-ho passa a tentar encontrar novamente o assassino. Desesperado com a morte do que tudo indica ser mais que sua ‘funcionária’, o ex-policial sente-se derrotado. Vai até a igreja local e percebe que a imagem do Cristo crucificado na fachada, era parecida às imagens que viu por trás do papel de parece do quarto onde Yeong-min esteve hospedado. Consultando o diácono, descobre que o assistente da obre da igreja estaa hosedado na casa de um de seus sectos. Joong-ho segue para lá. Quando chega decide não tocar a campainha, mas usar um molho de chaves que retirara do bolso de Yeong-min. Quando entra, depara-se com Yeong-min.
É bastante certeiro que numa sociedade onde campeia a crueza da violência física e sangrenta, a questão da corrupção e do funcionamento do dinheiro sujeita os comportamentos e os sentimentos à sua força mortiz. Neste fimle especificamente, descontados o sangue derramando e a brutalidade nos meios de liquidação dos personagens, o protagonista põe em cena toda a sociedade. Apesar de alguns pequenos furos de roteiro, o filme mostra com certa ferocidade um certo espetáculo de entretenimento onde a noção e o sentido do absurdo se tornam cada vez mais lugar-comum.
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